Sob a Luz do Sol escrita por Tatiana Mareto


Capítulo 12
Capítulo 11 - A Escolhida




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*tema: David Bryan’s Endless Horizon*


Meus pensamentos estavam fora de ordem e bastante alterados, então. Eu passara todo o dia na escola tentando entender as coisas que me ocorriam. Tentando captar a essência das palavras de Edward naquele quarto. Tentando entender os olhares curiosos e maliciosos de Alice para mim, durante todo o tempo. E os olhares que a repreendiam, simplesmente por pensar em alguma coisa. Eu estava fora de mim, absorta em coisa alguma. Meus amigos humanos não me entenderiam nunca, porque eles não sabiam o que se passava na minha cabeça. Só uma pessoa podia saber como eu me sentia, e era de quem eu mais desejava esconder os pensamentos.

Eu senti vertigem novamente toda vez que me sentei ao lado dele nas aulas. Ele não falava nada comigo, apenas me olhava pelo canto do olho e sorria, lindamente. Era assustador, porque eu sabia que ele sabia. Era assustador porque ele me deixava constrangida demais. Pensei em fugir dele, mas para onde iria? Eu tinha certeza que ele sabia, que ele podia sentir o que eu sentia, e eu temia que fosse demais. Que fosse complicado demais. Eu morria de medo que ele soubesse o que ele já sabia, e por isso eu ficava ainda mais confusa. E balbuciando palavras ininteligíveis, como se aquilo fosse distraí-lo do óbvio.

_Alice… – Eu disse, alcançando minha ‘prima’ durante o almoço. – Eu… onde está Rosalie?
_Ela não veio hoje. Ela… ela e Emmett vão ficar o dia fora. – Alice riu, constrangida.
_Eu… gostaria de lhe falar.
_Sim, eu sei Beatrice!! – Ela sorriu. – E isso é tão divertido… ser aquela com quem você vai confabular, contar seus segredos profundos…
_Eu sinto como se não tivesse nenhum. – Desisti, porque lutar era inútil. Com Edward o leitor de mentes e Alice a vidente era impossível guardar segredos.
_Não seja tola… Edward lê segredos, eu só vejo o futuro. Diga-me, o que te aflige?
_Você já sabe. – Desisti novamente.
_Diga-me assim mesmo. Ele não vai se aproximar, ele sabe que você quer conversar comigo, e muito provavelmente ele poderia te dar todas as respostas. – Alice franziu o cenho. – Aliás, eu acho que ele gostaria de te dar todas as respostas… mas eu sei que você prefere perguntar isso a mim, certo? – Ela se abriu em um sorriso.
_Na verdade, gostaria de nem precisar perguntar. Sinto-me obtusa demais, tola demais por desconhecer o básico do relacionamento entre seres… mas eu preciso, ou vou agonizar em dúvida.
_Vamos logo, Bea! – Alice parecia urgente. – Sei que tenho todo tempo do mundo, mas estou ansiosa!
_Edward… ele… ele disse que… ele disse que ele está… ele disse que ele está apaixonado por mim.
Sim, eu falei daquele jeito. Eu simplesmente repeti cada pedaço da frase, porque se eu decidisse simplesmente completá-la, eu talvez não conseguisse. Patética, talvez fosse assim que eu me sentisse. Literalmente patética.
_Ah, mas isso é tão… tão… fofo!
_Fofo? – Eu arregalei os olhos. Aquele conceito não parecia combinar muito com minhas indagações.
_Sim!!! Meu irmão finalmente… ah, Bea… você sabe que gostamos muito de você, desde o início. Mas foi meio que premeditado; Jasper e Edward estavam caçando naquela região porque todos esperavam por você, não é? Sei que Edward já te contou isso… então, você já era esperada. Eu já a tinha visto, era verdade.. e os segredos não são muito fáceis de se manter naquela casa. Você entende. Mas eu não sabia o que aconteceria com a sua chegada, porque eu só vejo as coisas quando elas se resolvem. E até você chegar, era tudo muito confuso para mim… mas desde que você chegou eu vejo Edward mais e mais apaixonado, e isso é tão enormemente fantástico que…
_Alice. – Eu precisei sacudi-la para interromper a profusão assustadora de palavras que saía daquela boca tão delicada. Alice parecia fora de controle, e se eu também não estivesse talvez nem me importasse. Mas duas mulheres descontroladas parecia demais para um refeitório de escola. Ainda mais se as duas mulheres não fossem necessariamente humanas. – Alice, acalme-se. Sim, eu sei que você me viu mas… eu não entendi direito essa parte.
_Que parte? Eu vejo o futuro… sei que é estranho mais…
_Não! A parte final.
_Sim, é muito fantástico porque..
_ALICE! – Eu disse, a voz mais alta. Todos pareciam olhar para mim. Edward, sentado em outra mesa com Jasper, ria descontroladamente. Rangi os dentes, completamente envergonhada por tamanho exagero de minha voz, e tentei recompor-me. Edward comprimiu seus lábios e suprimiu o riso, enquanto Jasper lhe desferia um tapa na cabeça. – Desculpe.. – eu disse, constrangida demais. – é que eu não entendi a parte do apaixonado. – Aquela parte eu sussurrei, de forma bem suave, para que ele não conseguisse me ouvir. Tola.
_Ah! – A pequena vampira se surpreendeu. – Você… você não sabe o que é estar apaixonada?
_Não. – Novamente, o constrangimento da ignorância maior. Eu me sentia definitivamente um absurdo perto de tanta sabedoria dos Cullen. Apesar de que, pelo entoar da voz de Alice, aquele conhecimento não parecia muito empírico.
_Bea! Ora vejamos… como explicar isso? Bem… Bea, você entendeu nossa parte sobre relacionamentos entre homem e mulher, certo? – Assenti com a cabeça, não pretendendo interrompê-la então. – Pois bem… paixão, amor, são conceitos que justificam esse relacionamento. Eu sei que você entende amor… você ama seus amigos, sua família, várias coisas. Você pode amar… um homem. Quando isso acontece… e quando você é correspondida…
_Eu e ele nos tornamos companheiros? – Nem era uma pergunta. Mas Edward não estava ali para corrigir-me.
_Pode ser. É provável. – Ela riu baixo. – Ah, Bea… meu irmão é muito pouco humano, sabia? Ele tem todo esse trejeito frio de vampiro, ele se recusa a deixar fluir qualquer tipo de emoção humana que esteja presente nele. A não ser mau humor, claro. – Alice fez uma careta, e encarou Edward, duas mesas atrás. Ele se franziu, cerrando os punhos. – Mas eu sei que ele é um homem excelente, uma boa pessoa. Ele só precisa descobrir isso… e parece que você é uma das chaves.
_Eu sou uma chave? – Assombrei-me. Aquela conversa em metáforas me era demasiadamente complexa.
_Ah Bea! Não uma chave chave… uma chave no sentido figurado. Ele tem algo trancado em seu peito, e você é a chave que vai abrir espaço.

Eu ainda estava confusa com a explicação, e talvez não houvesse mesmo nada melhor a se fazer a não ser esperar. Edward cansou-se de ouvir à distância e aproximou-se da nossa mesa, segurando minha mão. Eu ainda não tinha me acostumado com sua pele, então eu o repeli. Puxei minha mão para baixo, assustada, como se o toque fosse contrário a algum princípio desconhecido de uma moralidade ultrapassada. Ele pacientemente levou a mão até a minha novamente, segurando meus dedos com delicadeza, mas força. Recusei-me a olhar para ele, enquanto Alice o encarava furiosamente.
_Basta com esse açúcar. – Mais metáforas, e eu certamente entraria em colapso. – Alice, você não tem nada melhor a fazer?
_Você tem horas que está irreconhecível, irmãozinho. – Ela debochou, atacando.
_Guarde seus pensamentos, irmãzinha. – Ele devolveu o ataque sem quaisquer cerimônias. E quando olhou para mim novamente, ele sorria. – Vamos, Bea? Não quer perder a aula.

Não, eu não queria. Mas então, tudo parecia completamente fora de lugar, e eu não me sentia muito equilibrada. Senti um mal estar súbito, e minha cabeça estava gritando, então. Edward pressionou seus dedos contra os meus com mais firmeza, e sorriu suavemente, quase como se não estivesse sorrindo. Claro, os meus pensamentos embaralhados lhe deviam estar muito divertidos, como sempre. Edward tomou o cuidado de não me falar mais nada durante as aulas, e até depois delas. Ele se manteve em um silêncio cruel, e eu pensei tê-lo visto agonizando, por alguns instantes. Em outros, eu pensei tê-lo visto sorrindo. Mas ele nada disse, nada perguntou, nem demonstrou estar me ouvindo. Eu sabia que ele estava… mas ele se manteve impassível.

A noite na casa dos Cullen rapidamente caia, como se lá a luz do sol desaparecesse mais cedo. Era estranho, eles não poderem sair ao sol por entre os humanos. Eu podia. Meu organismo reagia mal ao sol… mas não brilhava em esfuziantes faíscas de luz. De qualquer forma, eu nunca saía ao sol entre os humanos, porque eu estava ao lado dos Cullen o tempo todo. E como eu poderia ir às aulas se meus tios estariam acampando em família, ou algo similar? Só se eu fosse uma insana, segundo Rosalie disse que os humanos diriam. De qualquer forma, a casa deles parecia sempre mais à sombra. E as pessoas não iam até lá. O branco das paredes era sempre imaculado, e as almofadas no chão pareciam sempre desamassadas. A cozinha nunca era utilizada, porque ninguém ali se alimentava. Eu decidi que um dia tentaria comer a comida dos humanos. Edward gentilmente se ofereceu a me ajudar.. mas eu ainda estava em dúvida, até porque Alice não havia conseguido ver nada sobre isso. E durante a noite eles pareciam mais agitados, mais ativos. Era como se a luz do luar lhes causasse o mesmo efeito que a luz do sol causava em mim.

Mas algumas reações naquela casa começavam a me deixar atordoada. Edward, após a aula, me levou até a cidade vizinha, Port Angeles, para assistir a um filme. Um filme… eu assistia televisão no Covil, mas como não havia recepção, tudo que assistíamos eram filmes. Eu já estava praticamente farta de filmes, porque eles eram todos muito parecidos. Sempre a mesma donzela desprotegida em uma fuga frenética, sendo perseguida por algum tipo de vilão; e um mocinho a salvar-lhe ao final. Finais felizes invariavelmente. Nada intelectual, nada desafiante, intrigante. Eu fui conhecer a televisão de verdade, a que os humanos assistiam, na casa dos Cullen. Emmett, meu primo mais divertido, adorava assistir jogos de futebol, baseball, basketball, e outros estilos diferentes. Ele era quase um maníaco por aqueles esportes… e Edward me garantira que eles sabiam jogar bem quase todos os esportes. Que era divertido ter tanto tempo para aprender. Foi então que eu me dei ao prazer de assistir televisão, em companhia de Esme e Alice.

Mas Edward me levaria para assistir um filme, e eu esperava a mesma coisa de antes, um romance de donzelas em perigo. Porém daquela vez eu teria uma companhia mais agradável do que as senhoras híbridas que bordavam as vestes dos homens que saíam para caçar. Edward e seu sorriso colossal, seu olhar lívido e seu cheiro maravilhoso. Sim, eu havia aprendido a sentir o cheiro de Edward. Enquanto todos os aromas me deixavam confusa e desorientada, porque eram tantos e tão fortes, o cheiro de Edward me causava um torpor que funcionava como calmante. Seu aroma era uma mistura de todos os cheiros que eu já havia imaginado antes, e de sua pele pareciam emanar cristais aromatizados. Eu saberia que ele estaria para chegar mesmo que ele ainda estivesse muito distante. E então, estávamos em Port Angeles durante o dia ainda, e estaríamos na sessão das 16h. Ele não me contou que filme assistiríamos, mas eu acreditava que ele faria uma boa escolha. Talvez eu não estivesse preparada para o cinema, então. Talvez fosse o ambiente que me causaria qualquer outro mal estar, e não o filme em si.

_Muito escuro. – Ele disse, em meus ouvidos, o olhar apreensivo, quando eu não consegui entrar no cinema. Claro que ele conseguiu sentir todo pavor que inicialmente pairou sobre mim; o quanto aquela ausência de luz me lembrou o covil.
_Sim, mas está tudo bem. – Eu tentei confortá-lo, apesar de que fosse inútil. Edward sorriu levemente, deixando-se enganar.
Ao contrário do que eu imaginei, o ambiente era confortável e o filme não tratava de nenhuma donzela em perigo ou vilões maquiavélicos. Era um romance, certamente… um romance bastante agradável. As imagens eram grandes, muito diferente da tela da televisão, e o som me envolvia suavemente. Às vezes ruidoso demais, mas confortável, sim. Edward sentou-se o mais atrás possível, comigo ao seu lado. Aos poucos, durante o filme, ele deixou seu braço repousar por sobre meu ombro, bem devagar. Era como se ele tentasse não me assustar. E eu tentei, com toda a minha força, não repelir o seu contato. Ao menor sinal da minha hesitação, ele retrocedia e tinha que começar tudo de novo. Eu não sabia direito o que ele estava fazendo, mas desejei não impedir.

Só fui compreender melhor suas reações durante o filme. Depois de alguma meia hora de movimentação lenta, compreendi que os personagens se estudavam, eram inteligentes, tomavam ciência do mundo ao seu redor. Não eram tolas criações idealizadas de uma mente fértil e imaginativa, que fazia tudo parecer estático e sem graça. Eram pessoas, havia vida naquela tela. E as pessoas interagiam, de uma forma menos convencional à que eu estava acostumada. Foi então que o braço de Edward ao meu redor fez sentido. Eu não poderia repeli-lo. Nem se eu quisesse, pois algo mais forte do que a minha própria vontade me impedisse de pensar na hipótese. E ele se aproveitou da minha repentina mudança de comportamento para se instalar, então. Seus dedos me tocaram o ombro, macios, comprimindo a minha pele suavemente. A palma de sua mão tocou a minha omoplata suavemente, e eu senti a corrente elétrica percorrendo meu corpo, e enrijeci todos os músculos. Percebi que ele iria retroceder mais uma vez, e pude ouvir uma interjeição silenciosa sair de seus lábios, então relaxei. Tudo que eu menos queria era afastá-lo, naquele momento.

Eu estava envolvida no filme, a história me capturando a atenção integralmente. Ao menos os meus olhos, que não conseguiam se desprender da tela enorme. E meus ouvidos não conseguiam parar de ouvir a história, que se estendia por mais de uma hora, e parecia próxima de seu fim. Os personagens eram intrigantes, e a história era bastante inaceitável, até para uma lenda sobrenatural com eu. Mas eu me deixei divertir por todo aquele clima de romance e interação. Meu organismo, no entanto, só processava o toque de Edward em meu ombro. Era como se aquela condição fizesse parte do filme, parte da história entrelaçada das personagens. Eu deveria ser tocada, deveria sentir aquilo, para dar mais realismo à narrativa.
_Pisque algumas vezes, Beatrice. – Edward sussurrou em meus ouvidos, e seu hálito penetrou em minhas narinas como perfume. Ele estava muito cheiroso, era verdade. Como se todos os meus instintos estivessem canalizados para ele, somente. E a maioria dos meus sentidos também. Movi meus olhos intentando fazer o movimento que ele pedira, tentando compreender que os humanos faziam aquilo com naturalidade, e que eu precisava me manter ambientada.

Mas eu talvez não fosse a única com os sentidos canalizados a um único propósito. Edward não retomou sua posição inicial, e eu temi que ele tivesse ouvido algo que eu pensara sem querer. Prendi a respiração – inútil, claro – e me mantive inerte, concentrada na narrativa do filme. Senti delicadamente a ponta do nariz de Edward tocar os contornos de minha orelha, e a eletricidade estava ali, novamente. Como eu não repeli o toque, ele continuou a fazê-lo, delineando todos os contornos que estavam ao seu alcance. Seus dedos pressionaram meu ombro com mais força, como se ele me puxasse para si. Sua respiração ritmada, por instinto ou por comodidade, soprava o ar em minha pele. O contato não era desconfortável, mas eu me senti completamente acuada. Eu não sabia como reagir.
_Sua fragrância é… deliciosa. – Ele disse, como que me respondendo. Sim, eu ansiava por saber o que ele fazia, afinal. Por que ele ainda tinha as narinas posicionadas em mim, como que farejando algo muito intenso. Senti uma nova onda de eletricidade, e aquilo já estava começando a me irritar, levemente. Edward afastou a face de mim, aliviando a pressão em minha pele, permitindo-me movimentar os músculos. Sim, eu o estava repelindo novamente. Todos os meus pensamentos lhe davam pistas de como agir, e provavelmente eles não estavam muito claros naquele momento. Ou não seguiam qualquer ordem lógica plausível. Novamente, a interjeição muda desprendeu-se de seus lábios.

O filme terminou em pouco tempo, aproximadamente duas horas de sessão. Mas eu não consegui acompanhar o final. Desde que Edward decidira tocar-me e cheirar-me daquela forma, os sentidos que ainda estavam desapegados voltaram-se para ele imediatamente. Era como se o seu gosto estivesse em minha boca, seu cheiro em minhas narinas, sua voz em meus ouvidos, seu sorriso em meu olhar, sua pele sob meus dedos. Eu o tinha todo em mim, de uma forma indescritivelmente agonizante. Tive medo de meus próprios pensamentos, e tentei esquecer tudo. Talvez fosse melhor deixar que meu corpo simplesmente desfrutasse das sensações sem pensar muito nelas. Afinal, eu não desejava que Edward me lesse tão bem a ponto de sentir medo de estar ao meu lado.

A volta para casa foi silenciosa como toda a tarde. A música de fundo era suave e agradável, mas eu ainda só conseguia ouvir a voz de Edward. E ele não falava nada, apenas se limitava a reagir aos meus pensamentos de forma cadenciada e premeditada. Um sorriso, um olhar, seus dedos procurando minha mão sobre minha perna, enquanto ele dirigia sem prestar muita atenção na estrada. Eu parecia catatônica, ainda visualizando as imagens do filme e combinando algumas com a figura de Edward.

_Boa noite, irmãzinha!! – Emmett Cullen estava jogado no tapete da sala, divertindo-se com algum tipo de jogo que eu desconhecia. Esme realizava alguma tarefa manual e eu não vi nenhum dos outros Cullen quando entrei. Edward segurava minha mão, e olhou furiosamente para Emmett quando o irmão maior soltou aquela frase. Infeliz, certamente.
_Prima, Emmett. – Edward corrigiu. – Vai colocar todo o nosso disfarce a perder.
_A escolhida de meu irmão é minha irmã. – Ele protestou, praticamente ignorando qualquer perigo que aquilo pudesse representar. – Aqui em casa eu a chamo de irmãzinha. Lá fora, que seja o que vocês quiserem.
_Emmett… – Esme levantou o olhar em reprovação.
_O que foi? – Emmett encarou a mãe, e Edward segurava os meus dedos com muita força, então. Logo a tensão em seus dedos diminuiu, como se ele temesse machucar-me. – Ah, Edward anda muito sensível esses dias… pensei que uma mulher fosse fazer alguma diferença, afinal. Edward, - ele se voltou ao irmão – se quiser eu empresto a você a chave da nossa…
_Basta, Emmett. – Edward rosnou. – Comporte-se perante Beatrice… e guarde seus pensamentos para você, por favor!!
_Não tenho culpa se você é leitor. – Emmett protestou novamente, e continuou seu jogo. Esme levantou-se e caminhou até nós, sorrindo. Percebi que ela pretendia acalmar os ânimos entre os irmãos.
_Eles foram caçar. – Ela disse, sorrindo. – Todos sedentos… só Emmett decidiu ficar, e eu não tenho sede. Você está bem, Beatrice? – Ela olhou em meus olhos, e eu senti apreensão.
_Sim, estou. Não tenho sede.
_Bom… Edward, eu poderia conversar com você um instante? – Esme foi cuidadosa na escolha das palavras. – Beatrice pode fazer companhia a Emmett… ele não parece estar se entendendo muito com o jogo novo.
_Isso, mande minha nova irmãzinha para cá. – Emmett rosnou à distância, e novamente os dedos de Edward comprimiram os meus.
_Vamos, Edward? – Esme tentou cortar o fio que nos conectava, e se interpor entre a irritação crescente entre os dois irmãos. Provavelmente aquilo não era grave, somente provocação barata. Eu já presenciara os machos se desafiando no covil, e na maioria das vezes a contenda terminava em risos e alguns ferimentos rapidamente cicatrizados. Mas ela pareceu precisar mesmo conversar com Edward, e eu deveria afastar-me. Era uma conversa privada, entendi.

Coloquei-me rígida ao lado de Emmett, que parecia muito absorto em seus jogos, então. Era algo aparentemente simples, imaginei… como um quebra-cabeças. Mas ele estava concentrado. O grande vampiro era bonito, pensei. Tinha traços brutos, não tão definidos como Edward, não tão gentis. Ele parecia ter sido criado para aniquilar, exterminar. Era como um grande urso. E o humor de Emmett também parecia destinado ao mesmo propósito de seu corpo. Ele não parecia incomodar-se em criar confusões, era como eu o via.
_Não precisa ter medo, irmãzinha. – Ele virou-se para mim, sorrindo então. – Eu não vou morder…
_Não tenho medo. – Não era mentira. Emmett não podia me ler, e talvez fosse mais simples conversar com ele, então. Mas eu não sabia até onde a sensibilidade de Edward poderia captar-nos. – Estou tentando resolver a charada, como você.
_Seja minha convidada. – Ele fez um gesto, aparentemente sugerindo que eu me sentasse ali, ao seu lado, no chão. Sentar era um eufemismo para o termo. Emmett estava jogado ao chão, era verdade. Mas pareceu divertido, então juntei-me a ele em seu raciocínio, para desvendarmos o misterioso quebra-cabeças.
_Emmett… – eu decidi perguntar, alguns instantes depois. – Por que me chama irmãzinha, agora? Quero dizer… Edward não pareceu satisfeito, e Esme repreendeu…
_Você é irmã. – Ele sorriu. – Edward é meu irmão, disso não duvido. Os nossos laços são fraternos demais… entraria em uma luta e morreria por ele. – Daquilo eu não duvidaria, mesmo! – E ele escolheu você. Então, você é agora oficialmente a minha irmãzinha mais nova.
_Sou mais velha que você. – Impliquei. Era simples conversar olhando Emmett nos olhos, pois ele era puro e transparente. Como se sua existência estivesse envolvida em uma aura angelical de bondade e ingenuidade.
_Isso não conta. Mas sim.. você é mais velha, mas eu sou maior. Irmãzinha, então.
_Você disse que Edward me escolheu…
_Sim, você ainda não percebeu? – Emmett ergueu uma sobrancelha. – Esse leitor estúpido tem que lembrar que as pessoas não têm a mesma habilidade que ele! Bem, mas eu suspeitava que você soubesse, porque entraram de mãos dadas e…
_Ele me contou. – Senti o calor percorrer meu corpo e meu coração acelerar.
_Ah, então não entendi sua dúvida, ainda. – Emmett não era mesmo tão sensitivo, e eu já estava ficando acostumada a não precisar explicar-me.
_O termo escolhida, é minha dúvida. – Deixei sair. Eu não tinha me saído bem com as palavras durante todo o dia, era fato.
_Ahh! – Emmett riu, jogando-se ao chão a fim de que suas costas tocassem o felpudo carpete. – É só uma palavra, Bea… é que Edward nunca… você sabe, ele nunca esteve com ninguém.
_Nenhuma fêmea? – Duvidei. E lá estava eu utilizando-me daquela terminologia antiquada e rude, novamente.
_Nenhuma. Ele… é difícil sabia? Ele nunca gostou de ninguém, nunca se interessou por ninguém. E bem… na nossa condição, é difícil ficar trocando de parceiros, como ficam os humanos. Quando encontramos alguém, ficamos com essa pessoa.
_É assim com você e Rosalie? – Emmett sorriu em concordância. – Alice e Jasper? – Ele fez um bico, mas concordou. Talvez os relacionamentos fossem diferentes, mas tivessem a mesma natureza. – Esme e Carlisle? – Mais uma concordância muda. – Vocês todos estão juntos…
_Desde que nos conhecemos. – Ele pareceu novamente absorto, como se a conversa lhe gerasse memórias interessantes. Fez uma pausa para divertir-se com as fantasias em sua mente. – Eu e Rose estamos juntos a menos tempo do que nossos ‘pais’, claro… mas sabemos que vamos ficar juntos, é quase como que…
_Eterno?
_Você é irritante, irmãzinha! – Ele se voltou para mim, e estremeci. – Parece Edward… fica completando nossas frases! – A risada de Emmett certamente poderia ser ouvida a quilômetros. Ele me segurou pelos braços, e puxou-me para si, no que eu percebi ser um abraço. Rolamos pelo chão, com o peso descompensado. – Você nem pense em fugir de nós, agora faz parte dos Cullen!

Tudo aconteceu muito rápido, como sempre era entre os vampiros. A porta da cozinha se abriu e os Cullen retornavam, enquanto Edward descia as escadas já sacudindo a cabeça em desaprovação. Por mais incrível que aquilo parecesse, eu não me assustei com o abraço de Emmett. Senti-me estranhamente aquecida, e diverti-me com o fato de ele brincar comigo, tentando segurar meu nariz entre seus dedos. Os presentes nos encontraram rindo pela sala, o enorme vampiro praticamente por sobre mim, as gargalhadas sonoras e descontraídas.

A figura de Rosalie nos olhou interrogativamente. Ah, ciúmes! Eu esperava que ela não sentisse aquilo em relação a mim e Emmett, pois não havia maior incompatibilidade do que entre nós. Estávamos apenas em uma contenda amigável, dois irmãos como ele preferia dizer. O abraço de Emmett não me causou nenhum tremor na espinha, ou fluxo elétrico circulando por meus ossos. Não havia eletricidade entre nós, apenas calor. Foi como se o abraço dele, mesmo à temperatura ambiente, mesmo frio, fosse caloroso. Uma recepção, as boas vindas à família, pela segunda vez.
_Ahem. – Ela pigarreou, e Emmett tentou recompor-se. Ele a olhava como se tivesse feito algo terrivelmente errado, mas não se arrependesse. – Quando vai aprender a comportar-se, Emmett Cullen? – A vampira loira disse, sem mover nada em seu corpo.
_Rose.. – Ele fez uma reverência para ela. Edward posicionou-se ao meu lado, oferecendo sua mão para que eu me levantasse. Ele olhava ferozmente para Emmett, e daquela vez eu senti eletricidade. Não somente pelo toque, mas pelo fato de que eu podia jurar que Edward desejava atacar o irmão.
_Você está bem? – Edward tocou meu braço, onde Emmett havia me segurado, olhos atentos e assustados.
_Sim, estou ótima. Só estávamos… brincando.
_Você está machucada. – Ele segurou novamente meu braço em suas mãos.
_Não estou, Edward. – Protestei. – Emmett… ele é maior, mas eu dou conta. Ainda mais, se ele me causou um hematoma ou dois, em 10 segundos eles estarão curados. Talvez você nem mais consiga vê-los, agora.

Os olhares entre Emmett e Edward não melhoraram até Emmett resignar-se e baixar a guarda. Entendi aquilo como um pedido de desculpas mental, que somente Edward poderia ter ouvido. Carlisle assistia a tudo sem qualquer apreensão. Alice e Jasper riam baixo, em um tipo de comunicação muito íntima deles. Edward me puxou para o lado dele, como se me protegesse de algo.
_É a ela que deve pedir desculpas. – Ele disse, encarando Emmett.
_Não seja tolo! – Eu protestei, daquela forma mais veemente. Ora, então não era tão difícil assim contestar Edward Cullen… eu tinha aquela força, então. – Emmett, não se desculpe por nada. Você sabe que estávamos só conversando, e tudo que ele fez foi dar-me um abraço gentil.
_Gentil? – Edward era sério. – Você estava cheia de hematomas quando cheguei!
_E eles se curaram em 10 segundos, como eu disse.
_Esqueci-me que era mais frágil, Bea. – Emmett sorriu. – Desculpo-me por isso.

Alice deixou então o anonimato e entrou na conversa, sorrindo com apreciação.
_Sei que ainda não entende direito, Bea… mas seja oficialmente bem vinda à família. – Alice abraçou-me, e daquela vez com toda gentileza possível. Pude sentir novamente o calor em minha pele, e um beijo suave em minhas bochechas.
_Não foi preciso, Carlisle. – Edward respondeu aos pensamentos do pai, instintivamente. – Esme e eu já conversamos… ainda não.
_Ainda não o que? – Eu tinha que perguntar, claro. Já nem estava mais me importando em ser tão tola, porque o dia inteiro eu tinha agido de forma completamente desequilibrada. Eu estava fora do meu balanço normal, então nada mais parecia ser estúpido o suficiente para mim. Edward não me respondeu, apenas sorriu. Alice caiu na risada, levando Jasper com ela. Os dois riam, e eu tive certeza que ela sabia a que ele se referia. Alice e Edward pareciam comunicar-se sem qualquer palavra, desde que eu os conhecera. Ela e sua habilidade de previsão, ele e sua leitura de mentes. Os dois sempre sabiam de tudo, e sempre antecipavam tudo. Era quase insuportável… mas divertido.
_Vamos? – Edward disse, me fazendo desejar subir as escadas com ele. – Alice, por tudo que é mais sagrado! – Ele explodiu, enquanto a irmã ria sem parar. – Gostaria que vocês deixassem isso por minha conta… seria muito bom poder lidar com isso sozinho!

Se eu tivesse entendido o que eles conversavam, Edward teria maus momentos dentro de minha cabeça. Foi melhor que eu ficasse na ignorância, daquela vez. Eu não suportaria deixar de me constranger, e pensar naquilo pelo resto de meus dias. Que não deveriam ser poucos. De qualquer forma, Edward tinha um estranho sorriso em seus lábios, e eu podia senti-lo respirar mais aceleradamente.
_Emmett não machucou você, mesmo? – Ele perguntou, levando-me até a porta do meu quarto.
_Eu me machuco mas me curo facilmente, Edward. Eu posso ser mais frágil, mas é difícil me quebrar. – Eu sorri, tentando liberá-lo daquele pensamento ruim. – Você deveria saber, porque eu não estou me sentindo machucada.
_Poderia estar tentando me enganar. – Ele foi sério.
_Ah, como se eu soubesse fazer isso.
_No que está pensando?
_Ah, não! – Eu ri, e daquela vez fui eu a dar uma risada histérica que poderia sacudir a casa dos Cullen. – Você não está me perguntando isso!!
_Eu disse que te deixaria falar…
_Prefiro que me leia.
_Nunca vou entender você. – Ele sorriu novamente, intentando sair. – Vai se lavar?
_Sim, estou cansada…
_Depois pode se encontrar comigo em meu quarto.

Uma tentação. Aquela oferta era uma tentação. O quarto de Edward me seduzira desde a minha entrada na casa dos Cullen, mas por uma simples razão. A presença dele. Quartos eram quartos, todos lindamente decorados, brancos, claros, cheios de vidro. O bom gosto de Esme era incontestável. Ela sabia mesmo o que estava fazendo, decorando a sua casa. O banho não pareceu tão divertido quanto antes, porque a água incomodou minha pele. E porque eu temi, só por um instante, que o cheiro delicioso que Edward sentira no cinema fosse lavado com as impurezas de minha pele. Eu queria ter aquele cheiro para ele.. queria que ele apreciasse o meu aroma tanto quanto eu apreciava o seu.

Eu não sabia por que me sentia como estava me sentindo. Na verdade, eu imaginava que fosse o filme. Que a história romântica totalmente diferente daquelas que estava acostumada tivesse me causado tanta empatia com a história dos parceiros. Com a questão do relacionamento homem e mulher… o fator eu versus você. Aquilo nunca me pareceu tão óbvio, nem quando Edward me disse que estava apaixonado. Era só uma palavra, eu não sabia o que fazer com ela. Mas então eu vi… eu tive a chance de passar mais de uma hora vendo o que a paixão poderia fazer com as pessoas… de forma tão nítida, plausível, palatável. Eu tinha certeza… eu queria fazer tudo aquilo com Edward. Eu queria tocá-lo, mas não simplesmente segurar sua mão. E, enquanto eu me vestia, eu não sabia como fazer para encará-lo sem pensar naquilo. Como eu esconderia que desejava tanto… aquele contato físico. Não era para ele ficar sabendo. Não era para ele ler, era para ele simplesmente ter a chance de adivinhar… mas eu sabia que não tinha condições de esconder nada dele.

_Entre, Bea. – Ele disse, enquanto eu hesitava à porta. Maldito vampiro, maldito vampiro!! Esgueirei-me pela fresta aberta, sorrindo timidamente. Edward estava sentado em seu sofá preto de couro, olhos fixados no luar ao lado de fora. Não havia outra luz que não ser a do astro prateado.
_Er…
_Vamos, está com medo de mim? – Ele riu. – Não teve medo de Emmett esmagar você, mas tem medo de se sentar ao meu lado?
_Emmett não me assusta. – Era muito verdade. Edward levantou-se, aproximando-se de mim cuidadosamente. Ele não foi rápido como sempre, porque a leitura meticulosa de minha hesitação lhe dava uma perspectiva de como agir. Edward vestia uma camisa escura de botões e calças cáqui. Ele estava sempre de cáqui, era clássico. Seus irmãos pareciam tão tentados ao jeans, enquanto ele pouco se importava com aquela vestimenta. Eu só o vira trajando jeans no primeiro dia. Ele estava então em seu melhor estilo vampiro-de-100-anos-de-idade. As estrelas iluminaram mais ainda o céu negro da noite, quando um vento forte soprou as nuvens embora. A luz prateada fez Edward ainda mais lindo; uma beleza que raramente alguém poderia suportar.
_É isso que você quer? – Ele perguntou seriamente, mas eu senti que ele segurava os lábios com força, para não sorrir. – Só isso?

Eu nem sabia se sabia o que eu queria. Na verdade, eu não podia distinguir qual dos pensamentos horripilantes que passavam naquele momento fora escolhido por Edward. Eu queria muita coisa, era como me sentia. Eu queria coisas que nem me dava ao direito de querer. Edward parou exatamente em minha frente, depois que eu deixei a porta se fechar atrás de mim. Não que aquilo significasse privacidade na casa dos Cullen. Seus dedos se dirigiam aos botões de sua camisa, e ele abriu um por um, para minha total perplexidade. Meus olhos se abriram mais, como se eu pudesse enxergá-lo mais perfeitamente do que já enxergava. Senti a eletricidade daquela vez, sem qualquer tipo de toque. Edward avançou um ou dois passos após terminar com os botões, a camisa escura totalmente aberta, deixando à mostra seu peito nu. Ele deu um sorriso maroto e segurou minha mão, ciente de que eu não parecia apta a realizar nenhum movimento físico naquele instante. Depois colocou-a tranquilamente sobre seu peito, puxando-me para mais perto. Se aquilo fosse possível.
_Estar apaixonado… isso permite que você me toque, Beatrice. – Ele sussurrou, bem próximo aos meus ouvidos. – Você não precisa ficar tão… ansiosa.
Seus braços circundaram meu corpo e me pressionaram contra o seu. A palma da minha mão direita deslizou para as suas costas, por dentro da camisa, e encontrou a outra palma, a esquerda, que já havia encontrado o seu caminho. Fechei os olhos como se a imagem daquele toque fosse demais para conjugar com as sensações que ele me despertava. Meu corpo comprimido contra o dele, e tudo que eu sentia era… calor. Mas não fazia calor, o frio deveria estar difícil e agüentar, do lado de fora. Eu tinha certeza que sentia a alteração climática muito mais do que os Cullen, já que eles não tinham nenhuma temperatura corporal. Edward moveu-se um pouco, sem me soltar, lentamente para não me acuar, e em instantes uma música suave inundou o ambiente.

Eu havia dançado na casa noturna, com as meninas. Havíamos pulado, jogado os braços para frente e para os lados, movimentado nossos corpos com bastante liberdade. Aquilo foi chamado de dança, tanto por Alice quanto por Rosalie. Mas a música que Edward tocava era lenta, suave, uma peça clássica conhecida dos meus tempos de covil. Eu já estava em seus braços, e ele se movia lentamente como se estivesse realmente dançando comigo. Eu ainda tinha os olhos fechados… e sentia suas mãos pressionando as minhas costas bem devagar, quase como se ele temesse me causar algum mal. Sua respiração era lenta…
_Seu coração. – Ele disse, interrompendo o transe, quando a peça acabou. – Como pode… ele bate tão devagar.
_Ele bate em um corpo sem vida. – Eu tentei, com todas as forças sobrenaturais que me restavam, não olhar para ele.
_Mas ele bate. - Seu hálito novamente me fez sentir ainda mais a dimensão de seu cheiro. Eu não conseguiria me concentrar em repelir os pensamentos que eu não queria que ele lesse se ele continuasse a provocar. – Ele bate… você tem idéia de quanto você é fascinante, Beatrice?

E então ele venceu a pequena batalha que se travara dentro de mim. Meus olhos se abriram, e repletos de curiosidade, encararam os de Edward. Alguns centímetros acima de mim. Fascinante era uma característica que definitivamente não me pertencia.
_Eu sou tão comum. – Disse, já totalmente capturada pela armadilha de seus olhos caramelo. Eu não conseguia olhar para mais nada. Outra peça clássica começou, mais conhecida ainda por mim, mas era como se os sentidos estivessem novamente canalizados somente para um lugar. Edward. – Existem tantos como eu… você nem sabe.
_Mas eu só tenho você em meus braços.

Ele não sorriu. Repelir os pensamentos, era em tudo que eu pensava. Pensar em flores, frutos, cores, aromas. Nada daquilo ajudaria muito. Pensar no sol… mas isso era impossível, enquanto Edward insistia em brilhar mais do que qualquer coisa existente. Pensar em qualquer coisa me direcionava novamente a ele; era uma fuga inútil. Edward libertou uma de suas mãos e com o indicador delineou lentamente o contorno de minha face, sem que nossos olhos se perdessem nenhum instante.
_Tudo bem. – Edward sussurrou novamente, tão baixo que eu mal pude ouvi-lo daquela vez. A música ainda tocava, e eu me sentia flutuando pelo quarto. Lentamente, flutuando. – É isso que eu também quero.

Como se eu não soubesse do que ele falava, meu corpo todo estremeceu em seus braços quando ele se curvou sobre mim e direcionou seus lábios para os meus. Como se eu não tivesse pensado naquilo desde que estivera no cinema, vendo as personagens trocarem carícias por mim desconhecidas. Como se não fosse plenamente natural e esperado que, naquelas condições, ele fosse fazê-lo. Como se eu não estivesse totalmente rendida em suas amarras, pressionando a sua pele com tanta força que eu tive medo de feri-lo. Como se aquilo fosse realmente possível, e como se fosse aceitável que eu não desejasse tanto aquilo que meu truque para esconder os pensamentos tivesse falhado tão convenientemente.


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