Roderich estava bem.

Fora convidado para tocar piano durante uma nobre festa, que acontecia no nada humilde castelo de Arthur Kirkland, um conde inglês, que, apesar de um pouco excêntrico demais, era bem educado.

Como Arthur sabia do bom gosto do Austríaco, deixou-lhe escolher por si só as músicas que tocaria. E foi isto que ele fez. Naquele momento, tocava uma bela composição de seu compositor favorito, Mozart. O piano estava muito bem conservado, fazendo o moreno apreciar o som das teclas cada vez mais.

Algumas pessoas conversavam, outras apenas bebiam e observavam. Ele não era o centro das atenções, e poderia jurar que ninguém prestava atenção nele. Erroneamente.

Do outro lado do salão de baile, em uma das grandes sacadas com vista para os magníficos jardins do anfitrião, um jovem albino o observava atentamente. Desde que chegara, estava entediado, pois não gostava de todo aquele requinte. Só estava ali, por causa de seu irmão, Ludwig. Mas este se encontrava em algum outro canto do salão, ouvindo encantadamente as besteiras de um certo italiano. “Como sempre, aquele italiano. Não o entendo” pensava colérico, olhando para nenhum ponto em específico.

Bebericava uma taça de vinho encostado à sacada, quando seus olhos pousaram no pianista. Usava óculos, e tinha os olhos de um tom de roxo que ele nunca tinha visto antes. “Há, mais um engomadinho” pensou Gilbert, enquanto o analisava. O homem, apesar de estar olhando na direção das teclas do instrumento, não olhava para elas, e era notável para qualquer um que ele não prestando atenção no que tocava.

“Deve ser um pianista muito bom, toca sem partitura, e sem prestar atenção nas teclas”, pensou Gilbert. Continuou suas suposições sobre o pianista “Qual será seu nome? Será que ele mora por aqui?” devaneava o prussiano, quando Roderich levantou seu olhar, e seus olhares se cruzaram. Roderich continuou tocando como se nada estivesse acontecendo, mas seus olhos se arregalaram levemente. Gilbert também foi pego de surpresa.

Roderich corou levemente com o olhar do albino sobre si, que sorria de canto, encarando diretamente o pianista. Roderich então abaixou a cabeça encabulado, fazendo Gilbert sorrir ainda mais. “Hm... Então ele é tímido”.

Não se passaram nem dois minutos, e Arthur apareceu para falar com Roderich, agradecendo e perguntando se ele não gostaria de uma pausa, afinal, a festa estava quase no fim. Roderich pareceu pensar, mas por fim concordou, terminando a música que já estava no fim mesmo, e logo depois se levantando. Arthur ligou um rádio, para continuar com a música de fundo.

Roderich, por impulso, olhou em direção à sacada ao longe, onde antes o estranho albino se encontrava. Mas ela estava vazia. Roderich franziu a testa levemente com o sumiço do jovem misterioso, quando seus pensamentos foram interrompidos por uma voz atrás de si:

–- Olá. – e então Roderich levou um leve susto, virando e deparando-se com o albino, agora sem a taça de vinho consigo.

–- Ahn... O-olá. – disse o pianista corando um pouco e gaguejando. Ele não esperava ser abordado pelo albino.

–- Me chamo Gilbert Beilschmidt, é um imenso prazer conhecê-lo. – disse Gilbert sorrindo encantador para o menor, que corou mais ainda. Ia responder seu nome também, mas antes que pudesse dizer algo, foi surpreendido por Gilbert, que pegou suas mãos sutilmente, e as beijou, num gesto de cavalheirismo. – E você, como se chama?

–- ... eu... errn... Ro-roderich Eldestein... – disse, ainda se recuperando do choque, e muito corado. Gilbert ficou admirando-o por um tempo, ele ficava muito atraente corado. Ficava excitante.

Roderich tentou manter a compostura, e tirou suas mãos de perto das do maior, virando a cara e se fingindo de irritado. Sem sucesso. E Gilbert riu “kesesesese~”. Aquele seria o começo de uma conturbada amizade. E um inesquecível amor.