Bodhisattva escrita por Venus Noir


Capítulo 4
IV


Notas iniciais do capítulo

Sinceramente, eu não quero falar muito. ): Faz o que, duas semanas que eu to escrevendo essa fanfic? Mas, apesar do pouco tempo, eu já me afeiçoei demais a ela. E só de pensar que próximo capítulo já é o último, eu fico toda mimimizenta.
Enfim. haha Eu agradeço o apoio de vocês. Espero que vocês gostem desse capítulo. ♥ E nos encontramos no próximo, que será o derradeiro. :
Boa leitura, minhas lindas. ;-;



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No dia em que Kyuhyun reconheceu que Kyuyoung era o seu outro eu – e que, portanto, era apenas natural que eles entrassem em comunhão, em carne, alma e espírito –, o firmamento estava matizado de róseo, laranja e amarelo. Além dessas cores, era possível ver o azul do céu, que se estendia adiante; o azul-anil, porém, não era mais poderoso do que os raios solares que, após viajar anos-luz de distância, refletiam por entre os galhos e as folhas da árvore debaixo da qual Kyuhyun e Kyuyoung haviam se deitado.

Ao lado de sua mulher, Kyuhyun contemplava nos olhos dela uma miríade de tons castanhos. Ele observou, com um sorriso embevecido, que eles possuíam uma profundidade ilusória. Eram tais quais uma poça rasa que se confunde com um oceano, uma leve depressão que se confunde com um abismo. Havia traços rodeando a pupila comprimida, traços negros, e era como examinar um caule cortado horizontalmente que apresenta os anéis do tempo em sua madeira. Um caule de carvalho, talvez, muito embora houvesse mais vivacidade em Kyuyoung.

Kyuyoung era como uma árvore antiga, cujas raízes se aprofundavam por metros, fincadas no seio da terra. Ela era integrada a tudo o que fazia parte da natureza, pois ela própria era uma força da natureza. Era assim que Kyuhyun passara a enxergá-la. Ele então a admirava como se ela fosse um elemental ao qual se prestam devotadas oferendas e solene respeito. E se ela era uma entidade e se fora baseada em Kyuhyun, ele igualmente era – ou se consagrara – um ser mítico.

Kyuhyun, sendo modesto e humilde, ainda não se dera conta disso; essa conclusão nem se lhe passava pela cabeça. Mas ele era de fato o Senhor das Nuvens, o Provedor da Chuva. O presente lhe fora dado por uma criatura capaz de realizar quaisquer desejos que a mente humana pode formular, e validado pelo Senhor do Cosmos, que tem vários nomes ao redor do Universo e que aqui chamaremos de Deus.

Perante Kyuyoung, Kyuhyun se sentia uma folha seca ao vento. Ela era poderosa, emanava segurança e certeza. Já ele era falho, vacilante, incerto. A força que havia em si, ele a vislumbrava em sua companheira. Essa força – estava escrito –, ele somente a iria tomar para si quando e se tomasse Kyuyoung. Sunkyu dissera que eles eram o Hermafrodito e a Salmacis ao inverso. Sooyoung forjara a alma de Kyuyoung no mesmo molde usado para Kyuhyun. Eles eram duas almas, dois corpos, dois espíritos distintos. Porém, feitos a partir da mesma matéria. Tão essencialmente semelhantes que seria impossível distinguir um do outro.

E, no dia em que Kyuhyun aceitou essa verdade, ele provou um pouco da real felicidade. Da alegria que provém do divino, do júbilo que se derrama sobre os sentidos e que, ao invés de embriagá-los, torna-os mais alertas, mais amplificados, mais abrangentes. O beijo que eles trocaram entre as raízes protuberantes foi sentido não só em seus lábios, como também da raiz de seus cabelos à unha de seus pés. O toque das mãos de Kyuhyun sobre o pescoço e o colo de Kyuyoung reverberou até seu âmago. No momento em que ele a despiu, deixando que as alças de seu vestido escorregassem por suas omoplatas e revelassem seus seios, ele a desnudava por inteiro.

Quando ele encostou a língua sobre seus mamilos, os rodeando e os beijando ternamente, ele se apropriava do que havia de mais escondido nela – por conseguinte, do que havia de mais escondido nele mesmo. Um ato de amor físico é um ato de amor total. Não há como nem porque desassociar o que acontece na pele e o que acontece na medula. E não há mais fim, não há começo, não há meio, presente, passado ou futuro. Só há a imortalidade e a eternidade.

Kyuyoung não se enganara ao achar que ser amada por Kyuhyun lhe traria as mesmas sensações de um nascimento ou de uma concepção. Ele escrevia em suas costas eu te amo usando a ponta da língua. Ele a trazia ao mundo mais uma vez. E ela abria os olhos, se fincava à realidade, mas, sem demora, era puxada de volta a um plano idílico em que ele e ela eram os únicos habitantes, onde tudo recendia a rosas e onde mil arco-íris se levantavam na abóbada desanuviada, onde o solo era o que chovia, molhando seus corpos nus e vibrantes, tão enleados que faltava pouco para se fundirem.

Abraçada a Kyuhyun, Kyuyoung era mãe, era filha, era uma princesa. Nos braços dele, ela era caos e era ordem. Ela nascia e retornava ao útero, remexia-se lá dentro e vinha à luz pela primeira vez. Dentro de si, ele se coroara rei. Entrelaçando seus dedos aos dela, ele segurava o mundo inteiro, conquistando-o de norte a sul. Os lábios do monge novamente tracejavam a carne morna e fremente de sua amada. Era como peregrinar de leste a oeste, em cruzadas motivadas por uma causa nobre, ele ia da testa à planta do pé de Kyuyoung, parando por séculos em seu umbigo, em seu sexo e em seus joelhos.

Por fim, não houve lugar de sua terra que ele não houvesse explorado. Ela era um território desdobrado abaixo de si, pulsante e vivo, a casa, o paraíso, o lar de onde ele viera e para o qual retornaria. E ela era linda. Kyuhyun estava apaixonado, queria devorá-la, sugá-la, guardá-la só para si. Kyuyoung realmente era preciosa demais. Ele a envolveu, trespassando os braços em torno de sua cintura e de seu pescoço. Ela aconchegou-se em seu regaço, e estava verdadeiramente segura, protegida, reconfortada.

Com êxtase e ímpeto, ela enfim o respondia, murmurando com a boca grudada a sua pele, em cada pedaço dele ela comunicava. Eu te amo, eu te amo, eu te amo. Para seus cotovelos, ela dissera que o amava, assim como para seus quadris, seu peito, suas coxas, suas nádegas, seu dorso, seu falo, para a palma de suas mãos. Kyuhyun, do princípio ao fim, da superfície ao coração, Kyuhyun sabia que ela o amava. Era impossível ignorar que sim, ela o amava.

De repente, eles pairavam com as estrelas e as nébulas no espaço sideral. A poeira cósmica se espalhava sobre eles, que se envolviam no manto estelar e brilhavam com as luzes do infinito. Quando o tempo e o espaço se extinguiram, seus movimentos, outrora impetuosos e urgentes, também se acalmaram. Imóveis, embraçados um ao outro, todo o Universo havia se reduzido ao sorriso que Kyuhyun abrira em seu rosto de expressões enlevadas e ao sorriso com que Kyuyoung o retribuía.

Depois disso, veio o fluxo. O solo os acolhia outra vez e Kyuhyun preenchia o interior de Kyuyoung abundantemente. Acima deles, nuvens se torciam em uma chuva profusa. Os arco-íris foram acesos logo que as águas cessaram.

X

No dia em que Kyuhyun amou Kyuyoung, uma queda d’água se formou nos fundos do Palácio das Nuvens. Ao retornarem para lá, eles encontraram os animais se banhando alegremente na cachoeira que desaguava em um rio cristalino e no qual pequenos peixes dourados nadavam com pressa. Antes de transportar Donghae para o rio, os dois se sentaram numa pedra. Os animais, cansados de tanto brincar e se banhar, já haviam se retirado para dentro do palácio.

Por algum motivo que de certo Kyuhyun teria vergonha de assumir, ele se sentiu envergonhado por estar sozinho na presença de Kyuyoung. Com o torso curvado e os braços encolhidos contra seu abdome despido, ele procurava esconder sua semi-nudez. As maçãs do rosto ruborizadas e a queimação sobre elas serviam para comprovar o quão nervoso e sem jeito ele estava. Lá no fundo, ainda era um príncipe reinado sobre toda uma nação. Entretanto, sua falta de tato era algo a que ele não poderia fugir tão facilmente.

Nunca antes havia tocado em uma mulher. Exceto por Kyuyoung, não tinha tido a oportunidade de vislumbrar a nudez feminina, sequer tinha noção de como se constituía a anatomia delas. Mas, de alguma forma, soubera exatamente o que fazer e como fazer. Relembrando-se de cada detalhe da experiência vivida, ele estava certo de que proporcionara à sua companheira o máximo de prazer possível. Sem dúvida, ela havia aproveitado tanto quanto si próprio. Quando estavam deitados sobre o descampado, arfantes e exaustos, ela não ficara embaraçada ao dizer o que dissera. Sussurrando ao pé de seu ouvido, com a mão em concha para que ele a escutasse melhor, ela repetiu que o amava.

E, sem pudor, mas com a inocência e a pureza que lhes era característico, ela lhe disse o quanto ele era um bom amante. E pontuara, usando os detalhes que podiam ser completamente dispensáveis, o que havia gostado mais, o que ele deveria repetir ainda aquela noite. Ele estremecera ao ouvir a voz suave e melodiosa de Kyuyoung pronunciando coisas tão sensuais, tão luxuriosas. Era inegável que aquilo o havia agradado. Ainda assim, era tímido demais para devolver no mesmo tom. Ah, se ele fosse começar a enumerar o que mais havia gostado! Ele iria relatar tudo, viver tudo de novo.

Não seria uma má ideia.

Assistindo-a mergulhar, com nada mais que os cabelos longos a lhe cobrir minimamente, ele pensou que em breve, se treinasse bastante em frente ao espelho ou em qualquer lugar onde não fosse achado ou ouvido, ele estaria pronto para responder a ela, se ela tornasse a lhe falar daquela maneira. Ele desejava dar a ela o prazer que tivera. Desejava, sobretudo, arrancar algum rubor de suas bochechas, vê-la acanhada, abaixando o rosto e sorrindo, desajeitada.

Por hora, bastava de maquinar planos infalíveis para provocar-lhe vergonha tanto quanto ela havia provocado em si. Retirando as calças, ele mergulhou junto com ela no rio que haviam feito surgir com o amor consumado.

O amor que Kyuhyun criara por Kyuyoung. O amor que Kyuyoung devotava a Kyuhyun desde sempre.

X

A dádiva seguinte que Kyuhyun recebeu foi um terceiro olho. No centro de sua testa, pouco acima de suas sobrancelhas, um ponto vermelho aparecera misteriosa e repentinamente. Ele e Kyuyoung perscrutaram o sinal e, ao fim do exame, constataram que o monge havia sido abençoado. E que essa benção tinha a ver com seu sexto chacra.

Uma semana se passou até que Kyuyoung ganhasse a sua própria dádiva. Em seu couro cabeludo, no topo de seu crânio, os caracteres do om eram visíveis, apesar de seus fios o encobrirem.

Finalmente, perceberam que era fácil entrar em harmonia com o cosmos. Kyuyoung normalmente servia como portal. Se Kyuhyun a tomasse, eles estavam no centro de tudo.

Foi assim que eles se descobriram deuses.


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