O silêncio pairava por toda aquela classe, mas não era pra menos, afinal ainda estava amanhecendo, a maioria dos passageiros estava dormindo, os que não estavam, haviam acordado a pouco, e não faziam barulho pra não acordar os outros, mas eu não havia pregado o olho durante toda a viagem, não queria dormir, estava com medo daqueles pesadelos os quais vinha tendo, e não iria me dar ao luxo de acordar gritando em pleno voo, sabia que causaria pânico nos passageiros, então preferi me entupir de energético pra evitar de dormir sem querer.

No momento eu olhava pela janela do avião pensativa, me sentia ansiosa e um pouco apreensiva, finalmente estava chegando naquela cidade aonde iria recomeçar minha vida. Fazia quanto tempo que não ia pra lá? Dois anos? Será que meu pai estaria me esperando no aeroporto? Bom ele disse que sim, mas e minha irmã? Duvidava disso, ele não iria obrigá-la a me receber, afinal ela nunca gostou de mim, pelo menos nunca demonstrou, nem sei o porquê, apesar de sermos gêmeas nunca nos demos bem, não depois que nossos pais se separaram quando tínhamos apenas 7 anos, e eu fiquei com nossa mãe e ela foi morar com o papai. Eu também não estava muito a fim de conviver com ela, não depois do que ela me fez no nosso aniversário de 15 anos, mas isso é uma história que depois eu conto.

Nossa já falei tanto da minha vida e ainda nem me apresentei! Meu nome é Amanda Summers, mas só meus pais me chamam pelo nome, meus amigos me chamam de Mandy, tenho 17 anos, não me acho alta, tenho só 1,65 m, olhos verdes, e meus cabelos que antes eram castanhos e longos, agora são vermelhos e curtos na altura do pescoço. 

Estou indo pra uma cidade chamada Night Ville, situada ao sul da Inglaterra, morar com meu pai e minha irmã. Morava com minha mãe nos Estados Unidos, mas depois de tudo que eu aprontei nos últimos meses, e também essa história de ela resolver se casar novamente, com um cara que eu não suporto nem ver, a convivência entre nós se tornou quase que impossível, e numa tentativa de acalmar as coisas ela me resolveu me mandar de volta pra cá.

Nasci na Inglaterra e desde que meus pais se separaram eu morava com minha mãe em Londres, mas dois anos atrás ela recebeu uma promoção na empresa onde trabalha e nos mudamos pros EUA, o que na época foi magnifico pra mim, pois eu queria ficar bem longe daqui, e também era uma ótima oportunidade melhorar meu currículo. Ah se eu pelo menos imaginasse o que ia acontecer, não teria aceitado nunca ir pra lá com ela.

“Acabamos de pousar na cidade de Night Ville, obrigada por escolherem viajar por nossa companhia, Sejam Bem Vindos e tenham uma boa estadia!” – Disse o Piloto pelos autofalantes do avião.

Desci do avião, peguei minhas malas e fui pro saguão ver se encontrava meu pai, procurei um pouco, mas logo o avistei, ele não estava muito diferente da ultima vez que o vi, alguns cabelos brancos haviam aparecido em meio aos seus cabelos castanhos, mas nada muito significativo, ainda tinha aqueles olhos verdes, iguais aos meus, e aquele sorriso que eu sempre senti saudades, soltei minhas malas sem me importar com nada, e o abracei com toda a força que tinha.

- Papai quanto tempo, estava morrendo de saudades – eu disse ainda o abraçando.

- Nossa, senhorita Amanda Summers, você mudou muito, nem parece mais a menininha de antes, quando sua mãe falou que você havia mudado eu não imaginei que fosse tanto - ele disse em tom de surpresa, ao se afastar de mim e me olhar de cima abaixo.

- Nossa, Senhor Henrique Summers, pensei que ia dizer que estava com saudades também e tal, mas já que falou nisso eu nem mudei tanto assim, só mudei o cabelo e o jeito de me vestir, nada demais - respondi tentando segurar a risada, eu sabia que estava bem diferente de antes, mas fingi que não era nada.

- Desculpe filha, estava com muitas saudades suas também, mas não é só isso, você está mais mulher agora, estou vendo que vou ter tanto trabalho com você quanto tenho com sua irmã – falou balançando a cabeça como se imaginasse, mas em tom de brincadeira, só depois percebeu o que disse no final da frase e fechou um pouco o semblante.

Ele sabe que eu e ela não nos damos bem, ele e a mamãe, mesmo separados, sempre tentaram nos unir, mas tudo sempre em vão, porque mesmo que na época eu tentasse me dar bem com ela, ela simplesmente me afastava, e depois do que ela me aprontou, eu desisti de tentar, e passei a ignorá-la também, por pouco tempo, pois pouco tempo depois eu e minha mãe fomos embora, e eu nunca mais mantive contato com ela, só com meu pai.

- Bom falando na Sophia, percebo que ela não veio não é, mas é melhor assim, eu ainda não consegui perdoá-la. – falei séria.

- Minha filha, vocês tem que se entender, afinal vocês são irmãs, e agora que vão morar juntas vocês vão se ver todo dia, tanto em casa quanto na escola. – falou mesmo sabendo que eu não ia dar ouvidos ao que ele dizia.

- Tá, tá, vou pensar no seu caso, mas me ajude aqui com as malas, estão meio pesadas. – disse indo em direção às malas que deixei jogadas, e percebendo a cara de desgosto de algumas pessoas que não gostaram muito de eu tê-las abandonado ali.

- Nem pense que vai se livrar de mim tão fácil mocinha, mas você vai ter uma surpresa quando chegarmos em casa, afinal em dois anos você não foi a única que mudou - disse sorrindo enquanto me ajudava a pegar as malas.

Olhei meio confusa pra ele, e o segui em direção ao estacionamento onde ele deixou o carro. Fomos conversando no caminho pra casa, mas na minha mente martelava aquela frase que ele disse e uma pergunta.

Será que a Sophia mudou tanto assim também?

Quando chegamos em casa, eu olhei maravilhada pra ela, nossa que saudades daquela casa, não era uma mansão nem nada mas eu sempre achei uma casa bem grande, é uma casa de 2 andares pintada num tom amarelo claro, com um muro alto da mesma cor na frente e um portão alto de ferro pintado com uma tinta prateada, depois que entramos vi o  jardim gramado com uma passarela feita de pedra que leva até a pequena escada com 3 degraus que da acesso ao terraço, ainda no jardim tem algumas arvores não muito altas, mas que não me recordo de que tipo são, não tem muitas flores no jardim, mas tem um canteiro bem bonito na frente do terraço com rosas de varias cores diferentes. Quando entramos olhei pra sala da casa, uma sala espaçosa com uma TV, acho que 42 polegadas, e dois sofás pretos, um com 3 e outro com 2 lugares, a cozinha era separada da sala por um balcão, lá tudo era preto, acho que meu pai deve ter pego um pouco do gosto da minha irmã por essa cor, mas eu devo confessar que passei a gostar bastante da mesma de uns tempos pra cá. Na parte de baixo ainda tem o escritório do meu pai e um banheiro.

Meu pai colocou a ultima mala pra dentro e praticamente gritou:

- Sophia Summers, eu sei que você está em casa, desça e venha ver sua irmã.

Depois que ele falou é que percebi que no andar de cima tocava uma musica, acho que era rock, gostei, mesmo não sabendo de que banda se tratava.

- Estou indo – escutei a voz dela.

Olhei pras escadas e me deparei com aquela figura me encarando surpresa, e me analisando de cima a baixo, até mais que o papai. Eu também fiquei surpresa com o que vi, ela também mudou bastante.