Opposite escrita por Giovana Marques


Capítulo 3
Descobertas




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   — Emily Parker, está me ouvindo? – Rachel grita, acordando-me dos pensamentos.

   – Sim, desculpe. – Respondo, envergonhada pela eminente desatenção.

   – No que você está pensando tanto? – Ela me pergunta, com um sorrisinho bobo no canto dos lábios. – Ou melhor, em quem?

    “No cara misterioso, com quem meu irmão me fez sair. Que é um maluco completo, disse que sou uma feiticeira, e além disso acredita em lobisomens. Ah, ele lutou contra alguns na minha frente!”—   Penso em dizer, mas realmente acho que não é o mais apropriado.

   – Estou só cansada. – Minto.

   – Sei.

   É mais uma Segunda-feira como todas as outras e eu e Rachel estamos estudando para a prova de Biologia de amanhã. O problema é que não  consigo me concentrar.

   Tudo bem que eu decidi apagar aquela sexta-feira insana com Luke da minha vida, afinal o cara é aparentemente louco. Mas naquela mesma noite, quando ele me deixou em casa, me pediu para que não contasse nada a ninguém, principalmente a Logan. Disse que voltaria a me contatar nos próximos dias, coisa que eu pretendo evitar totalmente.

   Fiz como ele pediu e não disse nada. A pior parte da história é que Logan pensa que eu e Luke estamos saindo e não para de fazer piadinhas relacionadas a isso.

   – Onde estávamos mesmo? – Pergunto, fazendo Rachel bufar.

   Ela joga seu caderno no chão, fazendo um drama e cruza os braços. Consigo ver em seus olhos azuis, pouco mais escuros que os meus, como está magoada por estar escondendo alguma coisa. Nós sempre contamos tudo uma para a outra, afinal.

   – Quer me contar o que aconteceu?

   Suspiro, atirando-me de costas sobre as almofadas de sua cama.

   – Se eu falar vai me chamar de louca. Ou coisa pior.

   – Amigos existem para isso.

   Desisto e decido contar tudo à Rachel. Sabia que ela iria me apoiar, afinal, somos melhores amigas desde pequenas. Termino a história temendo a reação da minha amiga, mas para a minha surpresa ela ri.

   – Esse tal de Luke era bonito, pelo menos?

   – Era. – Digo, mordendo meu lábio inferior.

   – Então valeu à pena.

   Reviro os olhos com o comentário, mas fico momentaneamente aliviada por Rachel não me achar uma maluca completa.

   – Pode parecer loucura, mas sei lá, aqueles lobos... Eles apareceram do nada. Não podiam estar na cidade...

   – Ems, você estava bêbada. Está confundindo as coisas! Pare de se preocupar com essas besteiras e vamos estudar!

   Rachel tem razão, embora eu possa jurar que não coloquei nenhuma gota de álcool na boca. Talvez seja melhor se eu acreditar que estava realmente bêbada aquela noite. E assim será.

   Agradeço Rachel em minha mente e voltamos a estudar. Sem nenhuma interrupção desta vez.

                                                                                                           ***

   Lastimo chateada, enquanto chuto todas as questões da prova. Obrigada por isso, Logan!

   Tudo bem que a culpa não era dele, afinal, todo mundo tem um amigo maluco. Bom, mas pensando melhor Logan havia feito eu sair com seu amigo maluco, isso era imperdoável.

   Fecho meus olhos, implorando à mim mesma para que lembre de alguma coisa. Nada relacionado à matéria me vem à mente, apenas um nome: Blake Darkbloom.

   Por que esse nome havia causado tanto impacto em minha pessoa? O que ele tem de mais? É só um nome! Por que havia me deixado com essa sensação esquisita, como se já o tivesse escutado?

   Entrego a prova, conformada com o meu fracasso, e tento pensar em outra coisa que não seja sexta passada.

   Já estou quase saindo da escola quando Rachel me para. Ela está acompanhada de uma garota que eu nunca vi antes. É incrivelmente baixa (mais do que eu), magra e seus cabelos ruivos são curtos e repicados. Seus olhos são negros como ônix. Ela sorri, amigavelmente.

   – Em, essa é Nina. Ela é nova no colégio. – Rachel nos apresenta.

   Fico esperando a garota estender seu braço, para darmos um aperto de mão formal, mas ela não o faz. Ela apenas balança com a cabeça, não que isso deva ser notado claro. Eu balanço minha cabeça também, em resposta.

   – Nina me pediu uma carona, mas eu moro do outro lado da cidade. Ela me disse mais ou menos onde é sua casa e acho que é mais o seu caminho, Em. Acha que poderia levá-la?

   – Isso se não tiver problema, claro. – Nina, com sua voz fininha, diz.

   – Não tem problema nenhum! Vamos. – Digo, fazendo de tudo parecer amigável.

   Nos despedimos de Rachel e andamos até o carro. Percebo como é engraçado o jeito de andar de Nina, meio saltitante.

   Já estou seguindo o caminho dito pela garota, no carro. O silêncio preenche o momento, então decido quebrá-lo.

   – Então, de onde você vem, Nina?

   – Madrid, na Espanha.

   – Legal... E o que te trouxe a New York?

   – Meus pais... Eles se separaram há algum tempo. A família da minha mãe é daqui, então acabamos vindo para cá. – Ela diz, fraquejando a voz.

   Pais separados. Tenho muitas colegas na minha sala de aula que os pais são divorciados, Rachel é uma delas. Lembro-me bem o quanto ela sofreu durante o processo de separação. Pobre Rachel, pobre Nina. Quem acaba sofrendo mesmo são os filhos, não é?

   – Eu não sabia, sinto muito. – Peço desculpas por tocar no assunto.

   – Não tem problema, já estou conformada. Pelo menos eles vão parar de brigar. – Ela diz, dando de ombros. – E os seus pais? Também são divorciados?

   A pergunta, de repente, me faz saltar. Quase bato o carro no da frente, que buzina freneticamente para mim. Respiro fundo e ignoro os xingamentos do motorista revoltado.

   A verdade é que eu odeio falar sobre a minha família, o que explica a minha péssima reação à pergunta de Nina.

   Penso dar uma resposta direta e mudar de assunto, ou até em mentir, para variar, mas dessa vez decido fazer diferente. Afinal, eu sempre arrumo um jeito de fugir da conversa quando o assunto são meus pais. Talvez seja a hora de superar isso.

   – Acho que sim. Nem sei, na realidade, se meus pais se chegaram a se casar. – Respondo, tentando manter a calma e a atenção na direção, ao mesmo tempo. – Minha mãe saiu de casa logo que eu nasci e ninguém me conta nada sobre ela.

   Nina balança a cabeça, como se eu tivesse dito absurdos.

   – Você não sabe quem é sua mãe? – Parece intrigada.

   – Não. Mas sabe, eu não me importo... – Digo com um suspiro.

   E realmente não me importo. Minha mãe nos abandonou quando eu e Logan éramos muito pequenos e isso é imperdoável. Não sei quem é, e sinceramente? Não quero saber. A única coisa que tenho certeza é que tenho muito ressentimento por essa mulher, mesmo sendo desconhecida por mim.

   Meu pai, para ajudar, nunca quis dizer uma palavra sobre ela. Como se nunca houvesse existido, como se eu e meu irmão tivéssemos sido gerados completamente do nada.

   – Minha mãe nos abandonou, isso não tem perdão. –   Murmuro com um certo rancor, guardado por anos dentro de mim.

   – Sem querer me intrometer, mas eu concordo.

   Sorrio de leve, e Nina retribui o sorriso. Parece mesmo ser uma garota legal, talvez eu deva investir em uma nova amizade.

   O caminho é meio longo e, por causa do horário, ficamos presas no trânsito por vários minutos. Conversamos um pouco sobre a escola e então o assunto acaba novamente. Decido ligar o rádio para ver se o tempo passa um pouco mais rápido.

   Sigo o caminho indicado por Nina quando ela finalmente diz, apontando para uma ruazinha:                                                 

   – Vire aqui.

   Viro e paro em frente à uma casa, sob o comando da garota ao meu lado. É uma casinha pequena mas bem ajeitada, com um pequeno jardim na entrada.

   – É aqui? – Pergunto.

   – Sim. Bem... Obrigada. – Ela diz abrindo a porta do carro. – Por favor, entre. Deixe-me fazer um chá, como agradecimento.

   Não estou com a mínima vontade de sair do carro, nem de tomar chá. Apesar da generosidade de Nina, recuso.

   – Não se preocupe, Nina. Está tudo certo...

   – Por favor. – Ela choraminga.

   E isso é mais do que suficiente para me fazer sair do carro. Pareço ser durona, mas no fundo sou uma pessoa muito flexível.

                                                                                                                       ***

   – Açúcar? – Nina pergunta.

   – Um pouco, por favor.

   Ela se inclina e despeja meia colherzinha de açúcar dentro de minha xícara. Se senta ao meu lado e toma um gole, da sua xícara claro.

   – Sua casa é tão delicada e arrumadinha! – Observo.

   – É, eu ainda não acostumei. É pequena se comparada com a minha antiga casa na Espanha, mas obrigada.

   Tomo um gole do meu chá e percebo que não é tão ruim assim. Tem um gosto adocicado e delicioso. No geral não sou muito fã de chá, prefiro café. Mas esse chá é totalmente diferente.

   – Que chá é esse?

   Ela estremece e olha para o relógio de pulso. Me sinto, de repente, culpada. Será que Nina tem algum compromisso? Bom, foi ela quem me convidou para entrar.

   – Chá mate.

   – O que? Não pode ser, eu odeio chá mate. E esse...

   – É o meu chá mate. – Ela diz, dando uma piscadela. Mas depois muda completamente de assunto. – Então... Foi bem na prova?

   – De Biologia? Pior impossível. Estava distraída demais para estudar... – Comento, lembrando novamente de Luke e toda sua loucura.

   Nina cruza as pernas e dá uma risadinha nervosa, ainda olhando para o relógio. Bocejo, de repente. Que cansaço! Talvez eu deva ir embora dormir.

   – É, mas com tudo o que aconteceu na Sexta... – Nina diz, ainda distraída com o relógio. Qual é o problema, afinal?

   – Pois é. – Respondo, irritada.

   E então, é com um susto que percebo: Por que diabos Nina sabe sobre sexta?

   Olho para ela que já está com as duas mãos cobrindo sua boca, como se tivesse dito o que não devia.

   – Calma aí, como você...?!

   Me levanto assustada e tento andar, mas percebo que estou cansada demais para isso. Ou melhor, com sono.

   Não sinto meu corpo e tudo a minha volta é vago e gira. A única coisa em que consigo focar meu olhar são os olhos negros de Nina. É simplesmente a pior sensação que já senti em toda a minha vida.

   Entro em desespero e de repente já não consigo ver lógica em mais nada do que está acontecendo.

   Pelo amor de Deus, por que eu estou me sentindo desse jeito?! — Penso, tentando ordenar os fatos em minha mente, o que é extremamente complicado, por causa do sono profundo e repentino.

   E então, uma coisa me vem à cabeça: O chá! Se é que aquilo era chá, claro. Bem que eu havia estranhado quando Nina disse que o que eu estava bebendo era chá mate. Aquilo não chegava nem perto de parecer com chá mate.

   Ótimo. Acabo de perceber que fui drogada.

   – O que m-me fez b-beber? – Gaguejo, em uma tentativa frustrada de me manter em pé.

   Meu movimento das pernas falha e eu me seguro na mesa, esbarrando em uma das xícaras que cai no chão e se quebra em milhões de pedaços.

   Nina me segura, e ao me tocar tenho uma sensação diferente. Como se tivesse levado um pequeno choque. A mesma sensação esquisita que tive ao tocar Luke.

   – Me desculpe, Emily. – São as últimas palavras de Nina que consigo ouvir antes de desmaiar.

                                                                                                      ***

   – Pobre garota. – Alguém choraminga ao meu lado. Reconheço a voz e percebo que é Nina.

   Ainda me encontro de olhos fechados, embora já esteja acordada. Acho que o efeito da droga que ingeri, acreditando ser chá, esteja passando. Estou deitada em algo macio, que não consigo identificar. Um sofá? Talvez.

   – Estamos fazendo isso pelo seu próprio bem ... Ela vai nos agradecer! – Uma voz masculina, que não reconheço, diz.

   – Ou não.

   Assusto instantâneamente com a voz de Luke. Ok, ele está aqui! Droga! O amigo maluco do meu irmão está aqui. E isso só confirma o que eu já suspeitava: Luke e Nina se conhecem. Se bem que eu já soube disso desde o toque de Nina, quando me segurou.

   – Por que não, Luke? – A garota pergunta.

   “Por que vocês são um bando de lunáticos? Ou também por que me drogaram para que eu apagasse e sei lá o que vão fazer comigo?!” – Tento gritar, juro que tento, mas minha voz não sai.

   – Não vou dizer. Não agora. Emily já deve estar nos ouvindo... Vamos esperar que acorde.

   – Em! – Nina me chama docemente, como se fossemos grandes amigas. – Se estiver me escutando, me perdoe! Esses dois me obrigaram a te enganar.

   – Para o seu próprio bem! – A voz irreconhecível retruca.

   – Calem-se! – Luke se irrita. – A garota deve estar confusa, ainda mais com vocês falando tanto.

   E ele tem razão, em parte. Consigo sentir meus movimentos voltarem,   pouco a pouco e tento pensar em alguma estratégia para que consiga sair daqui. É claro que é um tanto impossível, com três pessoas tentando me impedir.

   Abro os olhos devagar e eles ardem com a claridade. Há quanto tempo estou deitada aqui mesmo?

   Como previa, estou em um sofá. O pequeno sofá da casa de Nina, se é que essa é mesmo sua casa. Já estou sentada e as três pessoas me olham curiosas. Nina, Luke e o garoto que não reconheço, mas que posso jurar que é algum parente de Luke, devido à semelhança.

   – Precisamos conversar. – Luke diz sério.

   – Isso eu percebi. – Minha voz sai um tanto rouca. – Bem que vocês poderiam ter me avisado, ao contrário de me doparem.

   – Você é mais cabeça dura do que parece, não nos ouviria. – Ele diz, debochando.

   Quero socá-lo ou mandar uma resposta daquelas, mas não tenho forças para fazer nenhuma das duas coisas. Então apenas suspiro.

   – Luke, não precisa ser grosseiro. – Nina me defende.

   Confiro as horas em meu celular, que já está em minhas mãos, e me assusto ao descobrir que são nove horas da manhã. Quer dizer Nina me convidou para entrar às cinco horas da tarde... Não é possível que eu tenha passado mais de um dia completamente apagada.

   – Estou dormindo à quanto tempo? – Pergunto, atordoada.

   E então, o garoto parecido com Luke, exceto pelas sardas e por parecer ser mais novo, abre a boca.

   – Quase dois dias.

   Praticamente pulo do sofá, e quando vejo estou andando de um lado para o outro. Não acredito que perdi quase dois dias dormindo!

   Entenda, eu perdi, pelo menos, umas seis provas! Sem falar que Logan deve estar louco com o meu sumiço.

   – Dois dias?! – Praticamente grito. – Vocês enlouqueceram? Logan deve estar completamente preocupado.

   – Liguei para o seu irmão. – Nina diz. – Disse que você passou esses dois dias aqui em casa, me ajudando a estudar... Já que sou uma aluna nova.

   E Logan, por ser a pessoa mais desligada da face da terra, simplesmente acreditou em Nina. Balanço a cabeça, cobrindo meu rosto com as duas mãos. Meu mundo está literalmente de cabeça para baixo.

   – Não acredito que inventou tudo aquilo sobre ser uma aluna nova, vinda da Espanha...

   – Minha mãe sempre diz que tenho um talento nato para atuação! – Ela diz, saltitante.

   A encaro com tanto ódio que o sorriso de Nina se desfaz. É óbvio que estou completamente furiosa! Penso nas minhas provas perdidas e em como terei de inventar uma boa desculpa para que a diretora me deixe fazer as repositivas, coisa que não será fácil.

   – Espero que tenham um bom motivo para terem feito isso. – Rosno, para lá de irritada.

   – Acredite ou não, nós temos. – Luke diz, se jogando no sofá.

                                                                                                                             ***

   Já estou sentada à mesa tomando um café preparado por Nina. É claro que dessa vez me certifiquei de que não fosse uma erva maluca que me fizesse dormir por dias ou coisa pior.

   Eu quero mesmo entender o grande motivo de ter sido enganada e dopada. Estou realmente torcendo para que não tenha absolutamente nada a ver com feiticeiros, lobisomens e outras criaturas fictícias.

   – Certo, como eu posso dizer isso? – Luke começa, andando de um lado para o outro em minha frente. – Criaturas sobrenaturais existem. Todas esses mitos e lendas existem, apesar de muitos serem diferentes na realidade.

   Respiro fundo, revirando os olhos. Luke já começou realmente mal.

   Nina diante da minha reação de desapontamento, tenta me fazer acreditar:

   – Pode parecer que somos loucos, mas não somos, Emily. Essas criaturas simplesmente existem, bem debaixo dos narizes dos humanos. Você mesmo esteve na presença de um lobisomem, não era como um lobo qualquer.

   Não, não era. Embora eu quisesse acreditar que aqueles lobos fossem somente lobos, havia algo que dizia que Nina estava certa. Aqueles lobos certamente não eram normais.

   – Como eu estava dizendo – Luke interrompe Nina severamente, fazendo-a revirar os olhos. – criaturas sobrenaturais existem. Nós, por exemplo.

   – São o que? – Pergunto, com um certo deboche em minha voz.

   – Feitceiros. – Dessa vez quem responde é Jeremy, o primo de Luke. – Nós três somos feitceiros negros, controlamos os elementos fogo e terra. Já você, é uma feiticeira branca. Controla a água e o ar...

   Isso me pega de surpresa, o fato de afirmarem com tanta certeza sobre eu ser uma criatura sobrenatural, uma feiticeira.

   – Esperem. Como querem que eu acredite que sou uma coisa que tenho certeza de que não sou? – Interrompo Jeremy nervosa.

   Como eles ainda conseguem insistir nessa história? Sou uma humana e tenho certeza disso. Na verdade, fico meio desconfiada de tudo o que eles dizem.

   Nina senta na cadeira ao meu lado e repousa sua mão sobre a minha, como se tentasse me acalmar:

   – Emily, você disse que não conheceu sua mãe. Já pensou na possibilidade dela ser uma feiticeira branca?

   Fico calada. Não sei como responder, afinal se trata de minha mãe e bem, eu não sei nada sobre ela. Tudo isso parece meio maluco, minha mente ainda não quer se deixar acreditar, mas dentro de mim... É como se encaixasse tudo perfeitamente, como se fosse realmente verdade.

   – Não pode ser. – Nego, mas me lembro de outra coisa importante. – E Logan? Ele também é um feiticeiro?

   – Não. – Luke diz com toda a certeza do mundo. – Andei investigando-o.

   – Como eu sou feiticeira e Luke não, já que nossa mãe é uma feiticeira? – Pergunto, mas ninguém me responde. Isso me faz pensar em algo óbvio. Algo terrível. – Estão querendo dizer que eu e Logan não somos irmãos?!

   Nina arruma seu cabelo repicado, atordoada com tudo aquilo. Não mais do que eu, claro.

   – Não necessariamente, Emily. Existem casos em que um dos pais é feiticeiro e o outro é humano. Os filhos geralmente nascem feiticeiros. É raro acontecer de filhos de feiticeiros nascerem sem poderes, mas acontece. Pode ser o caso de Logan... – Ela diz, pensativa.

   – Ou pode ser também que sejam filhos apenas do mesmo pai, que sejam meio irmãos. – Jeremy diz, aproximando-se. – Pode ser que Logan seja filho de outra mulher, que não seja sua mãe.

   – Ou pode ser que você seja filha de feiticeiros e que seu pai, que na verdade é apenas pai biológico de Logan, tenha te adotado. – Luke diz, parecendo entediado.

   Nada daquilo parece ser real, mas tudo faz um pouco de sentido. Exceto o fato sobre sermos feiticeiros, claro.

   Se eu fosse mesmo adotada, explicaria muita coisa, como o fato de o meu pai e Logan não parecerem nada comigo. Ambos são loiros de olhos acinzentados e eu tenho olhos azuis e cabelos castanhos. Fora que também explicaria a preferência de meu pai a Logan, não que eu me importe com isso.

   Balanço a cabeça mais confusa ainda. Por que mesmo estavam falando tudo aquilo? Para me ajudar? Ou por causa da tal filha de Blake Darkbloom que está perdida?

   – Tudo bem, vamos supor que eu sou mesmo uma feiticeira. Por que vocês estão tentando me ajudar? Pensei que estavam atrás da filha de Blake Darkbloom.

   Nina estremece, olhando para Luke. Jeremy de repente faz o mesmo.

   – Ela sabe sobre Blake Darkbloom?

   – Disse à ela na sexta-feira, mas eu não sabia que guardaria o nome. – Luke parece pensativo e então olha para mim. – É complicado, mas achamos que você pode nos ajudar a encontrar a garota.

   – Eu? Acho, na verdade, que não posso ajudá-los em nada...

   – Sim, eu acho que você pode. – Luke me interrompe mais uma vez. – Você conhece Blake Darkbloom. Pelo menos o nome soa familiar, não é?

   Suspiro, tendo que concordar. Quero acabar com isso logo e ir para casa questionar meu pai e Logan sobre meu passado aparentemente confuso.

   – Não vou mentir, é um pouco familiar sim. Mas eu não posso ajudá-los, mesmo porque eu não sou nenhuma feiticeira... Nunca fiz nenhum “feitiço” sequer, e posso provar.

   Nina e Jeremy ignoram metade do que falo, praticamente pulam das cadeiras em que estão sentados e voltam a olhar para Luke, claro.

   – Viu? Eu disse que estávamos caminhando na direção certa! – Ele diz com um sorriso vitorioso.

   A esta altura já estou mais do que esgotada. Quero mesmo é ir para casa e ficar bem longe desses três malucos. Feiticeiros? Em que mundo vivem?! Sinceramente.

   – Quero ir embora. – Digo, incomodada.

   – Você tem que nos ajudar, Emily. – Nina diz, nervosa. – Por favor?

   Levanto da cadeira aborrecida e olho para os três com ódio. Tento parecer calma e segurar tudo o que tenho vontade de dizer, mas não consigo. E acabo explodindo, como sempre.

   – Escutem aqui, vocês são completamente loucos! Eu os aconselharia a fazer uma visitinha a um psiquiatra ou até mesmo um sanatório. Se não quiserem, também não precisam, mas por favor, me deixem em paz! Eu não sou feiticeira, mesmo porque – Dou ênfase nessa parte – feiticeiros não existem!

   Os três ficam me olhando assustados, como se eu fosse a louca. Penso em me desculpar ou em tentar consertar o que eu disse, mas é aí que acontece. Nesse mesmo momento algo grande se choca contra a porta, tão grande que ela se parte em duas.

   Grito com pavor quando os milhões de lobos entram na pequena casa e correm em minha direção.


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