Lá estava Potter cumprimentando uma garota da Lufa-lufa, eles se encontraram e começaram a se agarrar. Não queria ver isso, saí correndo, o mais longe possível deles. Me limitei a dar uma pequena olhada pra trás pra ver se ele tinha me visto, e pro meu desagrado ele estava me encarando. Não consegui decifrar seu rosto, estava correndo e foi uma olhada rápida. Não sabia pra onde iria. Só queria achar um lugar pra poder chorar em paz, sem ninguém me atrapalhar. Um lugar só pra mim. E nessa hora uma porta se abriu a minha frente.

Entrei, será que era? Não podia ser! Não era só um mito, a sala precisa realmente existia, e eu havia encontrado ela.

Ela estava com as paredes rosa claro, como no meu quarto no mundo trouxa. Tinha uma enorme cama com dossel, muito parecida com a minha da escola. Tinham vários travesseiros espalhados por ela, e um lencinho de papel na mesa de cabeceira.

Era um lugar bonito, e eu me sentia a vontade ali. Ela tinha o cheiro da minha mãe, que sempre me acalmava. Deitei-me na cama e desatei a chorar. Não sei se foi por horas ou por minutos. Me levantei e fui até uma pia ali perto. Molhei meu rosto e olhei pro lado. Havia uma penteadeira, com maquiagem, perfeita pra esconder o rosto de quem chorara. Passei, olhei pro meu rosto e constatei que estava bom. Tentei sorrir, mas não conseguia. Sempre que tentava, eu me lembrava do Potter se agarrando com aquela garota e a vontade de chorar voltava.

Depois de muito tempo saí da sala e vi que já era tarde, mas não estava com vontade de subir e me deparar com Potter, então saí e decidi visitar meu antigo amigo Hagrid, contar pra ele o que estava acontecendo e me distrair um pouco. Já era tarde, mas nem tanto. Era tarde o suficiente para eu ter que estar no salão comunal da Grifinória, mas não tanto pra Hagrid estar dormindo.

Quando estava chegando até a cabana dele ouvi, de dentro da floresta proibida um uivo. Parecido com o de um lobisomem, como o Remo. Olhei para o céu e vi, lá encima estava a lua cheia.

Mas porque os uivos estavam vindo da floresta? Eles deveriam estar vindo da casa dos gritos. Resolvi voltar. Se ele estiver na floresta eu estava correndo perigo. E sei que ele iria se sentir horrível se me atacasse sem querer. Estava dando meia volta quando o uivo veio bem de perto de mim. Olhei pra trás e lá estava ele. Corria em minha direção, me agachei, mas nessa hora algo saltou em direção ao lobisomem, o choque fez os dois caírem. E antes que qualquer um deles se levantarem um gigante cão se jogava contra o lobisomem, e junto com o cervo empurraram a fera aos poucos para um buraco no salgueiro lutador. Depois de um tempo eu ainda estava em choque, e desatei a chorar novamente. Nem sabia o porquê. Só sabia que em meio a tudo isso. O susto, o medo, a tristeza, eu desmaiei.

Quando acordei já era de manhã, olhei para os lados, estava na enfermaria. Na cama ao lado estava o Remo, dormindo, e do outro lado tinha uma pessoa com a cabeça apoiada em minha cama, segurando minhas mãos. E eu reconheceria aquela cabeleira negra e bagunçada em qualquer lugar. Era James Potter. Comecei a chorar novamente, e nessa hora ele se levantou. Tentei esconder minhas lágrimas, mas ele já havia visto elas.

- Lírio? – Depois disso chorei mais ainda, meu coração se apertara com a menção do meu antigo apelido – O que houve? Não chore, eu estou aqui.

 Sua voz continha certa tristeza, dava pra ver claramente que estava cansado e que sofria. Não poderia me entregar a ele, por mais que quisesse, limpei as lágrimas, me levantei e ele se levantou junto.

Olhei no fundo de seus olhos temerosos. Controlei-me pra não chorar e comecei a gritar:

- O QUE É ISSO POTTER? SE ESQUECEU DE QUANDO VOCÊ ME HUMILIOU? ME CHAMOU DE SANGUE RUIM NA FRENTE DE TODOS? CONFESSOU QUE EU ERA APENAS UM DESAFIO PRA VOCÊ? TÁ COM PROBLEMAS DE MEMÓRIA? – Já era tarde demais, uma lágrima escapuliu e outras a seguiram, estava vermelha de raiva, o coração apertado por vê-lo daquele jeito, triste e sofrendo, mas eu não o deixaria me fazer de boba, não de novo.

- Lily, eu... – ele disse isso com clara dor na voz. Vi que Remo acordara com a gritaria e nos olhava curioso. Potter deu meia volta e foi embora.

Me joguei na cama, as lágrimas insistindo em cair. Remo me olhava com pena e falou:

- Me desculpe por ontem. Não quero nem imaginar o que teria acontecido se James não tivesse lá. E sobre ele...

- Por favor, Remo, não se culpe! Sou grata ao Potter. Mas depois de tudo aquilo que fez comigo ele salva minha vida e vem me chamando de “Lírio” novamente? Desculpe, mas não posso cair na ladainha dele. Bem, vou embora, me arrumar pra aula e comer alguma coisa, tchau Remo.

Fui embora sem nem esperar um adeus dele. Queria tomar uma ducha relaxante, só isso.