Witching escrita por Julia


Capítulo 1
Capítulo 1




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Salém, 1692

    Podia sentir a ponta de seus dedos ásperos percorrendo meu braço lentamente, seus lábios roçando minha orelha, enquanto sussurrava palavras doces... Acordei sobressaltada. Esse não era o tipo de sonho que eu deveria estar tendo. Eu, uma moça da nobreza, não deveria sonhar com homens desconhecidos, por mais atraentes que fossem. Não era correto, nem saudável e eu tinha que aprender a controlar meus sonhos. Levantei-me lentamente, ainda atordoada com as imagens do sonho, meus pensamentos ainda insistindo em flutuar de volta para o sonho.

   Aprontei-me para o café da manhã sem prestar muita atenção no que estava fazendo e desci para o cômodo onde a comida estava sendo servida.

- Bom dia, Claire. – Disse minha mãe, com o mesmo olhar cansado que tinha já há algum tempo. Suas olheiras estavam cada vez mais fundas, e eu não sabia por que, e ela não gostava que eu perguntasse. Mas nem os sinais de cansaço eram capazes de ofuscar sua beleza clássica, com seus cabelos negros, traços elegantes e olhos azuis como o céu. Charlotte havia tido uma vida muito sofrida, transformando-a em uma mulher calada e fechada para o mundo. Meu pai nos deixou logo após o nascimento de Hartley, meu irmão. Minha mãe lutava para nos educar e nos manter bem arrumados, o que ficou mais fácil quando ela recebeu uma herança da minha avó por parte de pai. Mas mesmo com duas crianças para cuidar, quando uma menininha de cabelos dourados, com  apenas um ano, enrolada nos cobertores foi deixada na nossa porta em uma noite fria, ela a acolheu. Foi assim que Alethea passou a fazer parte de nossa família.

- Bom dia. – Respondi enquanto começava a comer.

  Eu podia demorar o tempo que quisesse comendo, pois não tinha muito que fazer o dia inteiro além de dar uma olhada nas crianças de vez em quando.

Pedi para Annie, uma de nossas criadas cuidar deles enquanto fui dar um passeio pelos jardins da casa. Era um lugar bonito, com um tapete de grama bem cuidado, se estendendo para todos os lados. Flores de todos os tipos e todas as cores podiam ser vistas espalhadas pelo local. Sentei em um dos muitos bancos distribuídos pela extensão do local. Deixei meus cabelos pálidos flutuarem livremente na brisa fria, enquanto meus pensamentos vagavam para o sonho. Quem era aquele homem, e o que fazia invadindo meus sonhos quase todas as noites? Pensei em como me sentia nos sonhos, e em como os detalhes continuavam vívidos em minha cabeça no dia seguinte, como nenhum outro sonho.

- Claire. – Uma voz gritando me arrancou de meus pensamentos. A figura vinha correndo em minha direção com vários fios castanhos se desprendendo de seu coque sempre bem arrumado e suas feições sempre serenas, distorcidas com a preocupação e o medo.

- O que aconteceu, Annie? – Suas bochechas estavam coradas por causa da corrida e ela parecia ofegante.

- Lobo. – Foi o que conseguiu murmurar enquanto me arrastava em direção a casa pelo braço.

Passei os olhos pela sala, procurando sinais do lobo. Mas não havia nada, exceto Alethea e Hartley brincando.

- Tinha um lobo. Eu vi, eu juro. Bem ali. – Ela apontava para onde havia apenas um papel solto.

- Não me parece que havia um lobo aqui. – Disse enquanto recolhia o papel. Engraçado era que desenhado ali, havia um lobo. Provavelmente foi o desenho que originou tal delírio de Annie. – Tem certeza de que não viu o desenho, e acabou imaginando coisas?

- Tenho. Eu juro que vi. Alethea estava desenhando, e Hartley foi tentar pegar o papel dela e foi quando ele apareceu. O lobo. Parecia querer ataca-lo. – Um tremor percorreu seu corpo com a memória.

- Acho melhor ir descansar, Annie. – Disse gentilmente. Ela assentiu e subiu as escadas. Fiquei ali observando as crianças brincarem, até minha mãe chegar para o jantar. Enquanto comíamos, contei a ela todos os acontecimentos do dia, incluindo o incidente com o desenho.

- Louca. Aquela mulher está endoidando. – Ela disse, balançando a cabeça. Mas por mais que tentasse mostrar indiferença, vi preocupação em seus olhos. Seria preocupação com Annie, ou ela realmente acreditava que havia um lobo? Decidi não perguntar.

Após o jantar, fui para meu quarto. Deitada na cama, fiquei alisando os lençóis, pensando no homem misterioso até cair no sono. Naquela noite meus sonhosforam invadidos por lobos. Primeiro, uma matilha me perseguia incansavelmente, até eu não aguentar mais correr. Acordei, quando um dos lobos estava prestes a me pegar. Quando voltei a dormir, tive um novo pesadelo, onde eu e minha mãe conversávamos calmamente, quando um lobo irrompeu pela porta e nos encurralou. Ele tinha um pelo dourado, e tentava nos pegar, enquanto lutávamos inutilmente. Quando meus olhos encontraram os do lobo, não eram olhos de um animal. Eram os olhos de Alethea.


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