Até o fim escrita por Alter_Mann


Capítulo 1
Prólogo - Rotina


Notas iniciais do capítulo

Uma dose de loucura no cotidiano alheio.



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Meias, calças, camiseta, blusa, relógio, tênis. Tudo sempre na mesma ordem, caso contrário retirar tudo e começar de novo.

Aquele era seu cérebro subconsciente falando. E Paolo não podia, não conseguia contestar aquelas ações. Toda aquela rotina meticulosamente ensaiada era praticada por Paolo todos os dias, à quatro anos. Estava além de suas prioridades, no entanto. Convivera com aquelas estranhas manias durante a vida toda, e nenhuma delas o impedia de ter uma vida normal. Ou quase normal, pelo menos.

Paolo Seltzer tinha 17 anos, embora parecia bem mais velho. Era extremamente alto, tinha os olhos castanhos escuro e o cabelo, que chegava aos ombros, da mesma cor dos olhos. Penteava os cabelos sempre da mesma maneira: divididos ao meio, jogados para trás. Não era feio, tampouco bonito. Usava óculos e dava a errônea impressão de ser calmo e estar sempre sonhando.

Tocar a beirada da cama duas vezes, alisar o lençol, contar as costuras do edredon azul.

Uma cama, um guarda-roupa ao lado, uma pequena mesa com o computador e o banheiro com a porta fechada era no que consistia o quarto de Paolo. Olhou para seu quarto, verificando se algo estava fora do lugar. Nada nunca estava, mas Paolo sempre arrumava o que fazer. Desinfetar o teclado do computador, polir as estantes com os 50 livros alinhados em ordem alfabética ou tirar poeira imaginária do guarda-roupa. Essas pequenas atividades o faziam se sentir bem, ao mesmo tempo que acalmava sua mente.

Após vasculhar o quarto em busca de sujeita ou bagunça, contentou-se em desarrumar e arrumar a cama três vezes seguidas. Satisfeito consigo mesmo, sentou-se na cadeira do computador, ligando-o, colocou as luvas descartáveis que estavam sobre a mesa e conectou-se à internet. Clicou no ícone de World of Warcraft, um MMORPG online, e adentrou-se fantasia adentro, incorporando o personagem “SeltzerS”.

Paolo terminara o ensino médio há três meses, com notas médias e altas. Desde então, não saiu de casa, nem uma única vez. Devido às suas excêntricas manias, não fizera nenhum amigo durante os três anos. Não que ele se importasse, é claro. As relações sociais podiam muito bem serem substituídas por coisas mais interessantes.

Após duas horas exatas de batalha, Paolo levantou-se, desligando o computador e jogando seu par de luvas no lixo localizado ao lado direito da mesa. Olhou no relógio: meio-dia. Hora de almoçar.

Escovar os dentes, escovar os dentes, lavar as mãos, pentear o cabelo, lavar as mãos, três batidas no azulejo lavanda do banheiro, não pise em riscas, abrir e fechar a porta quatro vezes.

A comida, preparada por Paolo, era sempre legumes cozidos seguidos de frutas frescas. Abria os legumes no prato, adicionava sal e os comia. Não tomava café da manhã, nunca. Por precaução, Paolo sempre lavava as frutas mais duas vezes. Em seguida, tomava água filtrada, enquanto contava os goles, que sempre davam um número par.

Lavar as mãos, lavar, arrumar os talheres e louças, lavar as mãos, desinfetá-las com álcool.

Sentou na cadeira do computador, usando outro par de luvas, e jogou até as quatro da tarde. Estava no nível 96. Quando parou, jogou a luva no lixo e repôs a cadeira à frente da mesa.

Foi até a prateleira de livros, tocou a borda dos livros com leveza e sorriu. Era uma das sensações mais prazerosas e uma das raras coisas que o faziam sorrir, atualmente. Escolheu um volume novo, que nunca lera. Sorteou algum ao acaso e sentou-se na cama, retirando os tênis e alinhando-os em frente ao guarda-roupa.

Leu “Carrie” de Stephen King, até as oito da noite. Colocou o livro de volta na prateleira e foi ao banheiro em seu quarto. Tomou banho até as nove e meia (um banho extremamente longo e demorado, onde somente seus cabelos eram lavados quatro vezes), jantou às dez (o mesmo que o almoço) e deitou-se em sua cama às onze. Ouviu o carro de sua mãe entrando na garagem, e o barulho de botas pontiagudas vindo em direção ao seu quarto. A luz se acendeu, o rosto inexpressivo e o cabelo loiro de sua mãe apareceram na fresta da porta.

– Oi, Paolo.

– Oi, mãe.

– Teve um bom dia hoje?

– Tive sim.

– Ótimo. Boa noite, Paolo.

– Boa noite, mãe.

E essa era a rotina de Paolo Seltzer.



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Notas finais do capítulo

História TOTALMENTE movida a reviews. Ainda estou escrevendo o primeiro capítulo, mas que só será postado se houver reviews!



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