Depois da morte de minha mãe, meu pai decidiu me colocar em um colégio interno. Ele não deveria ter feito isto, a mesma dor que ele sentia, eu também sentia. Apenas me manifestei de um outro modo.

Bem, lá estava eu, saindo de um dos carros de meu pai, esperando o motorista tirar minha bagagem do porta-malas. Dei um abraço singelo em Ruy, que por sinal, era o único que se preocupava com o meu estado. Ruy era o filho do motorista, nós crescemos juntos, mas naquele ambiente onde elite é elite e filho de empregado é filho de empregado. O que é ridículo. Mas isto não vem ao caso agora.

Ruy se virou, entrou no carro e se foi, junto com o seu pai e minha esperança de sair dali. Me deixando sozinha, literalmente sem ninguém. Fui até a recepção me informar sobre aonde eram meus aposentos.

-Senhorita... ?

-Demetria.

-Lovato ?

-Isso.

-Quarto 324.

-Falou.

Peguei minhas coisas, que não eram muitas e fui para o meu respectivo quarto.

Quando cheguei lá, me surpreendi com algumas figuras, típicas adolescentes medíocres que se acham a última Coca-Cola gelada do verão. Me aproximei de uma das quatro camas que se encontravam naquele quarto.

-Não pense em colocar sua mochilinha aí!

-Está falando comigo ?

-Tem mais alguma garota estúpida aqui ?

-Tirando você ? Acho que não.

-Taylor, não precisa falar assim.

Uma garota se aproximou de mim para evitar que eu e, a garota que parecia se chamar Taylor nos devorássemos.

-Oi, eu sou Selena.

-Olá...

Eu não sei explicar porque, mas a sensação que tive quando Selena esticou uma de suas mãos para que eu apertasse, foi tão boa, que me deu vontade de abraça-la e não solta-la mais. Foi um sensação um tanto quanto estranha. Mas eu apertei passivamente sua mão.

-Essa cama é da Taylor.

-Taylor ?

-Sim, a garota que você chamou de “estúpida”.

-Claro... E aquela ali, tem alguém nela ?

Apontei para uma cama perto da janela.

-Sim, uma outra garota toda esquisita.

-E cadê ela ?

-Jogou algumas coisas na cama e se foi.

-Tudo bem, eu não tenho uma cama.

-Tem aquela ali.

Fui andando em direção a cama.

-E por quê ninguém quis ela ?

-Eu não sei.

-Tudo bem.

Joguei minhas coisas em cima da minha nova cama.

-Eu vou ali... Tchau, Selena.

-Tchau!

Passei por Taylor, que estava perto da porta do quarto, com uma cara amarrada.

-Tchau, Taylor.

Ela não me respondeu. Eu virei o rosto e continuei andando. Aquela escola seria uma grande besteira. Uma perda de tempo. Mas o que se fazer quando se é mal criada ? Ir para um internato! É, esta não é a melhor opção, mas para o meu pai, parecia ser diferente.

 Fui para o grande pátio aberto da escola. Sentei na grama e tirei um cigarro e um isqueiro do bolso. Quando o acendi, e estava quase o colocando na boca, uma garota sentou do meu lado.

-Novata né ?

-Por quê ?

-Se te pegarem com cigarro aqui, sabe o que acontece ?

-Não. Mas eu acho que você vai me falar.

Ela riu, mas continuou.

-Eles te dão uma espécie de advertência.

-E o que acontece ? Eu sou expulsa ?

-Não, não. Aqui eles não expulsam, eles te deixam em um quarto isolado, sem nada por algum tempo, te tiram todos os benefícios. Mas não é permanente.

-Isso não seria uma má ideia. É melhor do que ficar com minhas colegas de quarto.

Nós duas rimos.

-Mas, enfim, como você sabe disso ?

-Talvez seja por experiência própria.

-Eu não ligo. Vou fumar. Que se foda as regras.

Eu disse enquanto colocava o cigarro na boca.

-Garota, isso não é brincadeira. É perigoso eles te pegarem.

Ela disse enquanto tirava-o de minha boca.

-Eu vivo o perigo.

-E como é o seu nome, “dona perigosa” ?

-Demetria, mas me chama de Demi se não quiser apanhar.

-Tudo bem, Demetria.

Ela disse olhando e com um sorriso provocante em seus lábios.

-Idiota. E o seu nome, como é ?

-Miley.

Ela se levantou pegou me braço puxando-o, e fazendo com que eu me levantasse também.

-Vem cá.

Miley me levou para um lugar bem isolado.

-Aqui você pode fumar, você nunca vai ser pega.

-Eu realmente não ligo se eu for pega. Mas já que insiste tanto nisso, vou fumar aqui. Obrigada.

-Demonstre sua gratidão, passando um cigarro pra cá.

-Toma aí.

Tirei um cigarro do bolso e dei para Miley.

Ficamos batendo papo por algum tempo, fumando um cigarro atrás do outro. Por instantes, achei que aquela escola poderia ser legal.