Opposite escrita por Giovana Marques


Capítulo 25
Mudança


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores. Aqui estou eu cumprindo minha promessa de postar o capítulo hoje!
Porém, também tenho uma péssima notícia para dar... Como semana que vem é minha semana de provas, não vou conseguir terminar o próximo capítulo antes do dia 26/09 :(( Só se acontecer um milagre e eu tiver um tempo livre essa semana agora, mas é bem improvável que isso aconteça. Então eu peço paciência da parte de vocês!
Uma coisa que eu esqueci de comentar no capítulo anterior é que no finzinho de Junho desse ano, Opposite fez dois anos (UHUL). Parece que eu comecei a escrever ontem, mas beleza.
Espero que vocês gostem do capítulo e tirem algumas dúvidas em relação ao passado do Agramon e da Blake, embora nem tudo seja explicado... Enfim, acho que é isso.
Um beijo e boa leitura!



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Ajeito-me, sentada no sofá. Blake está bem ao meu lado, encarando-me com um olhar curioso, provavelmente querendo saber o que eu achei de suas memórias.

A verdade é que tudo o que vi foi muito interessante e revelador, mas muitos pontos importantes foram deixados de lado, como a revolta de Agramon. Se ele era um pacifísta, aparentemente apaixonado pela minha mãe, por que é que, do nada, ele decidiu ser o supremo entre os feiticeiros?

– Espero que tenha conseguido ver que seu pai nem sempre foi uma pessoa ruim. – Blake murmura, com o olhar fixo no meu. – Ele já lutou do meu lado, pelo bem de todos os feiticeiros.

– Isso eu entendi. Mas por que? Por que Agramon se tornou tão cruel depois de tudo o que vocês passaram juntos? E a Sociedade do Equilíbrio? Ele simplesmente se desfez dela, sem mais nem menos? – Pergunto, confusa por completo.

– Não foi bem assim que aconteceu, Emily. – Ela diz. – Bom, depois de termos criado a Sociedade do Equilíbrio as coisas melhoraram bastante em relação às guerras entre os feticeiros. Todos os integrantes da sociedade eram soldados e durante as batalhas, disfarçadamente, não nos atacávamos. Nós também ajudávamos aqueles que não eram soldados a se refugiarem, durante os combates.

“É claro que isso não passou despercebido aos soldados que não faziam parte da Sociedade e a ineficiência em combate de alguns guerreiros chegou até os ouvidos de ambos os reis. Obviamente, passaram a desconfiar da existência de uma ordem pacifísta e passamos a ser ainda mais vigiados. Tanto Argos Ironfist como Darion Lightlair decretaram que aqueles que fossem encontrados “confraternizando com o inimigo” seriam imediatamente condenados à morte. Esse foi o período em que mais tivemos dificuldade em nos reunir, para falar a verdade.”

“Para a família de Agramon, tudo se tornou mais difícil, principalmente pelo fato de existirem dois feiticeiros negros vivendo dentro de sua casa, isto é, seus irmãos adotivos. Com todas as inspeções rígidas da época, não demorou muito para que os vizinhos dos Illuminati descobrirem o grande segredo da família. E temendo ser acusados de cumplicidade no crime cometido, entregaram os Illuminati ao rei.”

“Therion e Lilith se apressaram em fugir com ajuda dos pais antes que os soldados brancos viessem revistá-los. Agramon era completamente contra à fuga dos irmãos, ele acreditava que tinham de ficar e lutar em defesa daqueles que tinham se arriscado para criá-los. Mas seus pais não concordaram e preferiram armar um plano para os dois feiticeiros negros escaparem. Conseguiram fugir, mas mesmo sem provas concretas, Seraphyna Illuminati e seu marido não foram perdoados. O próprio Darion os assassinou em praça pública, mesmo sendo uns dos soldados mais queridos do rei. Ele quis mostrar a todos o que aconteceria, caso estivessem pensando em conspirar contra o governo.”

“Por incrível que pareça, o rei dos feiticeiros brancos não fez nada a Agramon, apenas o deu uma chance para seguir em frente, sem contato com feiticeiros negros dessa vez. Seu pai, Emily, era um dos soldados mais fortes do reino e, certamente, não seria vantajoso, ao rei, perdê-lo. Mal sabia Darion que Agramon era o líder de uma sociedade pacifista...”

“A partir daí foi que Agramon passou a mudar. O assassinato de seus pais o atingiu em cheio, deixando-o rancoroso e cada vez mais cruel. Ele também tinha raiva de seus irmãos, que no momento estavam desaparecidos.”

“Ele continuou liderando a Sociedade do Equilíbrio comigo, mas suas propostas passaram a ser diferentes. Na verdade, ele passou a ser mais radical e logo apareceu com um plano para assassinar o rei Darion.”

– E a Sociedade aceitou isso numa boa? – Questiono. – Quer dizer, eles eram pacifístas, não deveriam concordar com o assassinato do rei.

– Você tem razão, Emily. Muitos de nós não gostaram nem um pouco da ideia, por que no fundo sabíamos que Agramon queria se vingar pela perda dos pais. Porém, estávamos em uma situação bem delicada. A Sociedade já havia perdido muitos membros que foram descobertos e torturados até a morte por ambos os reis. Estávamos por um triz de ser pegos, eu e seu pai. Nós não podíamos ser pegos, nós éramos os líderes daquilo. Se morrêssemos, a Sociedade provavelmente acabaria e eu nunca teria cumprido minha missão.

“Além do mais, eu estava perdidamente apaixonada por Agramon, na época. Não queria discutir com ele porque isso enfraqueceria a nossa relação e seu pai era tudo o que eu tinha, o único que me entendia.”

“Acabamos organizando um ótimo esquema de ataque ao Palácio Branco. A Sociedade era composta por grandes guerreiros e, então, conseguímos invadir o castelo e assassinar a família real, inclusive Darion. O único que conseguiu escapar foi seu irmão, Hélio Lightlair, que, atualmente é o rei dos feiticeiros brancos, mas essa é uma outra história.”

“Agramon foi eleito pela Sociedade para governar o povo de sua raça e eu fui eleita para governar o povo da minha, embora Argos Ironfist ainda estivesse no trono, em Raven Place. Entretanto, já tínhamos planos de invadir o Palácio Negro e acabar com o reinado de Ironfist.”

“A Sociedade, movida por ordens de Agramon, também invadiu a cidade, assassinando todos àqueles que fossem contrários à união entre feiticeiros negros e brancos. Pouco a pouco, fomos ficando cada vez mais fortes. Passamos a invadir cada ilha de Opposite, fazendo os nobres locais obedecerem às nossas ordens.”

“Mas, então, você se pergunta: O que a Sociedade tinha que os outros, mais numerosos, não tinham? Além de minha força excepcional, dada pela Fogueira da Fortuna, eles não tinham equilíbrio. Era o que a nossa sociedade pregava, Emily: a força vem do equilíbrio entre as duas raças. Nós éramos mais poderosos porque estávamos unidos.”

“Porém, tudo começou a se reverter quando Agramon, sedento por cada vez mais poder, deixou de ser um bom governante para ser um tirano. Ele tinha medo de perder o controle da situação e, por isso, assassinava todos àqueles que faziam menção em contrariá-lo”

– Claro. É como Abraham Lincoln disse uma vez, “Se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder”. – Digo, lembrando de uma de minhas aulas de História.

Blake suspira, como se o assunto “a mudança repentina de Agramon” não fosse o mais agradável de ser discutido. Embora a relutância, ela continua a falar.

– Confesso que me dói lembrar disso. – Ela diz, tão confusa quanto magoada. – Quando nos conhecemos, e durante os primeiros meses após a criação da Sociedade, Agramon não era assim. Tudo o que ele queria era estabelecer a paz em Opposite! A morte de seus pais e a fuga de seus irmãos mexeu muito com seus pensamentos, seus ideais.

“Como eu estava dizendo, não demorou muito até que a Sociedade dominasse todas as ilhas de Opposite. Logo depois, atacamos o Palácio Negro, depusemos a família real e eu me tornei rainha dos feiticeiros negros. Foi aí que a Sociedade se desfez: os feiticeiros brancos se tornaram soldados de Agramon e os negros, meus.”

“Diferente de Agramon, nunca fui uma tirana. Eu tentava ser uma rainha justa, dentro dos meus limites, claro. Eu ainda tinha o pacto de sangue com Agramon e não podia traí-lo. De qualquer forma, eu o amava e não queria tomar decisões que o aborrecessem, mas eu também não queria ser como ele. Quer dizer, eu tinha uma missão de fazer os feiticeiros negros e brancos conviverem em paz, mas o conceito de “paz” para Agramon, naquele momento, era totalmente diferente.”

“É claro que ele percebeu o meu conflito interno e resolveu agir. Me propôs em casamento o mais rápido que pôde, na intenção de unir nossos reinos e governar também o lado dos feiticeiros negros.”

“Como não sou e nunca fui nenhuma tola, entendi porque é que Agramon estava me pedindo em casamento. Não era porque me amava, mas sim porque pretendia me ter sob seu controle, assim como todo o meu reino. Isso me deixou completamente devastada, quer dizer, era óbvio que seu pai amava bem mais ao poder do que a mim.”

“Então, eu simplesmente recusei o pedido de casamento. Disse que era cedo demais e que ainda não estava preparada, o que não era verdade. Se Agramon tivesse me pedido em casamento antes de eu me tornar rainha, talvez tivesse aceitado.”

– Ele ficou furioso diante da minha recusa, foi a primeira vez que o vi tão fora de si... Como se tivesse enlouquecido. – Blake comenta com uma expressão de tristeza. Fico imaginando que ela tenha desistido de me mostrar o restante de suas memórias para que eu não visse as atitudes monstruosas de meu pai após a sua mudança. – E o que mais o aborrecia era o fato de eu ser mais forte. Agramon não podia me obrigar a casar com ele, porque eu é que era filha da Fogueira da Fortuna e podia muito bem me defender. E, quem sabe, até derrotá-lo, se eu tentasse.

“Foi nessa época que os soldados de meu reino decidiram que seria melhor se eu nomeasse um escudeiro. Eu nunca gostei muito da ideia de ver uma pessoa se arriscando para salvar minha vida, mas eu tinha de permanecer viva até ter minha missão cumprida. E como você já deve saber, nomeei Anthony Gray. Pai de seu amigo, Luke.”

O ponto até onde a história chega faz meu estômago revirar, mas tento não pensar em Luke e nem nos meus outros amigos que deixei na caverna subterrânea.

– Alguns dias após a minha recusa e a nossa briga, seu pai desapareceu por completo, deixando um soldado de confiança tomando conta do governo dos feiticeiros brancos. Ele instalou-se em uma pequena ilha inabitada de Opposite, onde passou meses recluso, estudando e preparando algo que o tornasse mais forte que de eu.

“E foi o que ele fez. Sem ninguém ficar sabendo, seu pai esperou até a noite da “Lua de Sangue”, que é quando acontece o alinhamento Sol-Opposite-Lua. Poucos dias antes da “Lua de Sangue”, Agramon voltou a Dove Land e ordenou que dezenas de seus súditos, feiticeiros brancos, o acompanhassem em uma viagem até a sua ilha, onde estava vivendo durante meses. Então, chegando lá, usou a energia do alinhamento para executar um feitiço de transferência de poder.”

– O quê?! – Pergunto, assustada. – Você está querendo dizer que Agramon roubou os poderes de grande parte dos seu súditos? E tudo isso só para ser mais forte que você?!

– Sim, Emily. E o pior é que quando um feiticeiro perde todos os seus poderes, sua energia vital também se esvai, e com isso, ele morre.

– Agramon matou dezenas de feiticeiros que serviam a ele. Ele os enganou. – Murmuro, horrorizada. – Isso foi desumano da parte dele!

Minha mãe se levanta e passa a caminhar de um lado para o outro.

– Eu sei que foi desumano. E fiquei tão decepcionada quando descobri! Aquele, com certeza, não era o Agramon que eu conheci. Não mesmo.

“Como eu estava dizendo, seu pai tornou-se o feiticeiro mais forte do reino, até mais do que eu. O restante dos seus súditos e alguns de seus soldados, que antigamente faziam parte da Sociedade, se revoltaram ao saber do ato de crueldade do rei. Alguns deles fugiram para ilhas desconhecidas, mas outros vieram se refugiar em Raven Place. E eu, como uma rainha piedosa, os abriguei.”

“Entretanto, Agramon logo apareceu e com os seus soldados restantes, conseguiu invadir o Palácio Negro pela segunda vez. Ele me fez sua prisioneira até o momento em que eu já não aguentava mais passar dias e dias presa em uma cela neutralizadora de poderes, assistindo meu povo sofrer em suas mãos. Então, eu finalmente concordei em me casar com ele.

“Alguns dias antes do nosso casamento, seu pai e eu tivemos uma conversa de que nunca vou me esquecer. Ele disse que apesar de tê-lo aborrecido, ainda me amava. Eu estava magoada demais para acreditar, mas seu pai prometeu que me reconquistaria e que seríamos felizes. Mesmo negando, eu ainda sentia alguma coisa por Agramon. Não pelo Agramon cruel e obsecado pelo poder, mas sim pela pessoa que ele era antes. E então, surgiu em mim uma ponta de esperança. Esperança de que eu podia recuperá-lo.”

“O nosso casamento se aproximava cada vez mais e apesar de receosa, eu estava, em parte, feliz. Eu sabia que ao lado de Agramon, teria alguma chance consertar as coisas no governo dos feiticeiros e talvez até fazê-lo voltar a ser o mesmo de antes. Não sei se foi somente para me agradar antes de nos casarmos, mas é bem verdade que durante os preparativos para cerimônia, Agramon voltou a ser gentil comigo. Ele ainda libertou meus súditos, feiticeiros negros. Inclusive Anthony, que ainda era meu escudeiro.”

“Entretanto, na véspera do casamento, os dois reinos foram invadidos por um feiticeiro ainda mais poderoso, que vinha de longe. Therion, irmão de Agramon havia retornado, mais forte do que nunca, pronto para acabar com as atrocidades do governo de seu irmão. Lilith o acompanhava, mas não tinha nem metade de sua força.”

– Therion?! – Pergunto, surpresa. Para ser sincera, havia até me esquecido dele nessa história. – Mas de onde tinha tirado tanta força? Therion não tinha nem frequentado o treinamento básico dos feiticeiros!

– Ninguém sabe de onde ele tirou tanto poder, mas era tão forte quanto eu ou seu pai. Talvez mais do que os dois juntos. – Blake continua caminhando pelo quarto. – As más línguas dizem que ele e Lilith fizeram um pacto com demônios e que parte de sua energia é demôniaca, mas acredito que não... Outros dizem que ele fez o mesmo que Agramon, porém utilizando mais feiticeiros negros. Mas eu também acredito que não, já que ninguém nunca deu por falta desses supostos feiticeiros sequestrados.

“Therion chegou de uma hora para outra, aliado a todos aqueles que haviam se revoltado contra Agramon. Foi uma batalha na qual muitos feiticeiros morreram, além de ter durado exatos cinco dias.”

“Não tenho certeza se foi exatamente isso o que aconteceu, mas às vezes penso que no momento em que Agramon se afastou e usou a energia da Lua de Sangue para ficar mais forte do que eu, para poder me controlar, foi que ele quebrou o nosso pacto. E quebrando o nosso pacto, foi amaldiçoado. Talvez isso tenha contribuido para o seu declínio.”

“Agramon foi derrotado pelo irmão, que tomou posse do Palácio Negro e decretou que Hélio Lightlair, irmão de Darion, antigo rei dos feiticeiros brancos, era o herdeiro, por direito, ao trono do Palácio Branco. Therion estava prestando uma grande ajuda aos feiticeiros brancos, restituindo a dinastia Lightlair, e assim nasceram os primeiros acordos de paz entre as nossas raças.”

– E o que aconteceu com Agramon? E você?

– Therion e Hélio buscaram ajuda de um dos Grandes Mestres para remover e abrigar todos os poderes de Agramon.

– Grandes Mestres? – Pergunto, sem saber a quem Blake se refere.

– Os Grandes Mestres foram os primeiros feiticeiros a existir, vindos da Fogueira e da Fonte da Fortuna. O que os diferencia de mim é o fato de eu ter sido gerada por uma feticeira; já os Mestres, não. Eles são imortais e excessivamente poderosos, porém, vivem reclusos, preferindo não interferir na vida dos outros feiticeiros.

“Como as duas raças de feiticeiros, pela primeira vez, estavam juntos e pedindo por ajuda, os Grandes Mestres acharam que era hora de agir. Eles abrigam os poderes de Agramon até os dias de hoje. Seu pai permaneceu apenas com 1% de toda a sua energia, que era o suficiente para manter-se vivo. Ele virou prisioneiro do próprio irmão, passando a viver em uma das celas neutralizadoras do Palácio Negro.”

“Em relação a mim, Therion não me aprisionou. Ele sabia que eu estava sendo forçada a me casar com Agramon, apesar de eu ter concordado com a ideia no final. Além disso, ainda descobriu que éramos parentes de sangue. Minha mãe, aquela que me pediu à Fogueira da Fortuna, era irmã do pai de Therion. Nós éramos primos e possuíamos o mesmo sobrenome, Darkbloom.”

“Therion precisava de uma rainha forte para o seu reino, que havia acabado de sair da grande batalha e que estava gravemente abalado. Ele sabia bem da minha força, também sabia que eu era querida por grande parte da população. Além disso, eu já havia governado o reino dos feiticeiros negros uma vez... Então, você já deve imaginar o que aconteceu.”

– Therion pediu sua mão em casamento.

– Exatamente. E eu aceitei. – Blake murmura de forma séria, como se as lembranças de sua decisão não a agradassem. – Embora ainda amasse Agramon, Therion estava conseguindo unir as duas raças de feiticeiros e isso era tudo o que eu sempre quis. Ele precisava de mim e eu precisava dele, então nos casamos.

“O povo, descontente em saber que Agramon ainda estava vivo, exigiu que ele fosse executado, mas Therion não queria tirar a vida de seu irmão. Eles haviam crescido juntos e, no fundo, Therion se importava com ele. Mas mesmo assim, Agramon merecia morrer. Além do mais, não era prudente mantê-lo vivo, uma vez que a estabilidade dos reinos estaria sendo colocada em risco.”

A data da execução de Agramon foi marcada e enquanto ela não chegava, seu pai continuou a viver, no calabouço neutralizador, dentro do Palácio Negro. De vez em quando, sem ninguém ficar sabendo, eu ia conversar com ele. E me partia o coração vê-lo tão fraco e tão arrasado. Eu ainda o amava, querendo ou não.”

– Então, você o libertou. – Desvendo, não acreditando na estúpida atitude de minha mãe, anos atrás.

Blake me encara com um sorrisinho magoado nos lábios, aparentemente envergonhada por ter sido levada pelos seus sentimentos e não pela sua razão, na hora de tomar uma atitude tão séria.

– É tão óbvio assim?

– Um pouco. Therion não desconfiou que fosse você?

– Na verdade, ele nem percebeu.Um fiel soldado de Agramon, da época da Sociedade do Equilíbrio, também estava preso em uma das celas do calabouço. Ele se ofereceu para ser executado no lugar de Agramon e então, eu usei um feitiço poderoso de transfiguração para que tivesse a aparência de seu pai. Então, foi assim forjamos a morte dele. Afinal, haviam muitos outros prisioneiros e o desaparecimento desse, em especial, passou despercebido.

“Therion acreditava estar queimando na Fogueira da Fortuna, na frente de todos os súditos, seu próprio irmão. Mas o que ele não sabia era que Agramon estava bem vivo, vivendo na Terra, ou seja, no mundo humano.”

– Então todo mundo acha que Agramon está morto há anos... – Murmuro, entendendo a reação de Jeremy, na caverna subterrânea, quando disse a mim que Agramon não poderia ser meu pai porque havia sido executado.

– Sim, mas ele esteve vivendo, enfraquecido, na Terra. Ele não tinha paraticamente mais poder algum, apenas a energia necessária para se manter vivo. Ele passou a viver como humano durante anos. Eu ia visitá-lo sempre que podia e em um desses encontros foi que fiquei grávida.

“Me sinto uma pessoa horrível quando lembro que traí meu marido. Ex-marido agora, eu acho. Eu não o amava, mas sabia que Therion sentia alguma coisa por mim. Ele sempre fazia exatamente tudo o que eu queria na tentativa de melhorar o nosso relacionamento. Na época, era um feticeiro muito bonito e, às vezes, confesso que me sentia atraída. Porém, nada além disso. A verdade é que eu ainda era muito apaixonada por Agramon e queria estar com ele, mesmo que para isso fosse necessário quebrar meu juramento de fidelidade a Therion.”

“Retornando à história, Therion e todos do reino acreditavam que você era filha dele, a nova princesa Darkbloom. Mas no fundo, eu sabia que o bebê que eu estava esperando era de Agramon, e que era a primeira mestiça entre negros e brancos.”

“Hélio e Alexandra Lighlair, que também esperavam um bebê, na intenção de firmar a aliança entre as raças, fizeram um acordo com Therion, que nossos filhos se casariam quando completassem dezoito anos.”

– Dessa parte eu sei bem. – Interrompo-a, grosseira. Não sei como, mas ainda terei de lidar com esse casamento, arranjado antes do meu próprio nascimento.

– Enfim, – Blake continua, ignorando-me. – eu realmente achei que o Agramon que eu conheci na adolescência, havia voltado. Eu pensei que depois de tudo o que passamos, ele havia, definitivamente, aprendido. Eu pensei que ele pretendia, daquele momento em diante, viver uma vida pacata na Terra, como humano, se encontrando comigo sempre que pudesse.

“A verdade é que eu já havia arquitetado, com ajuda do meu grande amigo, Anthony, um jeito de fingir minha morte e encontrar um outro bebê, feiticeiro negro, para ficar no seu lugar. Desta forma, eu, você e seu pai viveríamos na Terra, afastados de toda essa confusão. Por outro lado, a criança deixada por mim, que todos pensariam ser filha de Therion, se casaria com o príncipe Lightlair. Entende? Eu conseguiria cumprir a minha missão e ainda ter uma vida feliz.”

– Mas Agramon acabou com todos os seus planos, não é? – Murmuro, lembrando de todas as vezes em que vi meu pai nos meus sonhos, de todas as tentativas de me persuadir a unir-se a ele para dominar Opposite. – O fato de eu ser a primeira mestiça, fez de mim uma arma. Uma arma que ele pretendia usar para reestabelecer os seus poderes, se vingar de todos, especialmente de seus irmão,Therion e Lilith, e, dominar cada centímetro quadrado de Opposite. Quem garante que eu não fui planejada por ele? Posso ter sido uma surpresa para você, Blake, mas tenho certeza que nasci porque Agramon tinha interesse nos meus poderes. – Faço uma pausa e, por fim, concluo. – E foi exatamente por isso que você fugiu logo após o meu nascimento, por isso que eu fui deixada na Terra, com Carl. Você sempre quis me esconder de Agramon, para me proteger.

Blake não diz absolutamente nada. Ela permanece calada, encarando-me com seus olhos cansados. Ela já passou por tanto, e eu nem fazia ideia... No fundo, sinto-me culpada por todas as vezes que julguei mal quem quer que fosse que tivesse me dado à luz. Blake é, sem dúvidas, uma guerreira e tenho de confessar, sinto orgulho em ser sua filha.

– Antes de fugir, eu pensei em, de fato, forjar minha morte e encontrar o outro bebê, para ficar no seu lugar e unir os feiticeiros, mas eu não tive tempo. Agramon logo conseguiu novos aliados e começou a fazer de tudo para me contatar em Raven Place. Eu não tive oportunidade de colocar aquilo que havia planejado em prática. Algumas horas após o seu nascimento eu já estava bem longe de Opposite. – Então ela faz uma longa pausa e volta a falar. – E daqui um ano e poucos meses, se não acontecer o casamento entre o príncipe Lightlair e a princesa Darkbloom, eu não terei conseguido cumprir minha missão. Os acordos de paz serão quebrados e tudo voltará a ser como antes.

Sem pensar em qualquer outra coisa, eu me coloco de pé, ando até Blake e seguro as suas mãos.

– Fique tranquila, eu vou dar um jeito nisso. – Prometo, sem pensar no que estou falando. As palavras simplesmente escapam de minha boca, para variar. – Se eu tiver de fingir ser filha de Therion, fingirei. Se eu tiver de casar com o príncipe Lightlair, casarei. Querendo ou não, eu também sou parte dessa missão. E vou ajudá-la a cumprir.

Os olhos de Blake se enchem e ela morde seu lábio inferior, numa tentativa de segurar suas lágrimas. Ela as enxuga, rapidamente e sorri para mim. Mas antes que possa dizer qualquer outra coisa, alguém adentra o cômodo repentinamente. É Logan e ele está aflito.

– Desculpe a interrupção, mas não temos mais tempo. Agramon está na ilha com seu exército de demônios. – E então, ele diz algo que me deixa agoniada. – Estão em uma batalha acirrada contra os três feiticeiros negros que acompanharam Emily até aqui.


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Notas finais do capítulo

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