A noite estava mais esquisita que o normal.

O silêncio era profundo, todos na casa estavam dormindo, exceto eu.

Desci lentamente as escadas, tentando não fazer barulho. Não estava afim de acordar ninguém.

Clary?! -  É, estava errada sobre todos estarem dormindo.

Hm... Oi? - Pronunciei calmamente, queria ficar sozinha, se é que era possível.

O que faz acordada essa hora?  –  Revirei os olhos, Charles jamais havia se interessado por mim, e agora ele simplesmente resolve conversar? Por Deus!

Vim buscar um copo de coca-cola,apenas. – Na realidade eu iria ficar ali, assistindo televisão.

Coca-Cola essa hora da madrugada?  -  Ele perguntou rindo, o que tinha demais nisso?

Sim. - Dei de ombros, abrindo um sorriso fraco.

Posso te fazer companhia,então? –  Não iria negar, estar na companhia de Charles de vez em quando não faria mal.

Claro. – Respondi, dirigindo-me à cozinha. Charles veio logo atrás, confesso que sentia-me encomodada com sua presença.

Você sempre levanta durante a madrugada? - Ele realmente não iria parar de me fazer perguntas?

Na verdade... não. Eu sou acostumada a dormir tarde, então dormir cedo pra mim é meio que impossível. - Ele riu.

Digo o mesmo. - Porque ele não estava me ignorando? Porque ele não estava agindo como de costume? – Então, como você está? - Ele realmente queria saber como eu estava? Que evolução.

Além de estar com sede e com fome? Estou bem. – Eu sorri. - E você? – Ele sentou-se em uma cadeira na minha frente, desgostoso.

Estou bem. - Ele sinceramente não parecia bem, nem um pouco. Sentia-me sem graça em puxar conversa, nós nunca havíamos nos falado, pelo que eu me lembre.

Posso fazer uma pergunta? – Ele já havia feito várias, que diferença faria?

Claro. – Ele sorriu, olhando-me.Seus olhos estavam mais escuros que o normal. Desviei o olhar, não gostava de encara-ló.

Você tem vinte mil doláres? – Como é que é? Vinte mil doláres? Ele estava falando comigo pra pedir dinheiro? - Eu sei que nós nunca nos falamos... Mas eu preciso do dinheiro. - Olhei-o incrédula, não sabia que Charles era assim. Imaginava-o completamente diferente.

Tá maluco? - Disse rindo, aquilo só podia ser uma brincadeira. - Eu não tenho esse dinheiro, e acho que nunca vou ter. - Falei séria.

Você não está entendendo. Eu preciso – Ele deu ênfase no '' preciso ''. - desse dinheiro. - Eu o interrompi.

Você acha que uma garota de dezesseis anos tem esse dinheiro?– Revirei os olhos. - Eu não tenho esse dinheiro. – Finalizei, como era possível? Ele jamais havia falado comigo,e quando fala é pra pedir dinheiro?

Entenda, sua vadia, eu quero esse dinheiro na minha mão em menos de dez horas. - Ele levantou, meus olhos marejaram.

Charles, eu não tenho esse dinheiro! - Eu estava falando a verdade. - Eu não tenho.... - Finalizei. Ele levantou-se irritado, veio até mim dando-me um tapa no rosto.

QUANDO EU DIGO QUE EU QUERO ALGO,É PORQUE EU QUERO. - Ele ergueu a voz, a dor e a ardência em meu rosto deixava bem claro que eu ficaria roxa. Coloquei a mão no canto da minha boca, sentia o sangue escorrer. Meu rosto estava molhado, lágrimas escorriam de meus olhos, eu estava chorando. Chorando desesperadamente.

O que... O que está acontecendo aqui?! -  Andrew entrou na cozinha coçando os olhos, aproximando-se em seguida de mim e de Charles.

Nada, Andrew. Nada. - Como ele conseguia mentir tão descaradamente? Tanto fazia. Sai correndo antes que Andrew visse meu estado.

Subi as escadas correndo, tropeçando em praticamente todos os degrais. Fechei a porta do meu quarto apressadamente, tranquei-a com a pequena chave e deitei-me na cama, chorando.

Quem esse Charles achava que era para vir assim me pedir dinheiro? Quem ele achava que era para ter o direito de me bater? Como... Como eu podia gostar dele? Sou tão idiota.

Parei aos poucos de chorar, sentia-me completamente inútil por não poder ajuda-ló, mesmo sem saber o motivo pelo qual ele precisava do dinheiro.

Em poucos instantes, dormi.