Ad Pulvere escrita por themuggleriddle


Capítulo 1
Fuga Lamia


Notas iniciais do capítulo

Fic AU, Tomione, se passando durante a idade moderna, que vai desde o séc XV ao XVIII. Shame on me, eu ainda não decidi o ano exato, muito provável que seja na metade do séc XVI, por aí.



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"E exterminarei as feitiçarias da tua mão; e não terás adivinhadores."

— Miquéias, 5:12

 

****

Seus pés latejavam de dor enquanto ela corria por entre as árvores da floresta que cercava a sua casa. Hermione não tinha idéia de se eles estavam por perto ou se ela conseguira despistá-los, mas não queria arriscar olhar para trás, pois cada segundo perdido poderia ser a diferença entre viver e ser jogada em uma fogueira. Então, mesmo com o seu corpo implorando para que ela parasse, a garota se forçava a continuar, ignorando as pontadas de dor que acometiam o seu peito e o latejar em seus pés.

Hermione não tinha idéia de como a haviam encontrado. Sua pequena cabana era protegida não apenas pela densa floresta, mas por feitiços que ela mesma havia feito e que, com certeza, eram bem sucedidos... Bom, talvez não tão bem sucedidos assim, agora que os trouxas a encontraram. Era em momentos como aquele que ela ficava aliviada de ter deixado os pais há um bom tempo, quando decidira ir morar com os Weasley para aperfeiçoar a sua magia. Caso seus pais fossem encontrados ali, com certeza seriam mortos, acusados ou de bruxaria ou por serem cúmplices de uma bruxa. Também estava aliviada de não ter nenhum Weasley em sua casa naquele dia específico, pois era normal um dos ruivos sempre estarem lá já que, apesar de ter passado a viver em sua própria moradia, a família continuava sempre a visitando.

Independente da maneira como a encontraram, a surpresa de encontrar um enorme grupo de trouxas invadindo sua casa, destruindo seus livros e jogando seus ingredientes de poções em uma fogueira improvisada no seu quintal fora enorme. A garota conseguira, de certa forma, passar despercebida por alguns minutos e o teria feito por mais tempo, garantindo a sua fuga de maneira muito mais fácil, caso os trouxas não tivessem levado seus cães. Não levou muito tempo para que os animais a farejassem e indicassem a sua presença, o que acarretou em um bando de aldeões a perseguindo pela floresta.

A bruxa sorriu ao ver, há uma certa distancia, um rio que cortava a floresta. Ela sabia que a profundidade das águas era grande, assim como a força de sua correnteza, o que impossibilitaria a passagem dos aldeões. Com um aceno de sua varinha, Hermione viu as raízes das árvores ribeirinhas se estenderem por sobre as águas agitadas, formando uma ponte improvisada, e acelerou o passo. Em circunstâncias normais, a garota nunca atravessaria aquele rio de maneira tão desatenta, mas, naquele momento, até cair e ser arrastada pela correnteza seria melhor do que ficar para trás e ser pega.

Assim que pisou na grama do outro lado do rio, acenou com a varinha outra vez, agora para reverter o feitiço anterior, e finalmente se deu a oportunidade de olhar para trás. Os trouxas estavam vindo, como ela esperava, com suas tochas, armas e cães. Os animais foram os primeiros a chegar na beira do rio e logo pararam, sabendo que não seria nada bom pular na água. Antes que os donos de tais os alcançassem, Hermione voltou a correr. Correu por mais um bom tempo, fazendo curvas alheias e se embrenhando por entre as árvores e arbustos, lançando feitiços aleatórios às suas costas e, ainda, ignorando os pedidos desesperados de seu corpo por algum tipo de descanso.

Quando finalmente parou, permitiu a si mesma respirar profundamente e encostar-se em uma árvore, ouvindo o silêncio que a cercava agora. Ergueu a varinha e movimentou-a, erguendo algumas barreiras de feitiços e esperando que, dessa vez, elas funcionassem da maneira correta. Ao término de tal tarefa, Hermione deixou o corpo escorregar até estar sentada no chão coberto por folhas e gravetos, finalmente sentindo toda a exaustão que a corrida lhe causara, sem contar com o desespero de saber que sua casa e seus pertences já não existiam mais. Ela estava sem nada e, nas condições em que se encontrava, não arriscava viajar por mais algumas milhas para encontrar os Weasley e lhes pedir abrigo.

Ergueu o rosto, vendo o céu arroxeado do fim da tarde pelas brechas por entre as folhas das copas das árvores, e decidiu que ficaria ali até a manhã seguinte, descansando, para então seguir seu caminho até os Weasley. Mudou de posição para se fazer mais confortável e fechou os dedos ao redor da varinha, deixando os olhos correrem pelos seus arredores. Era só ela, a floresta e as estrelas acima de si.

***

Ao acordar de seu sono sem sonhos, a primeira coisa que Hermione percebeu foram os pássaros cantando acima de si, assim como a luz do sol que se embrenhava por entre as copas das árvores e alcançava o chão frio e sujo. A garota sorriu, bocejando e esticando os braços acima de sua cabeça, entrelaçando os seus dedos e, finalmente, sentindo falta de alguma coisa. Abriu os olhos e olhou para o chão ao redor de si mesma a procura de sua varinha, sentindo o desespero crescer dentro de si ao perceber que esta não estava por perto.

“Não consigo acreditar na minha sorte.” A bruxa estremeceu ao ouvir uma voz desconhecida e virou-se para ver um rapaz parado há alguns metros dela. Pelas suas roupas, ele não deveria ser um nobre ou coisa parecida, mas a julgar pela sua aparência em geral, também não era um dos camponeses miseráveis que a perseguira na noite anterior. “De tudo o que poderia encontrar, acabei por esbarrar na bruxa de Hogsmead.”

Hermione levantou-se rapidamente e fixou o olhar nos olhos claros do outro, tentando, de alguma maneira, entrar na sua mente. Ela não era nenhuma mestra na Legilimência, mas, quando se tratava de trouxas, quase sempre conseguia fazer a técnica funcionar. A garota sentiu a sua magia esbarrar contra a mente do estranho e se dissolver. Decidiu que aquele efeito fora causado pela falta da varinha e voltou a olhar para o chão.

“Está a procura disso?” A bruxa ergueu os olhos novamente e viu o rapaz com a sua varinha entre os dedos pálidos e longos.

“Como...?” Hermione finalmente conseguiu forçar sua voz a sair. “Você nem deveria ter me encontrado!”

“Suas feitiçarias devem ter sido mal feitas, bruxa.” Um sorriso sutil e um tanto perigoso apareceu nos lábios do outro e aquele pequeno gesto fez o estômago de Hermione se revirar.

“Vai me levar de volta à Hogsmead?” a garota perguntou, tentando manter a calma e atrasar as ações do estranho. “Vai me levar para a fogueira?”

“Para a fogueira, sim.” O sorriso no rosto do jovem se alargou ainda mais. “Mas não para Hogsmead. Vamos para um lugar mais agitado, assim o entretenimento é maior... Londres, por exemplo.”

“Mesmo?” Hermione estreitou os olhos. “Você e quem mais? Ou acha que irei segui-lo de bom grado?”

“Mas é claro que não. Deus sabe que uma mulher como você faria de tudo para escapar... Com ou sem isso.” Ele ergueu a varinha e a girou em seus dedos. “Ogg.”

A garota não teve muito tempo para tentar imaginar o que seria um Ogg, pois logo algo pesado a acertou na nuca, fazendo-a perder a consciência imediatamente.

***

Ao abrir os olhos novamente, Hermione viu-se enclausurada em o que parecia ser uma cabine escura, fria e que sacolejava demais. Foi apenas após alguns segundos, depois que sua visão se estabilizou e sumiu com a turvação que a ocupava, que a garota percebeu que não estava sozinha.

“Você acordou rápido.” O rapaz da floresta. O jovem de olhos azuis e rosto bonito cujo sorriso fazia com que a bruxa ficasse com um pressentimento ruim. O estranho que a encontrara e roubara a sua varinha.

“Minha varinha...” a garota sussurrou, olhando em volta e finalmente notando que estava em uma carruagem, o que explicava os solavancos que a cabine sofria vez por outra, assim como o barulho de cascos de cavalos que ela conseguia ouvir.

“Vamos lá, você realmente acha que eu vou te devolver a sua arma?” O outro revirou os olhos e se ajeitou em seu banco enquanto Hermione olhava para as próprias mãos, vendo que estas agora estavam amarradas uma contra a outra.

“Trouxas sempre...”

“Do que você me chamou?” O rapaz estreitou os olhos e a outra suspirou.

“Aqueles sem magia sempre acham que nós somos inúteis sem nossas varinhas,” ela murmurou, desviando o olhar de suas mãos para as botas sujas do jovem.

“Você se mostrou ser bem inútil até mesmo com uma varinha.” A risada fria que preencheu o lugar fez com que Hermione ficasse com vontade de jogar pelos ares o seu auto-controle e avançasse no outro. “Até agora nenhum dos seus feitiços funcionou.”

“Tem razão.” Ela deu de ombros. “Mas eram feitiços mais complicados, se é que me entende.”

“Diga o que quiser, bruxa...”

A moça sorriu, concentrando toda a sua atenção nas pernas do estranho, antes de sussurrar: “Locomotor Mortis!”

Hermione não conteve uma leve risada que escapou de seus lábios ao ouvir uma exclamação assustada vinda do outro assim que as pernas deste colaram-se uma na outra, deixando-o praticamente imobilizado em seu assento. As mãos pálidas do jovem logo começaram a arranhar as próprias pernas em tentativas inúteis de soltá-las, o que, na opinião da garota, apenas deixava a cena mais cômica. Murmurando outro encantamento, a bruxa viu as cordas em seus pulsos se soltarem e inclinou-se para a frente, esticando uma mão na direção do casaco do rapaz.

“Não me toque!” O estranho jogou o corpo para trás, tentando aumentar a distância entre eles quando os dedos de Hermione alcançaram o tecido de seu casaco. A garota apenas revirou os olhos e abriu a peça de roupa, enfiando a mão nos bolsos desta até encontrar a sua varinha. “Você vai pagar por isso, bruxa! Escreva as minhas palavras...!”

“Com certeza eu lembrarei delas,” disse Hermione, apontando a varinha para o rosto do rapaz, que arregalou os olhos. “Diferente de você.”

“Não ouse!”

“Eu não vou machucá-lo, não se preocupe.”

A bruxa encarou o rosto do jovem por um tempo, achando quase que interessante a mistura de ódio e pavor que assolavam as suas feições bonitas, antes de abrir a boca para executar o seu feitiço de memória. Mas, antes que pudesse pronunciar a primeira sílaba, algo a empurrou contra a parede de madeira atrás de si e a manteve presa ali. Gemeu baixinho ao sentir sua cabeça latejar com o impacto e ao perceber o quão forte era a força que a prendia ali... Não havia a mínima possibilidade de se mexer e até respirar estava se tornando uma tarefa difícil, como se houvesse algum peso muito grande sobre o seu peito.

“Como...?” a garota começou a falar, mas foi interrompida pelo dedos finos do outro assim que estes se fecharam com força ao redor de sua garganta. Os olhos da moça se arregalaram ao perceber que o rapaz havia conseguido se libertar do feitiço e agora estava há apenas alguns centímetros dela, com o rosto retorcido de raiva e os olhos faiscando.

“Nunca mais ouse pensar em lançar uma das suas feitiçaria em mim novamente.” Os dedos do jovem apertaram com mais força o seu pescoço, fazendo com que ela tossisse.

“V-Você está... Está me machucando.”

“Talvez essa seja a intenção.”

“Você não é t-trouxa,” ela gemeu, virando a cabeça para os lados, mas sem conseguir fazer com que ele a largasse.

“O que disse?” Os olhos azuis do rapaz se estreitaram e a força do seu aperto aumentou.

“Você não é trouxa... Você é um bruxo.” O estranho franziu o cenho e inclinou a cabeça para o lado. “Largue o meu pescoço, pelo amor de Merlin, eu não consigo respirar!”

Para a sua surpresa, as mãos do outro se afastaram sem hesitação e Hermione viu-se respirando fundo, ainda sentindo a pele de seu pescoço arder. O rosto dele ainda continha uma expressão de puro ódio, mas agora o pavor voltara.

“O que você acabou de fazer... Não, o que você está fazendo, é magia!” ela falou, tentando mexer os braços mais uma vez e não conseguindo realizar tal tarefa.

“Fique quieta.” O jovem abaixou o rosto e cobriu-o com as mãos.

“Você se soltou do feitiço e agora está me prendendo aqui!”

“Quieta...”

“Isso também explica a razão de você ter me achado na floresta,” a garota explicou, gemendo baixinho devido à sua posição desconfortável. “Meu feitiço não falhou, mas ele foi feito para manter trouxas longe e você não é um trouxa...”

“EU MANDEI VOCÊ FICAR QUIETA!”

Mais uma onda de força a prensou contra a parede, fazendo com que ela sentisse como se o ar tivesse sido expulso de seus pulmões. O rapaz agora a encarava novamente e Hermione não conseguia determinar se a expressão predominante em seu rosto era a raiva ou a confusão.

“Olhe para mim! Olhe para o que você está fazendo!”

“Você está fazendo isso consigo mesma, bruxa. Deus sabe como vocês usam os seus poderes para enganar os outros...!”

“Ha! Claro! Estou me prensando contra a parede por vontade própria!” Ela riu alto, mas logo parou por sentir a falta de ar aumentar. “É você!”

“Não sou!” O rapaz sacudiu a cabeça, erguendo as mãos para agarrar os próprios cabelos. “Eu não sou como você. Eu não sou uma... uma aberração! Não sou um demônio!”

“É claro que não é uma aberração ou um demônio, você é apenas um bruxo!” Hermione revirou os olhos. “Agora pare o feitiço!”

“Eu não consigo, não sou eu...!”

“Respire fundo e se acalme,” disse a garota, surpreendendo-se ao ver o rapaz a obedecendo. “Agora pense que quer me soltar. Eu não vou fazer nada contra você, prometo! Pode ficar tranqüilo. Apenas pense que quer me ver livre e... Solte.”

“Não consigo...”

“Consegue sim,” ela murmurou, olhando para o chão e vendo a sua varinha perto dos pés do rapaz. Realmente, mesmo que ela se soltasse, tentar recuperar a varinha seria arriscado, ainda mais com a magia recém-descoberta do outro. “Acalme-se e pense sobre como você não quer mais me segurar contra a parede. Com calma e concentração.”

A jovem viu o outro fechar os olhos e respirar profundamente inúmeras vezes. Aos poucos, sentiu a força que a segurava ir embora, dando espaço para que ela se movimentasse. Quando finalmente conseguiu se mover por completo, flexionou o pescoço e mexeu os braços, sentindo sua pele formigar levemente em suas extremidades, antes de se inclinar e segurar os pulsos do rapaz, afastando as mãos deste de seus próprios cabelos escuros.

“Viu?” ela sussurrou, encarando o rosto perturbado do outro, que continuava com os olhos fechados e a respiração ruidosa. “Eu disse que conseguiria.”

“O que isso significa...?” Hermione não pôde deixar de sentir-se um pouco mal pelo garoto. Não era todo dia que alguém descobria que era um bruxo e descobrir uma coisa dessas nos tempos nos quais eles se encontravam era o suficiente para apavorar qualquer pessoa.

“Como eu já disse: você é um bruxo.” Ela suspirou, soltando as mãos dele. “Você já deve ter feito algo que indicasse a sua magia, mas não deu importância ao acontecimento... Alguma coisa estranha já deve ter acontecido quando você estava por perto, você já deve ter percebido coisas que os outros não perceberam, já deve ter esbarrado em bruxos escondidos sem querer e não ter percebido que eles eram feiticeiros...” A garota viu as sobrancelhas do outro se franzirem levemente e sorriu. “Estou certa, não estou?”

“E o que eu faço agora?”

“Aprende a controlar a sua magia. Um bruxo sem controle é um perigo não apenas para a sociedade, mas para si mesmo... Não controlar seu poder é ter magia escapando em momentos inoportunos e isso pode levar você para a fogueira.”

O silêncio que se formou entre eles era terrivelmente desconfortável e aquela sensação ruim aumentou ainda mais quando o jovem abriu os olhos e Hermione percebeu que o medo e a confusão pareciam ter e esvaído como que em um passe de mágica, pois agora as orbes azuis não continham mais nada além de determinação.

“Você disse que me faria esquecer.”

“Bom, não posso fazer você esquecer que é um bruxo pelas razões que acabei de falar...”

“Consegue fazer isso em qualquer pessoa?” o rapaz perguntou, interrompendo-a.

“S-Sim... Por quê?”

“Faça isso.” Ele se abaixou e apanhou a varinha, entregando-lhe esta. “Não ouse me atacar.”

O garoto virou-se e abriu o que parecia ser uma pequena janela na parede da cabine e que dava para o assento do cocheiro. Ela podia ver a cintura de um homem lá fora e viu quando o jovem o cutucou.

“Pare e venha aqui!” o rapaz ordenou e, logo, a carruagem parou abruptamente. Hermione ouviu o cocheiro descendo de seu lugar e viu a porta abrindo, deixando a luz do exterior entrar no ambiente escuro.

“Senhor?” O homem parado do lado de fora era alto e robusto, com cabelos castanhos espessos e um rosto que, apesar de a ter deixado inconsciente há algumas horas, parecia ser gentil. Mesmo com as feições simpáticas, a garota não pôde deixar de notar como a mão do cocheiro apertou com mais força o chicote que carregava ao vê-la.“A bruxa fez alguma coisa?”

“Não, Ogg,” disse o rapaz com um tom de voz completamente calmo. Hermione notou que era quase como se a calma dele fosse contagiosa, pois logo a expressão no rosto do cocheiro se aliviou e este não teve nenhuma reação ao vê-la erguer a varinha e apontá-la para o seu rosto.

Obliviate.”

Os olhos castanhos do homem pareceram perder o foco por um momento e, após alguns segundos, este sacudiu a cabeça e olhou em volta, parecendo desorientado. Hermione sorriu ao perceber que os efeitos de um feitiço bem sucedido estavam ali, bem visíveis.

“Senhor?”

“Sim, Ogg?”

“Quem é a senhorita?” o homem gesticulou para a garota.

“Ora, Ogg.” O rapaz riu baixinho, esticando o braço para segurar a mão da moça com delicadeza. A bruxa franziu o cenho, estranhando a familiaridade com a qual o outro se dirigia a ela e se conteve para não se afastar. “Lembra-se que Mestre Cole pediu para que viéssemos buscar a moça que ele havia encontrado para servir de modelo em um novo quadro?”

Ogg abriu a boca para falar alguma coisa, encarando a jovem, antes de concordar com a cabeça.

“Sim, senhor.”

“Ótimo.” Novamente, aquele sorriso sutil e quase que perigoso apareceu nos lábios do rapaz. “Agora, Ogg, acho que podemos seguir viagem, afinal, é um longo caminho daqui até Londres.”

“Sim, senhor.” O homem fez uma leve reverência, antes de fechar a porta e voltar para o seu coche.

“Modelo?” perguntou Hermione, torcendo o nariz ao olhar o outro.

“Se você ficar aqui, bruxa, vai ser encontrada pelos aldeões,” disse o rapaz, acomodando-se em seu assento novamente. “Caso vá comigo até Londres, tem a chance de escapar.”

“E por que você me quer ao seu lado em Londres?” a moça estreitou os olhos, percebendo rapidamente que devia haver algum interesse por detrás daquela proposta.

“Como você mesma disse: preciso de alguém para me ensinar a controlar a minha... magia.” A última palavra saíra meio trêmula, como se o garoto assustado de antes transparecesse por entre a máscara de estabilidade do outro. “E quem melhor do que me ajudar com isso do que uma bruxa?”

“Eu tenho a minha vida aqui.” Ela cruzou os braços em frente ao peito. “Tenho amigos por aqui, tenho que ir até eles, avisá-los de que sabem de nossa presença aqui.”

“Tenho certeza de que você poderá mandar uma mensagem por meio de suas feitiçarias, mas você irá para Londres comigo.” Hermione viu, novamente, o ar perigoso encher os olhos azuis do rapaz. “E, caso se recuse a fazer isso... Lembre-se de que sempre é possível pegar alguém de Hogsmead para testemunhar contra você. E o povo de Londres adora uma execução.”

A bruxa não podia acreditar no que estava ouvindo. Ela chegara a sentir pena daquele rapaz ao vê-lo tão desesperado, recusara-se a apagar a sua memória para protegê-lo e não o atacou quando tivera a oportunidade... E agora ele a chantageava, ameaçando entregá-la à caçada mesmo tendo tanta magia em seu sangue quanto ela.

“Então, estamos de acordo, bruxa?” O jovem lhe estendeu a mão e sorriu, mais uma vez.

“Eu poderia nocauteá-lo com um feitiço nesse exato momento.”

“Seus feitiços já se mostraram inúteis contra mim. Vamos lá, você mesma disse que eu deveria aprender a controlar a magia.”

Suspirando, a garota sacudiu a cabeça, amaldiçoando-se por não conter a preocupação que sentia só de pensar em deixar um bruxo sem instrução alguma a solta em Londres, antes de apertar a mão do outro. O sorriso do rapaz se alargou e Hermione perguntou-se se aquela fora a escolha certa.

“E pare de me chamar de bruxa.”

“É o que você é.” Ele deu de ombros.

“Então posso chamá-lo de bruxo o tempo todo também?” O garoto fez uma careta. “Foi o que eu pensei. Eu tenho um nome: Hermione Granger.”

“As pessoas de Hogsmead a conhecem pelo nome?”

“Não,” ela respondeu. “Eu não morava em Hogsmead, nunca morei. Não me conheciam por lá, talvez apenas um pouco de vista...”

“Bom, então não precisamos inventar outro nome. Eu sou Tom, Tom Riddle.”

“É um prazer.”

“O prazer é meu, senhorita.”

“Sei que já perguntei isso uma vez, mas devo me repetir... Modelo?”

“Sou aprendiz do Mestre Henry Cole e ele estava a procura de uma modelo para uma pintura que Lord Black comissionou. Na realidade, ele me pediu para ir até a aldeia de Lochwood para buscar uma moça que ele conhecera em uma viagem.”

“E não será estranho se você chegar lá com outra garota?”

“Não se eu disser que acredito que a garota que encontrei no caminho irá se encaixar muito mais na pintura do que a que ele queria.”


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Notas finais do capítulo

Essa fic foi proposta pela Na {Uno} há quase um ano e ela acabou ficando esquecida no computador até eu decidir reescrever ela. Ainda não está completa e eu não sei quanto tempo vai demorar para que eu poste, foi mal.
Reviews são sempre bem vindos.