Sob a Luz do Sol escrita por Tatiana Mareto


Capítulo 15
Capítulo 14 - Normalidade




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*tema: O-town’s Craving*

As coisas estavam normais. Eu estava com aquela palavra em mim, tentando encontrar um significado razoável para ela. Normalidade. O que era normal, o que não era. Claro, tratava-se de um conceito humano. Talvez eu não fosse normal, se considerada pelo aspecto dos humanos. Deles. Eu não poderia ser considerada normal, porque eu era exatamente o conceito de aberração. Mas e a minha normalidade? O que poderia ser considerado normal para mim, uma híbrida já praticamente adaptada ao sol, vivendo com puros e totalmente apaixonada por um?

A morte de Connor causou algumas alterações na minha rotina. Eu estava certa que aquela tinha sido a morte presenciada por Alice, e não queria mais me preocupar com o futuro. Para mim, o futuro era incerto e isso era uma coisa boa. Eu não sabia o que esperar, então esperava só coisas que não se relacionassem a morte ou perda. E eu estava certa, a morte era mesmo causada por mim. Alice tentara me poupar daquele fato, e talvez Edward estivesse certo também. Eu não suportaria conviver por tanto tempo com a certeza de causar a morte de alguém próximo. Mesmo se Connor não fosse tão próximo assim.

Isso poderia ser considerado normal, então.

Edward, no entanto, não parecia compartilhar da minha certeza, e passou a proteger-me de maneira absurda. Eu não conseguia dar dois passos sem ele ao lado, o que não poderia ser considerado exatamente ruim. Eu gostava de tê-lo ao lado. Mas eu temia por sua sanidade. Ele não podia ser tão exagerado, eu não desejava que ele parasse de viver para tomar conta de mim. Eu era forte o suficiente para me cuidar, e eu tinha certeza plena de que nada mais aconteceria.

Isso não poderia ser considerado tão normal, segundo nenhuma das acepções do termo. Mas Edward não parecia importar-se. E eu estava tentada a deixá-lo se preocupar somente por um fato: ele passou a me dar tudo, tudo mesmo, que eu queria. Antes mesmo que eu pensasse em algo, ele já trazia para mim. As noites passaram a ser espetaculares, pois Edward sempre estava presente e eu podia adormecer em seus braços. ‘Passar a noite’ era uma regra nossa, o que me deixava muito satisfeita. Ao seu lado, eu tinha prazer em dormir. E, para minha gratidão eterna, ele não mais se preocupava com as roupas confortáveis. Sempre Edward dispensava calças e camisas, estando comigo somente em suas roupas íntimas. A exata pintura em minha cabeça.

Eu gostaria de saber qual era a pintura na cabeça de Edward, afinal.

Talvez os conceitos de normalidade não me interessassem mais, porque aquilo era minha nova vida e para mim ela estava perfeitamente normal. Para mim, nada seria mais normal do que conviver com os Cullen dia após dia, me divertindo com as brincadeiras de Emmett, ouvindo as conversas interessantes de Rosalie, confidenciando segredos – os que eu considerava ter – a Alice, interagindo com a sabedoria de Jasper, absorvendo a paciência e empenho de Carlisle, e aprendendo a ser tão dedicada quanto Esme. Nada poderia ser mais normal do que os dias na escola, entre os amigos humanos, as aulas e o horário de almoço, os estudos que eu precisava fazer com a ajuda de Edward. Nada poderia ser mais normal do que amar Edward da forma como eu amava. Era natural, era como se não pudesse ser esperado de mim outro comportamento. Nada poderia ser mais natural do que estar com ele, do que sair para caçar com ele, do que olhar dentro de seus olhos e ser iluminada por seu sorriso.

Aquele era meu conceito de normalidade. E nenhum outro me interessava.

Mas havia uma coisa que fugia ao conceito de normalidade, então. A mentira de Connor e o seu desaparecimento, sem que eu voltasse a ter notícias dos meus. Rudolph jamais deixaria Connor desaparecer sem qualquer investigação. Não ver mais nenhum híbrido na região era fora do normal. Eu sabia, pelo que conhecia Rudolph, que ele mandaria uma expedição atrás de Connor. Ele não queria saber de mim porque eu fugi, e ele sabia. Mas Connor não havia fugido, e ele também sabia. Connor era seu fornecedor de sangue humano. Aquele pensamento deveria ser apagado de mim definitivamente.

Viver na normalidade poderia ser considerado tedioso, por alguns. Mas eu vivi tanto tempo fazendo nada que a minha normalidade estava excitante e cheia de situações inesperadas. Por mais normal que eu me sentisse, eu sabia que diversas experiências inusitadas ainda estavam por vir, mas me completar ainda mais. Algumas delas ocasionadas pelo meu relacionamento físico com Edward, que sofria uma evolução constante e, segundo ele entendia, perigosa.

Eu sonhava com a primavera que se aproximava. Período de mais claridade e mais sol, o que significava faltas às aulas. Mas Edward tranqüilizou-me garantindo que teríamos férias, ou seja, períodos sem precisar comparecer às aulas. E ele garantiu também que naquelas férias de primavera procuraríamos um lugar para estarmos… juntos. Para mim já estávamos juntos e em qualquer lugar estar junto dele seria perfeito. O lugar era apenas o cenário, porque o personagem principal de minha peça era sempre Edward.

Acordei no meio de uma noite, agitada. Suava, e respirava com dificuldade. Reações bastante humanizadas que eu já tinha deixado de lado há muito tempo. Mas logo compreendi o motivo da minha agitação, Edward não estava ali. Era praticamente impossível imaginar que Edward não estaria ao meu lado, mas ele não estava. Talvez fosse mesmo normal que as pessoas fizessem outras coisas além de estarem juntas o dia inteiro. Eu dormia. Ele precisava de uma distração, além de me assistir dormir. Mas ele não estar ali causou aquela sensação de vazio novamente, e por isso sonhei.

Tateei no escuro até a porta do quarto, e notei que os Cullen conversavam no salão, escada abaixo. Quase todos os Cullen. Carlisle estava em seu escritório, e com ele também estava Edward. Vesti minha capa invisível de espiã, e, descumprindo minhas promessas a Edward, tentei captar a conversa deles.

_Eu já cedi a todos os caprichos de Beatrice. Quase todos. – Edward falava, tom baixo e concentrado. – O mais interessante é que eu sempre estou à beira da perda de controle, sempre esperando o momento em que eu vá jogar tudo para o alto e… só que ela parece tão satisfeita com a forma como as coisas estão… isso acaba me acalmando e fazendo repensar minhas atitudes.
_É perfeitamente normal sentir-se assim, Edward. – Carlisle já tinha um tom de voz mais lívido. – Seus irmãos parecem tê-lo instruído bem… e nada do que eles falaram eu poderia falar diferente. Sobre o pequeno problema da concepção… eu poderia examinar Beatrice, mas ela desconfiaria. E eu não detenho tantos conhecimentos a esse respeito… seria mais adequado um especialista.
_Sim, e eu não gostaria que ela tivesse as mesmas preocupações que eu. Apesar de que… meu segredo já não me pertence mais.

Provavelmente Carlisle também não entendeu a frase de Edward. Eu levei dois segundos para compreendê-lo, e ele levou um para abrir a porta e me pegar em situação comprometedora. E não era a primeira vez. O médico riu quando viu minha figura surgir na luz brilhante do corredor.
_Entre, Beatrice. – Carlisle disse, fazendo uma reverência. – Falávamos mesmo sobre você.
_Ela sabe. - O olhar de Edward era de repreensão. – Interessante é que alguém me havia prometido privacidade…
_Desculpe-me. – Meu olhar era distante, e para o chão. – Acordei e…
_Tudo bem. – Edward abraçou-me e me beijou os cabelos. – Eu devia ter imaginado que você acordaria assustada e que viria atrás de mim. Isso não muda nada, claro. Você quebrou sua promessa assim mesmo.
_Edward, eu poderia conversar com ela um instante? – Carlisle pareceu ter uma idéia.
_Sim, claro. – Ele se preparou para deixar o escritório.
_Não precisa ir. – Eu segurei sua mão. – Nada que Carlisle me disser será privado, mesmo. – Era a lógica.
_Faz sentido… ela é mais esperta do que nós. – Carlisle sorriu. – Bea, estávamos conversando… você teria problemas em consultar um especialista?
_Especialista? Em híbridos?
Carlisle riu.
_Não. Um médico humano. Que cuida de mulheres humanas.
_Carlisle… – Edward parecia não concordar com a ideia.- Isso pode nos expor.
_Se não formos cuidadosos. Pelo que sei, o corpo de Beatrice é mais próximo ao corpo humano. Ele tem batimentos cardíacos, atividade plena nos órgãos… ela pode muito bem passar-se por uma humana em um exame clínico pouco elaborado.
_Ainda acho muito arriscado.
_Sobre o que é isso tudo, afinal? – Eu estava confusa.
_Eu gostaria de saber, - Edward tomou a palavra – se você… eu gostaria de saber se você pode, como os humanos, conceber filhos.
Talvez a pergunta me chocasse, mas eu não dei muita importância naquele instante. O meu foco estava mais na resposta do que na intenção por trás das palavras de Edward.
_Eu não sei… mas não sou um exemplo de informação, nem sobre minha própria espécie. Apesar de que, segundo as lendas de Felícia, mulheres híbridas podem gerar filhos de homens comuns, humanos.
_Muito interessante. – Carlisle sorriu. – Edward, tem razão. É arriscado levá-la a um especialista humano. Até porque talvez a lenda de Felícia seja verdadeira, então… quem sabe?

Aquela conversa fugia ao meu conceito de normalidade.

Edward cumprimentou o pai e deixou o escritório, levando-me de volta para o quarto. Ele exigiu que eu adormecesse, deitando-se ao meu lado e me garantindo que não sairia mais dali a noite inteira. Mas eu sabia que ele ficaria pensando em alguma coisa implícita naquela conversa, e que aquele assunto aparentemente ainda não teria acabado. E eu não conseguiria dormir com tanta coisa que o perturbava. Eu não podia ler seus pensamentos, mas quanto mais próxima a ele eu estava, quanto mais tempo eu passava com ele, mais eu podia senti-lo.

Tentei adormecer novamente, e fazê-lo acreditar que eu estava bem. Mas não deu certo, o que era de se esperar. Eu nunca consegui esconder meus pensamentos quando estava confusa, nem para proteger Edward. Precisava de mais treinamento, eu considerava.
_Você não sabe mesmo do que eu estava falando, não é? – Edward disse, mas eu tentei ficar em silêncio. Seus dedos delinearam meu corpo, desde meu queixo até a linha da cintura. Senti um arrepio horrível, acompanhado de uma sensação muito boa, quase absurdamente boa demais para ser real. Às vezes eu considerava que Edward me fazia sentir coisas que não eram reais. Em um movimento muito rápido, ele se moveu para cima de mim, beijando-me o pescoço, o colo, afagando meus cabelos.
_Você disse que eu pareço satisfeita. – A palavra saiu quase em tom de sarcasmo, como se ela tivesse sido antes empregada por Edward em sentido pejorativo. – Isso deveria ser ruim?
_Isso não é ruim. – Ele continuava a me beijar, e eu sem entender aquele humor repentino. – É porque eu não me sinto satisfeito.
_Mas eu deveria não me sentir? – Ainda, o interrogatório. Edward deveria saber que ele não se livraria de mim tão facilmente. Eu era muito insistente quando se tratava de satisfazer a minha curiosidade; naquele quesito eu nunca ficava satisfeita. – Quero dizer… ah, você já sabe o que quero dizer. Existe ainda algo mais que eu possa esperar, que você ainda não tenha me dado, Edward Cullen?

Ele sorriu, e eu vi o seu sorriso. Estava escuro, e ele tinha a face totalmente imersa em meu pescoço, que ele beijava sem parar. Era difícil ter uma conversa com ele naquelas condições, mas eu tentaria, afinal. O ruído de sua voz suave em meus ouvidos me deixava completamente tomada por uma onda de alegria. Edward repentinamente tomou meus lábios nos seus, beijando-me com alguma urgência, buscando espaço na boca entreaberta. Eu sempre recebia de bom grado seus beijos mais intensos, apesar do aparente desconforto que eles me causavam. Seus joelhos forçaram os meus, obrigando-os a abrirem. Eu estava tão concentrada em seus beijos, minhas mãos cravadas em suas costas, que eu não notei exatamente com quanta facilidade ele conseguiu o que queria. Em poucos instantes, Edward estava na posição que ele pretendia, e minhas pernas estavam entrelaçadas nas dele, puxando-o involuntariamente para mais perto.
_Okay, isso é… – Eu tentei dizer algo, enquanto ele segurava minhas mãos e as colocava imóveis por sobre a minha cabeça.
_Você não sente que falta alguma coisa, Bea? – Ele sussurrava, e eu mal conseguia sentir meu corpo. – Você não sente que falta um encaixe?

Ah! Meu cérebro dopado pelo perfume de Edward levou algum tempo para processar como os nossos corpos poderiam encaixar melhor um no outro. Já estávamos como se fizéssemos parte de um só ser. Edward soltou minhas mãos, e elas imediatamente procuraram a estrutura da cama, segurando-a com força. Edward me beijava bem lentamente, e eu não precisaria responder quando achasse a resposta. A sensação que eu sentia, com seu corpo naquela posição, se tornou insuportável. A vontade de expandir-me era incontrolável, então.

Assustei-me com um barulho de “crack” por trás de mim, e uma dor terrível que me fez imediatamente soltar os dedos da cama. Edward olhou para mim aterrorizado. Imediatamente ele estava sentado ao meu lado, com minhas mãos entre as suas.
_Bea! – Ele me puxou o queixo e me fez olhar para ele, tirando o olhar dos dedos que começavam a inchar. – Bea, olhe para mim… Carlisle!! Carlisle!! – Edward começou a chamar pelo pai, e logo três vampiros estavam de pé ao meu lado na cama. Carlisle, Esme e Alice pareciam consternados, porque Edward estava muito assustado.
_O que houve, filho? – Carlisle disse, olhando nosso pavor.
_Ela quebrou a mão. – Edward tinha tanta agonia em seus olhos que eu mal podia suportar olhar para ele. A dor não estava tão forte, mas eu podia senti-la.
_Deixe-me ver. – Carlisle sentou-se na cama ao meu lado, e Edward entregou-lhe as minhas duas mãos, que não se moviam. – Interessante… aparentemente ela quebrou todos os dedos da mão, em várias partes. Eu acho que isso vai demorar um pouco a regenerar, Bea. Esme, por favor, traga-me um pouco de gelo.
_Você poderia dar-lhe morfina, Carlisle… ela está sentindo dor, eu sei…
_Edward. – Eu olhei para ele, com bastante tranqüilidade. Eu precisava respirar fundo e apagar da minha mente qualquer menção à dor e ao susto que me acometeu quando eu senti o estalo dos ossos. – Edward olhe para mim você, agora. Eu estou bem. Eu estou bem… a dor é pequena, logo ela vai passar.. você sabe que eu me regenero rapidamente.
_Talvez em algumas horas os ossos estejam calcificados. Mas a sua mão precisa estar na posição certa… para não haver má-formação. – Carlisle ainda observava minhas mãos, enquanto Esme chegava com o gelo em uma bolsa, e ele a depositava por sobre meus dedos.
_O que vocês estavam fazendo? – Alice ergueu uma sobrancelha, prestando atenção então em nossas… roupas. Eu tinha roupas, aquelas roupas de dormir que Rosalie me comprou e que não eram muito virtuosas, eu devo confessar. E Edward não usava roupa alguma, todo o seu corpo estava coberto apenas pelas roupas íntimas. Ele ficou tão apavorado com o que aconteceu que sequer se lembrou de vestir-se. – Você fez isso com ela, Edward?
_Não! – Eu disse, antes que ele pudesse responder. Carlisle já estava providenciando um suporte para apoiar minhas mãos, enquanto conversávamos. Ele pretendia que eu não me movesse, a fim de facilitar a cicatrização. – Ele não fez nada, Edward… mal me tocou – Era mentira, e eu pude notar o sorriso torto que ele deu, naquele instante. – Eu que… fui eu que apertei demais… – E meus olhos se voltaram para o encosto da cama, que estava tão quebrado quanto os meus dedos.
_Oh. – Esme arregalou os olhos e Alice riu. Carlisle ainda estava preocupado com as fraturas, e Edward olhava para baixo.
_Desculpe-me pelo estrago, Esme… prometo consertar quando minhas mãos estiverem recuperadas.
_Não se desculpe, Bea. – Carlisle sorriu. – Isso é muito interessante, você… é mais forte do que seu próprio corpo parece aguentar. Por isso, ao pressionar a estrutura de madeira, seus dedos se quebraram por não suportarem a força.

Ah, muito simples a explicação. Aquilo definitivamente fugia de qualquer conceito de normalidade que eu poderia esperar. Estava tudo tão bem, tão natural… Edward e eu, e mais uma noite ao seu lado, uma noite melhor do que a outra. Mas eu tinha que perder o controle e o balanço humano-vampiro… eu tinha que estragar tudo como uma aberração sabe fazer.

Aqueles pensamentos irritaram Edward. Ele puxou as cobertas por sobre nós, talvez para evitar que os demais nos observassem, e me puxou para si, recostando-me em seu peito novamente. Minhas mãos estavam sobre uma plataforma de madeira, que Carlisle improvisara. Ele me acomodou, sem dizer uma palavra.
_Obrigado. – Ele disse a Carlisle. – Está tudo bem agora…
_Você quer alguma droga, Bea? – Carlisle perguntou. – Se estiver doendo, posso providenciar…
_Não, está tudo bem. – Eu disse, sem mentir. – Eu já quase não sinto dor…

Carlisle levou Esme consigo para fora do quarto, enquanto Alice ainda precisou encarar Edward mais um pouco antes de ir. Aquela conversa silenciosa ainda me deixaria louca… porque sempre que Alice queria falar com Edward algo privado, ela simplesmente pensava. E ele a olhava com ferocidade.

A noite que seria tão mais divertida acabou de forma dolorosa. Adormeci involuntariamente nos braços de Edward, sentindo seus lábios tocarem meus cabelos, minha testa, meus ouvidos. Ele me beijava e cantarolava uma canção suave, como que desejando me fazer dormir. E o efeito foi esperado. Quando acordei no dia seguinte, eu estava totalmente acomodada por sobre Edward, e minhas mãos repousavam sobre o suporte de madeira. Estiquei meus dedos, estalando um por um, sentindo o movimento novamente. Nenhum inchaço, nada. Sorri satisfeita com minha regeneração tão funcional, mas senti remorso ao olhar para o lado e encontrar os olhos de Edward me observando, com tanta agonia em seu olhar.

_Bom dia, meu amor. – Ele disse, me beijando suavemente. – Como você está?
_Eu estou bem. – Estiquei-me, bocejando. – Edward, por favor não fique assim. – Eu o segurei com as duas mãos em sua face, beijando seus lábios bem devagar. – Veja, eu estou ótima! Não há mais nenhum rastro das fraturas em mim… por favor, não fique assim.
_Eu não imaginei que você fosse querer matar a cama por causa de uma ‘brincadeira’. – Edward implicou. Senti o humor dele melhor, e aquilo foi um alívio.
_Brincadeira? – Eu ri. – Bem, pelo menos você conseguiu me mostrar seu ponto. Encaixe… agora eu entendo. Vamos nos arrumar para a escola?
_Hoje é sábado. – Ele me beijou os lábios. – Podemos nem sair da cama, se não quiser…

Aquilo também deveria se encaixar em todos os conceitos de normalidade, afinal. Passar o sábado na cama com o homem… com o vampiro que eu amava não podia ser considerado anormal.
_Eu não quero, então. – Provoquei, beijando-o com mais intensidade, afundando minhas mãos em seus cabelos.

Mais normal do que passar o dia na cama com o namorado era aturar a família do namorado, curiosa para saber o que se estaria fazendo. Principalmente se na noite anterior você quebrou os dedos destruindo o encosto de uma cama. E como eu estava vivendo o meu período de normalidade, antes mesmo que Edward pudesse pensar em virar-se por sobre mim novamente, a porta se abriu e Emmett entrou quarto adentro, falante.

_Ew, não quero nem ver! – Ele fingiu que cobriu os olhos. Rosalie vinha logo atrás, rindo.
_Se não queria ver, por que entrou? – Eu desafiei. Edward recompôs-se, sentando-se na cama. Ainda estávamos por sob os cobertores, apesar daquilo não fazer diferença em nossas temperaturas. Era apenas divertido, a textura macia do tecido em contato com nossas peles.
_O que vocês querem, Em? Rose? – Edward perguntou.
_Carlisle disse que Bea se machucou ontem…
_Eu já estou curada, totalmente recuperada. – Mexi as mãos, estalando os dedos novamente para que eles vissem.
_Vamos jogar? – Emmett parecia animado. – Temos tanta coisa para fazer em um sábado sem sol…
_Inclusive ficar em casa. – Edward disse, sorrindo.
_Sério? – Rosalie parecia curiosa com a decisão de Edward.
_Sério… se vocês pararem de interromper será mais divertido ainda. Deu para perceber que estou me divertindo com Beatrice, aqui, mesmo trancado no quarto?
_Trancados! – Emmett soltou uma risada sonora. – Vocês talvez devessem mesmo ficar trancados… bem, vamos sair para jogar.
_Todos? – Edward confirmou.
_TODOS. – Rosalie riu, empurrando Emmett para fora do quarto. – Use seu tempo com sabedoria.

Talvez aquilo fosse menos normal do que o esperado. Eu duvidava que entre os humanos os pais saíssem de casa para que os namorados passassem tempo juntos. Edward sempre passava a noite… mas daquela vez ele parecia interessado em passar o dia, também. Não havia luz do sol, apenas uma claridade nublada de um dia frio de inverno. Edward recostou-se na cama, e me puxou consigo. Sua respiração tinha um ritmo lento, musical. Eu tentei acompanhá-lo, respirando na mesma intensidade. Eu tinha certeza que ele sempre fazia aquilo para me ajudar a respirar.

Barulhos de porta foram ouvidos, e motores ligando. Uma voz feminina bastante delicada foi ouvida, desejando bom dia para nós. Eu pude notar a ênfase sarcástica na palavra “bom”, mas não me incomodei muito. Alice ainda era a minha confidente, e depois eu poderia entender-me com ela sozinha. Os Cullen saiam para jogar, em um dia sem sol, enquanto eu e Edward ficaríamos em casa, trancados, como sugeriu Emmett. Nada mais normal e ao mesmo tempo mais esquisito. Namorados não costumavam desfrutar daquele tempo solitário na casa dos pais, eu tive certeza. Meu pouco conhecimento da vida humana me permitia saber daqueles pequenos detalhes, principalmente porque eu tinha amigas humanas e assistia muitos filmes.

Alguns segundos se passaram depois do último ruído ouvido por nós. Eu me virei, colocando-me por sobre Edward, para observar o lado de fora e confirmar que nenhum carro estava mais ali. O perigo de seus olhos repentinamente imergiu nos meus, me fazendo sentir o arrepio velho de sempre. Eu pensei que aquela eletricidade já estava ficando ultrapassada, mas não. Lá estava ela, a me fazer sentir uma fisgada inconveniente. Edward puxou-me para si com a mesma urgência da noite anterior, fazendo-me sucumbir a outro beijo intenso, profundo. Seu corpo escorregou suavemente por sobre o meu, prendendo-me entre ele e os cobertores.
_Você vai se machucar de novo? – Ele perguntou, sem soltar-se de mim. Eu não sabia se era uma metáfora ou se ele falava sério.
_Não sei… o que você pretende agora? – Entrei no jogo. Emmett queria nos convidar para jogar, e pude perceber que Edward já estava jogando. – Pretende me mostrar algo mais que demonstre sua insatisfação?
_Não. – Ele disse, colocando minhas mãos por sobre si, meus dedos procurando freneticamente seus cabelos. – Eu pretendo dar um fim a ela.

Deveria ser muito normal perder-me daquela forma. Eu já não ouvia mais nada quando Edward terminou sua frase e desceu as suas carícias para regiões ainda não exploradas. Seus lábios percorreram a extensão de meu colo, e seus dedos se posicionaram a fim de retirar-me a tão comentada roupa de dormir. Senti a eletricidade percorrendo todo o meu corpo, e a ânsia de expandir-me. Eu não podia me machucar, pensei. Não podia apertar nada com força, fazer nada perigoso. Mas eu podia usar as mãos em Edward, porque ele era macio o suficiente para evitar qualquer lesão em meus ossos. E porque eu temia machucá-lo, por mais impossível que aquilo fosse. Enquanto meu cérebro não raciocinasse que eu não podia feri-lo, eu jamais conseguiria apertá-lo como fiz com o encosto da cama.

O toque dos cobertores foi mais divertido quando eu não estava usando roupa alguma. E definitivamente a pele de Edward parecia mais perfeita nessa mesma situação. Daquela vez, deixei meus pensamentos flutuarem e me levarem a qualquer lugar. Edward poderia saber tudo que eu pensava, pois tudo era relacionado a ele e ao que ele me fazia sentir. Seu toque em minha pele, as suas digitais; o hálito fresco que saía de sua boca quando ele sussurrava algo em meus ouvidos; o peso de seu corpo sobre o meu; o movimento delicado que ele fazia quando buscava seu espaço em mim; o cheiro doce, quase nauseante, que ele exalava; o sabor de seu beijo e o toque de sua língua em meus lábios. E a eletricidade que só ele conseguia fazer correr em mim.

Quando me percebi novamente, não havia roupa em nossos corpos e eles dançavam uma música lenta por sobre os cobertores. Edward e eu estávamos entrelaçados, como se fosse impossível separar-nos. Havia música, sim, mas eu pouco a percebia. O som de sua respiração era tudo que me guiava naquele momento. Eu olhava em seus olhos, mas eles eram fortes demais para que eu os suportasse. Deixei-me perder mais uma vez na escuridão, olhos fechados, mãos que seguravam Edward pelas costas e o mantinham quase imóvel por sobre mim. Senti que meu coração batia rápido demais, e acelerava enquanto Edward também parecia seguir seu ritmo.

Então eu entendi o que Edward tentava me dizer antes. A ânsia, a satisfação, o encaixe. Era perfeito demais, e a sincronia parecia inabalável. Dançávamos embalados mais por nossos próprios instintos do que pela suave melodia que emanava do equipamento de som. Eu desejei que aquilo durasse para sempre, e enquanto eu desejasse aquilo, eu teria. Era normal, que Edward me desse tudo que eu quisesse.

Não poderia haver nenhum outro estado de normalidade mais satisfatório do que aquele. Se não fosse normal estar tão apaixonada por Edward, eu desejaria ser um show de horrores para sempre.

_Os Cullen. – Ele disse, entre os meus lábios, bastante tempo depois. Respirei fundo, depois de estar muito tempo prendendo o fôlego, e olhei para outro lugar que não seus olhos. Já havia escurecido. Não havia nenhum feixe de luz escorrendo pelas nuvens espessas, e não havia nenhum sinal de dia restando do lado de fora. Tão logo Edward falou, ouvi ruídos no andar de baixo.
_Eles chegaram? – A pergunta foi tola.
_Faz algum tempo. – Edward sorriu, maroto. – Mas eu não consegui me interromper para dizer-lhe.
_Devemos nos juntar a eles? – A segunda pergunta foi definitivamente estúpida. Mesmo que devêssemos, eu gostaria de saber se queríamos.
_Sim, devemos. – Ele respondeu, esforçando-se para retomar o controle sobre si mesmo. Eu não era tão forte. Foi difícil permitir que ele se afastasse qualquer milímetro de mim. Edward tomou meus lábios novamente, e eu senti que ele pretendia confortar-me. – Vamos, Bea… nós não devemos continuar assim com todos em casa, seria inadequado.
_Você tem razão. – Eu assenti, sem desejar concordar com ele. Não daquela vez. – Mas eu não sei se consigo…
_Consegue. – Ele me beijou outra vez. – Só prepare-se… Emmett chegou bastante agitado.
_O que ele pode fazer? – Mais perguntas tolas.
_O que ele vai fazer, é a pergunta. Bem, digamos que minha família tem tendências a ser indiscreta sobre a vida sexual dos seus.
Ouch. Indiscrição e vida sexual eram termos que não combinavam juntos. Mas o que eu podia fazer? Afinal, eu tinha sucumbido a Edward como ele sucumbira a mim, e ambos passamos o dia inteiro fazendo a mesma coisa, sem nos darmos ao trabalho de nos preocuparmos com tempo, com qualquer outra coisa. Encarar os Cullen depois de estar tão plenamente satisfeita – e então eu entendia o conceito de satisfação para Edward – não poderia ser tão ruim. Seria normal, eu tinha certeza.

_Ew!! – Emmett bradou, tão logo Edward apareceu na escada, puxando-me pela mão. Os olhos imediatamente se viraram para nós, e pude ver em suas faces bastante vivacidade. Estavam tão animados, eu pude sentir aquilo. – Ew, mil vezes ew!!
_Posso saber o que te incomoda, Emmett Cullen? – Edward reclamou.
_Vocês estão se sentindo bem? – Rosalie implicou. – Não há mais nenhum osso quebrado? Beatrice ainda está inteira?
_Calem-se, vocês. – Edward reclamou mais. – Vocês poderiam ser mais respeitosos com ela, por favor?
_Deixem Edward em paz! – Esme chamou a atenção de Emmett e Rosalie. – Até parece que vocês são delicados quanto a isso!
_Vocês costumam quebrar tudo. – Alice riu. – Eles pelo menos parecem ter mantido a casa inteira…
_E o quarto também. – E a estupidez era minha melhor companheira. Como se eles não estivessem definitivamente sendo irônicos e sarcásticos, como se eles não estivessem tripudiando sobre mim, eu ainda respondia os comentários com total ingenuidade. Os Cullen caíram na risada, e até mesmo Edward acabou rindo.
_Você me desaponta. – Jasper implicou, direcionando o comentário a Edward.
_Até parece que você é tão bruto, Jazz. – Edward franziu o cenho. – Vocês dois conseguem ser tão discretos que a casa sequer os ouve!
_Ao contrário de vocês dois, né? – Alice caiu na risada. – Chegamos aqui e pensamos que precisaríamos intervir, ou Beatrice iria ter um longo caminho para se regenerar…

O constrangimento acabou por me dominar, e eu precisei afundar-me novamente em Edward para esconder-me dos olhares risonhos. Indiscretos era um eufemismo pobre para a reação dos Cullen quanto à nossa incursão naquela tarde. Edward encarou Alice como sempre fazia, e logo a implicância deixou de ser divertida. Os Cullen estavam reunidos no salão, cada um fazendo a sua coisa preferida, e Edward decidiu tocar seu piano. Caminhou até o instrumento e sentou-se na banqueta, dedilhando rapidamente as teclas de marfim.

A melodia que saía de seus dedos era a mais linda de todas que eu já ouvira. Ele já havia me contado que compunha suas próprias músicas, e aquilo era ainda mais surpreendente. Encostei-me ao piano e o observei tocar, música após música, deixando-me levar por cada uma delas. Quanto mais eu apreciava, mais Edward parecia tentado a tocar, me propiciando uma sinfonia impressionante.


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