Opposite escrita por Giovana Marques


Capítulo 23
Blake Darkbloom


Notas iniciais do capítulo

Depois que quase um ano sem postar, eu finalmente estou de volta. E dessa vez é para nunca mais parar!
Peço desculpas aos leitores que sempre acompanharam a história pela longa pausa (e põe longa nisso!) e prometo que ela não foi em vão. Durante todo esse tempo que não postei capítulos novos, eu revisei e reescrevi os antigos. As alterações são mais estruturais, mas a história continua a mesma. Exceto por um pequeno detalhe e peço para que vocês, leitores, sejam pacientes quanto a isso.
Fiz uma alteração significativa no capítulo 17, mas é só seguir minhas instruções que vai dar tudo certo: Se você tiver começado a ler Opposite antes do dia 20 de abril de 2014, por favor, sugiro que volte no capítulo 17 e releia os capítulos posteriores a ele. Se você tiver começado a ler depois dessa data, ignore tudo o que disse até agora. Qualquer dúvida, não tenha vergonha de me mandar uma mensagem!
A partir de hoje, eu prometo tentar postar todo mês!
Fico muito feliz e agradecida, por você ter esperado por Opposite! Uma coisa é certa: Eu nunca vou parar de escrever a história, porque, acredite, ainda tem muita coisa para acontecer!
Como sempre: Um beijo e boa leitura!



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O sonho que tive há alguns dias retorna à minha mente. Consigo visualizar seu rosto não tão turvo desta vez. Então era ela quem cantava aquela tão perfeita melodia das minhas lembranças...

Ainda não consigo dizer absolutamente nada, mas sinto um certo desespero quando percebo que meus amigos fazem a menção de me deixar à sós com a minha mãe por alguns minutos.

Paro de encará-la e seguro uma das mãos de Logan com força, implorando em silêncio para que não me deixe sozinha com ela. Meu irmão percebe o que faço e ignora completamente.

– Acho que vocês precisam de um tempo às sós. – Ele diz despreocupadamente enquanto eu o xingo de todos os palavrões possíveis em minha cabeça.

Peter, que está sentado no sofá, levanta-se com rapidez e acompanha Rachel até a saída. Ele sorri ao passar por mim, demostrando a felicidade que sente por eu finalmente ter encontrado minha mãe. Se ele ao menos soubesse o quão assustada estou...

Não que eu não esteja feliz em poder finalmente ter uma conversa com Blake. Eu estou, acredite. Mas eu não tive tempo para processar o fato de ser a “garota perdida”, assim como também não tive tempo para pensar no que diria à minha mãe quando finalmente a encontrasse.

É claro que tive dezesseis anos para pensar, mas eu não sabia que era ela, Blake Darkbloom.

Primeiro achei que minha mãe fosse uma humana comum e havia nos abandonado por um motivo banal. Carl Parker, meu suposto pai na época, era milionário e minha mãe não poderia ter nos deixado por falta de dinheiro. Se fosse por não amar mais Carl, poderia ter apenas saído de casa, mas continuar indo me visitar. Ou talvez ter levado eu e Logan para morar com ela. Não conseguia pensar em nenhuma boa razão para ter nos deixado e talvez seja por isso que sentia tanta raiva e não tinha a mínima vontade de conhecê-la.

Depois, quando descobri ser uma feiticeira, pensei que minha mãe fosse qualquer outra feiticeira branca, sem estar envolvida nos problemas de Opposite. Cheguei a achar, por um bom tempo, que havia sido tirada de meus pais quando bebê e levada ao mundo humano por Blake Darkbloom, que não tinha absolutamente nada a ver comigo, para que me confundissem com a “garota perdida”.

E então, há algumas horas, por fim descobri que Blake Darkbloom, uma das feticeiras mais poderosas de Opposite, e que por sinal traiu e abandonou seu marido, rei de Opposite, é minha mãe. Ela mesma me abandonou no mundo humano e isso talvez seja o que mais dói no meio de toda a verdade.

Não sei o que dizer a Blake quando ficarmos sozinhas e não gostaria que ficassemos nos encarando em um silêncio mórbido nessa caverna para lá de sinistra. Não me sinto preparada para isso.

Ela ainda me encara, como se esperasse alguma resposta para o que disse segundos antes de Logan resolver nos deixar às sós. Não poderia dizer o mesmo, porque, sinceramente, não é um “enorme prazer revê-la” para mim. Não desse jeito.

Encaro meu irmão, suplicando mentalmente para que fique e não nos deixe sozinhas. Infelizmente, ele me ignora e vira-se em direção a saída. Entretanto, não deixo que vá assim e o paro.

– Logan, por favor, fique. – Imploro, tentando soar o menos desesperada possível.

Ele vira-se novamente para me encarar com um olhar tão sério que de repente não o reconheço. Logan nunca tinha olhado desse jeito para mim, ele sempre fez mais o tipo brincalhão. Normalmente, eu sou a intolerante.

– Vocês têm muito o que conversar sobre assuntos que não são da minha conta. – Ele diz de forma repreensiva, só deixando o momento cada vez mais constrangedor. – Não acho que devo ficar. Desculpe, Emily.

E sai sem que eu possa ao menos xingá-lo. Não que eu fosse fazer isso na frente de Blake Darkbloom, claro. E não que eu me importe com o ela que pensa sobre mim...

Respiro fundo e me preparo para a conversa, ou seja lá o que for que está por vir. Quero acabar logo com isso, afinal, e voltar para meu lugar de origem e, aliás, de onde eu nunca devia ter saído: Kingswood.

Levanto minha cabeça com delicadeza, voltando à encará-la. Blake também tem seus olhos azuis penetrantes em mim. O mais esquisito é que, por mais que eu tente, não consigo desvendá-los. Seus olhos, quero dizer. Não consigo definir se olha para mim com admiração ou indiferença, o que são sentimentos completamente diferentes.

– Então, Emily, temos muito o que conversar. – Ela diz, acordando-me dos meus devaneios com um sobressalto. – Por favor, sente-se.

Blake se desloca graciosamente até um dos sofás de veludo avermelhado, sendo seguida por mim. Eu e o meu andar desajeitado, talvez um pouco rude, não combinam com seus movimentos sutis. Não parece que somos da mesma família, muito menos que é minha mãe.

Sento-me no sofá, na ponta para ser mais exata. Blake também está na ponta, mas do outro sofá. Ficamos um tanto afastadas, o que me deixa um pouco mais confortável do que seria se estivessemos mais próximas.

Blake puxa o bule da mesinha no centro e despeja o líquido morno em uma das xícaras. Devolve o mesmo e dá um longo gole em seu chá, apoiando o píres em suas pernas. Ela aponta para o bule e pergunta com educação se estou servida.

– Não, obrigada. Estou bem. – Recuso, já que não tenho lá boas experiências envolvendo chá. Especialmente uma em que me sabotaram minha xícara e que eu acabei dormindo por dias...

– Posso ser honesta com você, Emily? – Diz, levando a xícara de sua boca até o píres.

O que diz me deixa um pouco nervosa, mas não nego seu pedido. Não consigo nem imaginar o que está querendo dizer com “ser honesta”.

Tenho vontade de ser rude e dizer algo como “Claro, seja honesta comigo do jeito que você não foi em dezesseis anos.”, mas não o faço. Me arrependo, em parte, por não tê-lo feito.

– Claro. – Respondo, não muito animada.

Blake leva a xícara até seus lábios avermelhados novamente e eu tenho de esperar até que beba mais um ou dois goles do seu maldito chá para que finalmente volte a falar.

– Eu não sei como fazer isso... – Ela murmura encarando o chão desta vez, como se temesse os meus olhos. – Digo, explicar sobre tudo o que aconteceu desde o seu nascimento. Aconteceu tanta coisa...

Não digo exatamente nada. Quer dizer, não quero pressioná-la, por mais que esteja com raiva e por mais que eu ache justo saber sobre meu passado.

Seus olhos levantam-se novamente, mas parece mais séria agora. Confesso que isso me deixa um pouco nervosa e acabo eu, fugindo de seu olhar desta vez.

– Há um jeito de lhe mostrar quase tudo o que aconteceu e é algo muito complicado de se fazer, porém sou uma das poucas feiticeiras que consegue. Mas para isso você vai precisar confiar em mim.

– O que é? – Pergunto sentindo-me tão nervosa, quanto curiosa.

– Vai precisar deixar que eu entre em sua mente. – Diz, como se fosse a coisa mais normal do mundo. – Posso te mostrar tudo o que presenciei e vi com meus próprios olhos, assim saberá que não estou mentindo.

Não gosto muito da ideia, já que se Blake Darkbloom estiver em minha mente poderá manipulá-la e me mostrar as coisas não completamente do jeito que aconteceram.

Luke já havia mencionado casos assim, que por sinal costumam ser bem raros. É o que também achamos que Agramon, meu pai, faz para conversar comigo através dos sonhos. É algo impressionante, pois consegue entrar em minha mente mesmo estando longe de mim. Nina me disse que para um feiticeiro entrar na mente de outro era preciso além de muito poder e prática, uma distância pequena.

Blake ainda me encara com um olhar inquisitivo, esperando por uma resposta. Apesar de não gostar muito disso, decido aceitar. Se meu irmão, Peter e Rachel confiam nela, por que não eu? Talvez por ter sido abandonada há dezesseis anos e ainda me importar com isso...

– Tá bom. – Digo dando de ombros, como se não me importasse muito, o que é uma enorme mentira.

Ela sorri e devolve sua xícara até a mesinha de centro com um movimento delicado.

– Ótimo. Ocorreram alguns acontecimentos de que não me lembro e também outros que não presenciei. Esses terei de contar antes de entrar em sua mente para que você entenda tudo o que aconteceu e o que provavelmente terá de acontecer.

Balanço a cabeça em concordância e confesso que suas últimas palavras me deixam um pouco mais nervosa do que já estou. Tenho uma súbita vontade de perguntar sobre o que “provavelmente terá de acontecer”, mas fico calada. Uma hora ela terá de chegar nessa parte, afinal.

– Vou começar comigo. – Blake informa, com seriedade. – Você já deve ter ouvido falar que não sou uma feiticeira negra muito comum, que sou mais forte que os demais. Bom, como nada acontece por acaso, existe uma explicação para isso.

“Antes do meu nascimento, minha mãe era casada com um soldado feiticeiro negro. Eles se amavam muito e eram muito felizes, mas tudo acabou quando as violentas guerras entre feiticeiros negros e brancos começaram.”

“Como você já deve saber, Opposite é dividida em muitas ilhas, sendo elas dominadas ou por feiticeiros brancos ou por negros. A capital, Kingswood é dividida entre os dois, existindo os vilarejos de Dove Land e Raven Place. Bom, na época das guerras, as duas raças se enfrentavam tanto pelo domínio total da capital, quanto das ilhas. As batalhas eram bem intensas, para falar a verdade.”

“O marido de minha mãe foi assassinado cruelmente em uma dessas batalhas, deixando-a completamente só e desamparada. Ela ainda estava grávida, mas a tristeza foi tanta que perdeu a criança.”

“Na época, o rei dos feiticeiros negros, Argos Ironfist, era um tirano e não se importava com a vida dos seus súditos. Tudo o que ele realmente desejava era destruir a dinastia Lightlair, reis dos feiticeiros brancos. Por outro lado, o rei Darion Lightlair também não era muito diferente... Ambos estavam sedentos pelo poder sobre toda a espécie de feiticeiros. Isso, unido ao fato dos negros e brancos já não se suportarem muito, fez com que as guerras se tornassem cada vez mais sangrentas.”

“O rei Ironfist só dividia sua riqueza com seus guerreiros e logo que o marido de minha mãe morreu, sua única fonte de renda também se foi. Ela passou a viver miseravelmente, assim como vários outros feiticeiros, e foi obrigada a recorrer a Fogueira da Fortuna.”

“Por causa da Fogueira, muitos feiticeiros conseguiam suprimentos para sobreviver. Já estável, minha mãe passou a morar com a família de uma amiga, mas mesmo assim, sentia-se muito sozinha. Ela sentia-se infeliz pelo fato de ter perdido o filho, após a morte do marido.”

“Em uma noite tranquila, em que as batalhas haviam cessado por um tempo, minha mãe conseguiu ir até a Fogueira da Fortuna sem que ninguém a visse. É certo que apesar de muito poderosa, a Fogueira não traz os mortos à vida, mas minha mãe quis testar essa teoria na prática. Ela pediu a Fogueira para reviver seu filho perdido, mas não teve sucesso. Desesperada, minha mãe implorou com todas as forças que tinha e então, a Fogueira, sentindo compaixão por ela, resolveu ajudar.”

“Pela primeira vez na história dos feiticeiros negros, a Fogueira da Fortuna se comunicou com um feiticeiro. Ela disse a minha mãe que não poderia trazer seu filho de volta, mas que poderia compensá-la com uma outra criança.”

– O que você quer dizer com “uma outra criança”? – Interrompo-a, completamente perdida nos fatos.

– A Fogueira poderia gerar uma outra criança para minha mãe, que só a carregaria em seu ventre e depois a criaria. – Blake me explica, paciente. – Como ter um filho, sempre foi o sonho de minha mãe, ela aceitou de prontidão.

“A Fogueira, porém, impôs uma condição para que tudo acontecesse conforme o combinado: a criança que cresceria no ventre de minha mãe seria responsável por acabar com os desentendimentos entre feiticeiros negros e brancos. Minha mãe aceitou a proposta e então, foi aí que eu nasci.”

Blake para de falar por um segundo para tomar mais um gole de chá. Eu estou simplesmente boquiaberta com tudo o que ela diz. Então, Blake é filha da Fogueira. Por isso é a única que consegue controlá-la. Isso tudo faz um grande sentido.

– Então é por isso que seus poderes são mais fortes? – Pergunto.

– Eu não sei dizer com certeza, Emily. Entretanto, muitos acreditam que os primeiros feiticeiros a existir foram gerados pela Fogueira e Fonte da Fortuna, e que eram extremamente mais fortes que seus posteriores descendentes. Então, eu acho que sim, minha força se deve ao fato de ser filha da Fogueira.

– Certo. Por favor, continue.

– Minha mãe me criou com muito amor e atenção, mas nunca me contou sobre minha verdadeira origem. Na verdade, ela ficou muito doente e morreu quando eu tinha apenas dez anos. Sua amiga, com quem morávamos, foi quem me sustentou até eu ter idade suficiente para entrar no treinamento de soldado. Foi essa mesma amiga que me contou sobre quem eu realmente era e meu dever de acabar com os desentendimentos entre negros e brancos. Eu não sabia nem por onde começar, pois as guerras só ficavam cada vez piores. Então, por conta desse dever, eu entrei para o treinamento de soldado. Eu tinha que começar a fazer alguma coisa, afinal.

“Confesso que desde meu primeiro dia de treinamento, tudo sempre pareceu muito fácil para mim. Desde lutar, até controlar meus poderes. Isso não passou despercebido, claro. Era uma das feiticeiras de maior destaque e já com dezesseis anos, fui escalada para lutar contra os brancos em algumas das batalhas. Apesar de ser completamente contra essas guerras, eu não podia simplesmente renunciar às ordens do rei.”

“Em relação ao meu dever de estabelecer a paz entre as duas raças de feiticeiros, cheguei à conclusão de que não conseguiria fazer isso sozinha. E é aí que começamos a falar de Agramon, seu pai.”

A menção de meu pai faz com que eu estremeça. Chegou a hora de saber sobre o seu passado.

– Todos que vivem em Opposite sabem da história dos irmãos Illuminati e Darkbloom e como Therion se tornou o rei dos feiticeiros negros.

“Agramon era um feiticeiro branco como outro qualquer. Seus pais eram soldados e se sentiam honrados em defender sua espécie, afinal, os acordos de paz entre brancos e negros ainda não haviam sido estabelecidos e era uma época de intensos conflitos. Como havia mencionado antes, ora os feitceiros negros invadiam Dove Land, ora os feitceiros brancos invadiam Raven Place. Houve muitas mortes por causa desses conflitos e alguns pacifistas usavam o Portal ilegalmente para fugir das guerras, no mundo humano.”

“O maior sonho de Agramon era tornar-se um soldado assim como seus pais. Seus pais eram um dos poucos guerreiros, em meio ao conflito, que não tinham aversão aos feiticeiros negros. Eles eram contra às guerras, mas tinham que obedecer Darion Lightlair, seu rei. Por isso preferiam trabalhar mais na defesa de seu povo, e não no ataque aos negros. Agramon, pensava como seus pais. Pode ser até difícil de acreditar, mas ele era uma pessoa boa.”

– Você tem razão. – Digo, interrompendo-a novamente. – É difícil de acreditar que Agramon um dia foi uma pessoa boa. – Uma imagem do homem maligno e sombrio dos meus pesadelos surge em minha mente.

– Eu lhe garanto, Emily. – Blake parece um tanto quanto chateada quando diz. – Agramon nem sempre foi do jeito que é hoje em dia.

Quando pensava ser humana, era simplesmente apaixonada por qualquer tipo de história. Eu sempre me interessava mais nos vilões. É claro que o vilão nem sempre tinha sido vilão e era interessante descobrir o motivo que o fez torná-lo tão mau. Acontece que não consigo imaginar um motivo grande o suficiente para Agramon querer usar a própria filha para dominar o mundo. Isso não entra na minha cabeça de jeito nenhum.

Concordo com a cabeça, mesmo que não consiga assimilar muito o que Blake acaba de dizer. E então, ela prossegue:

– Uma vez, Seraphyna Illuminati, mãe de Agramon, foi recrutada para um ataque surpresa aos feiticeiros negros que tentavam fugir das batalhas utilizando o portal ilegalmente. Ela não queria machucar ninguém, muito menos pessoas inocentes, que estavam fugindo da guerra. Como não podia dizer “não” ao rei, foi contra sua própria vontade.

“Não atacou nenhum feiticeiro negro, claro, mas foi aí que tudo aconteceu. Em meio ao ataque, percebeu um menino que aparentava ter a mesma idade de seu filho, Agramon. Era um feiticeiro negro e tinha nos seus pequenos braços outra criança ainda menor. Ele chorava e gritava por seus pais, que àquela altura, deveriam estar mortos. Como sempre teve um bom coração, Seraphyna, percebendo que nenhum dos outros soldados estava por perto, levou as duas crianças para sua casa.”

“Descobriu que o garoto chamava Therion e a mais nova, Lilith. Seus pais haviam realmente morrido e agora estavam sozinhos. Therion era um ano mais novo que Agramon, que na época tinha sete.”

“Seraphyna convenceu seu marido de adotarem as duas crianças e criá-las escondidas dos outros feiticeiros brancos. Fez Agramon jurar que não contaria à ninguém, que apesar de confuso com tudo o que estava acontecendo, concordou.”

“O tempo foi passando e as crianças, crescendo. A cada dia que passava, Agramon ficava mais próximo de seus irmãos adotivos, que nunca saiam de casa. Como Lilith e Therion não podiam frequentar a escola, Agramon os educava e os treinava.”

“Quando terminou seu treinamento, com dezessete anos, Agramon finalmente se tornou um soldado do rei Lightlair e passou a lutar nas guerras, assim como seus pais. Porém, por ser um pouco mais habilidoso que os demais, Agramon não pode ficar somente na defensiva, sendo escalado para atacar Raven Place. Isso aconteceu mais ou menos na mesma época que eu fui escolhida para defender o local. E então foi aí que tudo começou.”

Arquejo minhas sombrancelhas curiosa.

– Você e Agramon se conheceram durante uma batalha? – Pergunto, direta e reta.

Blake não me responde. Seus olhos tão azuis quanto os meus se fixam no chão, como se a lembrança fosse dolorida demais para ser revivida. Não sei dizer exatamente porque, mas sinto uma pontada de pena de repente, apesar da raiva. Raiva por ter sido abandonada e tudo mais, sabe?

– Exatamente, Emily. – Ela quebra o silêncio, voltando a me encarar desse jeito vazio e vacilante que me faz questionar como é que uma feiticeira tão forte pode se tornar tão frágil emocionalmente. – Nos conhecemos durante uma batalha.

As mãos de Blake levam a xícara até a mesa de centro e ela coloca-se de pé.

– A partir desse momento, eu passei a presenciar tudo o que aconteceu e que você precisa saber. – Faz uma pausa e suas íris grudam nas minhas, coisa que me intimida um pouco. – Chegou a hora em que você finalmente vai poder ver as coisas como aconteceram, Emily.

Sei do que Blake está falando: sobre entrar em minha mente. Se ela tem as lembranças, então pode me mostrar. Eu não sei porque, mas diferente de alguns minutos atrás, eu não sinto medo em permití-la a fazer isso. Algo, dentro de mim, diz que eu posso confiar em Blake.

– Tudo bem. – É a única coisa que digo.

A feiticeira negra se aproxima de mim com cautela, como se bastasse um movimento errado para me fazer correr. Senta-se bem ao meu lado e faz um gesto para que eu me deite com a cabeça próxima dela.

Eu a obedeço sem questionar: esparramo-me no sofá de veludo de forma que minha cabeça fique perto de seu colo. Suas mãos envolvem meu crânio e noto, de repente, que Blake acaricia meus cabelos.

– Não fique com medo. – Murmura.

– Eu não estou com medo. – Retruco, meio chateada por estar sendo subestimada.

Não sei dizer se Blake gosta ou não da minha resposta já que sua expressão de seriedade não muda por um momento se quer.

Admiro cada detalhe do seu rosto, tão parecido com o meu, apesar dela ser muito mais bonita. Mesmo com um pouco mais dos quarenta, Blake não tem nem mesmo uma ruga ou um fio de cabelo branco.

– As imagens vão surgir em sua mente como se você estivesse sonhando. – Explica, com tranquilidade. – E quando acabar, será como se tivesse acordando.

– Entendido. – Respondo, um pouco mais ansiosa do que antes.

Blake fecha seus olhos e eu a imito. Noto que ela sussurra algo que, apesar de fazer um super esforço para entender o que é, não entendo.

Os segundos passam cada vez mais devagar e nada muda. Tenho vontade de voltar a abrir meus olhos, mas não o faço num primeiro momento. Continuo imóvel esperando algo grandioso acontecer, mas ainda, absolutamente nada.

Irritada, impaciente e ansiosa, não consigo me controlar e meus olhos se abrem com rapidez. Porém, assusto-me ao perceper que nada ao meu redor é como era antes.

Eu não estou mais na caverna com Blake Darkbloom, e sim, deitada em baixo de uma árvore próxima a um vilarejo que eu reconheço ser Raven Place.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado! Por favor, não se esqueça da review com suas opiniões. Um beijo e até o próximo capítulo.



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