El Beso Del Final escrita por Ms Holloway


Capítulo 14
Nina




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Capítulo 14


 


Nina


 


                 Letty ouviu as palavras carinhosas de Dominic em silêncio. Ela nunca o tinha ouvido falar assim antes. Ele parecia realmente arrependido por tê-la deixado. Tanto que estava disposto a sair da própria couraça e mostrar sua vulnerabilidade a ela. Mas isso não significava que conseguiria o perdão dela tão facilmente. Letty tinha sofrido demais com a última separação e com o fato de ter de cuidar de Nina sozinha. Jamais teria conseguido sem a ajuda da boa família que a acolhera na República Dominicana.


- Letty, por favor, diz alguma coisa... – Dominic pediu alguns minutos depois, cansado de vê-la tão calada. – Você está me deixando louco aqui...


- O que você quer que eu diga, Dom?- ela retrucou.


- Não acredita na minha promessa?


- Talvez você já tenha me feito promessas demais.- disse ela, se afastando do abraço dele e indo para o quarto de Vince. Dominic a seguiu.


             Dentro do quarto, ela sentou-se na cama e embalou Nina nos braços, murmurando palavras carinhosas para a filha:


- Quem é o biscoitinho da mamãe? Quem?


            Para a surpresa de Dom, Nina abriu um lindo sorriso e pareceu compreender perfeitamente que quem falava com ela era sua mãe. Ele ficou parado na porta do quarto assistindo as duas, encantado.


- É, você é o meu biscoitinho, é sim... – Letty continuou dizendo e o sorriso de Nina tornava-se mais aberto até que a menina deu uma indiscutível risadinha, deixando Dom surpreso. Letty dissera que ela tinha apenas três meses, mas ele estava espantado com a maneira que ela interagia com sua mãe mesmo sendo tão novinha.


          Ele e Letty nunca tinham falado realmente a sério sobre terem filhos por razões óbvias. Não havia lugar para crianças em sua vida sem regras, mas agora que tinha acontecido e ao ver Letty com sua filha, Dominic pensou que aquilo era simplesmente perfeito. Por que nunca tinham pensado sério a respeito disso antes?


         Bem, talvez ele tivesse pensado uma vez há algum tempo atrás.


 


República Dominicana, cinco anos antes


 


        Hora do almoço. Agripina, a tia de Santo anunciou as boas novas a todos que compartilhariam daquela refeição. Dom e Letty estavam trabalhando juntos em um raríssimo IKA Torino 300 W. Dominic correria com ele na próxima corrida dali a dois dias. Letty tinha tido algumas idéias sobre como melhorar o desempenho das rodas quando o NOS fosse acionado.


       Quando eles ouviram a balbúrdia dos homens na garagem onde trabalhavam e as crianças correndo de um lado para o outro compreenderam que já estava na hora de comer. Letty tinha chegado à cidade há cerca de três semanas e estava adorando aquele lugar, repleto de pessoas alegres, com costumes simples e maneiras cativantes. Todos ali pareciam amar Dominic, e como ela era a garota dele acabaram por amá-la também.


- É melhor irmos comer ou não vai sobrar nada.- disse ele, divertido, limpando as mãos sujas de graxa em um pano.


       Letty concordou e desabotoou o macacão de mecânico que usava por cima das roupas. Dom franziu o cenho ao ver que ela usava uma camiseta preta curta e um short jeans igualmente curto.


- Pretende ir comer vestida assim?- ele indagou, ciumento. Dom sabia que não importava o que ele dissesse, Letty jamais se importaria com a opinião dele sobre suas roupas. Mas ele implicava com ela de vez em quando assim mesmo só pelo prazer de provocá-la.


- E o que que tem?- retrucou ela, soltando os cabelos que antes estavam presos em um coque.


- Nada.- disse ele. – Eu só acho que a atenção dos rapazes à mesa de refeições deveria ser na excelente comida da tia Agripina e não nas suas belas pernas.


       Letty riu e se aproximou dele, dizendo:


- Pois eu acho que Izzy e as outras garotas.- ela falava a respeito das primas e irmãs de Santo. – Deveriam fazer o mesmo ao invés de ficarem olhando para os seus músculos.


       Dominic sorriu.


- Touchet.- disse ele segurando na mão dela e a conduzindo para fora da garagem em direção à mesa de refeições arrumada do lado de fora da casa porque havia pessoas demais para comer.


     Dom fazia o possível para ajudar Santo e os outros a manter aquela mesa farta todos os dias. Do jeito honesto não seria nada fácil. Por isso ele não abria mão das corridas e das atividades ilícitas envolvendo roubo de gasolina e outros produtos dentro do país. Era verdade que lucrava algum dinheiro com aquilo, mas ultimamente suas intenções estavam mais voltadas para o bem estar daquele povo que ele havia acolhido como seu.


- Venha sentar aqui, madrinha!- disse um garoto para Letty. Como Dominic tinha se tornado o padrinho deles, natural agora que eles chamassem Letty de madrinha.


- Ela vai se sentar comigo.- disse Dom ao garoto, colocando um braço ao redor de Letty. O menino pareceu desapontado.


- Dom, não acredito que está competindo com uma criança pela minha atenção.- disse ela, acariciando o braço que lhe prendia a cintura. – Pensei que você gostasse de crianças.


- E eu gosto.- disse ele. – Adoro esses meninos, você sabe. Mas adoro ainda mais você!


      Ela sorriu e trocou um beijo com ele antes de tomarem seus lugares à mesa. Agripina trouxe a panela com sua famosa receita de Chicharrón, acompanhada de purê de bananas verdes.


      Enquanto comiam, Letty observou uma das primas de Santo, Iolanda, brincando com seu bebê. Um menino de seis meses. A moça estava tentando comer, mas o bebê estava fazendo a maior bagunça na mesa, colocando seus dedinhos no prato de comida dela.


      Como terminou de comer primeiro, Letty ofereceu-se para segurar o bebê enquanto Iolanda terminava sua refeição. A jovem garota sorriu e entregou o bebê imediatamente para Letty. De início, ela segurou o menino um pouco desajeitada, mas logo estava muito à vontade brincando com ele.


      Dom a observou por alguns instantes antes de indagar a ela:


- Está gostando?


- Oh, sim.- respondeu ela aconchegando o bebê junto ao peito porque ele ficara sonolento de repente e agora procurava uma posição confortável para dormir. – Acho que eu levo jeito. O que você acha?- ela provocou.


- Podemos fazer um desses se você quiser... – ele sussurrou ao ouvido dela. – O que acha disso, hã? Podemos começar a tentar hoje mesmo.


      Letty deu uma risada espontânea.


- Só se você me garantir que a partir do momento que o bebê estiver guardadinho aqui dentro.- ela pôs uma mão em sua barriga. – Você passará a dirigir a 40 km por hora. O que me diz?


- Sem chance, garota!- disse ele, rindo.


- Então acho que vamos deixar isso para uma outra oportunidade, né?- devolveu ela, rindo. Mas havia algo de diferente em seu olhar. Dom achou que ela ficou um pouco chateada com a resposta dele e isso o deixou surpreso.


     Depois que eles retornaram à oficina para continuarem trabalhando no carro, ele voltou a tocar no assunto:


- Letty, quando nós estávamos falando sobre ter crianças na hora do almoço você quis dizer que...


- Não, eu não quis dizer nada!- retrucou Letty depressa. – Dominic, eu não posso ser mãe e você não pode ser pai. Vamos falar a sério sobre isso. Não daria certo.


- Eu sei, mas...


- Mas o quê?


- Sei lá!- ele deu de ombros e largou a ferramenta que tinha nas mãos para segurar na mão dela. – De repente poderia ser bom no futuro, sabe? Às vezes eu penso nisso.


- Você pensa nisso?- ela pareceu surpresa.


- É, às vezes eu penso em como seria se você ficasse grávida, sabe, com aquela barriga enorme, carregando meu bebê. Quando penso em crianças, Letty, só consigo pensar que você é a única mulher que eu gostaria que fosse mãe de um filho meu.


- Oh, Dom!- Letty exclamou abraçando-o. – Não acredito que está me dizendo isso.


- Mas é verdade. Então um dia nós poderíamos considerar a possibilidade...


- Um dia, Dom. Quem sabe um dia falaremos sobre isso.


- E se acontecer antes que possamos planejar qualquer coisa?- ele levantou a questão.


- Dom, estamos juntos há muito tempo e nunca aconteceu. Somos muito cuidadosos com isso, você sabe!


- Eu sei!- disse ele. – Mas a vida pode nos surpreender e ambos também sabemos disso.


- Você está estranho hoje, homem!- ela desconversou. – Vamos parar de conversar e cuidar do carro, ou então você irá competir na corrida com a bicicleta do Tego!


- Ah não!- disse ele. – Aquilo é uma sucata velha! Nem se ele abandonasse aquela porcaria na estrada alguém iria querer!


           Letty riu do comentário dele e o assunto sobre ter filhos ou não foi esquecido durante muito tempo.


 


Tempo Presente


 


          Nina parou de sorrir e bocejou no colo da mãe. Estava ficando sonolenta de novo. Brincar com ela era uma boa maneira de deixá-la cansada o bastante para dormir. Letty tinha aprendido isso.


- Hum, você já está com sono, garotinha?- Letty indagou a filha. – Isso é bom porque a mamãe também está muito cansada.


         Dominic ainda estava parado à porta. Parecia inseguro de se aproximar novamente. Letty sorriu para ele e perguntou:


- Quer segurá-la?


- Eu... – balbuciou ele.


- Ora, vamos homem!- disse ela. – Não é tão difícil assim! É a sua filha...


        Ele se aproximou e sentou-se na cama ao lado de Letty. Ela ergueu Caterina com cuidado e entregou a criança a ele. Dominic sorriu para a pequena e segurou-a desajeitadamente, mas Letty pôs seus braços ao redor dos dele, ajudando-o a encontrar uma posição confortável para Nina.


- Isso, assim... – incentivou Letty ao vê-lo recostar suas costas contra um dos travesseiros da cama enquanto ele ajeitava Nina em seu colo.


- Ela é tão pequena, não quero machucá-la... – disse Dom.


        Letty sorriu vendo o jeito dele ao segurar a filha. Nina parecia mais confortável do que ele pensava nos braços musculosos do pai. Tão confortável quanto ela mesma costumava se sentir nos braços dele.


- Não vai machucá-la.- Letty garantiu acariciando a mão dele que segurava com cuidado a cabecinha da menina.


       A cena era linda. Letty pensou. Dominic, tão grande e desajeitado quanto um urso panda segurando Caterina que era pequena e fofinha como uma bola. Nos braços dele ela parecia ainda menor.


       Nina deu um enorme bocejo e mais uma vez aninhou-se confortavelmente nos braços do pai.


- Que boca enorme!- Dominic brincou, falando docemente com ela. – Assim você vai engolir o papai...


      Letty riu suavemente e Dominic sentiu uma onda de nostalgia dentro de si ao ouvir o som da risada dela. Como sentira falta daquele som. Ás vezes ele costumava rir só de ouvir a risada de Letty, sempre tão espontânea, tão verdadeira.


       Ele estava louco para beijá-la novamente, tomá-la em seus braços e fazer amor a noite inteira para matar a saudade que sentia, mas agora havia Nina. Algumas coisas teriam que esperar e Dom sentia que levaria algum tempo para que Letty permitisse qualquer intimidade com ele novamente. Embora ela estivesse ali tão próxima, sentada ao lado dele, sabia que havia uma linha invisível entre os dois que delimitava a distância que a estupidez dele provocara entre eles.


       Nina colocou o dedinho na boca e começou a chupá-lo de olhinhos fechados. Dom acariciou o cabelo escuro dela e disse à Letty:


- Meu pai ficaria tão feliz se tivesse tido a oportunidade de vê-la.


- Eu sei.- disse ela.


- Você se lembra quando conversamos sobre ter filhos há muito tempo atrás?


      Letty ergueu uma sobrancelha.


- Nós não conversamos realmente sobre isso.


- Conversamos sim.- insistiu Dominic. – Na República Dominicana e eu perguntei a você, o que faríamos se você ficasse grávida mesmo com todo o cuidado que estávamos tendo? Você disse que nunca aconteceria, mas ambos sabíamos que isso não era verdade, Letty. Você deveria ter me contado. Podia ter dito pra Mia me contatar, as coisas teriam sido diferentes.


- Dom, você se lembra o que me disse quando eu te perguntei se seria capaz de dirigir a 40 km por hora?


      Ele balançou a cabeça negativamente.


- Eu lembro, mas eu estava brincando com você. Não tinha falado a sério.


- Sim, Dominic. Você tinha falado sério! 40 km é uma velocidade baixa demais pra você.


- Não!- ele insistiu. – Não dou a mínima pra velocidade se você está fora dela, mami. Desde o começo sempre foi você! Muito antes do que aconteceu na cama do meu pai, sempre foi você! E mais agora com a Nina... – ele abaixou a cabeça para olhar para a filha que parecia imperturbável nos braços dele. – É como eu falei, a partir de agora ficaremos juntos de novo, Letty.


      Ele tocou a mão dela e Letty não se afastou, embora sua expressão estivesse séria. Eles ficaram em silêncio alguns momentos, até que Dominic disse:


- Quero saber tudo sobre ela!- ele olhou para Nina. – Quando ela nasceu? Conte-me tudo. Onde você esteve durante a gravidez. Quem cuidou de você, meu amor?


       Letty olhou para cima momentaneamente, como se estivesse puxando lembranças de sua mente e começou a contar tudo a ele:


- Ela nasceu no dia 10 de janeiro, numa noite fria e chuvosa. Eu já estava quase com nove meses completos, mas o médico me garantiu que ela ainda levaria umas três semanas para nascer.


- Onde você estava vivendo?


- Em Azua de Compostela.- Letty respondeu. – Conheci uma boa amiga lá, Consuelo. O irmão dela tinha uma oficina, então eu trabalhei lá durante a gravidez, orientando os mecânicos já que eu não podia trabalhar diretamente nos carros.


- A gravidez foi difícil?- ele perguntou, curioso. – Eu não entendo nada disso, mas...você ficava muito enjoada? Tinha desejos?


       Letty riu das perguntas dele.


- Eu ficava muito enjoada no começo. Os dois primeiros meses foram os piores, eu mal conseguia me alimentar. Mas depois melhorou e eu tive uma gravidez bem tranqüila apesar de tudo. Quanto aos desejos, bem, meu único desejo era ver você novamente.- ela admitiu.


       Eles se olharam nos olhos e Dominic fez menção de beijá-la, mas Letty virou o rosto devagar. Ele não insistiu e voltou a encostar-se ao travesseiro.


- Como se sentiu quando descobriu que estava grávida, Letty?


- Apavorada.- ela respondeu. – Mas algo dentro de mim dizia que eu precisava seguir em frente, ter o bebê, sabe? Eu não tive minha mãe comigo porque ela cometeu muitos erros. Não quis e não quero fazer o mesmo.


      Dom assentiu. Entendia perfeitamente o que ela queria dizer. Ele continuou suas perguntas sobre Nina e seu nascimento.


- Como você soube que ela ia nascer? Eu quero dizer, você estava sozinha quando as contrações começaram? Eu queria tanto ter estado com você.


- Eu não senti nada até de madrugada. Eu dormia sozinha no quarto mais afastado da casa e acordei sentindo uma dor aguda na barriga, estava sangrando. Fiquei assustada. Gritei por ajuda e logo todos vieram me acudir. Não houve tempo para me levarem ao hospital, então a Nina nasceu lá mesmo...


- Você deu à luz sem nenhuma anestesia?- Dom parecia impressionado. – Deus, Letty, deve ter sido muito difícil. Se eu estivesse lá com você teria dirigido para o hospital a mais de 100 km por hora!


- Eu sei!- Letty disse e de alguma maneira a reposta dela o confortou. Era bom saber que ela ainda acreditava que ele cuidaria dela. – A dor foi horrível. Eu sentia como se estivesse sendo sacudida por dentro. Mas quando ela nasceu foi como se de repente não existisse mais nada, apenas eu e ela. Não existe sensação igual, Dom. Olhar nos olhos do seu bebê depois que ele é tirado de dentro de você. Ela era uma coisinha tão pequena e frágil, pesava dois quilos e oitocentos gramas. Mas ela é tão gulosa para mamar que ganhou peso rápido e agora está pesando 7 quilos.


- 7 quilos?- Dominic retrucou, rindo. Ele estava adorando ouvi-la falar sobre a filha deles e os momentos que ele tinha perdido. – Ela se parece muito com a Mia quando era bebê.- ele contou.


- Mas com certeza não herdou a personalidade dela.- Letty comentou com divertimento. A tensão entre eles tinha se dissipado um pouco e a conversa fluía mais livremente. – Anna Caterina é geniosa e fica muito irritada quando está com fome ou quando sua soneca é interrompida. Acho que isso me lembra...humm deixe-me pensar... – Dom sorriu porque sabia de quem ela estava falando. – Ah é mesmo! Lembra-me você. Você sempre fica de mau humor quando está com fome ou quando alguém te acorda. Lembra-se daquela vez em que o Vince resolveu fazer isso? Te acordar antes das oito da manhã?


             Dom gargalhou.


- Quase quebrei o nariz dele!


        Letty riu também e Nina se assustou com as risadas deles, começando a berrar irritada no colo de Dom.


- Foi alguma coisa que eu fiz?- ele indagou, preocupado, sem saber o que fazer para acalmá-la.


- Nós a acordamos e agora ela está aborrecida, como eu disse. Mas eu sei de um jeito muito eficaz de acalmá-la e fazê-la pegar no sono de novo. – disse Letty, confiante. – Me dê ela aqui!


      Dom entregou Nina de volta para Letty que falou baixinho com ela, acalmando-a antes de puxar o zíper do macacão que usava para baixo, e abaixar uma das alças do sutiã e oferecer o seio à pequena. Ele observou com atenção aquele momento íntimo entre mãe e filha, apreciando muito estar presente num momento como aquele pela primeira vez.


      Nina aceitou a oferta de imediato e sugou forte o peito da mãe, fazendo pequenos barulhinhos de satisfação e colocando suas mãozinhas sobre Letty. Ela cantarolou uma canção de ninar que tinha aprendido na República Dominicana e de repente Nina estava muito calma novamente, mamando sonolenta.


      Dominic estava encantado com a cena e não queria sair do lado de Letty e sua filha, mas logo ambos ouviram a voz de Vince vinda do corredor.


- Dom!- ele chamou . – Ô Dom, você taí?


      Letty sorriu.


- Acho que é melhor ir vê-lo. Se você não conversar com ele, é capaz dele começar a chorar.


- Eu já te disse quantas vezes pensei em matá-lo?- Dom indagou, bem humorado.


- Matá-lo não vai resolver o problema de carência dele... – acrescentou Letty, divertida.


- Eu volto já!- disse ele, beijando o topo da cabeça dela. Ele só estava saindo do quarto, mas sentiu que precisava assegurar a ela que não iria a lugar nenhum, nunca mais.


     Vince pareceu extremamente feliz ao ver Dom deixar o quarto e encontrá-lo no corredor.


- E aí, cara? Já deu uns beijinhos na Letty e consertou a merda que você fez?


      Dominic sorriu.


- Pra você tudo sempre é muito simples. Onde está o Leon?


- Foi comprar mais cerveja.


- Cerveja?- retrucou Dom. – Ok, V, acho que não vou encarar uma cerveja hoje. Quero ficar com a Letty e a nenê.


- Ah, fala sério, Dom! Você tem que tomar uma com a gente, nem que seja só uma! Já faz muito tempo, cara e o Leon e eu queremos saber das novidades.- ele bateu levemente no peito de Dom. – Me fala aí, quantas gatas você pegou esse ano todo que ficou separado da Letty?


- Hey, eu estou ouvindo essa conversa de merda!- disse Letty de dentro do quarto.


- Jesus, mulher!- exclamou Vince fingindo-se ultrajado. – É conversa de macho!


- Então, por favor, que os machos vão conversar lá fora para não perturbar o meu bebê!


- Você ficou chata agora que é mãe, sabia?- encrencou Vince, mas Dom já estava puxando-o pelo braço, para longe da porta do quarto.


      Leon não demorou a voltar com uma caixa de garrafinhas de corona. Os três sentaram-se em um banco de madeira, em frente à garagem da casa de Vince. O mesmo onde costumavam se sentar no passado. Dom aceitou uma corona, mas apenas uma. Seus pensamentos ainda estavam em Letty e na doce cena que ele tinha presenciado há pouco.


- Então, conta pra gente, cara. Onde foi que você se meteu durante o último ano?- indagou Leon. – Homem, a Letty ligou pra gente da República Dominicana, nós fomos pra lá ajudá-la a encontrar você, mas nós não conseguimos.


- Eu fui pro Panamá.- respondeu ele. – Sabia que lá os tiras nãos iam me encontrar. Apenas minha irmã sabia que eu estava lá.


- Ela podia ter dito isso pra gente e poupado tanto trabalho.- Leon acrescentou. – Até agora não entendi como você teve coragem de deixar a Letty pra trás? Eu sempre pensei que você e ela tinham aquela coisa de alma, sabe? Aquele tipo de amor que a gente não vê por aí. Eu pensei isso desde que nos conhecemos.


- E nós temos isso!- Dominic afirmou. – Mas as coisas esquentaram por lá. Revistaram nossa garagem em Barracoa atrás de mim. Se eu fosse preso, não queria que Letty fosse comigo.


- Você sabe que ela ia preferir ser algemada junto com você.- disse Vince. – Do que ser deixada para trás.


- Eu sei!- disse Dom tomando um longo gole de cerveja. – Não fiz muita coisa de interessante no Panamá. Trabalhei em uma garagem e estava juntando dinheiro para ir me esconder num lugar mais longe. Eu não pretendia voltar, mas agora que estou aqui, percebo que não vou a lugar nenhum, não sem a Letty.


- Como você está se sentindo com essa coisa de papai agora?- perguntou Leon. – Vai ter que correr a 40 km por hora, Dominic. Quarenta não, eu arriscaria 20 km.


- Só preciso me acostumar.- disse ele. – Não deve ser assim tão difícil.


- Ah, deve sim.- disse Vince. – Letty agora tem outras preocupações além de esquentar a sua cama, irmão. Imagina só, você louco de vontade de dormir abraçadinho com ela, querendo ela só pra você e de repente você ouve berros e ela se levanta imediatamente, te deixa sozinho na cama pra ir cuidar da pequena. E quando ela volta diz que está muito cansada para continuar o que estavam fazendo. Homem, eu não queria ser você agora.


             Leon gargalhou. Dom apenas sorriu antes à provocação dos amigos.


- Isso sem falar que, se eu bem conheço a Letty.- disse Leon. – Ela vai fazer jogo duro com você só de vingança por tê-la deixado. Vai deixar você no osso até você não agüentar mais. Prepare-se para noites solitárias, meu amigo.


- Com dois amigos como vocês para que eu precisaria de inimigos, hã?- Dom retrucou rindo levemente.


- E a Mia?- Vince perguntou de repente. – Aposto que ela deve ter surtado quando soube que você voltou. Ela vive sempre tão preocupada com os tiras na sua cola...


- Porra!- Dom exclamou, deixando sua cerveja de lado. – Eu me esqueci da Mia completamente. Ela deve estar histérica agora porque não telefonei para ela. Preciso de um telefone agora.


- Perdi meu celular jogando pôquer.- disse Vince. – E cortaram a linha telefônica aqui de casa por falta de pagamento. Eu pedi pro meu velho fazer essa força de pagar as contas atrasadas pra mim, mas ele mandou eu me virar dizendo que desde que eu assumi a casa, as contas são minhas também.


- Desde quando você joga pôquer?- retrucou Dom. – É complexo demais pra você...


- Toma aqui o meu celular.- ofereceu Leon.


           Dom pegou o telefone e discou duas vezes o número da residência dos Toretto. Mas Mia não atendeu. Ele tentou o celular, fez várias chamadas, mas caía na caixa postal.


- A Mia não está atendendo.- disse ele, preocupado.


- Ela deve estar dormindo. Já é muito tarde.- disse Leon checando o relógio do celular. Passava de três da manhã.


- Não.- contestou Dominic. – Ela teria atendido ao telefone mesmo assim. Preciso ir até minha casa agora.


- Eu vou com você.- disse Vince. – O Leon pode ficar aqui e cuidar da Letty.


- Pode deixar, Dom. Eu não vou sair daqui!- garantiu Leon.


- Está bem. Mas voltaremos logo. Vou só falar com a Letty.- disse Dom.


              Ele entrou na casa novamente e foi até o quarto. Abriu a porta e chamou suavemente:


- Letty...


             Mas ela não respondeu por que tinha adormecido na cama junto com Nina. O dia tinha sido cheio com a viagem de avião, a preocupação com sua segurança e a da filha, a corrida, o reencontro com Dominic. Letty estava exausta.


            Ela estava deitada de lado na cama ainda usando os sapatos, com Nina recostada contra o peito dela. Dom abaixou-se e acariciou os cabelos dela suavemente, dizendo:


- Preciso ir ver a Mia. Mas voltarei logo, mami.


- Dom... – Letty murmurou em seu sono. – Não me deixe, não me deixe...


            A culpa doeu ainda mais na consciência de Dom ao ouvir Letty dizer aquilo. Ele sabia que ela estava dormindo e falava inconscientemente, mas os murmúrios dela refletiam a insegurança dela em relação a ele, mesmo que ela jamais dissesse aquilo para ele quando estivesse acordada.


            Nina choramingou de olhos fechados e Dominic observou Letty colocar sua mão protetoramente contra o bebê mesmo dormindo. No mesmo instante, Nina parou de choramingar e aquietou-se. Ele também queria fazer parte daquela intimidade que mãe e filha desfrutavam, ele também queria aprender como acalmar Nina e como fazê-la sorrir.


- Dom, vamos?- Vince chamou da porta do quarto e Dominic se afastou de Letty outra vez, relutantemente. Mas agora a deixava apenas por alguns minutos, talvez algumas horas, não mais do que isso.


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- Olhe para a luz!- pediu o médico que atendia Mia no Pronto-Socorro Municipal, segurando uma pequena lanterna diante do rosto dela. Mia fitou a luz e seus olhos se fecharam com incômodo enquanto o médico tentava checar suas pupilas.  – Seus olhos estão normais, a pressão e os batimentos cardíacos também.- garantiu ele. – Mas você diz que se sente zonza?


- Sim.- disse Mia mantendo os olhos fechados porque sentia o teto da enfermaria rodando.


- Você sofreu uma concussão leve.- explicou o médico. – Um dos assaltantes acertou você na cabeça com um objeto duro, porém não há ferimentos externos. Vou mandar a enfermeira aplicar um analgésico para a dor na cabeça e você ficará em observação pelo resto da noite, está bem? Veremos como se sente pela manhã. Se sentir-se melhor poderei mandá-la para casa, mas vou querer que volte para fazer uma tomografia, está bem?


- Certo.- Mia concordou.


             O médico chamou a enfermeira e a instruiu sobre o analgésico injetável que deveria dar a Mia. A mulher logo se aproximou dela com um elástico emborrachado, éter, algodão e a seringa preparada.


- Que medicamento está me dando?- ela perguntou quando a enfermeira limpou o local específico no braço dela com o algodão embebido em éter onde seria aplicada a injeção.


- É só um analgésico comum. Dipirona. - garantiu a enfermeira.


- De quantos miligramas?- Mia quis saber.


         A enfermeira testou a seringa no ar e então a direcionou ao braço de Mia antes de dizer:


- Escute, moça, me deixe fazer o meu trabalho, sim?


         Mia sentiu algo estranho sobre aquela enfermeira. Ela ainda estava zonza por causa da pancada na cabeça, mas o líquido na seringa não se parecia com dipirona.


- Não!- Mia a empurrou de lado. – Não vou tomar essa injeção. Chame o médico de volta.


- Como?- retrucou a enfermeira.


- Eu estou concluindo a escola de medicina.- Mia informou. – E sei que o conteúdo nesta seringa não é dipirona!


- Você está louca!- disse a enfermeira segurando Mia para dar a ela a injeção, mas Mia a empurrou contra a maca vazia que estava ao lado da maca que ela estava sentada.


        Os olhos da mulher assumiram uma expressão de raiva e ela jogou-se contra Mia com a injeção em punho, tentando acertá-la no pescoço. A porta da enfermaria estava fechada, mas ela sabia que Bryan a aguardava do lado de fora. Por isso lutou contra a mulher, chutando-a no estômago e gritando:


- Bryan! Bryan!


       A porta se abriu de imediato e Bryan entrou na enfermaria seguido por Mônica e mais alguns funcionários do hospital. Ao ver Mia lutando contra a enfermeira, Bryan jogou-se sobre as duas e por pouco não foi acertado pela seringa.


       A enfermeira chutou a perna de Bryan e ergueu-se se desvencilhando das pessoas, correndo para fora da sala. Imediatamente Mônica correu atrás dela e suas pernas longas logo alcançaram a pequena e robusta mulher.


- Hey, eu preciso de algemas aqui!- gritou Mônica, sentada sobre a mulher, com as pernas mantendo-a presa ao chão.


      Um dos seguranças do hospital veio correndo e ajudou Mônica com a mulher, algemando-a.


- Que noite longa!- Mônica exclamou. – Não acaba nunca!


      Dentro da enfermaria, Bryan ajudou Mia a se sentar novamente na maca. Depois do confronto com a enfermeira, ela estava ainda mais zonza.


- Você está bem, Mia?


- Eu acho que sim.- ela respondeu deitando-se na maca. Bryan ajudou a colocar os pés dela para cima.


- O que deu naquela mulher para agredir você daquele jeito?


- É tudo por causa do Dom, Bryan. – disse ela. – Essa enfermeira louca e os homens que invadiram a minha casa. Estão procurando por ele e tentando me atingir para encontrá-lo!


- Mas a polícia não tem nada a ver com isso.- Bryan assegurou. – O FBI está atrás do Dom, mas não usariam métodos como esse.


- Eu não sei mais em que acreditar, Bryan.- disse ela. – Eu não sei que tipo de inimigos meu irmão fez durante todos esses anos em que esteve longe. Eu só queria que isso acabasse...


       Bryan viu lágrimas se formando nos olhos dela e se inclinou sobre Mia, abraçando-a com força, confortando-a. Mônica entrou na sala nesse exato momento e ao ver o abraço íntimo dos dois, pigarreou:


- Desculpem interromper, mas Bryan, eu preciso falar com você!


- Me dê só um minuto, Fuentes!- disse ele.


      Mônica saiu da enfermaria resmungando: - Desde quando ele me chama de Fuentes?


- Quem é ela?- Mia perguntou por curiosidade. Não tinha notado Mônica ainda porque chegara ao hospital desmaiada devido à  pancada que levara na cabeça.


- É a minha nova parceira no FBI. O chefe a designou para ficar de olho em mim e não me deixar fazer besteira.


- Sua babá então?- Mia brincou.


      Bryan sorriu e Mia se ergueu para abraçá-lo novamente. Bryan gostou muito disso. Sentia falta dela e lamentava muito que o romance deles tivesse acabado do jeito que acabou.


- Precisamos encontrar o Dom. Eu o deixei esta tarde na rua. Ele disse que ia resolver as coisas do jeito dele.


- Típico dele!- disse Bryan.


- Eu estou muito preocupada, Bryan. Meu irmão pensa que é invencível, mas eu sei o quanto ele está vulnerável agora, principalmente com o sumiço da Letty e a possibilidade dela estar morta.


- Eu tenho uma coisa pra te contar sobre isso.- disse ele. – Algo que vai te deixar feliz!


- O que é?- Mia indagou, ansiosa.


- Eu soube hoje mais cedo que a mesma Maria Fernandez que embarcou para a República Dominicana no dia em que a Letty disse que partiria desembarcou esta manhã no aeroporto de LAX.


            Os olhos de Mia brilharam e ela sorriu para Bryan.


- Quer dizer então que...


- Letty está viva!- disse ele devolvendo o sorriso de Mia.


 


Continua...


 


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