A Lua e as Trevas escrita por Lara


Capítulo 4
Capítulo 04 – Promessa


Notas iniciais do capítulo

Olá! Aqui esta o presente de natal e ano novo atrasado de vocês. Peço desculpas pela demora, mas universidade não dava tempo para fazer absolutamente nada. Achei que este ia ser o último capítulo dessa fic, porém acabou não sendo, então teremos mais um capítulo! Boa leitura e por favor escrevam reviews! Até!



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“Mais uma vez eu estava naquele lugar. Nunca consegui me lembrar como ia parar ali, mas isso não importava mais. Esta seria a última vez. Aos poucos meus sentidos pareciam desaparecer junto com a minha própria existência. Sabia que estava flutuando, porém não mais sentia a água tocar na minha pele. Sempre amei essa sensação e fiquei um pouco triste quando compreendi que nunca mais a sentiria. A água havia se tornado uma parte de mim desde da época em que havia me tornado uma doll. Algo inseparável. Lágrimas frias começaram a sair dos meus olhos e deslizar pela pele. O inevitável se aproximava. Estendi a mão na direção da lua. Estava com medo. Este era o caminho que escolhi, mesmo assim estava com muito medo. Hei. Eu não queria morrer e abandoná-lo. Não queria, mas... Este era o único jeito de salvá-lo.”

Hei acabou acordando por causa do barulho do alarme do despertador que havia programado antes de cair no sono. Desligou o alarme e abaixou a tela do computador já se levantando da cadeira. Voltou o olhar para a cama e lá Yin permanecia adormecida. Arrumou melhor o cobertor que a cobria e a seguir saiu do quarto fechando a porta com cuidado sem fazer barulho. Com as mãos dentro dos bolsos da sua calça desceu a escada sem pressa e se dirigiu para a cozinha. Esperava que tivesse alguma coisa por ali, caso contrário teria que sair para comprar os mantimentos e para sua surpresa, quando a abriu a geladeira ela estava praticamente cheia.

– Vejo que a sua gula por comida não mudou em nada. - pego de surpresa fechou a porta da geladeira em um movimento rápido para depois lançar uma das suas facas na direção da pessoa atrás de si. O homem se defendeu colocando uma frigideira na frente de si fazendo com que a faca a perfurasse, mas permanecesse ali presa. – Eu esperava por um cumprimento mais caloroso, porém acho que isso foi esperar muito de você. – colocou a frigideira perfurada ao seu lado no chão e voltou a atenção o caderno de desenhos que segurava apoiado sobre o seu joelho. – Se bem que não posso dizer que estou surpreso.

– O que você esta fazendo aqui?! – Hei estranhamente parecia estar um pouco fora de si quando gritou as palavras frias para o recém-chegado. Para um homem tão racional e calculado, o moreno se portava como alguém completamente diferente, mais parecido com o que era no passado.

– Por que não se junta a mim? – o homem fez um gesto rápido em direção a cadeira a frente de si. – Você deve estar faminto. – sobre a mesa de jantar estava espalhado vários tipos de pratos que Hei só notou agora que observava a mesa. – Não se preocupe. Eu não mordo. – o jovem rapaz trincou os dentes com raiva e por fim se sentou na cadeira, contudo não pareceu interessado na comida a sua frente. Mantinha o olhar fixo no homem que ainda desenhava algo no caderno.

– Pensei que estivesse na América. – comentou Hei ainda desconfiado.

– E estava há algumas horas atrás. – fez uma pausa. – Imagine a minha surpresa quando descobri que alguém tinha desativado o sistema de segurança dessa casa usando uma senha. – brincava distraidamente com o lápis entre os seus dedos. – E minhas suspeitas foram esclarecidas assim que vi as imagens das câmeras de segurança. – fechou o caderno de desenho e sorriu para o moreno. – O filho pródigo finalmente retorna para casa. Por quê?

– Sabe... para alguém que um dia eu já considerei meu pai e respeitei, você esta sendo muito atrevido em achar que eu tenho alguma obrigação de responder qualquer pergunta que me faça depois de tudo o que aconteceu.

– E para um assassino você esta agindo de forma muito imprudente e descuidada, filho. – o jovem rapaz riu ironicamente apoiando o queixo sobre a mão.

– Oh... Esta se achando no direito de me criticar? – sua expressão facial se encontrava em completa escuridão e seus olhos lembravam os de uma fera prestes a cortar a garganta da sua presa. – Vá em frente, diga o que quiser e veja se eu dou a mínima para as palavras que saem dessa sua boca insignificante. – sorriu de forma maligna. – Ou por um acaso você se ilude achando que eu ainda me importo com você? Desculpe em destruir as suas esperanças, mas nada mudou desde a última vez em que nos vimos.

– Está errado. Tudo mudou. – disse o homem seriamente para o moreno. – Quando tempo você vai levar para entender, Li? Você não foi o único que sofreu dentro dessa família.

– Que família? Nós deixamos de ser uma no momento em que você e a mamãe decidiram nos abandonar...

– E você acha que aquilo foi fácil para nós? – interrompeu-o. – Abandona-los?

– Sim! Provavelmente a decisão mais fácil que já tomaram em toda a vida de vocês! – exclamou Hei fechando cada vez mais o punho da mão direita. – E por que ela não veio junto com você? Ela ficou com medo de me encarar novamente? Isso é patético, simplesmente patético. – antes que ele pudesse dizer mais qualquer outra coisa o homem se levantou da cadeira apenas o suficiente para dar uma bofetada forte no rosto de Hei, o qual ficou surpreso com tal ato.

– Não me importo que fale mal de mim, no entanto não vou permitir que fale desse jeito da sua mãe. Não perdoarei ninguém que diga algo de ruim dela nem mesmo se for você. – voltou a se sentar enquanto Hei o encarava ainda surpreso. Foi apenas neste instante que ele percebeu que havia algo de errado ali. Ao parar para analisar aquele homem a sua frente percebeu que ele tinha mudado. Mesmo que ainda não tivesse fios brancos os seus cabelos castanhos não mais pareciam tão vivos e brilhantes como eram antigamente. Seus olhos pareciam cansados como se enxergassem tudo, porém ao mesmo tempo não vissem nada. Estava mais magro e pálido. Tudo isso lhe era familiar. Era como se estivesse se olhando para si mesmo na época em que procurava desesperadamente pela sua irmã mais nova.

– O que aconteceu com ela? – o homem permaneceu em silêncio. – Pai?

– Ela morreu ao fazer um aborto.

– O quê?

– A gravidez foi algo que nem eu e nem ela tínhamos previsto. Foi inesperado. – distraidamente passou a mão pelo caderno. – Eu vi aquilo como um milagre. A última esperança de que tudo não estava perdido. Que nós ainda poderíamos ser uma família. Eu, ela, você, Xing e o novo membro da família. – respirou fundo. – Contudo... a sua mãe pensava de uma forma diferente e eu só descobri isso tarde demais. – abaixou a cabeça colocando a mão sobre os cabelos. – “Que direito tenho de ser mãe dessa criança se abandonei dois filhos meus?”, essas foram as suas últimas palavras enquanto chorava nos meus braços encharcada pelo próprio sangue. – levantou o rosto e encarou o filho. – Agora você entende o que eu quis dizer, filho?

– Eu... sinto muito. – o moreno virou o rosto para o outro lado sem saber exatamente como agir. – Eu não sabia.

– Como poderia saber? – riu o homem sem felicidade. – Você estava ocupado demais matando contratantes e limpando a sujeira daquela organização junto com a sua irmã. – as palavras ásperas do pai fizeram com que algo dentro dele, que já estava instável, se quebrasse.

– Não se atreva a falar da minha irmã desse jeito! – gritou com raiva. – O que diabos você sabe sobre nós?! Você tem ideia das coisas pelas quais nós passamos?! Das coisas que tivemos que fazer para sobreviver?! – seus olhos começaram a ficar vermelhos e brilhantes. – Eu odiava matar pessoas! A cada pessoa que matava mais eu me odiava a ponto de não conseguir me perdoar, porém eu aceitei isso com o passar do tempo. Palavras bonitas e sorrisos não vão salvar ninguém e não vão proteger ninguém, por isso eu precisei mudar. A única coisa que me importava era proteger Xing.

– Se era a única coisa com que se importava porque não conseguiu cumpri-la? – Hei queria emburrar a mesa para o lado violentamente para logo a seguir pressionar a cabeça daquele homem na parede, porém antes que pudesse se quer levantar alguém o fez se sentar novamente, empurrando-o para baixo ao pressionar os seus ombros.

– Não pode, Hei. – disse uma voz feminina sem emoção.

– Yin? Desde quando... – ela colocou as duas mãos sobre a boca dele, impedindo-o de continuar a falar.

– Não pode. – repetiu sem mudar o tom da voz. – Você não esta pensando com clareza. – o jovem rapaz tentou dizer alguma coisa mais tudo o que deu para ouvir foram sons sem sentido. – Sei que este homem disse coisas ruins para você, mas isso não é motivo para querer matá-lo. Afinal, ele é o seu pai. – os olhos azuis escuros dele se encontraram com os dela e eles permaneceram assim durantes alguns segundos até que Hei suspirou fundo fechando os olhos. Com gentileza segurou as mãos dela. – Se acalmou? – ele respondeu balançando a cabeça. – Que bom. – a seguir retirou as mãos de cima da boca dele.

– Oh, que inesperado! – o homem sorriu educadamente. – Quem diria que este meu filho teria tão bom gosto para mulheres? – Hei revirou os olhos fingindo não ter escutado o comentário. O homem se levantou e se encaminhou até Yin. – Muito prazer, princesa. – segurou uma das mãos dela e beijou as costas. – Lian Wang ao seu dispor. Posso presumir por este lindo anel no seu dedo que estou me dirigindo a minha nora?

– Muito prazer, Lian-san. – o homem afastou uma cadeira que ficava ao lado de Hei para que Yin pudesse se sentar e foi o que ela fez.

– Só Lian, por favor! Entre nós a formalidade é desnecessária. – sorriu alegremente enquanto voltava para o seu lugar. – Diga-me estão casados há muito tempo? – Hei suspirou colocando a mão sobre o rosto. Abriu a boca para esclarecer as coisas, porém Yin foi mais rápida que ele.

– Pouco tempo atrás estávamos em lua de mel em Okinawa. – ela disse sem muito interessante voltando a atenção para os alimentos em cima da mesa. Suas palavras surpreenderam tanto Hei como Lian.

– Okinawa? Por essa eu não esperava.

– Por quê? – perguntou Yin parecendo estar curiosa.

– Sempre achei que Li não era fã de praias.

– Fui eu quem pediu para ir para um lugar mais quente.

– Sério? – Lian sorriu parecendo estar se divertindo. - Fico feliz em saber que você exerce tamanha influência sobre ele.

– Pai! – Hei achou a atenção do homem. – Quer parar com essas suas brincadeiras sem graça? – a seguir se virou para a jovem mulher. - E por que você esta dando ouvidos a ele, Yin?

– Pensei que nós ainda estivéssemos sobre aquele disfarce. – respondeu sem alterar o tom de voz. Pegou uma uva do cacho e a comeu, mastigando com calma.

– Ué? Quer dizer então que vocês não são casados?

– Quem em sã consciência se casaria enquanto esta sendo perseguido por contratantes e humanos idiotas? – perguntou com raiva lançando um olhar frio na direção do pai. – Esquecendo esse assunto sem sentido, por que você veio até aqui? – os dois se encaravam mantendo os olhos fixos uns nos outros e ficaram desse jeito por um tempo parecendo ter uma conversa sem precisar fazer o uso de palavras. Lian foi o primeiro a desviar os olhos ao volta-los para a jovem mulher. Ele pegou o seu caderno e o abriu.

– Isso pode esperar. Coma o seu café-da-manhã. – e voltou a atenção para a folha em branco. Hei sabia que ele não falaria mais nada mesmo se insistisse no assunto e por essa razão preferiu escolher comer junto com Yin.

Permaneceram desse jeito por vários minutos dentro de um silêncio familiar até que o celular de Lian tocou e para atendê-lo ele se retirou da cozinha carregando com si o seu caderno de desenhos. Hei o acompanhou sair com o olhar. Quando ficaram apenas os dois sozinhos naquele ambiente, Hei se dirigiu a Yin a qual percebeu, com alivio, que ele havia voltado ao normal.

– Como você se sente, Yin? – ele fez a pergunta sem a encarar.

– Estou bem. – Yin olhou na direção do machucado do ombro dele. – E a sua ferida?

– Não se preocupe. Não é nada de mais. – assim que acabou de proferir essas palavras sentiu o toque dela sobre a atadura, surpreendendo-o.

– Hei. – falou quase em um sussurro. – Você tem consciência de que não é uma máquina, não tem? Sei melhor do que ninguém que você é muito mais forte do que vários humanos e contratantes, mas mesmo assim você é tão mortal quanto todos eles. – acariciou o machucado. – Você... pode morrer. – afastou a mão do ombro dele. – Por isso... não diga que os seus machucados não significam nada.

– Yin...

– Vou usar o meu espirito observador para ficar de vigia. – assim que terminou de dizer isso se levantou e saiu da cozinha segurando uma jarra cheia de água. Hei colocou o garfo que segurava sobre o prato vazio e cobriu o seu rosto com a sua mão. Seu rosto estava bem levemente corado. Às vezes ele se via perguntando quem na verdade estava sendo salvo ali. Soltou um longo suspiro afastando a mão do seu rosto para perceber que ainda também usava o anel no dedo. Ficou brincando de gira-lo no seu dedo distraidamente.

– “Que tal começar a ser honesto com ela e com si mesmo? Sobre os seus sentimentos.”

Ao relembrar as palavras da irmã, Hei parou de mexer no anel. Fazia tanto tempo desde a última vez que tinha parado para pensar nos próprios sentimentos que agora que fazia isso se sentia como um estranho tentando entender um outro estranho. A presença de seu pai apenas fez com que seu interior ficasse mais confuso e agitado do que já estava. Coisas que reprimia há anos voltaram a tona e se misturavam com as coisa do presente. Mesmo que não quisesse a sua mente insistia em fixar os seus pensamentos em torno da sua mãe. Ele realmente não esperava que as coisas fossem acabar desse jeito, apesar da indiferença que sentiu com relação aos seus pais durante todos esses anos. É verdade que ainda não os conseguia perdoar por terem abandonado Xing, porém no fundo desejou que eles tivessem uma boa vida mesmo que longe deles.

– Honestamente... eu era muito ingênuo naquela época. Não sabia de nada. – afastou a cadeira e se levantou. Começou a juntar os pratos vazios e os levou para a pia até deixar a mesa de jantar limpa. - Ainda sou. - abriu a água da torneira e começou a limpa-los.

Sentada dentro da sala de estar estava Yin no sofá com os pés descalços imersos em uma pequena bacia com água. A sensação refrescante e familiar a deixou mais calma e tranquila. Estava terminando de vasculhar a área quando seus pensamentos foram interrompidos com a chegada de Lian na sala.

– Você é uma doll, não é? – estaria mentindo se dissesse que não tinha percebido que ele já sabia quem ela era. Poucas pessoas não a viam como uma doll, apesar das características serem óbvias. Hei era uma delas, por razões peculiares, e Qin, por causa da sua falta de inteligência. – Conheci alguns como você, no entanto devo admitir que me sinto um pouco intrigado. – ele se aproximou da lareira apagada. – Seria errado da minha parte presumir que você é diferente de todos eles?

– Não.

– Foi o que pensei. – ele começou a observar os porta-retratos. – Sabe, quando eu soube que ele havia saído daquela organização pensei que o meu filho finalmente tinha aberto os olhos e compreendido o era a tal de organização para qual ele trabalhava. – fez uma pausa. – Contudo, essa ideia mudou a partir do momento em que te conheci. – virou-se para encará-la. – A organização esta atrás de você e não de Li, mas eu tenho certeza que vocês dois sabem disso melhor do que eu. Então, a verdadeira pergunta que eu queria fazer para você é: Qual é o seu objetivo?

– Nenhum.

– Não minta para mim. – soou como uma ordem, porém ela não ligou.

– Eu não estou mentindo. – manteve-se no mesmo tom monótono. – Dolls geralmente não pensam sobre o passado, presente ou futuro, apenas seguem as ordens dos seus donos. Eu era como qualquer outra doll. Seguia as regras e não pensava em mais nada. – mexeu os seus pés na água. – Isso mudou quando comecei a me importar com Hei. Nós éramos parceiros, porém isso não significa muito para ele. Sempre preferia fazer as coisas sozinho. – parou de falar por um instante. – Naquela época ele só tinha uma coisa em mente. Xing. Como nunca tive irmãos não posso dizer que sei como ele se sentia, mas eu tenho certeza de que ele daria qualquer coisa para tê-la de volta.

– Ele sempre teve um complexo de irmão forte. – pegou um dos retratos. – Às vezes parecia que ele agia mais como um pai do que eu com relação a Xing e ela o adorava mais do que qualquer coisa. – respirou fundo colocando a foto de volta para o seu lugar. – Diga-me você acha que as coisas teriam sido diferentes se ela ainda estivesse viva?

– Sim.

– Por quê?

– Porque ele e eu nunca teríamos nos conhecido.

– O que você pensa que esta fazendo? – a voz de Hei saiu fria e cortante. Ele se aproximava do sofá com uma expressão séria e sombria.

– Apenas falando sobre você. Coisas constrangedoras de preferência.

– Acredito que você tem assuntos mais importantes a resolver, não acha? – o moreno se abaixou para pegar os sapados pretos de Yin e a seguir colocou o seu braço livre em torno do corpo da jovem.

– Hei, os meus pés...

– Não me importo. – ele a interrompeu no mesmo instante que a puxou para perto de si, carregando-a com apenas um braço. Para evitar de cair, Yin colocou as suas mãos sobre o ombro dele e os seus pés molharam um pouco a calça de Hei. Logo depois ambos saíram da casa. Lian estava com um sorriso entre os lábios enquanto se apoiava na parede ao lado da lareira.

– Ele é tão fofo quando esta com ciúmes, não concorda, Chun? – ele olhava para a foto de uma bonita mulher de cabelos lisos negros e olhos azuis escuros que sorria enquanto segurava um bebê adormecido.

– Para onde nós estamos indo, Hei? – ele firmou mais o seu braço em volta de Yin.

– Você vai ver. – agora eles caminhavam dentro de uma floresta. O formato das árvores fazia a garota pensar nas árvores que usavam na época de Natal. Tingidas por um verde vivo que as fazia parecer mais vivas do que já eram. Quanto mais se adentravam, mais nitidamente ela conseguia escutar o barulho de água não muito longe dali. Em um piscar de olhos eles se encontravam de frente para um enorme lago azul cercado apenas por montanhas distantes e árvores verdes. A parte mais interessante é que o céu refletia-se sobre a superfície da água. – Preferia ter trago você aqui de noite, porém... Acho que não fará muito diferença já que não dá mais para ver as estrelas de verdade. – fez uma pausa. – Este era o meu lugar favorito desde a época em que eu era pequeno.

– Por causa das estrelas?

– Talvez... – levantou a cabeça em direção ao céu. - Eu não me lembro mais o fazia este lugar ser especial. – voltou os olhos na direção dela. – Existe algum lugar que seja especial para você?

– Especial? – Yin olhou para o céu pensando como deveria responder. Não demorou muito até a sua memória lhe trazer o que procurava. – Tem um lugar... Que me traz uma sensação de nostalgia. Sempre esta de noite onde a lua se encontra no ponto mais alto do céu negro, o chão nada mais é do que pura água e é cercado por várias flores de pétalas brancas quase prateadas. – fechou os olhos. – Sinto-me bem dentro desse lugar, no entanto ao mesmo tempo tenho medo.

– Por quê? – ela voltou a abrir os olhos.

– Porque eu não acho que esse lugar exista de verdade. – ele a observou por alguns segundos. Abaixou-se para colocar os sapatos sobre a grama. – Hei? – usando os dois braços a abraçou encostando a sua cabeça sobre o ombro dela.

– Posso ficar desse jeito por alguns instantes? – ao em vez de dizer alguma coisa ela colocou a sua mão sobre a cabeça dele e começou a acaricia-la com carinho. Nenhum dos dois soube disser ao certo por quanto tempo ficaram naquela posição. Tempo pareceu perder a sua importância. – Yin... Quando encontrarmos uma forma de fazer você voltar ao normal, o que pretende fazer?

– Como assim?

– Estou perguntando se você deseja ter uma vida normal. – a mão dela parou de acariciar os cabelos negros. – Uma vida de verdade. Sem mortes, sem ter fugir ou ficar com medo de perseguidores.

– Eu... não estou entendendo. – o moreno se afastou o suficiente para que pudessem se encarar. – Por que esta me perguntando isso?

– Eu já me decidi. – um vento forte passou por eles fazendo com que suas vestes e cabelos balançassem junto com a força do ar. – Vou destruir o Sindicato de uma vez por todas. – passou a mão pelos cabelos prateados dela. – É o único jeito.

– “Único jeito”? – quando a mão dele parou sobre o rosto dela, Hei se aproximou de Yin até que os seus lábios se encontrassem em um beijo inesperado, pelo menos para a garota. O novo contato entre os dois fez com que o interior de seus corpos se aquecesse de uma forma que nunca antes tinha ocorrido. Ela instintivamente colocou a sua mão sobre a dele e a segurou. Seus corações batiam mais acelerados e suas respirações estavam um pouco irregulares. Houve correspondência de ambos os lados. Da mesma forma que tudo pareceu começar do nada, o beijo terminou muito cedo. Só depois que suas bocas se separaram é que ela percebeu que necessitava de ar. – Hei... – ao chama-lo sua voz estava mais baixa que o normal. O jovem rapaz sorria de uma maneira tão especial que ela conseguia sentir o calor sobre as suas bochechas. Ele fez com que suas testas se encostassem.

– É uma promessa. – fez uma pausa. – Assim que terminar o que devo fazer eu voltarei.

– Eu não quero me separar de você. – ela segurou com as duas mãos o rosto dele.

– Eu sei, mas... – afastou a sua testa da dela. - Não tenho escolha. Isso é uma coisa que só eu posso fazer. – fez com que ela afastasse as mãos do seu rosto. – Desculpe, Yin.

– Não... – antes que ela pudesse terminar de falar ele beijou o topo da sua cabeça e usando o seu poder a fez adormecer em seus braços. Carregando-a entre os seus braços Hei começou a voltar pelo caminho que havia percorrido mais cedo deixando os sapatos dela para trás.

Antes de partir Hei conseguiu convencer o seu pai a ficar e cuidar de Yin até a hora que ele voltasse. Não gostava nenhum pouco daquele homem, porém sabia melhor do que ninguém que ele não era do tipo de pessoa que voltava atrás da sua palavra. Nisso os dois se pareciam muito. Já estava se dirigindo para a porta de entrada da casa quando se lembrou de algo importante.

– Pai, qual era o nome que você ia dar para o bebê? – Lian não conseguiu disfarçar a surpresa que sentiu. Não esperava que o filho fosse lhe trazer uma memória há muito tempo perdida.

– Ia ser uma garota. – suspirou com a cabeça levemente baixada. - Xiwang.

– “Esperança”. – o jovem sorriu com a mão sobre a maçaneta. – Escolha interessante. – abriu a porta. - Você ainda não me disse por que veio até aqui. – disse se virando para o pai.

– Eu te conto quando você voltar. – cruzou os braços. – Então, trate de voltar, entendeu?

– Sim, senhor.

No total era três escolhas que haviam dado para Hei decidir o destino de Yin. Entregá-la para a organização, matá-la ou ser o “freio” dela. Ele escolheu a quarta opção pensando não apenas no presente como também no futuro. Ia destruir o que havia restado da organização e junto eliminaria qualquer um que estivesse atrás de Yin, assim assegurando o futuro dela e depois encontraria uma forma de fazê-la voltar ao normal. Hei havia percebido que a outra parte de Yin só se manifestava quando estava perto de si ou quando sofria alguma ameaça exterior. Se a mantivesse em algum lugar isolado, longe de si tinha certeza que ganharia tempo suficiente para completar a sua tarefa antes do despertar de Izanami.

Quando entrou no aeroporto se deparou com um menino muito familiar. Moreno, cobrindo os cabelos com um boné verde, um curativo sobre o nariz, vestes simples, portava uma pequena bolsa lateral e usava chinelos. O doll daquele cachorro.

– Onde ela esta? – o menino demorou um pouco em responder, porém por fim ele começou a caminhar indo para a esquerda e Hei o seguiu. O contratante tinha a impressão de que aquele garoto possuía ressentimentos com relação a si, mas desconhecia completamente o motivo disso e também não se interessava em saber. Não demorou muito até encontrar a pessoa que estava procurando. A mulher possuía o cabelo raspado em um estilo militar, lábios tingidos por um batom cor roxo-claro assim como a cor das suas unhas, camisa pequena preta, tatuagem vermelha no ombro direito, luvas que não cobriam os dedos e calça marrom-claro. – O que você quer?

– Seguiu o meu conselho e matou aquela doll? – disse enquanto pintava as suas unhas.

– Não é da sua conta. – retrucou com frieza.

– Pelo visto não. – ela suspirou. – Vai voltar para o Japão?

– Tenho uns assuntos inacabados para resolver. Não entre no meu caminho. – deu as costas e começou a se afastar. Tanto a mulher quanto o menino o seguiram sem se importar que ele notasse. – O que pensa que esta fazendo?

– Meu cliente quer evitar o despertar daquela doll e você é o único que sabe onde ela esta, então vou lhe ajudar até o momento em que encontremos a doll. – fez uma pausa. – Só quero deixar uma coisa bem clara. Se ela acordar... eu não terei outra escolha a não ser matá-la.

– Faça como quiser.


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Notas finais do capítulo

1- 希望 (Xīwàng) – Esperança
2- Chun – Primavera



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