Diario De Apenas Mais Um Entre Bilhões escrita por Shimi


Capítulo 1
Capítulo unico




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Queria contar uma história que há muito tempo me perturba a mente, ela vem e não sai, ela adora invadir meus pensamentos, é uma história triste, mas ao mesmo tempo me mostrou o quanto nós somos importantes, o quanto cada pequena ação pode mudar a vida de um ser humano.

Nossa história começa a um tempo, em 1969 na época da ditadura militar e também da guerra fria, onde muitos protestantes lutaram contra a ditadura, alguns foram mortos, outros torturados, entre todas as pessoas mortas existiam uma família de mais ou menos 4 integrantes, todos foram mortos após serem cruelmente torturados, apenas um membro da família restou, ele era apenas um bebê, um pequeno ser que nem ao menos fazia idéia do que acontecia ao seu redor, a criança tinha 2 ou 3 anos de vida, talvez menos, ele era tão magro e desnutrido, pois antes mesmo de sua família morrer ele já sofria com a miséria em que vivia.

O garoto não tinha nome, muito menos identidade, ele era apenas mais um entre milhões, mas por que contar a história de alguém tão insignificante? Porque por mais insignificante que seja uma pessoa ela merece ao menos um pouco de consideração.

A criança viveu na medida, não era bem alimentado, estava apenas ali, jogado na rua, algumas pessoas paravam e olhavam, outras o alimentavam, em algumas ocasiões passavam reto sem ao menos olhar a pobre criança no chão frio da rua, onde militares passavam com suas armas sobre o ombro e prontos para atirar a qualquer momento.

O garoto foi crescendo, sem nome, sem identidade, sem ideologia, sem ter em mente o que ele era, ou onde ele estava, era apenas mais um perdido no mundo, sem estudo, analfabeto, sem emprego, sem casa, sem família, sem um lar, sem amor, sem carinho.

Quanto mais o tempo passava mais difícil ficava a vida do garoto, ele já havia chegado aos seus 18 anos quando resolveu se juntar para os militares, mas por que se juntar a eles? O garoto não sabia, apenas sentia que deveria fazer algo para tentar melhorar sua vida, mas sem estudo quem arranjaria trabalho?

Assim que chegou ao primeiro teste o general foi logo o repreendendo “que roupas são essas? Não quero que alguém com esses trapos entre para minha tropa, desista garoto, você nunca será um militar, ainda mais sem estudo como és, agora vá, não se iludas aqui, vá embora para nunca mais voltar” o rapaz apenas olhou para o general e assentiu se virando de costas e seguindo seu caminho.

Seguindo seu caminho, mas para onde ele iria? Não tinha casa, nem um familiar, ninguém para que pudesse pedir socorro, ele era excluído por todos, por onde passava as pessoas se afastavam, talvez pelo seu cheiro ou pelas roupas que usava.

Ele andava pela rua, olhando o céu azul até que foi barrado por um militar que o abordou da seguinte forma: “Qual o seu nome?” o militar apontou sua arma para o peito magro do rapaz, “eu não tenho nome” respondeu o garoto, “não zombe de mim garoto, o que pensa que sou?” o militar segurou o gatilho da arma e a apontou para o rosto, “não estou zombando meu senhor, eu apenas não tenho um nome, não tive o privilegio de receber um”, o militar riu “acha que sou idiota? Me responda agora ou atiro em você”, “Pois atire, eu estou dizendo a verdade, eu não tenho nome, não tenho identidade, sou apenas mais um entre milhões”, em questões de segundos o militar atira, o garoto cai no chão, seu sangue se espalha pelo chão formando uma mancha avermelhada sob os pés do militar e do corpo do rapaz.

O militar ficou ali, vendo o garoto agonizar em meio à multidão que se formou ao seu redor, “o que houve com ele?” quis saber uma mulher agoniada, “chamem os médicos” gritou um homem de cabelos pretos e um chapéu mais escuro ainda, rapidamente os médicos chegaram e o militar sumiu em meio à multidão.

O garoto foi levado rapidamente para o hospital, varias maquinas foram ligadas, algumas faziam “bips” estranhos, outros nem som vaziam, eram “bips” que iam diminuindo de freqüência pouco a pouco, “qual o diagnostico?” perguntou o medico entrando as presas na sala de cirurgia “parece que é uma hemorragia, o sangue está praticamente jorrando do corpo, uma transfusão de sangue é necessária” respondeu o enfermeiro, “não temos o suficiente para uma transfusão tão grande assim” comentou o medico colocando as luvas e a mascara “verei o que posso fazer nesse caso”.

O garoto tossiu, um pouco mais ciente do que antes, “ele está acordando” gritou o enfermeiro, “obrigado” sussurrou o garoto em uma voz quase inaudível, “como é?” perguntou o medico se aproximando para escutar o que o jovem dizia, “obrigado por serem as primeiras pessoas a cuidar de mim, agradeço de todo o meu coração, agora poderei ir em paz, sabendo que existem pessoas no mundo que dão suas vidas para salvar outras, agradeça ao militar também, se não fosse por ele eu não estaria aqui eu não teria encontrado as únicas pessoas que cuidaram de mim, muito obrigado” os olhos do garoto se fecharam e só se ouviu o ultimo “bip” feito pela maquina antes de seu coração parar de bater completamente.


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