Witching escrita por Julia


Capítulo 3
Capítulo 3




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– Ele sai em vinte minutos. É aquele ali. – Disse o senhor que tomava conta do porto, apontando a um navio luxuoso. Me afastei dele, ainda perturbada com o que havia visto em seus olhos. Deveria ter sido imaginação. Poderia ser efeito da fome também, já que não havíamos comido nada desde que saímos de casa. O homem fez menção de se aproximar de mim, e por instinto dei dois passos para trás, o que fez com que eu tropeçasse em alguma coisa.

– Tome cuidado por onde anda garota! – Disse ele em tom rude. Ao erguer meus olhos, vi que ele tinha uma olhar hostil no rosto. Me levantei cuidadosamente, com medo de ter me machucado. – Diga para a senhora que não posso dar informações e fale para que pare de me incomodar.

– Mas o senhor...

–“Mas” porcaria nenhuma. Não é não e fim. – Eu estava ficando cada vez mais confusa com toda a situação e não fazia ideia de como começar a entender. Assenti para o homem, que parecia esperar uma resposta. – Aliás, não é adequado uma moça usar camisola em locais públicos, ainda por cima de dia. Você está ridícula. – Disse com um sorrisinho maldoso. Fechei a frente do meu roupão novamente e fiquei parada por alguns segundos antes de voltar para minha mãe.

– E então...? – Perguntou, Charlotte.

– O próximo navio sai em vinte minutos. É aquele ali. – Apontei para o mesmo navio que o homem havia me mostrado. – Mãe, quando vai me explicar o que está acontecendo aqui? Tivemos que sair de casa no meio da noite, estamos prestes a entrar em um navio que nem sabemos para onde vai, e o meu encontro com aquele senhor foi muito estranho. Se não me explicar, volto para casa agora. – Eu estava surpresa com minha própria ousadia. Nunca, em minha vida, havia exigido alguma coisa de minha mãe. Ela estava hesitando, pensando no que ia me dizer. Eu já me preparava mentalmente para uma bronca por minha petulância.

– Pois bem. Você vai ter que descobrir a qualquer hora. – Fui pega de surpresa com sua resposta e não consegui esconder o choque em meu rosto. Mas se ela percebeu, não disse nada. Vi seus olhos encontrarem algo atrás de mim. – Mas não agora. Agora nós temos que entrar naquele navio.

Começamos a andar rapidamente em direção ao transporte. Enquanto íamos, me atrevi a olhar por cima do ombro, e os vi. Poderiam parecer estátuas, com suas vestes pretas, se seus olhos não se movessem cautelosamente por todo local, a procura de alguma coisa. A procura de alguém. E foi quando percebi. Eles estavam à procura de nós.

Subimos no navio sorrateiramente, tentando permanecer discretos e invisíveis. Me senti mais segura uma vez que estávamos escondidos em um dos compartimentos.

– Acha que alguém nos viu subir? – Perguntei a minha mãe.

– Com certeza. – Respondeu ela, dando de ombros como se isso não apresentasse problema algum. Troquei minhas roupas por algo mais apropriado, enquanto Charlotte trocava as crianças. Ficamos todos quietos, até termos certeza de que não havia ninguém que pudesse nos ouvir.

– Claire, preste muita atenção no que vou dizer agora. – Ela começou a falar em um tom baixo e urgente, como se nossas vidas dependessem daquilo. Desconfiei que talvez dependessem. – Não tenho tempo para te explicar as coisas. Você tem que pegar Alethea e Hartley e sair daqui. Leve as malas com você e vá direto para a casa de sua avó. Não fale com ninguém e não pare por nada no caminho, me ouviu? – Assenti, enquanto absorvia suas ordens. Era estranho que ela me mandasse ir à casa de minha avó, já que ela não gostava muito de sua mãe.

– Espera... Você não vem com a gente?

– Não. Eu tenho que ficar, para que vocês possam fugir. – Ela disse mais alguma coisa, mas o som de suas palavras foi abafado por batidas fortes na porta. Puxei as crianças para um armário grande que havia no canto do compartimento. Assim que nos ajeitamos lá dentro, duas pessoas irromperam pela porta. Pus-me na ponta dos pés, e observei pelos furos no móvel.

A mulher tinha os cabelos vermelhos, caindo em cascatas pelas suas costas e seus olhos negros davam arrepios. O homem tinha uma aparência mais suave, com seus cabelos loiros, olhos acinzentados e traços suaves. Mas foram as capas pretas que fez com que eu os identificasse. Eles eram os vultos negros na minha janela durante a noite.

– Posso ajudar? – Perguntou minha mãe, em um tom displicente.

– Claro. Pode ajudar a si mesma. – Disse a mulher, com um ar de superioridade.

– Você vem conosco sem causar problemas, nos entrega as outras, e talvez nos possamos poupar a vida de sua filha. – Completou o homem, esboçando um sorriso cruel. Minha mãe não disse nada, enquanto analisava a situação, mas antes que pudesse tentar agir de alguma forma, o homem a pegou pelos braços e começou a arrastá-la porta afora.

– Peter, eu cuido dela. Procure as crianças, eles devem estar escondidos em algum lugar no navio. – Peter assentiu, enquanto passava minha mãe para a mulher. Logo os dois estavam fora do compartimento e podíamos respirar novamente. Enquanto estávamos ali, parados. As crianças estavam esperando que eu fizesse alguma coisa e eu estava em choque, incapaz de pensar em algo a não ser nas palavras de minha mãe. E foi quando entendi sua última ordem. “Não me salve.”



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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler. O próximo capítulo será postado até 21/07.



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