Já era de madrugada, na verdade o dia amanhecendo, o céu roxo como alguém sufocado, como alguém como eu. Eu estava literalmente quebrada, fudida. Voltando do que era para ser o melhor dia da farsa que eu chamava de vida.Me arrumei o melhor que pude. Arranjei o melhor inglês que pude – e o necessário para acabar com aquilo de toda uma vez. Nas poucas linhas que me eram permitidas no depoimento eu tentei escolher as melhores palavras para mostrá-lo o quanto ele significava para mim. Me vendi o máximo que pude para conseguir chegar ao backstage, para chegar ao encontro dele. Para realizar o que passei essa vida nova que ele me ofereceu esperando.

   Durante o show a impressão boa de que minha chance havia finalmente chegado até a mim. Enquanto ele cantava minha vida, eu me sentia renascer das cinzas... lá estavam eles, meus meninos. Lá estava ele, o amor da minha vida. Eu estava tão hipnotizada que não pude perceber. E enquanto ele cantava que terminaria seus dias comigo, e olhando em minha direção, eu cheguei a acreditar que aquelas palavras eram realmente para mim. Como eu pude ser tão cega a ponto de não ter enxergado o que estava ao meu lado?

   No fim do show, o cansaço e a alegria estampados nos olhos de todos enquanto nos meus apenas o medo e a esperança; a necessidade de impressioná-lo para a vida toda em apenas segundos. Passei pelo segurança e lembrei com nojo do que tive de fazer pra conseguir passar por ali. Entrei, o livro na mão, as mãos suando... Eu estava tão excitada que sequer vi que tinha alguém atrás de mim a todo o tempo.

Quando entrei ele olhou em minha direção e sorriu. Aquele sorriso inocente manchado pelo lado rebelde e inconseqüente da nicotina. Sorriu em minha direção. E então baixou os olhos em mim e me fitou indagado. O que agora eu percebi ser dever de ídolo na hora me pareceu ser verdadeiro, ser meu.

Mal trocamos palavras, ele logo pegou o livro de minha mão e me abraçou. O abraço pelo qual esperei minha vida toda para receber.

-“O que é isso?” – ele perguntou superficialmente simpático, com seu sotaque típico de NJ.

-“Ah é um livro contendo os depoimentos de vários fans brasileiros da banda. E ah, o meu é o primeiro, como você pode ver pela minha foto e..” – eu atropelei as malditas palavras tentando ser perfeita, tentando mostrar que eu tinha velocidade e fluência na língua dele, mesmo que tenha sido por causa das minha conversas com meus amigos gringos no MySpace sobre ele, que eu tenha aprendido. Ele me interrompeu levantando os olhos até os meus, meio que pedindo para que eu parasse. E eu parei. Por um certo tempo ele fez algo que pareceu ter sido ler um trecho, o que agora eu chego a duvidar.

-“Nossa, você realmente parece me amar...” – eu sorri. Surda, não pude ouvir a gargalhada feminina vinda de trás de mim –“Talvez não seja nada bom para você continuar alimentando esse sonho.” – ele disse friamente, fazendo meu mundo inteiro criado em cima daquele momento desabar. –“Deve estar sendo horrível para você ouvir isso de mim, ainda mais de tal forma...” “DEVE?” pensei “Só deve? Assim, simplesmente... deve? Você só supõe que esteja sendo horrível? Você sequer tem a maldita certeza de que porra está acontecendo? Pronto, acabou a brincadeira, Gee. Agora diz que me ama...”

-“Qual é mesmo seu nome?”-

“Eleanor” – saiu como um vômito vocal.

Ele tentou pronunciar meu nome corretamente e percebeu que o que saia não se parecia nem um pouco com o que eu realmente era chamada, mas pareceu pouco se importar. –“Isso vai apenas deixa-la mais doente. Eu nunca poderei te amar de verdade.” Eu fingi não ouvir, mas senti cada parte que restava viva dentro de mim morrer.

-“Calma, Gerard, não fala assim...” – a voz aguda... era ela. Era ela há todo tempo. Ao meu lado durante o show; para quem ele cantou as palavras que salvaram a minha vida. Era ela entrando por aquela maldita porta comigo; para quem ele sorriu. Era pra ela as declarações... era pra ela tudo que devia e eu pensava ser meu.

Ela se virou pra mim com um misto de simpatia e pena naqueles olhos grandes e bem maquiados e tentou acabar o que ele havia começando. –“...é só uma fase, querida. Coisa da adolescência. Você vai ver quando chegar na nossa idade, que isso também vai passar.”. Eu corri. Fugi. Me escondi. Para dizer a verdade apenas tapei meu rosto com as mãos tentando proteger o que eles ainda não tinham quebrado. Eu finalmente me movi e corri dali de verdade. Cheguei a ouvir um “Are you okay?” vindo do Frank, mas não, “I’m not o-fucking-kay, my dear brother”. Corri o máximo que pude. Tentei me esconder em vão.

Cheguei em casa sem sequer ser notada. No meu quarto, ele por todas as paredes, por todos os lados, me assombrando. Na janela a vista bonita, a altura, o perigo.

“Talvez eu não queira viver num mundo onde a inocência é tão breve, Mamãe.” Me apoiei no peitoril.

“Num mundo que não passa de mais um corte aberto, Pai”. Eu sabia que meus pais estavam dormindo no quarto ao lado enquanto eu me apoiava na janela.

“Era tudo uma mentira quando você sorriu e disse que eu não sentiria porra alguma, amor?”. Eu sei que meus pais acordaram com meu corpo atingindo o chão. Oito andares foram o suficiente para te esquecer, Gerard?  





Were you born to resist or to be abused?Are you gone and onto someone new?I was too weak to give in, too strong to lose

My heart is under arrest again but I break news

My head is giving me life or death but I can’t choose

I swear I’ll never give in, I refuseHas someone taken your faith? It's real, the pain you feelThe life, the love, you die to heal

You trust, you must, confess

Is someone getting the best, the best, the best, the best of you?I’ve got another confession, my friend: I’m no fool

I'm getting tired of start it again somewhere newIs someone getting the best, the best, the best, the best of you?



Best Of You – Foo Fighters.