Miss You escrita por Eeryn


Capítulo 1
oneshot


Notas iniciais do capítulo

Bem, esta história estava a formar-se na minha cabeça. Depois uns meses mais tarde apareceu o MV 'Blind' dos TRAX (que aconselho a ver, a musica é linda) com a mesma base e eu pensei: vou escrevê-la.
Enquanto escrevia ouvi a musica de Hwak Nelson, 'Still Miss You', e resultou nesta fic.
Espero que gostem ^^



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               Observar. 

               Era a única coisa que poderia fazer. Maka já não sabia o que mais fazer. Olhava através da sua janela de névoa para o mundo da existência, da vida, na pequena esperança de poder recuperar o seu amor, bem como a sua vida. Não, a vida nem era tão importante assim; já sabia que não conseguiria voltar. Mas queria que ele se lembrasse dos momentos, do que passaram juntos. Talvez fosse egoísmo querer que ele se lembrasse dela, mas era a sua última vontade, já que não pertencia mais àquele mundo.

               O acidente não poupou ninguém. Maka morrera com a força do impacto. Lembra-se perfeitamente da luz branca do carro da frente que vinha em contra mão embater nos seus olhos, da cegueira que sentiu em seguida e, por fim, da paz. Não sentia nada. Sentia-se leve, como se o vento atravessasse o seu corpo e lhe refrescasse a alma. Ela sabia que não estava bem, mas a sensação era agradável.

               Não aguentou quando viu Soul, imóvel, de olhos fechados no banco do condutor. Ficou estática. Não queria que nada de mal lhe acontecesse, não o queria perder. Só pensava em abraçá-lo, agarrar-lhe na mão e dizer que tudo iria correr bem. E foi isso que fez. Mas quando deu por si, não conseguia tocar nele. Nem em Soul, nem em nada. De início não percebeu, mas quando viu o seu corpo ser levado dentro de um grande saco preto confirmou o que desconfiava: Já não estava no mundo dos vivos.

               Mesmo assim acompanhou Soul. Esteve com ele em todos os meses que ele esteve em coma, numa presença impercetível. Ninguém sabia da sua existência; ninguém a ouvia, sentia ou via. Foram seis longos meses de espera por algum sinal, algum bater de pálpebras; esperava voltar a ver aqueles olhos vermelho-escarlate tão típicos do albino.

               Nada.

               Por seis meses temeu que alguém desligasse as máquinas que o mantinham vivo no hospital. Por seis meses ela tentou confortar a sua família e a de Soul; ambas sofriam a perda de Maka e receavam a perda do seu noivo. Apesar das tentativas, ninguém a ouvia.

               Após seis meses de espera, ele acordou.

               Maka encheu-se de alegria ao vê-lo a recuperar, mas essa alegria não a satisfez por muito tempo. Logo estava com um vazio enorme no lugar do seu coração. O que seria? O que estaria a acontecer? Sentia-se cada vez mais distanciada de Soul, e não conseguia justificar esse sentimento.

               Por sua vez, Soul não falou o nome de Maka nem por uma vez. Não mostrava qualquer emoção. Alegria, tristeza, esperança, desespero… Ninguém sabia como ele realmente se sentia, nem mesmo Maka. Quando voltou a casa, Soul reparou que estava tudo limpo e arrumado. Reparou em vários objetos que nada lhe diziam, eram apenas decorações, meros elementos que compunham as paredes brancas do apartamento que dividira com alguém… Sim, um alguém do qual ele não se lembrava. O pior é que doía…

               -Quem és tu?

               Por vezes deparava-se consigo a perguntar às paredes. Falava sozinho, mas sentia-se ouvido. Sentia que a qualquer momento iria receber uma resposta. Maka respondia-lhe, mas não chegava nenhuma palavra a Soul.

               Estou aqui.

               Não me esqueças…

               Ela respondia sempre quase chorosa. As lágrimas não caiam… Maka não permitia que isso acontecesse. Isso demonstraria fraqueza e demonstraria também que havia desistido, coisa que ela se recusava a fazer.

               Era estranho o facto de Soul não se lembrar da sua amada. Parece que ela foi totalmente esquecida. Ao acordar do coma a mãe de Soul estava lá, aliviada pelo seu filho estar bem, mas receosa de como ele iria ficar quando lhe contasse. “A Maka não resistiu”, acabou ela por dizer.

                “Quem?”

               Essa foi a única resposta do filho. Ninguém pronunciou o nome dela novamente. Estavam demasiado preocupados com o que estava a acontecer, até que perceberam que, de algum modo, as memórias daquela paixão tinham sido levadas. Para Soul Maka nunca havia existido.

               Esse foi o único momento em que Maka chorou. Eram lágrimas que não se podiam sentir… Era um choro interior que impedia a sua alma de descansar em paz. Imediatamente prendeu toda aquela dor e tentava encontrar maneiras de mostrar a sua presença a Soul. Era inacreditável que um amor como o que eles haviam vivido estivesse extinto de um momento para o outro. Não se permitia a si própria desistir.

               Agora, dias depois da recuperação de Soul, continuava sem saber o que fazer. Conseguia perceber a confusão de Soul ao ver todos os objetos daquele apartamento. Continuava a perguntar-se quem seria a tal Maka que o acompanhava naquele acidente de carro.

               -Porque é que eu não me lembro?

               Frustrado, levantou-se do sofá e percorreu a casa mais uma vez. Desde que tinha chegado procurou por algo que o relembrasse de… de qualquer coisa. Maka não existia para ele, mas ao mesmo tempo sentia falta de algo.

               Foi então que pegou numa moldura prateada que ornamentava a cómoda da sala. Estava lá… Os cabelos loiros a emoldurarem uma face alva que contrastava com a forte luminosidade dos olhos esmeralda. Soul viu-se ao lado dela com um braço colocado amistosamente em torno do seu pescoço.

               Maka viu uma luz de esperança. Observou cautelosamente cada reação de Soul. Percebeu a confusão nos seus olhos, mas nada mais. Ele voltou a colocar a moldura no lugar e voltou para o sofá. Ao invés de se sentar pontapeou as almofadas e caiu no chão com a cabeça entre as mãos. A loura ficou chocada quando o viu a chorar.

               -Porque é que isto tinha que acontecer? Porque é que me fazes tanta falta? Quem és tu?

               Maka tentou novamente confortá-lo. Aproximou-se e tentou alcançar o ombro de Soul, mas só depois se lembrou da aflição que havia sentido quando percebeu que não lhe podia tocar. Ignorou essas memórias e colocou a mão sobre o ombro de Soul. Não o conseguia sentir, mas tentou transmitir conforto ao máximo, enquanto evitava chorar.

               Subitamente, parou de chorar. Soul sentiu a tranquilidade invadir o seu coração e relaxou. Ao sentir um calor estranho levou a mão ao ombro, e Maka encolheu imediatamente o braço. Isso fê-la pensar que não precisava que ele recuperasse as memórias; apenas necessitava de o acompanhar e de o auxiliar ao longo da sua vida feliz, transmitindo-lhe carinho através de pequenas ações como a que acabara de fazer.

               Ajudou-o a ser marido, ajudou-o a ser pai e ajudou-o a ser avô.

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               No quarto só se ouvia um ‘bip’ compassado e uma respiração pesada. Na cama branca estava um senhor já de idade avançada, acompanhado da sua esposa, uma mulher também da mesma idade. Maka entrou no quarto, e encarou os olhos do homem.

               Tanto tempo…

               Sorriu com pacificidade e agarrou-lhe a mão.

               Nunca te abandonei nem nunca vou abandonar, meu Soul.

               -Tsubaki, podes dar-me a água, por favor?

               -Claro que sim.

               A mulher agarrou no copo e ajudou o marido a beber. Mantinha uma expressão serena, mas logo se alterou quando a respiração do idoso se tornou mais pesada.

               -Está quase na hora. Obrigada por tudo.

               Sorriu para a mulher e direcionou o olhar para o lado. Sentiu o calor na palma da sua mão e sorriu de alívio. As suas rugas acompanharam a expressão, ficando ainda mais vincadas.

               -Maka, agora recordo-me… Obrigada

               A loira sorriu, sentia que podia ficar em paz. Depois de acompanhar toda a vida do seu amado, depois de o apoiar impercetivelmente em todas as fases boas e más e até mesmo no casamento… Sentia-se finalmente realizada. Tentou transmitir mais a partir da sua mão, mas só arrancou um sorriso mais forte a Soul, seguido de um barulho surdo contínuo proveniente da máquina que se encontrava no quarto.

               Tinha chegado a hora.

               Maka sentiu-se finalmente livre de tudo, podia finalmente descansar a sua alma ao lado do homem que sempre amou. Caminharam juntos para o destino pacífico no paraíso que os esperava.

~Fim


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Notas finais do capítulo

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