(Bianca´s pov)

– Se lembrou de mim, Bee? - questionou esperançoso

– Eu não sei....só me veio a vontade de te chamar de Jed, não sei como e nem porque - explicou-se

– Bem....pelo menos já é alguma coisa – disse enquanto tentava voltar ao seu estado normal após uma grande carga de adrenalina que lhe atingira

Uma semana depois –

Lembrar-se do apelido de Jared não foi um caso isolado para Bianca, ultimamente a moça teve rápidos e esporádicos flashes que a remetiam a lembranças de uma período perdido. Com a ajuda de Kia, que lhe trouxera alguns filmes da qual havia participado conseguiu lembrar-se de alguns nomes das personagens que interpretara. Mesmo com tal avanço, ainda sentia-se ansiosa por recuperar tudo que havia perdido por conta de sua memória traiçoeira. Com a motivação de sua mãe e irmã havia decidido que mesmo que não recuperasse mais a memória voltaria a sua vida normal e isso incluiria voltar a atuar.

Era uma típica manhã de inverno, onde a neve caia preguiçosamente deixando apenas o alvo branco por toda a superficie. Vestia-se para ir ao parque próximo a casa do casal. Nos últimos dias esse era um de seus passatempos prediletos, gostava de caminhar até o local e sentar-se debaixo de uma árvore qualquer enquanto lia cada palavra do álbum.

Aquele momento era sua válvula de escape de toda a pressão e angústia que lhe acometia, e nem mesmo o frio absurdo que estava fazendo a impediria de ir ao seu esconderijo.

Depois de pronta desceu a escada nas pontas dos pés, seu relógio de pulso marcava 6:15 da manhã, tinha certeza que Jared estava dormindo, porém não queria correr o risco de acordá-lo. Assim como fizera nos dias anteriores saira de casa bem cedo e voltava ainda pela manhã sem o homem desconfiar. Mesmo sentindo-se segura perto de Jared era inevitável negar que o convívio com ele estava ficando desconfortante. A moça, sabia das expectativas do homem em relação aos dois como um casal, porém, ainda não estava pronta para se deixar envolver por ele sem, ao menos ter alguma lembrança concreta do namoro.

Caminhou pelas ruas do bairro até chegar ao Brigstor Park. Olhou ao seu redor certificando-se que não estava sendo perseguida por paparazzi, se bem que com tantas roupas que usara para se proteger do frio não seria reconhecida nem pela própria mãe.

Sentou-se sobre uma revista que trouxera consigo embaixo de um carvalho. Esfregou suas mãos já cobertas por luvas para aquecer-se enquanto sentia o vento frio da manhã atingir-lhe até os ossos. Sacudiu a cabeça tentando desviar seu foco do frio que sentira para o álbum que trouxera. Abriu-o rapidamente até a página marcada anteriormente:

Dezembro de 2011

"Já reparou que todo casal em filmes românticos possuem uma música que os marca?

Isso acontece por que a música é uma expressão que ativa as mais profundas emoções e faz com que aquela cena, aquele momento nos emocione ainda mais.

Na vida real não é diferente.

Tenho certeza que alguma vez na vida você já se pegou ouvindo a mesma música milhões de vezes em determinada fase por que ela, de alguma forma, dizia algo que estava sentindo, que fazia você realmente viajar pra bem longe, de olhos fechados ou olhando para o nada.

Isso acontece frequentemente comigo. Quando permito que o som de uma música especial invada meu mundo nada mais me perturba. Não há nenhuma voz para me dizer o que eu devo ou não fazer, ninguém para me recriminar quando eu sonhar, mas sonhar alto sem ninguém debochar daquilo que tanto almejo ou quando eu chorar sem medo a saudade de quem se foi, quando relembrar de todos os momentos que passei, que sorri, que chorei. Quando ouço a minha trilha sonora a calmaria chega a ponto de sentir o pulsar do meu coração, dando um sinal de que enquanto ele bater, eu posso ser o que eu quiser. E o que eu quero ser é simplesmente o que já sou.

A música tem a função de embalar nossos sonhos, instigar nossas lembranças das melhores épocas e até mesmo pensar na tristeza de alguns momentos de ilusão, sempre nos permitindo relembrar o passado e viver o futuro.

Lembra da “difícil” escolha da nossa música predileta? Sim, porque todo casal que se preze tem sua própria música, aquela trilha sonora que, mesmo que o casal esteja brigado, distante possa fazer, imediatamente, um lembrar-se do outro com carinho.

Lembro que estávamos no seu carro em direção a casa da sua mãe enquanto conversávamos sobre esse assunto. Enquanto você sugeria músicas da sua banda eu aconselhava que escolhêssemos uma música mais antiga e clássica. Para acabar com aquele impasse, fizemos um acordo no qual a primeira música que ouvíssemos no rádio seria a “nossa música” e assim foi feito, porém, para nossa surpresa a música que tocou fora do rapper Snopp Dogg. Olhamos um para o outro e, sem conseguir segurar o riso, caímos na gargalhada.

“Ok, a segunda música será a nossa música oficial” dizia você enquanto mudava de estação, foi então que ouvimos a música que embalaria nossa história como um casal que briga, discute, brinca, ama, despreza,adora....

Enfim, a beleza da vida é justamente essa. Escolher a trilha sonora que é só nossa e saber que caso tudo dê errado uma nova música começará a tocar nos levando para um novo começo.

– Que música é essa? – pensou enquanto fechava o álbum. Ainda pensativa olhou seu relógio de pulso. Já se passara das 9:40, tinha que se apressar para voltar para casa, Jared já deveria estar acordado e daria falta dela.

Voltou para casa rapidamente. Para sua sorte o homem ainda dormira. Dirigiu-se até a cozinha. Resolveu usar seu notebook a fim de passar o tempo, era incrível que mesmo com tão pouco tempo já havia se habituado a nova tecnologia com rapidez e eficiência.

(...)

– Bom dia – ouviu-o dizer ainda sonolento

– Bom dia – respondeu sem tirar os olhos do computador – Eu fiz algumas torradas com queijo para você

– Ahm eu sou vegano – respondeu de forma explicativa

Bianca fitou-o por um instante – Ahh me desculpe ...por isso não achei nenhuma carne na geladeira, eu devia ter me tocado

– Onde arrumou o queijo? – perguntou enquanto pegava a jarra de suco de laranja da geladeira

– Eu comprei

– E você comeu?

– Sim, porque?

– Você também é vegana – falou enquanto servia-se com um pão integral

– Sério? – questionou intrigada

– Uhum - murmurou

Permaneceram alguns minutos em silêncio, era estranho, mas percebera que Jared estava um tanto indiferente a ela, o que a incomodou. Após tomar seu desjejum o homem caminhou até a sala onde ligou o tocador de música e sentou-se sobre o sofá.

This is my winter song to you.

(Esta é minha cançao de inverno para você)

The storm is coming soon,

(A tempestade chega em breve,)

it rolls in from the sea

(Ela vêm pelo mar)

My voice; a beacon in the night.

(Minha voz; um farol na noite)

My words will be your light,

(Minhas palavras serão a sua luz)

to carry you to me

(Para lhe trazer pra mim)

Is love alive?

(O amor vive?)

- Essa música..... - Sussurrou para si mesma ao mesmo tempo que prestava atenção a canção.

Enquanto ouvia a música vindo da sala, Bianca sentiu um arrepio percorrer-lhe todo o corpo no mesmo instante que alguns flashes invadiam sua mente. Nesses flashes viu Jared e ela enquanto divertiam-se numa praia. O casal trocava beijos, carícias e juras de amor. As imagens eram tão concisas que pareciam estar acontecendo naquele exato momento diante de seus olhos.

This is my winter song.

(Esta é minha canção de inverno)

December never felt so wrong,

(Dezembro nunca pareceu tão errado)

cause youre not where you belong;

(Por que você não esta aonde pertence)

inside my arms.

(Entre meus braços)

Levantou-se rapidamente, ainda imersa nas lembranças que a invadiram sem pedir licença. Lentamente caminhou até a sala.

I still believe in summer days.

(Eu continuo acreditando em dias de verão)

The seasons always change

(As estações sempre mudam)

and life will find a way.

(E a vida irá encontrar uma maneira)

Ill be your harvester of light

(Eu serei sua colhedora de luz)

and send it out tonight

(E irei enviá-la esta noite)

so we can start again.

(Para podermos começar de novo)

Observou Jared sentado sobre o sofá, o homem parecia entretido com seu celular. Enquanto fitava-o algumas palavras ecoavam em sua cabeça.

“Eu te amo Bee”

“Eu te amo Jed”

Num impulso correu em direção a Jared. Sentou-se em seu colo e beijou-o da maneira mais urgente e passional que se era capaz.

Is love alive?

(O amor vive?)

Is love alive?

(O amor vive?)

Love is alive

(O amor vive)