Bicolor Threat escrita por Luh


Capítulo 1
Fujo Novamente


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capítulo, espero que gostem!



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Quatro da tarde. O sol ainda brilhante acima de nós, como todas as tardes em Miami Beach. Cerca de quarenta, cinquenta, ou talvez até oitenta adolescentes estão ocupados na praia, seja procurando por gravetos e toras que não estejam completamente encharcados, como a maioria por ai, ou fazendo brincadeirinhas de mau-gosto, como jogar água em inocentes casais ou empurrar os despercebidos na água. Vários deles usam shorts e camisetas, mas é possível se ver essa ou outra garota de vestido. Talvez uns cinco, seis do total não estão fazendo nada, só sentados por ai de jeans, ouvindo música lendo um livro, conversando, coisas assim. Algumas caixas de fogos de artifício estão juntas num canto. Uma caminhonete chega, trazendo mais seis adolescentes na caçamba e um dirigindo... Ah, espere. O motorista está acompanhado de duas garotas, e acabou de chegar mais um de moto. Dez adolescentes. Uns noventa adolescentes na praia.

Nossa, é muita gente.

Os adolescentes recém-chegados traziam comida e bebida, e eu estava suspeitando de que todas as bebidas haviam sido batizadas. Eu devia ter trazido a minha câmera. Uma pilha de gravetos já havia sido feita, e cerca de três garotas e dois garotos estavam tentando fazer fogo.

De todos os colegiais por ali, eu estava no grupo dos do de jeans sentados na areia ouvindo música.

Era um bom início de filme de terror. Um grupo de pessoas organizando uma simples – ou não tão simples – festa de Ano-Novo na praia, na boa, sem nada com que se preocupar. No máximo, viria um policial nos mandar pra casa, provavelmente todos bêbados, com hálito de cigarro e ainda no efeito de alguma droga. Mas nesse ponto, já teriam contado uma história de terror ou coisa parecida. E a assombração da história ia começar a matar todo mundo. Fim.

Muitos filmes de terror fazem a sua cabeça pirar, e você começa a ter a sensação de que até seu pai é um monstro malígno que veio puxar seu pé a noite.

Alguma coisa bate na minha cabeça e cai do meu lado. Uma bola de vôlei. Uma garota de cabelos cor de mel foi até lá pegar a bola, mas, ao invés de voltar, ela olhou para mim, jogou a bola para os outros e sentou do meu lado. Seu nome é Jamile, e eu tenho uma paixão secreta por ela desde que eu cheguei aqui. Conversamos essa vez ou outra, mas nada além disso. Ela diz alguma coisa, mas eu não escuto por causa de Billie Joe Armstrong¹ berrando em meus ouvidos. Tirei os fones.

–Desculpe, o que? – disse. Ela riu da minha cara.

–Eu disse oi, cabeção.

–Pareceu muito longo para ser só um oi.

–Também perguntei o que estava ouvindo – ela pegou um dos fones – Hm. Green Day. Bom gosto musical.

Eu juro que se eu tivesse habilitação, nós íamos pra Las Vegas casar agora.

Oh, espere. Eu disse isso em voz alta. Ela riu.

–Você é uma graça. – disse e passou a mão pelos meus cabelos loiros mesclados de preto e ficou me olhando por um tempo. Depois me beijou.

Provavelmente, você já esteve numa situação em que ficou com "borboletas no estômago". Eu nunca tinha entendido essa sensação, mesmo quando eu já tive uma vez. Mas quando Jamile me beijou, achei que ai explodir em um milhão de borboletas que iriam destruir a cidade de tão animadas que elas estavam. Depois de um tempo, ela descolou os lábios dos meus. Eu ia dizer uma coisa muito inteligente - provavelmente "Hm" - mas um barulho enorme me nos fez parar tudo e mover a cabeça para o local de origem.

Oh, não.

Santa Atena. Por favor, não, não, não.

Para meu azar, só podia ser. Mais um monstro, mais um ataque, mais uma fuga.

E mais uma mudança.

Felizmente, Jamile saiu correndo até onde veio o barulho. Juro que ouvi um rugido ou coisa parecida. Levantei-me da areia o mais rápido que pude, correndo até onde havia deixado os meus coturnos, dando uma olhada rápida para trás: O monstro era só um lestrigão, mas estava fazendo um bom estrago. Me perguntei se sairia na televisão, e se meu pai veria isso. Se ele visse, eu estaria perdido. Peguei meus coturnos e corri até o mais rápido que pude até a parada de ônibus mais próxima. Tateei os bolsos até encontrar o dinheiro necessário, sempre olhando para os lados vendo se alguma coisa havia me seguido. Nada e nem ninguém.

Pelo menos é o que eu espero.

O ônibus chegou e eu subi, descalço, cheio de areia e ofegante. Quem me olhava torcia o nariz, como se eu fosse um mendigo ou sei lá o que. Ignorei os olhares e comecei a calçar os coturnos. Depois, me acomodei e olhei pela janela, controlando a respiração. Passei por diversos pontos até chegar perto da minha casa. Ainda tive de andar um bom pedaço. Um tempo depois, cheguei no meu prédio. Por algum motivo, andei no maior silêncio possivel e chamei o elevador. Até ai, tudo normal. Entrei no elevador com a músiquinha chata. Ainda normal. Depois, sai do elevador e fui abrir a porta da casa, e encontrei meu pai pirando.

A coisa mais normal da minha vida.

Assim que ele me viu, largou o telefone e me abraçou, murmurando "Que tipo de semideus consegue passar nove meses sem ser atacado por monstros?". A televisão estava ligada e falava sobre o que aconteceu na praia. Também notei algumas caixas espalhadas.

–Não - saí dos braços dele - Eu não saio daqui. Eu amo a Flórida, você não pode me tirar daqui.

Ele me deu um olhar triste.

–É para sua segurança.

Fiquei pasmo por um momento. Ele foi até uma estante e começou a tirar algumas fotos numa caixa.

–Então, é isso. Vamos fugir de novo.

Ele assentiu com a cabeça. Esvaziou a estante completamente e lacrou a caixa com fita adesiva. Depois passou para a cozinha.

–Se você quer a minha segurança - disse, seguindo ele até a cozinha, me deparando com um monte de pratos embalados - deveria me deixar ir para o Acampamento Meio Sangue. Onde eu devia estar!

Isso pareceu o abalar um pouco demais. Ele apertou um copo entre as mãos e me deu um olhar perigoso. Ele era bom nisso, mas eu muito sou corajoso... Ou muito louco.

–Já que eu sou um meio sangue. - cruzei os braços.

Legado– disse entre dentes - Já tivemos essa conversa meio milhão de vezes, e em todas elas eu lhe disse que você era um legado.

–Mesmo? Mas você não se relacionou com uma deusa? Uma deusa que você não faz nem questão de me dizer o nome?

–Vá arrumar as suas coisas.

–Você não respondeu minha pergunta.

Vá agora!

Sai pisando duro para o meu quarto, jogando minhas coisas aleatoriamente nas malas. Parecia idiotice fazer questão de me dizer um nome. Fechei as duas malas com meus pertences, levando as coisas para a sala. Meu pai passou por mim, mas eu dei o maior gelo nele. Era quase um ciclo: Ficávamos um tempo numa cidade, eu era atacado por um monstro, nós tínhamos que nos mudar, brigávamos, entrávamos no carro, tínhamos uma viagem silenciosa, e depois de um tempo, acordávamos pensando "Ei, vamos esquecer tudo e agir como antes!" e o ciclo recomeçava.

Alguns dizem que é entediante. Eu digo que é legal.

Terminamos de colocar as coisas na nossa caminhonete e colocamos os pés na estrada. Depois de horas de estrada - e Taylor Momsen nos meus ouvidos - decidimos parar o carro em algum lugar um pouco mais distante da estrada para dormir. Em parte, eu estava exausto. Em outra, estava me coçando para saber qual o nosso destino. Então, esperei ele dormir. Mas não consegui por muito tempo. Em cinco minutos cai no sono.

~

Acordei um pouco mais tarde. Meu pai ainda dormia no banco do motorista, e repentinamente me lembrei de que o nosso mapa no porta luvas. Abri um tanto que desesperado, e procurei o mapa. Em pouco tempo achei. Nele tinha uma linha traçada que levava até uma cidade chamada Hoboken, em Nova Jersey. Me vi encarando ele com uma cara de "Você está claramente tirando uma comigo". Mas, é claro, ele não notou, porque estava dormindo.

E então, fogos. Vários deles, brilhando no céu, em várias cores, formatos e tamanhos.

Se alguém perguntasse onde eu passei o Ano-Novo, eu poderia ter respondido "Em Miami Beach, e beijei uma garota linda e que gosta de Green Day". Mas não.

Eu passei a virada do ano no banco de um carro, no meio do nada, e a melhor coisa que eu poderia beijar seria o chão.


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Notas finais do capítulo

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