A Verdade Sobre Um Sentimento escrita por fdar86


Capítulo 1
Capítulo Único




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Yumi encontra Sachiko sentada no chão, com a cabeça recostada na cama. Seus olhos se enchem de lágrimas ao ver a sua *onee-sama ("irmã mais velha" em japonês, porém muito utilizada em um sentido shoujo-ai, ou seja, alguém com quem se tem uma relação afetuosa além de uma simples amizade) naquela situação. Sachiko, da forma que estava, ainda não tinha percebido a presença de Yumi.

"Deve ter dormido naquela posição", pensou Yumi, arrasada. A pequena não sabia se devia correr até sua onee-sama e dizer o quanto sentiu a sua falta esses dias, ou se devia gritar que a amava, implorando por perdão. Nesse momento, 'flash-backs' passaram pela sua mente.


Tudo começou no mês passado, quando por ciúmes, Yumi ignorou Sachiko, sem saber que ela estava passando por um momento crítico de sua vida. A avó de Sachiko, que sempre foi muito ligada a ela, estava no hospital, tida como uma paciente terminal. No entanto, outros fatores influenciaram Yumi em sua decisão.

Com todos esses problemas em casa, com sua família triste, e principalmente, com seu indício de depressão, Sachiko se afastara de todos na escola, inclusive de Yumi. Porém a sua tristeza apenas aumentou ao começarem os problemas na escola, com a sua Pettite Soeur (*"irmã mais nova" em francês). Yumi passava cada vez menos tempo com ela, e saía muitas vezes antes de encontrá-la (o que era fácil, já que eram de turmas diferentes), fazendo Sachiko estar cada vez mais certa de que o
amor de Yumi por ela tinha terminado.

No entanto, Sachiko não podia imaginar os reais motivos da garota. Yumi simplesmente percebia Sachiko triste, distante, não apenas dos outros, mas também dela. Essa sensação lhe trazia uma insegurança tamanha, que foi lhe assustando com o tempo. "Será que ela não gosta mais de mim?", "O que será que eu fiz para ela me tratar assim?" pensamentos desse tipo eram comuns na cabeça de Yumi. Mas Yumi não conseguia se abrir com Sachiko, diferente de como sempre fez. Esse detalhe era outro que fez a mais velha começar a desconfiar da validade dos sentimentos da outra.

A tristeza que permeava as duas, não escondiam a verdade que passava por seus olhos. Com o tempo, Yumi decidiu perguntar de uma vez por todas o que estava acontecendo, mas encontrou Sachiko em uma conversa discreta e muito próxima a uma garota da sua turma. Estranhando a intimidade de Sachiko com a garota que para ela era desconhecida, Yumi resolveu voltar depois por imaginar ser um assunto pessoal, mas ficou cismada.

Passaram-se muitos dias, e Yumi não comentou mais o assunto. Um dia Sachiko lhe perguntou o que estava havendo, e obteve como resposta algo que simplesmente lhe irritava. "Nada, onee-sama", Yumi respondeu desviando o olhar. Depois dessa resposta, Sachiko resolveu não mais perguntar, para não ficar ainda mais cismada. "Algo está errado com a gente", pensou Sachiko. Dois dias depois, Yumi, arrependida pela falta de confiança que tinha de sua onee-sama, e pelos seus ciúmes bobos, decide ir falar com Sachiko novamente. Ao chegar na porta da sala, encontra o
primo de Sachiko, prometido por seus pais para casar-se com ela no futuro, abraçando a garota (no entanto, eles nunca se deram bem). Logo depois de ver Yumi, o garoto sai da sala naturalmente, e Yumi olha para sua amada que está com o rosto de quem tinha visto fantasma. Yumi pensou extremamente aborrecida, "O que eles estavam fazendo sozinhos na sala?".


      Sachiko deixou cair uma lágrima, e o seu rosto demonstrava uma imensa tristeza, tão grande, que Yumi não podia descrever em palavras. Sachiko abraçou Yumi, desconsoladamente, mas logo se recompôs, e tentou mudar de assunto. Yumi, desconfiada por tudo que estava acontecendo ultimamente, lhe perguntou o que seu primo estava fazendo na escola (uma escola católica feminina). Sachiko inventou uma desculpa para o que estava acontecendo, e foi totalmente visível a outra mudança de assunto que forçara. Yumi se sentou em uma cadeira, e ficou em
silêncio, apenas encarando Sachiko.

Após algum tempo de um arrasador silêncio mútuo, Sachiko admitiu a Yumi que no momento em que ela entrou na sala, estava implorando no fundo de seu coração para que sua Pettite Soeur aparecesse. Yumi, no entanto, corta o romantismo ao lhe perguntar porque os dois estavam abraçados, já que ela não gosta do seu primo. A resposta "Em momentos como aquele a gente não pensa" lhe pareceu extremamente estranha, porém Yumi não conseguiu tirar mais nada de Sachiko. Poucos instantes depois, a mesma garota que vira há alguns dias atrás caminhando com sua onee-sama, entrou na sala, com os olhos cheios de lágrimas e correu para
os braços de Sachiko, que a amparara.


      Yumi não podia acreditar no que estava vendo, o que fazia Sachiko, ali, em sua frente, abraçada com alguém que nada mais é do que uma desconhecida? Ela conhecia todos os amigos de Sachiko, e nunca tinha visto essa garota na sua frente, porém os seus encontros estavam cada vez mais freqüentes. "Claro", Yumi pensou, "Ela e eu temos algo em comum. Algo que nos interessa mutuamente: Sachiko". No entanto, Sachiko parecia estar extremamente tranquila e íntima com aquele abraço, sem pensar no que Yumi estava sentindo. Yumi se sentiu desprezada
pela mulher que mais ama.

Movida pelo ciúme e desespero, Yumi saiu da sala e, aos prantos, foi se movendo em direção à saida da escola. "Só quero ir para casa", desejava Yumi desesperadamente. Sachiko percebeu a sua saída, apesar do andar super-silencioso de Yumi, imaginou que algo tinha acontecido, e resolveu procurá-la, porém a escola parecia vazia.

As aulas tinham terminado fazia uns 30 minutos, e todos já tinham ido para suas casas. "Mas Yumi sempre me acompanha na volta para casa", Sachiko se sentiu amargurada. Precisava dela mais do que em todos os dias. Algo terrível tinha acontecido, e mesmo que ela nao quisesse compartilhar, era importante estar com Yumi, ouvir sua voz e sentir todo o amor e admiração que emana dos seus olhos quando a encara.


      À  noite, Yumi, muito arrependida do seu comportamento infantil, pensa em ligar  para sua onee-sama, pedir desculpas por ter saído sem avisar. "Eu fui uma boba. Por isso ela não confia em mim, porque eu sou uma criança. Por mais que eu  queira ser adulta, a minha idade faz diferença." (Sachiko é mais velha que ela um ano, porém, Yumi se sente muito mais nova, perante o conhecimento da sua  onee-sama). Em meio à dúvida, com o telefone já na mão no caso de se decidir a ligar, Yumi acaba recebendo a ligação de Sachiko que estava a mais de uma hora ensaiando a sua fala em frente ao espelho. Yumi, inicialmente se assusta com a voz, mas depois relaxa.


      -  "Eu estava pensando em te ligar", disse Yumi, ligeiramente constrangida.


      -  "Eu percebi, até porque você atendeu no primeiro toque", Sachiko forçou uma  risada, embora estivesse preocupada com a mais nova.

Yumi  sorri, e depois faz silencio por um instante. Sachiko decide começar a fala  ensaiada:

- "Sobre hoje..."


      Cortando a fala de Sachiko, Yumi grita, sem perceber o desespero em sua voz:


      -  "Me perdoe, onee-sama. Por favor, me perdoe. Perdoe os meus ciúmes insensatos, e a minha insegurança. Eu... simplesmente não entendo. Só queria que você... que você... confiasse em mim, como confia naquela garota. E... e... que me abraçasse  como... como... como abraçou os dois hoje."

Sachiko se cala do outro lado da linha. Yumi disse tudo que Sachiko precisava, mesmo que não fosse com as mesmas palavras que havia imaginado no ensaio. Yumi ainda a amava, e todo esse tempo, estava sentindo ciúmes, e insegura pelo seu silêncio.


      De repente, todas as atitudes de Yumi, até mesmo as mais suspeitas, lhe fizeram sentido, e Sachiko apenas sorriu. Yumi percebeu, e não conseguindo mais evitar as palavras que emergiam liberadamente de sua boca, disse tudo o que Sachiko queria ouvir:


      - "Onee-sama. Eu te amo!"

O rosto de Sachiko suavizou, de um modo que ela não pôde fazer outra coisa se não morder seu lábio inferior. Como ela queria estar com Yumi naquele momento. Sentir o seu toque. Não, de repente, ela queria algo mais. Algo que lhe assustou, pois nunca tinha sentido antes. Talvez tenha sentido um pouquinho, pensou. A verdade sobre os seus sentimentos estavam cada vez mais expostas, só elas não queriam ou não conseguiam perceber.

Sachiko, no entanto, depois de muito tempo em silêncio, pensando, extremamente feliz pelo que acabava de ouvir, lembrou de que Yumi ainda estava na linha, e que ela precisava de uma resposta.


      - "Yumi, eu..."


      No entanto, ao iniciar a frase de reconciliação, é interrompida por sua prima que entra em seu quarto correndo, gritando. 

      -  "Sachiko! Nós precisamos  conversar!". 

    Sachiko fica confusa, sem saber a quem dar atenção, pois as duas estavam passando por momentos confusos e precisavam extremamente de sua atenção. Yumi, que ouviu a voz da garota pelo telefone, enpalideceu, parecendo chocada.

"Aquela voz...", pensou.

Em um instante, todo o mistério daquela voz lhe clareou na memória, e ela pôde lembrar-se da garota do abraço de hoje de manhã. Não acreditando no que acabava de ouvir, Yumi alterou sua voz:


      - "Onee-sama. Essa...garota... é... é ela?"


      No mesmo instante, a prima de Sachiko que finalmente percebeu que ela estava no telefone, de tão desnorteada que se encontrava, sem meias palavras lhe disse:

      - "É sobre aquele... assunto. Aquilo... aconteceu".

Para Yumi aquelas palavras pareciam totalmente sem sentido aparente, no entanto, podia imaginar milhões de sentidos errôneos, que só a deixavam mais tristes. Mas para Sachiko parecia ter um total sentido, pois ela imediatamente "escolheu", pensou Yumi, com quem ficar. Yumi não conseguia acreditar que a garota  quase-desconhecida estava na casa de Sachiko, e quanto ela só foi na casa de sua  onee-sama depois de quase 2 meses de uma profunda amizade.

Sachiko disse rapidamente, sem ter tempo para pensar em palavras bonitas, nem em tudo  que desejava dizer. Tinha um secreto desespero na voz, porém não foi notado por Yumi, devido a sua atenção super-concentrada nos milhões de sentidos para aquela  frase.


      -  "Eu tenho que sair agora. Depois te ligo, Yumi."

Assim, sem meia conversa, Sachiko desliga o telefone. Yumi não acredita no que  aconteceu. Imediatamente, no momento de raiva, ciúmes, e desespero, pega seu  celular e lhe envia uma mensagem dizendo: "Então é verdade, eu perdi você para ela?"

Sachiko, saindo as pressas de casa com seus pais e sua prima, encontram o primo de Sachiko, de 20 anos, que está esperando eles para levá-los a algum lugar, de carro.


      No caminho, Sachiko recebe a mensagem e, ao ler, hesita em responder. Ela pensava em dizer tanta coisa, tem tanta coisa que ela precisa explicar a Yumi, porém  nesse momento tudo que ela não podia fazer é se concentrar nisso, em uma coisa tão fútil. "Não em um momento como esse", pensou.

Em uma mensagem de três palavras, ela respondeu: "Eu te amo". Ao ler a mensagem, Yumi fica ainda mais irritada, "com tanta coisa para me dizer, ela diz apenas isso?". Anseiando por respostas, quando nem mesmo fez as perguntas, Yumi sente-se traída por sua onee-sama.

No outro dia, Sachiko lhe parece muito abatida, como se tivesse perdido uma noite de sono. Ela tenta uma reconciliação com Yumi, porém não consegue.

Tudo começa no intervalo, quando Sachiko espera sem sucesso encontrar-se com Yumi na sala do movimento estudantil (o qual elas lideram). No final da aula, presa em uma "emboscada", Yumi fica frente a frente à sua onee-sama, que aparenta estar chateada. Aquele olhar de Sachiko lhe deu uma forte dor no coração, porém o ciúmes ainda a dominava, de uma forma que ela não conseguia perceber as coisas mais óbvias em sua frente, e Yumi andou para o lado oposto à Sachiko, que foi
atrás dela, já se irritando com a situação. Cansada dessa fuga de Yumi, Sachiko decide que está na hora de falar sobre os seus reais sentimentos, para acabar com isso de vez:


      -  "Porque tudo isso? Yumi, eu preciso de você do meu lado!"

      -  "Não parece. Para isso tem aquela garota não é mesmo?"

      O olhar de Sachiko entristece ainda mais, mas ela respira fundo, e
continua:

- "Yumi, você não sabe o que está dizendo!"


Diante da deixa, Yumi disse, irônica:


      - "Ah, é mesmo? Que tal você me dizer? Ô, mas claro, esqueci... Você não diz!"

      Sachiko de repente vira de costas, sem querer encarar Yumi. Os seus olhos se enchem de lágrimas.


      - "Eu-Eu... Eu não consigo"


      - "Não consegue ou não quer?"


      - "Não consigo dizer isso a você... nem a ninguém"


      - "E a garota sabe?"


Nesse momento Sachiko ficou encurralada. Não iria mentir para a pessoa que ama, porém nesse momento, a verdade seria quase que fatal para o relacionamento delas, se não fosse dita completamente. Receosa, Sachiko disse:
       - "Sim, mas é diferente..."


      - "Ah, sim. Mas a mim você não consegue dizer?" - Yumi a interrompeu, mais brava do que nunca, e saiu andando na sua frente.

- "Não é isso. Yumi, me escuta..." - pela primeira vez, Sachiko alterou sua voz, mostrando desespero, o que tocou pela primeira vez a mais nova, embora o rancor.

Yumi decide escutá-la mas para o azar de Sachiko, sua prima aparece bem na hora:

      - "Sachiko, nós temos que ir. Já passou da hora, eu estava a um tempão esperando você no portão."

Novamente encurralada, cai uma lágrima da face de Sachiko, que tenta em vão iniciar uma explicação:

      - "Yumi, eu..."

      - "... Precisa ir? E depois me liga?? Novamente você vai me
trocar por essa garota?!"

      - "Não, não é isso, eu..."
      
      - "Chega! Chega, onee-sama!"
- Yumi grita e sai chorando da sala.

     Sachiko fica desesperada e tenta correr atrás dela, mas sua prima lhe segura, e mostra o relógio.


      Chegando no portão, com o tempo muito chuvoso, Yumi, aos prantos, vê de longe uma grande amiga dela (ela era do Miator, mas agora está na Faculdade, que fica em frente ao colégio). Yumi, descontrolada, que vinha se arrastando, sem forças, pelo caminho, se deixa cair aos pés de Sei, sua amiga, largando todos os seus livros no chão há uma boa distância. Com o silêncio entre os soluços do choro de Yumi e o som das gotas da chuva caindo no chão, Sei se senta no chão para ficar na mesma distância que Yumi, e a menina encosta seu rosto em Sei, que tem no seu rosto profundas rugas de preocupação.

De repente, a dúvida de Sei se extinguiu, quando Sachiko apareceu por trás de Yumi, e entregou a Sei os livros dela, que tinha pego do chão. Sachiko apareceu com uma garota que Sei nunca tinha visto antes, apesar de terem sido grandes amigas e terem trabalhado no movimento estudantil juntas. E dessa forma, Sei acompanhou a relação de Sachiko e Yumi desde o início.

Sachiko tentou tocar no ombro de Yumi, que chorou ainda mais forte, quase rompendo a respiração de Sei, de tão forte que se jogou contra seu corpo. Essa tristeza profunda de Yumi preocupou imensamente Sachiko, mas pensou "Talvez seja realmente melhor eu ir embora. A vovó..." Sachiko, de repente, se adiantou, e na passagem, sussurrando no ouvido
de Sei, lhe pediu por favor que cuidasse da Yumi, não a deixando sozinha.

Sei ficou confusa mas sentiu na voz de Sachiko uma profunda preocupação, que quase a  acalmou. Mas o desespero que Yumi passava em seus soluços a deixou realmente preocupada e por nada desse mundo ela a deixaria sozinha. Yumi olhou para Sachiko, e a viu indo embora com a sua rival. Sei falou em seu ouvido "Sabe o que sua onee-sama me disse? Para que eu cuidasse muito bem de você. Ela pareceu realmente preocupada".

Yumi ficou confusa. Era tudo muito estranho, e ela já não sabia o que fazer. Nesse momento tudo o que ela precisava era de uma verdadeira
amiga, e Sei, sempre foi isso para ela.

Sei passou o resto do dia com Yumi, que já estava mais calma. Yumi explicou tudo que estava acontecendo, e o que estava sentindo por sua onee-sama. Sei estava atenta, e também parecia um pouco preocupada com Sachiko.

      -  "Yumi, eu... Hoje eu pude olhar de perto para vocês duas e naquele momento... Vocês duas tinham olhares muito infelizes. Ela também não está feliz com essa situação. Tem alguma coisa errada aí..."

Yumi  entendeu o que Sei queria dizer pois ela já tinha percebido isso apesar de não ter parado para pensar no assunto. "No entanto, seja o que for", pensou, "ela não confiou em mim". Como se tivesse lido o seu pensamento, Sei disse:


      - "Sachiko sempre foi assim, não consegue falar dos seus sentimentos. E você Yumi, sempre soube olhar bem fundo nos olhos dela. Vocês duas tem uma ligação muito forte. Talvez ela simplesmente não ache que precise te contar, que você entenderá sozinha. Talvez ela ache que seja melhor para ela assim, ficar em  silêncio. Eu não sei exatamente o que está acontecendo, mas pelo que eu conheço de vocês eu posso garantir: Ela te ama. Eu nunca tinha visto ela tão feliz, como  quando você entrou no Yamayurikai." (*Nome dado ao movimento estudantil nesse colégio)

Yumi abraçou Sei, já tinha em seus olhos lágrimas que se uniram abaixo dos seus olhos, de tanto caírem. As palavras de sua amiga tocaram profundamente seu  coração, porém "vieram tarde", pois Yumi já tinha decidido o que fazer. Para o seu próprio bem, deveria ficar longe de sua onee-sama, que estava lhe fazendo mal com o seu silêncio ensurdecedor.


      Uma semana depois, Yumi descobre pela jornalista do colégio, uma grande amiga, que também presenciou o início de sua relação com Sachiko, que sua onee-sama não tem vindo para a escola. A partir dessa informação, Yumi fica extremamente preocupada, e passa a procurar por seus amigos, conhecidos de Sachiko, buscando informações, tentando entender o que está acontecendo. Porém ninguem sabe de nada.

Yumi, então, passa a lembrar de tudo que Sei disse, e começa a pensar que ela tem razão, "Talvez eu tenha sido realmente uma boba. Talvez ela estivesse simplesmente precisando de mim, como sempre estive, ao seu lado"

      Em seu desespero por notícias, só restava uma coisa. Procurar aquela garota que estuda na sala de Sachiko, que ao que parece é a única a saber da verdade. Ao chegar na sala, imediatamente tem a visão do rosto da garota, que simplesmente é inesquecível para o seu ciúme. A garota aceita falar com ela, porém tem expresso em seu olhar uma profunda amargura e irritação.


      - "Então, o que você quer saber?"

      -  "Eu sei que você é íntima de minh... Sachiko..."


      A  garota lhe encara, como se não acreditasse na correção que Yumi acabou de fazer ou no que ela iria dizer, e isso confundiu Yumi, que achou a garota muito misteriosa.


      - "O que você quer saber?"

      Yumi  já se encontrava implorando por respostas, e a grosseria da garota, só serviu para ela mostrar seu desespero:


      -  "Como ela está? Ela não está vindo para aula. Por favor..."


      -  "Agora você está preocupada com ela? Pouco tarde, não?"


      Lágrimas  voltaram a cair do rosto de Yumi, descontroladamente.

      -  "Por favor... Eu preciso dizer que..."

      A  menina parou, como se necessitasse ouvir o restante da frase para lhe responder.


      - "Eu a amo." - gritou, em seu  desespero.

A  menina ficou em silêncio e parecia extremamente aborrecida, como se estivesse até mesmo enciumada. Mas após alguns instantes massacradores para a existência de Yumi, a garota falou:


         -  "Eu não gosto de você. Não acho que você mereça a Sachiko. Eu até disse isso a ela uma vez mas..."


Yumi sentiu um alívio no coração como se finalmente tivessem deixado de
apertá-lo.


      - "Mas ela é uma boba, que ama você, apesar de tudo que você fez."

      -  "Como ela está? Me diz... por tudo que é mais sagrado!"


      -  "Nossa avó... ela faleceu... Ela e Sachiko eram muito próximas... Isso e o seu afastamento fizeram com que ela entrasse em depressão... Ela está há dias de cama e sem comer direito. Minha família toda tentou reanimá-la, mas ela não tem  nenhuma reação. Por sua causa. E depois disso tudo ainda te ama, e delira seu  nome." - A culpa cortou o coração de Yumi, que de repente percebeu o quanto tinha sido imatura, e realmente não-merecedora do amor de Sachiko...

Não podia ficar para ouvir mais nada. Ela tinha que ir de encontro a Sachiko, e tentar refazer todo o mal que fez para ela. Ia dizer, finalmente, os seus novos sentimentos... O que ela tanto precisa dizer... Agora ela sabe, Sachiko a ama, e nunca teve nada com aquela garota. A garota misteriosa na verdade faz parte de sua família, por isso obviamente saberia da doença da avó de Sachiko.

Yumi sai correndo do colégio e encontra Sei passando pelo portão da Faculdade. Pede uma carona, explicando da forma mais breve a situação, e Sei se dispõe imediatamente a levá-la e esperá-la o tempo que for necessário para trazê-la de volta.


         Ao chegar na casa de Sachiko, todos lhe recepcionam bem, incluindo o primo de Sachiko, que parece muito abatido, como estava Sachiko da última vez que a viu.  A mãe diz que implorava pela visita dela, que tem esperança que isso ajude a garota a sair de seu sofrimento. O primo sai e vai conversar com Sei que está no  carro. Eles nunca se deram bem, porém nesse momento até ele estava precisando de um apoio e Sei resolveu conversar, para ajudá-lo a desabafar.

Ao chegar no quarto, e abrir a porta, após muitas tentativas fracassadas, Yumi encontra Sachiko sentada no chão, com a cabeça recostada na cama. Seus olhos se enchem de lágrimas ao ver a sua onee-sama naquela situação. Sachiko, da forma que estava, ainda não tinha percebido a presença de Yumi.

"Deve ter dormido naquela posição", pensou Yumi, arrasada. Yumi não sabia se devia correr até sua onee-sama e dizer o quanto sentiu a sua falta esses dias, ou se devia gritar que a amava, implorando por perdão. Nesse momento, 'flashes-backs' passaram pela sua mente, que foram interrompidos ao perceber um movimento da cabeça de Sachiko que se virou de lado, ficando de frente para Yumi.

Sachiko a encarava de uma forma tão sem vida que assustou Yumi, porém de repente Sachiko enpalideceu, como se visse um fantasma. Suas mãos se levantaram quase sem força, numa tentativa inútil de alcançá-la, e disse:

      -  "Yumi? Eu estou sonhando?"

Suas  mãos se encontravam ainda mais velozes, e Sachiko afastou o rosto da cama, para  vê-la melhor. Yumi se aproximou dela, e pegou em sua mão, puxando-a para cima,  de frente a ela. Sachiko, sem consciência, a seguiu, emocionada, ao sentir  realmente seu toque. Sachiko parou de frente a Yumi, poucos centímetros de  distância, mas ainda desconfiava da real presença. Começou a tocar no rosto de  Yumi, parecendo uma cega querendo enxergar.

        -  "Yumi? Isso é um sonho?" - repetiu sua  pergunta, novamente em descrédito.

Yumi, com lágrimas nos olhos, mas muito feliz, e emocionada ao ver Sachiko tão melhor, apenas por sua presença alí, pegou forte nas duas mãos de sua onee-sama, que se encontravam em seu rosto, e as beijou. Sachiko, então, acreditando na sua visão, abraça forte Yumi parecendo uma criança, que ficou muito tempo sem a sua mãe, e teve muito medo de perdê-la. Yumi retribui totalmente o abraço, fazendo com que a garota se sentisse finalmente protegida.


          -  "Não, Onee-sama. Eu estou aqui."


      Sachiko, ao  ouvir essa palavra, ela chora. Yumi, sem entender, enxuga as lágrimas da amada, e a olhando nos olhos, ela implora:

      - "Me perdoa, Onee-sama."

      Sachiko sorri emocionada, apesar de ainda chorosa, e:

      - "Então eu ... ainda sou sua onee-sama?"


      - "Claro que sim."

As  duas se abraçam novamente, e Sachiko pega nas mãos de Yumi, as prendendo em seu  corpo, como se quisesse milhões de provas, de sua presença ali. Mas Yumi não se incomodava com isso, pelo contrário, a tanto tempo sem contato com Sachiko, todos esses toques lhe faziam muito bem, e ela retribuia a todos.


      Em  um instante, Yumi se percebe totalmente envolvida com Sachiko, de forma a querer a garota para sempre contigo. Sachiko, que também se sente da mesma forma, e sempre sentiu, decide lhe contar tudo que passou. Porém, uma coisa era mais importante, e Sachiko não pode deixar de lado. Disse que só pode ter sido sua vó que trouxe Yumi, pois ela nunca foi boa de chorar, e só na presença de sua Pettite Soeur, consegue ser ela mesma.

Contou também uma história de sua avó quando era nova, que tinha uma amiga e por alguns desentendimentos elas discutiram e nunca mais se reencontraram. Pouco antes de morrer, a senhora tinha passado para vê-la, e Sachiko pôde ver a sua avó morrer feliz por ter visto pela última vez, depois de tantos anos, a pessoa que ela mais amou de verdade.

Yumi, que achou linda a história, se percebeu chorando, e não se surpreendeu ao ver Sachiko fazendo a mesma coisa. No entanto, logo Sachiko sorriu ao dizer que:


      -  "Minha avó sabia... Ela sabia que só morreria feliz se a visse... Ela sabia que apesar de todos esses anos, ela nunca conseguiria esquecê-la. Ela morreu pouco depois que a viu... E parecia tão feliz..."


      De repente um sorriso abriu no rosto de Sachiko que ainda tinha em seus olhos  muitas lágrimas, seus olhos brilhavam muito, e dessa vez transmitiram a idéia de  uma grande alegria.

         - "Como eu pareço, Yumi?"

O coração das duas estavam prestes a sair pela boca, e Yumi decidiu expor seus sentimentos de uma vez. Se afastando um pouco, mas mantendo presa suas mãos em Sachiko, para que ela não se assustasse, Yumi decidiu assumir.


      -  "Onee-sama..."


      -  "Yumi. Eu te amo."


      Yumi foi interrompida, porém, nada poderia ser mais perfeito. Acabou de ouvir, exatamente o que precisava ouvir, e o que queria dizer. E as mãos de Sachiko e Yumi se entrelaçaram ainda mais, e Yumi finalmente se sentiu segura para  responder de acordo com seu sentimento.


         -  "Onee-sama. Eu também te amo... Tanto."

   As duas se aproximaram novamente após um pequeno puxão que Sachiko lhe deu, ficando rosto a rosto. Após alguns olhares de confirmação mútuos, o rosto das duas se encostaram um no outro, e as duas trocaram carícias nos respectivos narizes. Porém o toque nos narizes, as deixou com um imenso gosto de quero mais, já que podiam sentir a respiração ofegante da outra pessoa, além de sentir a presença de suas bocas tão perto...

      
         As duas então tiveram um pequeno "descuido", ao permitir, intencionalmente, que suas bocas encostassem uma na outra, tão suavemente como o toque de narizes. Logo elas pararam, mas demoraram bastante tempo de abrir seus olhos, apenas paradas com uma testa encostada na outra. As duas pareciam muito felizes quando voltaram a conversar, porém não tocaram no assunto do quase beijo.


      - "Eu pensei que você iria entender mesmo se não dissesse nada... Fui tão ingênua  em achar isso. E egoísta, não pensei em seus sentimentos."


      Mas não importava. Não importava como Yumi agiu ou agiria, Sachiko sempre seria apaixonada por ela. E, agora, no fundo, as duas sabiam disso, e se deram conta de que não queriam perder uma a outra.


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