Bodhisattva escrita por Venus Noir


Capítulo 2
II




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Kyuhyun passou dois anos fora. Sobre as nuvens, ele revisitou todo o mundo. Jamais ficou mais de uma semana em um lugar só, mas por vezes procurou um abrigo, um que não fosse flutuante, e sim preso a terra. Sua intenção mais desesperada era a de encontrar um local em que se sentisse acolhido, como se sentira na primeira casa que as gênias lhe deram. Simples, aconchegante e que lhe livrasse a consciência de toda a culpa que o iria acometer novamente se um dia voltasse a morar em uma mansão opulenta, onde teria regalias de um príncipe.

Apesar de buscar incansavelmente por esse pedaço de chão no qual ele iria firmar os alicerces de seu novo lar, não havia mais espaço para si sobre a superfície. Nem no Ocidente, nem no Oriente, nem no Norte, nem no Sul achou o lugar que lhe iria proporcionar paz de espírito. Kyuhyun não estava mais apto a viver com os homens comuns, como um homem comum. E longe de isso ser uma benção ou uma prova incontestável de seu grau de iluminação, era um castigo. Tinha a impressão de ser um forasteiro nesse mundo. Um forasteiro clandestino que se via sem saída, sem ter como voltar para a suas origens, encarcerado num plano inóspito e que só lhe trazia desgosto e sofrimento.

Kyuhyun percebeu que faltava um pedaço de si. Era como se lhe houvessem extirpado a alma e ele estivesse condenado a se sentir para sempre incompleto e infeliz. E sabia que, por mais que vagasse pelos quatro cantos, por mais que vasculhasse em cada esquina, jamais iria reencontrar a parte que lhe faltava. Pois sabia que ela estava longe, reclusa em uma nuvem que se prolongava por quase um quilômetro, na qual havia um palácio que, de tão magnífico, deixaria muitos imperadores aviltados pela simplicidade de seus castelos.

Kyuhyun, com muita relutância e pesar, reconheceu o que era inegável. Ele chorava e suas lágrimas se lhe escapavam por todos os poros, e as nuvens choraram junto consigo, inundando as terras lá embaixo. Enquanto estivesse longe de Kyuyoung, não iria parar de sofrer pela falta dela. E a falta dela correspondia à falta de tudo.

X

Durante seu exílio voluntário, Kyuhyun manteve-se à distância de qualquer entidade. Não viu anjos nem arcanjos, e, sobretudo, esforçou-se para evitar aquelas nove mulheres. Elas não vieram importuná-lo, deviam pressentir que companhia, naquele momento, não era nada mais que um inconveniente, um grande incômodo que o iria distrair das questões as quais pretendia solucionar. No entanto, Kyuhyun não solucionou nada sozinho. E após finalmente ceder, sua mente implorou pela presença de Sooyoung. Seu pensamento era tão intenso que reverberou e se amplificou por milhas.

Atendendo ao seu apelo, Sooyoung veio e sentou-se sobre a nuvem que ele habitava. A aura dela, forte e luminosa, o fez abrir os olhos instantaneamente, e ele os arrastou debilmente até o rosto etéreo da gênia; sua aparência era a de uma pessoa cansada. Não era amarga ou triste, mas profundamente contrita. Kyuhyun sorriu a ela. Seu queixo estremeceu num gesto ridículo. Constrangido, ele cobriu o rosto com as palmas, umedecendo-as com suas lágrimas logo em seguida.

Por que ela?, indagou, soluçando. As perguntas que tinha a fazer para Sooyoung eram muitas; gastar toda a eternidade sanando suas dúvidas com ela não era uma possibilidade remota. Como ele havia se tornado um homem de tão poucas certezas? Kyuyoung havia semeado o caos numa mente ordenada. Ironicamente, em suas andanças e no curso de toda a sua existência, não topara com nenhum outro ser que possuísse tal pureza, além de uma ordem tão inerente que seria impossível desassociar de si. Em seu primeiro e único encontro com ela, ele foi tocado não apenas pelas mãos, mas também pela aura de Kyuyoung. E essa era límpida como água cristalina, intocada como a pureza de um bebê.

Por que não ela?

Kyuhyun sacodiu a cabeça. Sooyoung o abraçou contra a vontade dele, que resistiu. Todavia, não demorou a desabar. Dois anos de cegueira e ignorância haviam desaguado em arrependimento e dor. Sooyoung lhe beijou a testa, botando por detrás de sua orelha a franja que ele, em algum trecho do percurso, esquecera-se de aparar. Seu cabelo agora era farto e os fios mais longos batiam na nuca. O corte bagunçado devia ser fruto de alguma experiência mal sucedida de Kyuhyun com a tesoura. Viver como um asceta que ignora completamente a própria aparência talvez fosse apenas um passado distante para ele. Nem que fosse para estragar a beleza que Hyoyeon lhe dera, ele se importava sim com sua exterioridade.

“Não diga isso”, ele rebateu, amargurado. Sua expressão se contraia em uma careta pungente à medida que se afastava do abraço da gênia. “Você sabe que essa resposta não me satisfaz e que tampouco é a resposta certa.”

Sooyoung tornou a envolvê-lo em seus braços e a beijar seu rosto. Agia como uma mãe, e de certo aquela era a primeira vez, desde que partira, que Kyuhyun tinha a sensação de estar amparado e protegido.

“Por que uma mulher comum, oppa? Por que uma mulher que não te conhece, que não sabe nada de você? Você se sentiria incompreendido e deslocado na presença de uma mulher assim. Você precisa de alguém que o entenda e que sinta, com igual intensidade, o que você sente. Que seja boa e pura como você. Que não apenas escute o que você tem a falar, mas que responda e fale coisas agradáveis, que cale quando for necessário, e que apreciei o silêncio com a mesma contemplação. Uma mulher que o respeite, que jamais tente ultrapassar seus limites. Uma mulher que não irá levá-lo à loucura através do desejo e da paixão, mas que irá fazê-lo se sentir como o bodhisattva que você verdadeiramente é.”

Kyuhyun poderia escutar essas palavras, poderia assimilá-las e aceitá-las. Era fácil compreender o que elas lhe comunicavam, afinal. Seria fácil. Mas Kyuhyun estava obstinado a suportar o que ele considerava ser a pior das tentações, a grande prova de fogo pela qual tinha que atravessar.

“Vocês querem sanar todas as minhas necessidades, realizar todos os meus desejos. Nenhum homem pode viver tendo tudo o que quer. Isso é mau e danoso.”

“Não”, Sooyoung respondeu, pacientemente, demonstrando uma sabedoria que só podia pertencer a uma criatura que vivera milênios. “Não no seu caso. Você não terá tudo o que quer, Kyuhyun. Nós não daremos a você tudo o que você quer, por mais gratas que estejamos. Kyuyoung foi seu último presente. Se fosse de nossa vontade, nós poderíamos achar desejos incrustrados no mais profundo de sua alma, porque você transborda de desejo tanto quanto qualquer outro humano, muito embora seja um iluminado. Vê? No fim das contas, você não é tão diferente assim. Se fosse, não seria um homem. Além disso, nós nunca lhe demos nada que fosse nocivo.”

“Kyuyoung me foi nociva.”

Kyuyoung lhe foi nociva porque você escolheu assim. A voz de Sooyoung ecoava ao longe, enquanto ela se erguia e flutuava metros acima de Kyuhyun, a cauda do tecido leve de seu vestido farfalhando como salamandras a agitar-se no fogo. Você sabia que eu mesma talhei Kyuyoung? Ela é você, Kyuhyun. Ela é ela mesma. Eu a cozi no mesmo molde de seu espírito. Com um cinzel, eu delineei suas formas. Ela não é perfeita, nem mesmo eu o sou! No entanto, ela é deslumbrante. Eu injetei flores silvestres em seu sorriso e pó de estrelas em seus olhos. Ela é tão viva e tão espirituosa! Suas mãos são mais sedosas que o veludo mais fino e seu corpo têm curvas mais precisas do que uma estátua de mármore de um artesão grego. Ela é linda. Qualquer homem, no céu ou na terra, poderia facilmente cair de amores por ela. Até mesmo você, Kyuhyun. Você se enxerga nas feições dela e teme ser um narcisista por isso. Você se pergunta, intrigado e ofendido, se eu lhe tomei por um vaidoso. Mas não se deu conta ainda de que você a reconhece, por dentro e por fora, de que você a reconheceria até do avesso. E, um dia, você irá amá-la por isso.

X

Como em cada ação executado, em cada pensamento tramado e em cada declaração proferida, o retorno de Kyuhyun se deu por uma escolha. Ele provavelmente preferiu se consolar usando a ideia de que estava sendo levado a isso, pela força das circunstâncias, porque havia se tornado um escravo do próprio desejo. Entretanto, Kyuhyun assinalara sua sorte sozinho. Seu destino, assim como o das demais criaturas, não fora e jamais seria escrito a ferro e a fogo. Ele era dinâmico, baseando-se apenas nas escolhas tomadas. Portanto, quando Kyuhyun fez o caminho de volta ao seu palácio, ele estava indo por vontade própria.

Kyuhyun tinha autoridade e autonomia suficiente para escolher apagar Kyuyoung de sua mente, para esquecê-la e enterrar os sentimentos que considerava maléficos. Mas ele não fez isso. O que ele escolheu foi totalmente o oposto.

Ao aterrissar na nuvem de seu palácio, seus pés, ao entrarem em contato com o chão afofado, receberam uma onda de relaxamento que se lançou sobre seu corpo inteiro. Imediatamente, Kyuhyun sentiu-se mais sereno e mais tranquilo, coisa que não lhe ocorria há vários meses. Há vários meses também não se permitia cantar. Para chamar suas nuvens, para fazê-las verter a chuva, ele se limitava a murmurar uma cantiga que era sempre a mesma. Ao alcançar a porta que dava acesso ao seu lar, porém, ele ergueu a voz e a canção que se derramou de seus lábios era o que melhor mostrava o quanto seu coração se alegrara por estar ali novamente.

As lágrimas no canto de seus olhos, dessa vez, eram de felicidade. Kyuhyun estava tão feliz quanto admirado. O júbilo o embraçara, e a chuva torrencial liberada por sua nuvem foi a chuva que pôs fim a seca em certa região, que veio depois de anos de estiagem numa outra, que tranquilizou os moradores de uma vila alagada. Pois ela era calma e benéfica.

Kyuhyun não podia ver, mas os arco-íris armados no rastro de sua chuva possuíam a força e a beleza do sorriso e do espírito de Kyuyoung. E ela, controlando-se para não correr e se jogar em seus braços, para não chorar e apertá-lo contra seu corpo, andou até Kyuhyun, tensa e receosa. Não sabia o que esperar, mas a aura que ele emanava era inconfundível. Ele estava feliz.

Kyuhyun olhou para ela. Seu vestido possuía as sete cores do arco-celeste e seu olhar faiscava com um brilho caloroso e capaz de iluminar as cavernas mais remotas. Capaz de iluminar até o inferno e torná-lo um céu subterrâneo, Kyuhyun pensou, estremecendo.

Quedaram-se por alguns minutos, um em frente ao outro, ambos hesitando em dar o primeiro passo. Os dois ofegavam, os dois tremiam dos pés à cabeça. Entreolhavam-se com adoração e com temor. Você sou eu. Em suas mentes, apenas o desejo imperava e ele refletia-se em cada célula que os compunha. Kyuhyun sentia que fora eletrizado, como se somente um toque pudesse fazê-lo se consumir inteiramente, queimando a si mesmo como uma fênix. Kyuyoung sentia como se houvesse sido multiplicada em mil, e como se pudesse captar e sofrer na pele tudo o que seus mil eus passavam.

Era a tortura mais prazerosa que já lhes fora infligida. Para Kyuyoung, uma sucessão interminável de comichões e estremecimentos, os orgasmos que borbulhavam em si, os orgasmos que nunca experimentara. Para Kyuhyun, era a transição de criatura para homem, a evolução de espírito para espírito, alma, consciência e corpo. A passagem de entidade para indivíduo. E a de indivíduo para amante.

Kyuhyun e Kyuyoung permaneceram afastados um do outro. Ela de joelhos, o torso curvado e os lábios entreabertos em puro deleite, e ele deitado, esticado sobre os flocos de nuvem que se desprendiam e o elevavam um pouco acima. A chuva havia cessado e o cheiro que ela levantava invadira suas narinas.

Kyuhyun, numa comoção que se confundia com fragilidade e firmeza, entoou uma cantiga de ninar e Kyuyoung, exausta pela espera, pelo medo de nunca mais tornar a ver o monge, e pelo clímax que exaurira sua disposição, adormeceu embalada pela música.

X

Em poucos dias, Kyuhyun notou, entre envergonhado e aliviado, que Kyuyoung não representava uma ameaça. Ele deveria ter atentado a isso antes. Ele deveria ter percebido que ela não iria forçá-lo a nada. Que nada aconteceria se não fosse de sua vontade. Como ela poderia obrigá-lo a qualquer coisa? Como uma mulher tão mansa e doce poderia desrespeitá-lo de alguma maneira? Ao contrário disso, Kyuyoung o esperava, comedida e desapressada. E esperava pelo quê? A princípio, Kyuhyun engolira a seco o que ele achava que podia ser. Ela esperava por sexo, para tê-lo e para ser dele, num sentido meramente carnal.

Todavia, Kyuyoung tinha esperanças pouco vulgares. Ela o queria, queria sim. Isso era inegável, era visível em suas ações, no modo como o tratava e o cuidava, em seu carinho e em sua afeição quase maternal. Era tão terna que por vezes deixava Kyuhyun emocionado. Contudo, seu desejo ia além da matéria. Kyuyoung desejava retornar a sua origem, transitar entre esse local e o que então ocupava quando bem entendesse. Para isso, seu plano era simples. Quando todas as barreiras que Kyuhyun construíra em volta de si fossem derrubadas, ela teria livre acesso a sua mente, ao seu espírito e a sua alma. Iria fundir-se a ele, e se desatrelar dele, e repetir o processo sempre que possível, sempre que ele permitisse.

Kyuyoung sabia que tocar Kyuhyun, abraçá-lo, beijá-lo e tê-lo dentro de si seria o equivalente a voltar ao útero materno. Kyuyoung não fora gerada pelos meios convencionais. Ela fora criada. Mas tinha a oportunidade de vivenciar a experiência que nunca tivera. Fazer amor com Kyuhyun seria como ser concebida, seria como nascer.

Em dada noite, contou a ele como se sentia. Ele não teve medo, não vacilou. Respondeu, com voz branda e afetuosa, que ela não iria precisar esperar por ele por toda a eternidade. Kyuhyun seguia o seu próprio tempo, jamais se desviando dele, jamais violando seu ritmo. Mas esse tempo de maturação, de preparação não iria durar para todo o sempre. Nunca antes ele falara tão abertamente consigo, e ela o ouviu, fremindo por dentro, embora parecesse inabalável por fora. Ele disse que a desejava. Essa afirmação, feita de um jeito tão tímido e ao mesmo tempo com tanta segurança, a pegou de surpresa. Seus longos cílios batiam um contra o outro, e em nenhuma outra ocasião ela esteve tão nervosa.

Ele disse que todo o desejo e toda a vontade que suprimira com tanta veemência durante sua atual estada nessa terra haviam se concentrado e se direcionado a uma só coisa, a uma só pessoa. Observá-la era mais do que uma mania, era um ofício. Kyuhyun se livrara da crença de que Kyuyoung podia ser sua maldição, sua ruína, sua destruição. Se tinha uma opinião fixa sobre ela, era que ela era um milagre.

Ao fim da conversa que pôs fim a qualquer dúvida que um tinha sobre o outro, eles se abraçaram. Kyuhyun costumava manter certo distanciamento de Kyuyoung, e quando encostou seu corpo sobre o dela, se surpreendeu. Eles se encaixavam harmoniosamente. Antes de ir para os seus aposentos, ele ajoelhou-se e beijou-lhe os pés. Naquela noite, dormiu ouvindo-a cantar, seu canto ondulando entre as paredes que o separavam.

X

As visitas de Sooyoung eram agradáveis. Era bom ver um rosto diferente de vez em quando. Às vezes ela vinha sozinha, em outras, trazia suas irmãs. As gênias insistiam em mimar a si, a Kyuyoung e aos animais do palácio. Kyuyoung tinha alegado que, se ela fora batizada, os animais também deveriam ser. O Cachorro recebeu o nome de Kangin, o Gato, de Heechul, a Tartaruga, de Yesung e o Pássaro, de Leeteuk. Sunkyu os presenteou com um macaco, que eles chamaram de Hyukjae, Yoona trouxe do extremo oriente uma carpa, que recebeu o nome de Donghae. Em pouco tempo, o palácio estava habitado de seres exuberantes e que interagiam sem problemas entre si e com as pessoas à volta.

Leeteuk era o que mais gostava de cantar. Heechul fazia diferente: ronronava. Seu ronronar também tinha melodia. Yesung era uma tartaruga nascida há séculos atrás; ele era sábio e prudente. Kangin, Donghae e Hyukjae eram como três adoráveis crianças, brincalhões e divertidos. Kyuhyun e Kyuyoung consideravam esses animais como a família que não tiveram – ou que haviam perdido. Eles lhes faziam companhia e dissipavam o tédio. Eram todos bons e queridos amigos.

Quando as gênias paravam em sua nuvem, elas geralmente traziam iguarias de algum lugar do mundo. Sempre as comidas mais exóticas e deliciosas. Ou então, suvenires. Tinham tantos espalhados pelo palácio! Já não havia mais parede pra colocar tanto quadro, tanto enfeite. As eventuais visitas delas também os deixavam muito felizes.

Um dia, Kyuhyun inquiriu Sooyoung sobre o porquê de a gênia ter misturado seus nomes para formar o de Kyuyoung. Ela se fez de ofendida, mas ele sorriu, divertido. Depois disso, passou a chamar Kyuyoung de Kyuhyuna, e, por fim, de Kyuna. Você sou eu de saias, ele alegou, com uma expressão séria e um tanto quanto cômica. É justo que seu nome corresponda às expectativas.

Kyuyoung não deu de ombros, rindo gostosamente. Que ele a chamasse do que quisesse. Seu nome não era importante; o que era importante era a maneira como ele soava na voz de Kyuhyun. Enquanto ele a chamasse com afeto, não interessava de como ele a chamasse. Kyuyoung era uma mulher de prioridades.

Kyuhyun, por sua vez, aprendia a ter mais clareza. A confusão em si se desanuviava. Pelas manhãs, ele depositava um beijo casto na testa de Kyuyoung. À noite, a punha para dormir com uma cantiga de ninar. Já não se enervava tanto ao chegar perto dela. A proximidade passara a acalmá-lo, a aquecer seu peito. Ele apreciava estar junto a ela, e não mais fugia e se distanciava, amedrontado só de imaginar o que aconteceria se ficassem a sós.

Meses se sucederam, e ele decidiu levá-la a um campo que o encantara e que arrancara de si o único sorriso sincero que abrira em seu exílio. Com os dedos entrelaçados, eles sentaram em uma nuvem que desceu graciosamente pelo céu até soltá-los a poucos centímetros do chão. Os olhos de Kyuyoung se encheram com a paisagem que se estendia a sua frente. Era uma plantação de lavanda, da qual um manto lilás se originara e se alongava a perder de vista. De tão contente com o passeio, ela, impulsivamente, apertou Kyuhyun em um abraço inesperado. Ele se tencionou ao senti-lo, mas logo relaxou. Kyuyoung, ao se dar conta do que havia feito, ficou ligeiramente apavorada. E se ele a rejeitasse, a empurrasse e voltasse só para o palácio? No entanto, nada disso aconteceu. Kyuhyun acabou correspondendo ao abraço, transpassando os braços ao redor da cintura de Kyuyoung. Era meio possessivo e totalmente urgente. Ele a estreitava contra si como se ela fosse sumir sem deixar vestígio caso ele afrouxasse.

Kyuyoung ficou sem reação por alguns minutos. Ele não parecia querer soltá-la nunca. E ela realmente iria gostar se isso jamais ocorresse.

O primeiro beijo deles foi incerto, como costumeiramente os primeiros beijos são. Os lábios de Kyuhyun eram tão virgens quanto os de Kyuyoung e o sabor que um passou para o outro foi o de cumplicidade. Foi somente um selar, pudico e inocente, mesmo assim, guardava uma convicção que dificilmente seria aniquilada. Eles se gostavam.

Kyuhyun a levou para o meio do campo. Eles se deitaram entre os arbustos roxos de lavanda e o perfume que rescendia das plantas os embriagou. Kyuhyun prometeu, eufórico, que iria tingir todos os vestidos de Kyuyoung usando lavanda. Porque ela ficava bem em meio a tanto roxo, certamente iria ficar linda se vestisse roxo dia e noite. Ela respondeu com um beijo na ponta de seu nariz; instantaneamente, as bochechas de Kyuhyun queimaram e, aparentemente, todo o sangue de suas veias correu para se concentrar naquela região. Ele desviou os olhos arregalados e Kyuyoung apenas riu.

No cair da tarde, Kyuhyun disse timidamente que queria tentar uma-coisa-que-vira-em-um-filme. Cuspiu a frase tão rápido que Kyuyoung teve que pedir para ele repetir. Novamente, suas bochechas coraram de vergonha. E ela concordou com o que fosse lá que ele quisesse tentar.

Kyuhyun fez chover. Com seu canto, fez as nuvens se espremerem em uma torrente que lavou seus ossos. Encharcados, eles reaproximaram seus lábios e os selaram outra vez – seus lábios encaixados permaneceram assim por um bom tempo. Kyuhyun, para justificar sua ideia, disse que em muitos filmes os protagonistas beijavam-se sobre a chuva.

Kyuyoung acendeu um arco-íris quando a chuva cessou. Kyuhyun admirou-se; onde ela havia aprendido aquilo?

Toda bela chuva deixa um arco-íris. Foi sua única resposta.

Ao chegarem ao palácio, tinham os braços cheios de lavanda e o coração cheio. Kyuhyun se perguntava se aquilo era amor.


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Notas finais do capítulo

Eu disse que essa fic seria uma two-shot, mas ignorem. Decidi que ela vai ter alguns capítulos, mas não muitos. Eu to pretendendo atualizá-la a cada dois ou três dias, se estiver ok por vocês etc. n_nv To bastante centrada nela, então acho que nem vou conseguir escrever outra coisa... Sendo assim, eu posso me dedicar totalmente a ela e atualizar bem rápido!
Vocês também foram muito amor comigo. To super animada com essa fic por causa do retorno super positivo que recebi. haha Obrigada, meninas, vocês são uns amores. /hugs/
Espero que gostem desse capítulo também. ♥ E até o próximo~