É complicado explicar! escrita por Mrs Choi


Capítulo 2
Capítulo 1




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Segunda, 10 de agosto - quatro meses para o Casamento.


– Pronto, terminei. Poderia se virar, por favor? - Disse a costureira erguendo-se depois de finalizar a barra do vestido.

Depois de virar, pude ver minha imagem refletida no espelho. Finalmente vi que estava satisfeita com a escolha que fiz do vestido de noiva. Não foi difícil escolher, pois sempre fui muito prática para decidir as coisas e desta vez não foi diferente. Sabia o tempo todo qual o modelo usar, embora casar-se não era algo que costumava pensar na juventude, mas sempre quando somos convidadas a um casamento, acabamos imaginando o que gostaríamos de fazer se fosse conosco. De uma coisa eu tinha certeza: casaria do inverno. Conheço muito bem o clima da cidade pra não querer ser abraçada na recepção por convidados suados e borrando maquiagem em meu rosto. Seria uma imagem muito gosmenta pra mim. Também não quero suar e ficar durante o casamento pensando no momento de tirar o vestido, então eu prefiro escolher um clima ameno ou frio, assim evito moças assanhadinhas de usarem roupas com menos pano do que eu teria coragem de usar dentro de casa.

Até que olhando as minhas costas, o caimento veio muito bem. O vestido tem um decote generoso atrás sem ser vulgar, com rendas que tampam a parte nua formando uns desenhos suntuosos até a curva do quadril. A seda fina e clássica ficou muito bem no meu corpo e com um modelo feito para ele ressalte o que gostaria de valorizar, que são os meus seios (que, devo admitir, eles são perfeitos!). Fiquei super-feliz por ele me alongar um pouco e disfarçar as gordurinhas indesejáveis, estou tão impressionada com o quanto me caiu bem!

Nem acredito que era uma gorda de aparelho e óculos de aro grosso na adolescência. O tempo fez bem a mim, pude emagrecer a tempo de não chegar à obesidade mórbida e finalmente me livrei daqueles arames que deixava o meus defeitos mais evidentes, só seria pior se viessem as espinhas que graças a genética materna, foram evitadas. Finalmente, pude me adequar à moda e escolher óculos melhores que me dessem um pouco mais de charme. Antes era vista como uma criatura qualquer pelas pessoas. Fico tão boba quando dizem: - Nossa, seus óculos te dão um ar mais jovial!

– Como fica charmosa com eles. (às vezes ruborizo, o que me dá mais chame ainda).

– Você fica linda de óculos (esse é o melhor que recebo!).

– Pegarei mais alfinetes para ajeitar a manga. - Comentou a costureira deixando sua voz dentro da sala já andando pelo corredor.

– Sente-se aqui, por favor, vamos ver o arranjo para seu cabelo - a atendente falou me tirando do devaneio mental.

Nossa, com tantos modelos pra escolher que nem sei qual levar.

– Essa tiara fica perfeita em seu cabelo! - Sugeriu a atendente. - Já escolheu o penteado?

– Hum... ainda não. Ainda não decidi se corto o cabelo um pouco mais curto ou deixo assim.

– Bom, pela minha experiência, acho que deveria manter assim. Só tire as pontas se necessário. Como as noivas fazem a ultima prova um dia antes, já me deparei com muitas delas que decidiram mudar o corte na véspera e algumas foram infelizes na escolha. É claro que não comentei, mas algumas já deixaram claro que haviam se arrependido de ter feito.

– Vou me lembrar disso, afinal tenho quatro meses para resolver.

Nossa, faltam quatro meses? Todos dizem que depois do noivado o tempo passa rápido e realmente está passando. Ainda me lembro como se fosse ontem quando a gente se conheceu, e do pedido de noivado.

Foi há exatamente três anos e um mês, quando Robert Baxter apareceu na empresa para ajudar na reforma e ampliação da MF Logística, onde trabalho para fazer serviço de arquitetura. Estava muito atarefada com as atividades intensas por causa do fechamento de mês (faturas, pagamentos, pedidos) e tanta coisa que tinha que conferir antes de aprovar e outras coisas a analisar ainda. Lembro-me de passar correndo pra lá e pra cá cheia de papéis e documentos quando esbarrei nele tão fortemente que caí pra trás de bunda no chão e praticamente deixei cair meus óculos.

– Mil perdões! Por favor, me desculpe, não era a minha intenção. Deixe-me...

– Não, não precisa, estou bem. Não se preocupe. - Disse já me levantando e pegando os papéis espalhados no chão. Estava com tanta raiva que fui irônica com ele.

– Por favor, quero te ajudar. - Pegando os papéis ao mesmo tempo e já me ajudando a levantar.

Com sangue fervendo na cabeça, dei um simples sorriso de agradecimento, ajeitei meus óculos e girei os calcanhares em direção á minha sala. Como se não bastasse, além de me presentear com possíveis dores até o fim do dia com a pancada, ele ainda veio me seguindo pelo corredor.

– Desculpe, é que eu estou procurando o Sr. Sam Cooper, o analista administrativo, meu sócio não pôde vir e me pediu para substituí-lo. Sou Robert Baxter, o arquiteto da Future.

De repente parei de caminhar nos passos pesados batendo o salto no chão e virei e encarei-o:

– Sam? Você procura O Sam? Acho que houve um engano meu senhor. O único Sam aqui sou eu, e é a Sam. Sou Samantha Cooper, sou Analista administrativa da empresa. Estou responsável pela obra de ampliação e construção da nova filial no centro enquanto o diretor Jim Castle não pode te assistir.

Ele me olhou com curiosidade e enrugando a testa, mostrando as primeiras linhas da idade e do sol. Particularmente achei másculo (depois de analisar bem, é claro!). Então ele fez algo que toda minha raiva e tensão do dia se esvaíram. Mostrou seus lindos e perfeitos dentes brancos (num sorriso largo que me pareceu encantador) com uma risada bem gostosa pelo engano ocorrido e logo me derreti e concordei facilmente com seu pedido de desculpas e chamei-o para me acompanhar até minha sala.

Enquanto a obra seguia, passamos a nos encontrar semanalmente para os relatórios e definições da obra, trabalhávamos muito bem juntos, e ele atendia as minhas expectativas profissionais, pouco tive que me preocupar com seu trabalho, que ele fazia muito bem, além da habilidade de me persuadir com as suas opiniões, pois geralmente eu custo a ceder. Depois que o senhor Castle ficou à frente dos trabalhos eu senti um vazio muito grande, pois estava acostumada com o ritmo dos encontros semanais para definir os detalhes, além da minha visita à obra. Quando por fim ele me convidou pra sair:

– Sam, é o Rob. (já nos tratando informalmente) Hum...é... Gostaria de saber se poderia jantar comigo hoje, o que acha?

– Bem eu... (olhando para a pilha de folhas a minha frente) Não sei, pensei em ficar até mais tarde para terminar meus relatórios. Quem sabe outro dia?

– Tudo bem então. Outra hora a gente se fala. - E desligou sem me dar a chance de dizer algo.

E essa outra hora demorou um mês e meio, só que depois de quinze dias do telefonema, me dei conta de que ele deve ter achado que dei um fora nele. Mas isso, nem passou pela minha cabeça e até hoje ele reclama. Além disso, eu queria mesmo sair com ele, mas estava tão mergulhada no trabalho que nem retornei pra me desculpar e por fim esqueci. Até que ligou mais uma vez, na verdade foi a secretária dele quem me ligou:

– Samantha, sou secretária do Robert Baxter, gostaria de saber se há como marcar uma reunião esta semana com ele, sua secretária me informou que o diretor está fora então você é única responsável depois dele.

Caramba, ele mandou a secretária me ligar! Antes ele fazia isso pessoalmente, fiquei um pouco sentida, mas depois ele me disse que foi uma pequena vingança.

– Hum, sim, claro. Para qual dia?

– Sexta-feira ás quatro, a senhora está disponível?

– Claro, sim, pode confirmar com ele.

No dia referente, ele enviou um motorista da empresa me buscar para ir até a empresa Future, porém vi que ele estava fazendo uma rota diferente, quando percebi, ele estacionou em frente ao Hulley’s um restaurante muito chique e bonito. O motorista só disse que era para eu entrar que ele estaria lá.

Quando entrei, vi que ele estava lendo o cardápio e logo que me aproximei ele ficou de pé para puxasse a cadeira e eu sentasse.

– Bem, que tal o Hulley's? A comida é boa e é tranquilo aqui.

– Está bom. (não queria demonstrar empolgação).

Depois de pedirmos, de início, eu não sabia como começar, mas ele tomou a iniciativa e entrou logo no assim e assim começamos com a nossa conversa empresarial que não parava mesmo depois da comida ter chegado, era uma grande dinâmica entre nossas conversas. Depois me senti a vontade, pois tínhamos tanta coisa para por em ordem que não reparamos quanto tempo passamos lá, até o momento que olhei no relógio.

– Minha nossa! Preciso ir, acho que tomei demais do seu tempo. Bom, espero que tudo que resolvemos aqui possa ser passado na segunda para o senhor Castle e assim possamos continuar com a obra.

Ao me acompanhar até a rua e pedir um taxi, fui surpreendida pelo seu movimento rápido. Ele me pegou pelo braço e me segurou com firmeza e me deu um beijo daqueles que só vejo em cinema, só faltou a trilha sonora pra ficar perfeito. Mentalmente busquei por alguma e a primeira que veio à cabeça foi “Making love out of nothing at all” do Air Supply (pode ser cafona, mas foi a primeira que veio). Confesso que logo então comecei a sentir uma energia subindo e descendo por todo meu corpo, enquanto sua boca buscava a minha com urgência, suas mãos macias me abraçando gentilmente após ver que eu havia cedido. Tudo parecia ser tão perfeito e maravilhoso, que não pude pensar em mais nada a não ser deixar-me entregar ao desejo escondido por mim há tempos, desde que eu terminei o namoro. Tudo bem que foi o Carl quem terminou comigo depois de nos formarmos, me deixando arrasada por um verão completo até que o vizinho, já não agüentando mais meu estado deprimido, ameaçou arrombar a porta do meu apê e jogar meu rádio pela janela sem antes quebrá-lo com um machado se eu continuasse a ouvir Bonnie Tyler. Que mal tem ouvir “It's a heartache” nos momentos de tristeza? Mas, depois dessa ameaça, minha depressão teve cura momentânea e passei a frequentar os parques da cidade e fazer caminhada para perder os quilos intrusos ganhos por afundar minha tristeza em baldes de sorvete. Mas isso é passado, eu tinha acabado de sair da faculdade e aproveitei para ir à luta e me dedicar ao trabalho.

Depois do maravilhoso beijo roubado e facilmente cedido, tudo que lembro foi que fiquei tonta com o fôlego tirado de mim e de repente tinha um taxi ao meu lado que tinha esquecido, e já estava dentro dele olhando seu vulto parado na calçada ficando pra trás.

Todo o fim de semana eu fiquei em êxtase. Não parava de pensar nele. Mas não tinha certeza se poderia ligar pra ele. Foi quando na segunda de manhã bem cedo, eu cheguei ao meu escritório e dei de cara com uma sala cheia de flores em buquês e vasos. Chegando à minha mesa me assustei ao vê-lo sentado na minha cadeira à vontade e me entregando o cartão. Tomei-o de sua mão e quando o li, eu vi que estava vazio.

– Num tem nada aqui.

– É porque o que sinto por você, não pode ser expresso em palavras.

Bom, depois disso, estamos juntos até então, e faz três meses que noivei. Ele me chamou pra irmos ao restaurante onde jantamos juntos pela primeira vez e fez tudo parecer especial. Marcamos de nos encontrar lá e quando cheguei, ele já estava na entrada com um lindo bouquet de flores. Depois do jantar maravilhoso, conversamos somente sobre nós, principalmente relembrando a época que nos conhecemos, ele em seguida me levou para o parque onde me pediu em namoro, depois disso ele parou e se ajoelhou na minha frente me pedindo em casamento. Foi tudo tão simples e especial!

A caminho do trabalho depois da prova do vestido, decidi ligar para ele, pois já estava perto do horário de almoço.

– Querido, ainda está no trabalho?

– Sim estou, daqui a pouco vou almoçar. Está por perto? Como foi a prova do vestido?

– Estou chegando. Foi muito bom, já decidi o modelo e já escolhi os acessórios. Que tal almoçarmos para conversar sobre os preparativos?

– Tudo bem, só vou terminar de digitar umas coisas e encontro você na entrada.

Durante o trajeto, estive observando a cidade e lamentei não ter tido muito tempo para andar mais. Greendale City é um lugar muito bom pra morar, embora o ritmo frenético da cidade faça com que fique muito difícil encontrar um local que inspire paz e tranquilidade. Se for isso que procura, terá que ir até o subúrbio, mas eu nunca andei por lá, pra ser honesta. Pouco ando por aqui. Depois que encontrei meus pontos de passeio favoritos, nunca me liguei em rodar o outro lado da cidade, por exemplo. Aqui é quente a maior parte do ano, e isso faz com que piore a sensação térmica devido ao caos, típico de uma cidade moderna. Aqui tem de tudo um pouco, embora o lado das indústrias seja um pouco mais afastado da cidade, quase chegando a Hillcastle, que eu também não conheço. Ainda bem que consegui esse apartamento no Durvin. É perto do trabalho e do centro, e tive muita sorte mesmo por pagar um valor abaixo do que ele realmente vale, comparando as redondezas. Posso ir do trabalho pra casa em meia hora em transito intenso. À noite, quando fico até tarde, chego a pouco menos de dez minutos. Até conseguiria ir a pé se não fosse a pilha de coisas que carrego comigo. O trabalho de Rob é perto do meu, porém do lado contrário do meu apartamento, mas não dá muito trabalho para ir lá, embora o apê dele seja bem mais longe. Geralmente ele leva quarenta minutos do trabalho e quase uma hora da minha casa. Pelo tempo que estamos juntos, parece que conciliamos muito bem isso, ele nunca reclamou da distância.

Estacionando o carro na frente do trabalho do Rob, ele já entrou no carro me cumprimentando com um beijo.

– Pra onde vamos?

– Tem uma lanchonete aqui perto com uma comida muito boa.

Depois que lanchamos entramos logo no assunto.

– Então, estou um pouco preocupada, a única coisa que tenho definida é o vestido e a igreja, não tenho a menor idéia do restante. O pouco que vi não me agradou e todas as referências que tive das colegas casadas não me agradaram.

– Não se preocupe, vamos resolver tudo. Inclusive, Alan me deu uma boa sugestão. A irmã dele se casou uns tempos atrás e gostou muito dos serviços de uma cerimonialista que a ajudou a resolver essas coisas de casamentos. Ele me deu este panfleto dela, e dizem que é a melhor da cidade, cobra um preço justo e é muito requisitada além de ser amiga de infância dele. O nome dela é Andy e eles costumavam ir à escola juntos. A mãe dela foi quem abriu a empresa, e depois que a mãe faleceu de câncer, ela assumiu totalmente a empresa. Alan disse que se você gostar dos serviços, ele poderá conversar com ela para ver se consegue um espaço na agenda para realizar a cerimônia, é complicado, mas ele conversa com ela.

- Bom, eu não sei, além disso, como vamos conseguir uma folga na agenda dela?

- Sam, não se preocupe com isso, Alan disse que já resolveu isso. Ele havia conversado com ela ontem sobre nós e ela deu esse cartão a ele para ligar.

– Hum... então, vou ver com ela e agendar um horário.

– Ainda bem, já estava ficando preocupado se essa cerimônia iria realmente acontecer.

– Agradeço a sinceridade, mas você não tem ideia de como anda a cabeça de uma noiva com tantas coisas para escolher e decidir, além disso, o trabalho anda me consumindo.

– Tudo bem, eu entendo, agora vamos voltar a trabalhar?

Fiquei meio pensativa se poderia recorrer a cerimonialista, só que com tanta coisa pra fazer no trabalho e pouco tempo para o casamento eu creio que não dará tempo, depois de pensar, liguei para o numero do cartão e uma senhora disse que não tinha um horário para hoje, só na próxima semana, eu disse a ela que foi o Alan quem indicou, e ela ficou muda, pediu para aguardar e depois de alguns minutos ela retornou falando que poderia encaixá-la para hoje no final do dia, agradeci e fiz de tudo para terminar o trabalho a tempo.

Ao chegar a seu escritório, fui atendida por uma simpática senhora que pediu que esperasse enquanto ela chegava pedindo desculpas antecipadas por estar atrasada. Prontamente mostrou o portfólio de trabalho para que pudesse já ir observando.

Confesso que fiquei surpreendida por seu trabalho e não demorou muito para ela chegar, já se desculpando.

– Desculpe Samantha, tive que parar no posto de gasolina, meu assistente pegou meu carro sem avisar e esvaziou o tanque sem eu perceber. Alan me informou que você é noiva do sócio dele e gostaria que desse uma atenção ao seu casamento, pois ele quer ser bem servido.

– Não se preocupe. Estive olhando o seu trabalho enquanto não chegava e Alan foi o máximo em te recomendar. Eu e Rob gostamos muito dele.

Não pude deixar de reparar que Andy era uma moça bonita. Um pouco mais jovem que eu, aparentava ter seus vinte cinco anos e já mostrava o quanto sabia lidar com a empresa herdada da mãe. Alta, com longos cabelos castanhos claros presos em um elegante rabo de cavalo alto, suas ondulações pareciam ser perfeitamente moldadas, sem precisar de uma profissional para fazê-los. Corpo esguio e aparentemente atlético, eu fiquei até um pouco triste em perceber o quão sedentária me tornei de uns tempos pra cá, poderia ter um corpo mais firme se me exercitasse mais. Porém, o máximo de exercício que faço é correr atrás de taxi. Não deixei de notar que tinha algumas sardas levemente salpicadas em seu rosto que ainda dava uma vaga lembrança da infância que não a deixava. Possuía um rosto fino e um ar que não dava pose de uma empresária independente, mas sim um ar de uma moça que tem que aceitar a vida que lhe deram apesar de ser famosa pelo que faz.

Depois de passar uma hora agradável tirando dúvidas e acertando os detalhes, e ela sendo extremamente simpática, informei a data de casamento, e ela pareceu surpresa.

– Oito de dezembro? Nossa, tem noção do quão perto está?

– Confesso que só percebi hoje na prova do vestido. Tenho andado muito ocupada com o trabalho, que não dei por mim de fazer as coisas com tanta antecedência, além disso, é a única chance que conseguimos reunir nossa família por morar longe e coincide com a temporada de férias minha e dele e compramos antecipadamente o pacote de viagem a lua de mel que estava na promoção.

– Bom, o risco de não conseguir serviços é grande. As noivas geralmente me procuram com um ano de antecedência para que tudo fique acertado o quanto antes. No seu caso, teremos que fazer num ritmo mais intenso e terei que conviver com você e seu noivo quase o tempo todo. Precisarei que atenda aos meus telefonemas e tenhamos reuniões para te mostrar os trabalhos no final do dia ou no horário de almoço.

– Desde que você faça o meu casamento virar realidade, eu não me importo tê-la colada em mim por vinte quatro horas.

– Eu tenho outro casamento no mesmo dia, e não costumo fazer dois para que o meu trabalho possa sair perfeito e dedicado, mas pedirei ao meu assistente para me ajudar fazendo o outro que é menor que o seu, é mais uma recepção familiar, ele é competente o suficiente para deixá-lo sozinho.

– Nossa! Não sabe o quanto fico feliz em saber que poderá me ajudar.

Depois de tudo acertado, inclusive o valor salgado que ela cobra (ela é famosa por isso também), fiquei feliz em não ter cobrado a mais por um casamento que eles consideram como “em cima da hora” ela me passou algumas explicações sobre coisas que tenho que escolher e aprovar, depois é só ver se eu gosto ou não, e ela ficará responsável em procurar e contratar todos os serviços de que preciso. Tudo que não poderei fazer a tempo, ela estará ao meu lado, me ajudando o máximo possível.

Andy é competente e dedicada em seu trabalho e é isso que fez a empresa ficar famosa no mercado, durante a primeira quinzena mês, ela estava mostrando resultados obtidos para ver os serviços e sugerindo o que ficaria bem e como deveria ser. Robert também ficou mais confiante ao saber que o casamento ficaria do jeito planejado ficou impressionado quando certos detalhes estavam praticamente prontos. No dia que conversávamos sobre os convidados no restaurante, Robert aproveitou para nos elogiar no empenho que estávamos tendo em resolver tudo.

– É incrível como estão conseguindo contratar fornecedores para um prazo curto. Vocês estão de parabéns.

– Muito obrigada meu amor, mas todo crédito é dela.

– Não se preocupe gente, faço o meu trabalho. Conseguimos resolver tudo rápido, pois tenho muitos contatos pela minha experiência e alguns favores que outros me deviam, e consegui os melhores serviços, mesmo que o casamento esteja quase em cima.

– Estou impressionado. Vamos comemorar.

Observando meu futuro marido conversando, não pude deixar de notar quão bonito ele é, e o quanto acho que continua a mesma coisa desde que nos conhecemos. Com seus lindos olhos azuis encantadores e cabelo loiro dourado, cortado socialmente, levemente cheio e com gel para assentá-los, fazem um bom contraste com meus olhos castanhos e cabelos ruivos. Onde passamos, chamamos atenção, além da nossa diferença de tamanho. Eu, baixa e ex-gorda, ele de porte longo e atlético, fica visível o quão diferentes somos fisicamente. Confesso que podemos prover uma boa mistura de DNA para deixar de herança. Ele segura minhas mãos de forma que ele consegue preencher toda a minha, quando andamos de mãos dadas, e ele, com sua suavidade e paciência, contrasta comigo pela minha agitação e impaciência. Ele possui um nariz afilado, queixo másculo e firme, enquanto eu tenho a infelicidade de ser ainda bochechuda - uma pequena lembrança da genética dizendo: “Ei! Ainda você pode ser gorda, não se esqueça disso! Posso acabar com sua cara fazendo parecer uma abóbora assada.” Eu não acredito que consegui um noivo perfeito pra mim. Ele é gentil, cavalheiro e extremamente educado, embora eu tenha ficado surpresa quando ele desligou logo depois de recusar seu pedido para sair comigo. “É só porque fiquei muito envergonhado de ter tomado um fora.” Ele não é fofo? Logo é claro, eu o perdoei e levamos tudo adiante. Como recusar um homem como esse, gente? Ainda mais se visse como eu era na adolescência, quando não tinha sequer a perspectiva de ser beijada.

A escola nunca foi fácil pra ninguém, a não ser que seja popular ou bonita, ou as duas coisas. E eu não fui nada disso, na verdade foi o oposto: gordinha, ruiva (ou cabelo de beterraba, como os outros me chamavam), usava aparelho e óculos. Só gostaria de saber: O que as pessoas têm contra gordinhas que usam óculos? Bom, pelo menos eu emagreci 25 quilos. Ok, 20 quilos. A compensação é que meu apelido foi de Free Willy à Samy Palito. Pois é, descobri que é impossível agradar a todos!

Depois da nossa comemoração, deixei Rob no trabalho e Andy no caminho do seu escritório e voltei ao trabalho, já que não poderia deixar aquela empresa parada. Jim, meu chefe, já havia deixado tudo que precisava em cima da minha mesa para manter meu dia ocupado até o fim de semana antes de viajar para suas reuniões. É claro que fiquei feliz o suficiente para jogar tudo no triturador de papel, mas não o culpo, posso sair na hora que eu quiser para resolver as coisas de casamento ou o que quer que seja. Só teria que dar conta do meu serviço e deixar tudo em dia, e é o que está sendo bem mais difícil para mim a medida que os dias vão se passando. Ainda bem que tenho a Andy para me salvar, cada coisa resolvida é menos uma ligação que nós temos que fazer, embora ultimamente não tenho tido muito tempo pra ela.

Finalmente chegou o fim de semana e eu estava totalmente quebrada por causa do trabalho que Jim deixou, infelizmente não consegui concluir algumas coisas e tive que levar alguns para casa (os que deveriam estar na mesa dele na segunda antes dele chegar). Foi quando Rob me lembrou sobre os convites de casamento. Em pleno sábado à noite, ele sugeriu ficarmos em casa em companhia de uma pizza. Nem acredito!

– Os convites estão prontos, mas ainda não decidimos quem vai levar estes. – Informou Rob balançando um pequeno bolo deles na sua mão.

– Confesso que estou muito cansada pra isso, ainda tenho algumas coisas a fazer para segunda-feira, e Jim estará cedo para pegar antes de partir para outra filial.

– Sam – disse, olhando nos meus olhos seriamente. - Precisamos entregar estes antes que a data do casamento fique em cima da hora.

– Entendo, mas tem como mandá-los pelo correio?

– Sam, estes aqui são da sua terra. E não tenho os endereços. Não sei como vamos convidá-los sem saber onde moram.

Sinceramente, Robert me colocou contra a parede e me senti totalmente acuada. Infelizmente não pude deixar de pensar como faria pra entregar esses benditos convites. Jim não me deixaria sair da empresa por uns três dias por nada nesse mundo. Só eu e a Betty que trabalha com Jim. Nós duas temos o mesmo cargo, mas direcionamentos diferentes. Trabalhamos pra caramba para ter o cargo de gerência na empresa e se pudesse ela pisaria em mim para conseguir. Acredito que seja capaz de contratar um atirador para me tirar do seu caminho. Ela é grossa e sempre fala como se falasse para um amante. Odeio quando ela chega nos chamando de queridaaaa.

A vaga está em aberto, mas o Jim só disse que ia escolher depois que passar o período de viagens dele. A empresa está com tantos contratos novos e com tanto serviço que só saio para ir pra casa porque é necessário. Se pudesse ele me faria dormir lá. Nem é boa hora ainda, pois busco a minha promoção tão querida. É por isso que caio matando naquele lugar, não quero deixar para a sebosa. Bom, passei boa parte do fim de semana pensando em como ir sem prejudicar o trabalho, e enquanto eu estava matutando sobre como resolver esse problema no domingo à noite, decidi chamar as minhas amigas gêmeas Jhenna e Jess para sair e comer comida mexicana. Até que na conversa que tive com elas, por incrível que pareça, Jhenna me deu uma luz, pois não é muito o gênio dela se preocupar em resolver problemas, mas quando precisa, faz facilmente, ao contrário da Jess que se preocupa muito com as pessoas:

– Já pensou em pedir para fazer um serviço na filial de lá? – Perguntou casualmente.

– Como é? – Estava com a mente vagando, olhando o movimento e prestando atenção num casal passando.

– Presta atenção, seu traste. – Jhenna é tão impaciente. - Você não me disse que foi lá na nossa terrinha sem-graça que começou a trabalhar na filial da empresa fazendo estágio? Então, pede ao chefinho para ir lá de novo fazer uma visitinha, dá uma desculpa qualquer pra ir e aproveita pra resolver as questões do casamento. Olha, daqui a uma semana estarei de férias e poderei ir com você e ficar o mês todo se precisar, não tenho lugar pra onde ir mesmo. Até que seria bom rever o pessoal de casa.

– Ela até que tem razão, Sam. Essa ideia pode dar certo. – Jess disse, depois de beber seu suco com adoçante.

– Hum... não é uma má ideia Jhenna. Até que você tem alguma coisa nessa cabeça maluca.

Jhenna e Jess são os tipos de amigas que serve pra todas as horas. Estudamos juntas desde pequenas e Jhenna me ajudou muito a superar a fase difícil quando estava com o peso do Titanic, ela sempre foi elétrica, animada e impaciente até quando eu estava numa fase depressiva na época que me apaixonei pelo capitão do time de futebol, o Mark Jacobs. Nesse período eu fiquei muito louca de paixão por ele e não conseguia enxergar mais nada além dele, até mesmo com os óculos fundo de garrafa (graças à cirurgia corretiva, uso bem menos grau). Ela me pôs pra cima me incentivando a fazer exercícios e a gostar mais de mim mesma. Ela sempre foi muito esportista pelo fato de ter uma inquietação muito grande, sempre estava fazendo algo pra se mexer. As tentativas foram frustrantes até que Jess deu a sugestão de acompanhá-la nas aulas de dança onde encontrei prazer e a superação da frustração de nunca ter sido vista por Mark. Jess sempre foi o tipo de amiga que você pode confiar, ao contrário de Jhenna, que não consegue manter a enorme língua quieta. Jess é muito calma e paciente, não é impulsiva nas decisões. Embora sejam gêmeas idênticas, elas não são tão iguais na aparência, a vaidade de Jess contrasta muito com Jhenna. Jess sabe passar maquiagem impecavelmente bem, como uma profissional eu diria, ela se cuida mais, tem as unhas sempre bem feitas, assim como o cabelo e a pele. As duas têm cabelos castanhos, mas Jess os deixou um pouco abaixo do ombro, enquanto Jhenna deixou bem comprido. Ambas são altas e esguias, porém Jess gosta de saltos e sandálias clássicas enquanto Jhenna tem outro estilo, ela não se preocupa tanto em se cuidar, só o normal ou ‘o suficiente’, como ela costuma dizer. Ela gosta de tons escuros e facilmente poderia ser comparada a uma roqueira ou algo assim, ela gosta de botas e calçados mais marcantes, roupas com estampas de vários estilos e até com taxinhas ou esses trecos brilhosos ao contrario das roupas clássicas da Jess. Jhenna sempre foi de fazer esportes então ela tem um corpo mais atlético enquanto Jess é mais feminina e natural. Dificilmente diriam que são tão parecidas assim, olhando.

– Pois então, diz pro Jim que a filial está sozinha, e quem tempo muito tempo que alguém de cargo de confiança não passa por lá e que precisa de umas inspeções – Sugeriu Jess enquanto meditava sobre o assunto.

– Bom, eu ainda não havia pensado nisso mesmo, meninas. Desde que terminei o estágio não voltei mais para lá.

– Então sua besta. – Jhenna sempre delicada. – Vai ficar aí lerdando? Aproveita que você está buscando essa promoção e usa essa desculpa para mostrar serviço e amanhã você vai falar com o Jim que precisa dar uma olhada lá antes que ele suma de novo por uma semana.

– Apesar da polidez da Jhenna, você precisa mesmo fazer isso para conseguir entregar os convites de casamento. – Comentou Jess com sua sábia calma. – Sem falar que há tempos você não vê seu pai. Ele nem deve saber que está noiva.

– Bom, logo que noivei eu liguei para ele e pra mamãe, depois disso acho que foi para conhecer o Robert, andei muito ocupada e nunca me lembrava de ligar para casa.

– Então já está na hora de mover esse traseiro mole e viajar. – Jhenna disse depois de comer seu taco.

Já no apartamento, fiquei pensando na decisão de ter que ir e trabalhar na filial da empresa. Não teria muito tempo livre para passear e aproveitar o passeio, mas ficar uns dias com meu pai não seria uma má ideia. Há tempos não o vejo e desde que fui contratada pela empresa depois do estágio e transferida, não lembro mais de que ele não tem tido muito tempo livre. O que me preocupa é que viajando para lá, todo meu passado volta como um furacão na minha mente. Não tive uma boa infância pelo bullying que sofria, mas precisava encarar, afinal, não sou mais gorda de aparelho e óculos fundo de garrafa, cresci, me formei e agora sou subgerente uma grande empresa. Então foi aí que tomei a decisão que provavelmente pode mudar todo o percurso da minha história.


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