Ela Foi o Meu Amor escrita por slytherina


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Acho que a fic tem uns toques do filme "Kingdom of heaven" de Ridley Scott, mas é só coincidência de temas.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/24351/chapter/1



Seu nome era Percival. Era alto e musculoso. Tinha cabelos castanhos, finos e cacheados nas pontas, até a altura dos ombros. Olhos azuis anil e pele tostada do sol. Ele nasceu na Saxônia. Foi chamado por seu rei para seguir para as Cruzadas. A mobilização de guerra religiosa, que visava oficialmente libertar Jerusalém do julgo árabe. Na verdade Percival acompanhara seu rei nesta peleja, porque todos os seus amigos tinham ido para a guerra. Todos os homens honrados tinham ido para guerra. Ele também não poderia ficar de fora.



Saiu de sua aldeia aos 16 anos. Passou 10 anos longe do lar, mas então a guerra acabou. Ou ele acabou para a guerra. Não via mais motivo em continuar lá. Numa luta na qual não via nenhum sentido. Percival voltou para casa. Veio montado no seu sexto cavalo. Antes desse, cinco haviam perecido. Fora uma longa jornada até a Saxônia, atravessando oceanos e terras estrangeiras, perdendo amigos e matando homens. Mas enfim estava de volta à sua terra natal. Apesar de calejado pela guerra, Percival teve vontade de chorar.



Cavalgou pelas antigas florestas, vales e charnecas. Reconheceu sua antiga aldeia. Onde estaria sua família. Desceu do cavalo e foi andando a pé, revendo as mesmas casas, as mesmas pessoas de outrora. Chegou finalmente à casa de seus pais. Os seus velhos pais não o reconheceram. Ficaram olhando-o como se fora um forasteiro, talvez um inimigo.



_Pai, mãe, sou eu, seu filho Percival. Não me reconhecem?

_Filho, é você mesmo?

_Oh meu Deus! É ele mesmo, Percival, você voltou. Graças, Aleluia!



Seus pais o abraçaram e choraram, pois achavam que estivesse morto. Seus vizinhos se juntaram na confraternização. No dia seguinte fizeram uma celebração, caçaram um cervo, assaram-no e o ofereceram em banquete para todos da aldeia. Todos ficaram muito felizes com a volta de Percival. Na semana seguinte, quando Percival já estava reintegrado à sua rotina, alguns aldeões necessitaram ir a um centro comercial numa cidade distante dali. Pediram que Percival os acompanhasse. Ele então seguiu em um carro de boi.



Levaram alguns grãos para fazerem troca e venda, e também comprarem alguma coisa. Durante o trajeto Percival foi se lembrando de uma menina por quem se apaixonara na sua adolescência. Ela se chamava Rowena. Era magra e alourada, com sardas no corpo todo. Tinha um sorriso doce e cândido, e uma vulnerabilidade que o fazia sempre ficar perto dela, com medo que a mesma se ferisse. Ficavam o tempo todo juntos. Tinha sido uma tortura separar-se dela.



Ela chorara desde a hora em que ele dissera que iria para as cruzadas. Na sua partida ela estava com o rosto vermelho e o nariz inchado, enquanto as lágrimas caíam abundantes. Durante o tempo em que estivera na guerra, Percival lembrava-se cada vez menos de Rowena. Haviam muitas cortesãs em Jerusalém. Percival chegara mesmo a conviver maritalmente com uma das mulheres locais, mas ela morrera de doença.



Naqueles tempos era como se a morte bafejasse seu hálito na nuca de Percival, sempre o convidando para sua última guerra, seu último assalto, seu último combate corpo a corpo. Ele vivia cada dia como se fosse o último. Sulamita, este era o nome de sua falecida cônjuge, tivera sorte de não morrer na ponta da espada dos mulçumanos, ou por ataque violento de um dos conterrâneos de Percival, pessoas radicais e intolerantes, que matavam a um ser humano apenas pela ascendência árabe.



 

Logo Percival e seus companheiros de aldeia chegaram à feira de Scarborough. O local era apinhado de gente. Procuraram negociar suas mercadorias, para então comprarem aquilo que necessitavam e que lhes fora encomendado. Enquanto conversavam com os comerciantes, alguém reconheceu Percival.



 

_Percival, Nosso Senhor salvou-lhe a pele nas cruzadas e permitiu que voltasse para nossa amada terra. Graças aos céus.

_Eu não poderia morrer em terras infiéis Gert.

 

_Sim, não mesmo. Há quanto tempo. Você nem parece você mesmo. Parece outro homem, um verdadeiro cruzado. Já reviu todos os seus conhecidos e amigos de antigamente?

 

_Não todos Gert. Durante a viagem para cá, lembrei-me de Rowena. Ela morava por essas bandas. Tem ouvido falar nela?

 

_Rowena? A sua Rowena, a magrelinha sardenta e molona. Sim eu me lembro dela. Já falou com ela depois que retornou?

_Não Gert, mas gostaria muito de revê-la. Pode me dizer se ainda está viva, se ainda mora por aqui?

 

_Sim, bem viva, e ainda mora por aqui. Posso providenciar para que se encontrem.

 

_Eu lhe agradeço Gert, imensamente. Não sabe a emoção que isso me causa.

_Tudo bem amigo. Não se emocione demais.

 

_Diga a Rowena para encontrar-se comigo daqui a três dias, próximo à encosta do mar, no nosso local favorito. Diga-lhe para levar-me uma blusa de cambraia, ela saberá o que isso significa. E já ia me esquecendo, diga-lhe para trazer um ramo de urzes.

 

_Isso tudo é um ritual, não é? Sempre o mesmo romântico apaixonado, Percival. Não se apaixone tanto meu amigo. Pode deixar, direi tudo isso a ela.

 

_Muito obrigado, Gert, meu amigo.



 

Percival despediu-se de Gert com um forte abraço. Naquela noite ele dormiu muito ansioso. Então três dias depois foi ao local marcado do encontro. Percival chegou cedo, por volta de oito horas de uma manhã gelada. Ele veio bem agasalhado em uma roupa de couro. Ficou admirando o mar e relembrando do passado, quando ele e Rowena juraram amor eterno.



O sol já estava a pino, quando Percival desistiu de esperá-la. Achou que talvez Gert não a tivesse encontrado. Percival então se dirigiu ao seu cavalo que estava amarrado na sombra de uma árvore. Foi quando Rowena apareceu.



 

_Percival.

 

Percival virou-se e viu uma moça gorda, loira e sardenta. Ela trazia um embrulho nas mãos e um embornal atravessado no peito, de onde se podia ver ramos de urzes saindo. Ela lhe deu um sorriso tímido. Não era a mesma donzela que ele deixara no passado. E se ele não tivesse pedido que ela comparecesse a este encontro, ele não a reconheceria.



 

_Rowena, como está?

 

_Estou com saúde. Toma, eu trouxe a blusa que me pediu, sem costuras ou cadarços. Também trouxe o ramo de urzes.

 

_Obrigado. Você se lembra para que era tudo isso?

 

_Eu me lembro. Nosso pequeno ritual de namorados.

 

_Você se casou?

 

_Casei-me, mas meu marido já morreu. Sofreu uma queda do cavalo. Partiu a cabeça. Já faz seis meses. E você?

 

_Também me casei. Ela morreu de doença. Há dois anos.

 

_Sinto pela sua perda.

 

_Também sinto pela sua.

 

_Vamos andar um pouco pela relva?

_Por que não? Assim poderemos falar dos velhos tempos.



 

Os dois deram as mãos e iniciaram o passeio pela encosta do mar.



 

Fim



  

Scarborough Fair Canticle

 

Are you going to Scarborough Fair?

Parsley, sage, rosemary and thyme.

Remember me to one to lives there.

She once was a true love of mine.

Tell her to make me a cambric shirt:

Parsley, sage, rosemary and thyme;

Without no seams no needle work,

Then she'll be a true love of mine.

Tell her to find me an acre of land:

Parsley, sage, rosemary and thyme;

Between the salt water and the sea strand,

Then she'll be a true love of mine.

Tell her to reap it with a sickle of leather:

Parsley, sage, rosemary and thyme;

And to gather it all in a bunch of heather,

Then she'll be a true love of mine.

Are you going to Scarborough Fair?

Parsley, sage, rosemary and thyme;

Remember me to one to lives there.

She once was a true love of mine.




Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Encontrei outra versão dessa música, com mais versos, mas optei por esta versão de Simon e Garfunkel, pois foi através deles que eu conheci este lindo cântico.