Notas Suicidas escrita por Pu_din


Capítulo 37
Anotação n°36


Notas iniciais do capítulo

UAL, vcs queria um capitulo grande né, ta aí ;D



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- Ei, Frank! Espere aí!
Somente quando me ouvi gritar que consegui ter noção do que estava fazendo. Foi como se finalmente eu estivesse acordado, e agora as imagens pareciam ter mais sentido: Frank petrificado junto ao muro, bem no fundo da rua sem saída, e eu fazendo de tudo para não deixá-lo escapar. Juro que não senti minhas pernas dispararem detrás do balcão para aquele lugar sombrio, muito menos senti minha boca abrir-se para formar essa frase tão ridícula.
- Me deixa passar, cara. Vá embora! – Iero aproximou-se de mim e tentou esquivar-se, mas eu o impedi com os ombros. – Ora, vai se ferrar!
Eu, como sempre, não conseguia falar nada racional o bastante para começar um bom diálogo. Na verdade, eu não conseguia falar nada.
- Gerard, porra! – Frank empurrou meus ombros para trás, e só não caí por sorte. E então eu revidei o empurrão com um ilustríssimo soco no estômago, muito bem dado. E depois eu sorri.
E depois eu percebi como minha imaginação é relativamente fértil.
É claro que eu não fiz merda nenhuma.
- O que é? Vai ficar aí, parado?! – Iero berrava de modo desvairado, e afundou-se aos poucos no breu do beco sem saída.
- Eu juro que não entendo isso... – murmurei com os olhos baixos, e não sei como o outro pôde ouvir. Eu agradeceria muito se Frank não ouvisse, porém ele conseguiu, e alucinou-se por completo.
- Como é?! Você não entende isso? Jura?! Eu é que não entendo isso, seu verme filho-da-mãe.
Levantei o olhar para Iero, e o que vi foi uma criança atormentada por algo que eu não conseguia entender de maneira alguma. Algo perturbador que parecia dilacerar todas suas vísceras, e pelo que percebi, eu era o culpado.
- “Oh, Frank! Minha mãe morreu! Minha querida mamãe morreu! Ah, Frank!” – com os dedos, Iero fazia aspas no ar, enquanto afinava a voz tentando ser o mais sarcástico possível. Tentando me imitar. – “Deve ser, não é, Frank? Seu pai morreu mesmo...”. Verme!
Dentre todas as minhas feridas - dentre todas elas - ele mexeu justo na que mais dói. Na que me queima por dentro e que nunca cicatriza.
Ele fez a escolha errada, e agora era a minha vez de alucinar.
Aproximei-me dele com passos firmes, sentindo as veias das têmporas pularem de um ódio senil. Os olhos de Frank tornavam-se cada vez mais desbotados à medida que eu chegava mais perto de seu corpo. Seu rosto estava marcado pelo suor e pelo medo repentino. Eu estava prestes a tornar-me um assassino.
Peguei-o pela gola de seu moletom e afastei seu maldito gorro negro do rosto. Frank tremia.
- O que você disse?
- Me solta, Gerard.
- O QUE VOCÊ DISSE, CRETINO?!
Ouvi um baque surdo no chão. Sua respiração roçava minha pele desesperadamente. Eu podia sentir seu coração bater fora do tempo, seu corpo se debater contra o meu, lutar pela vida que eu queria tirar. Suas unhas arranhavam minhas mãos até tirar sangue, todavia a última coisa que eu sentia era dor. Eu notava meus dedos apertar com deleite aquele pescoço frágil, e apertava com tal violência que sua tatuagem de escorpião franzia entre meu polegar e meu indicador. E prazer de verdade era ouvi-lo clamar pelo meu bom senso, coisa que, em mim, já não existia.
- P-por favor, Gerard. Me solta.
Senti sua vontade de viver desvanecer gradativamente, até perceber que aquele sussurro foi seu último fôlego de vida. Agora eu sentia um corpo inerte entre minhas duas mãos, meu sangue tingindo de leve suas bochechas aparentemente sem vida.
Eu matei o Frank.
EU MATEI O FRANK!
Desespero. Nunca ninguém gritou tão alto como eu, naquele fim de mundo. Minhas mãos, em vez de soltar o pescoço do outro, o apertavam mais forte, e humilhado pelo meu próprio descontrole, afundei meu rosto no peitoral do cadáver.
Cadáver?
- P-por favor, Gerard. Me solta.
Essa frase se repetia de modo torturante dentro do meu cérebro. Repetia, repetia, machucava. Acusava.
- Me solta...
Repetia tanto que comecei a tremer, a ouvir vozes.
- Pelo amor de Deus, Gerard! Me solta...
E então eu soltei. E ouvi uma inspiração perturbadora, sombria. E uma expiração. Inspiração. Expiração. Rápidas e acusadoras.
- Frank?
Depois de muito tempo encostado em seu peito é que tive coragem de olhar o cadáver de verdade.
Cadáver?
- Frank?! Frank!!!
Iero respirava descontroladamente, levando as mãos ao pescoço e gemendo. Vi horror em seu rosto. Um pânico vertiginoso que tomava conta de todas as suas feições.
Sentei-me ao seu lado e abanei minhas mãos acima de sua face, que já voltava à cor original.
- Me desculpe, Frank. Desculpa, por favor...
E foi aí que comecei a chorar. Chorei do jeito que não chorava desde a morte de Hayley, como se meu sangue descesse em vez de lágrimas. Senti vergonha, culpa e confusão potencializar meu choramingar, o descontrole e o medo afundando meu humor em trevas. Eu queria me matar. Eu sentia-me um verme.
Ainda deitado, Frank observava-me gemer mais confuso que eu. E com pesar, afundei minha face entre as mãos, e só pude ouvir meu pranto sair sem o meu comando.

Quando tive coragem de tirar o rosto das minhas palmas suadas e podres, Iero já havia ido embora.


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