Tudo Sobre Você escrita por LudmilaH


Capítulo 1
Tudo sobre você


Notas iniciais do capítulo

Galerinha, songfic oneshot com Tudo sobre você, da Zélia Duncan. Eu AMO essa música! Espero que gostem também, o link dela tá no desclaimer. Beeeeeeijos, vejo vocês lá embaixo ;)



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~Tudo sobre você

- Um idiota. – ela falou sozinha. – É o que ele é.

Era noite alta em Hogwarts. Todos os estudantes dormiam tranquilamente em suas casas, ou tão tranquilamente a situação permitia, com uma guerra açoitando os muros da escola e invadindo os sonhos de seus habitantes. Muitos diziam que não havia muita justificativa para que os monitores das casas, mesmo com a proteção reforçada, fizessem rondas durante toda a noite, mas não era bom se descuidar, diziam outros. A proteção não era muito, mas garantia que as crianças não perambulassem pelos corredores sozinhos a noite. Bom, nem sempre.

Lily Evans era monitora chefe da Grifinória. Tinha recebido a notícia pela carta que trazia a última lista de materiais para seu último ano letivo em Hogwarts. Nunca tivera ambição de se tornar monitora nem nada, muito menos monitora chefe, ela dizia. Mas na escola sempre houve rumores que seu passatempo preferido, desde o primeiro ano, era repreender as pessoas que faziam algo de errado. E, dessas pessoas, duas em especial que pareciam ter prazer em desrespeitar regras: James Potter e Sirius Black.

Potter era ainda um pouco mais maduro do que Black, ela pensara algumas vezes. O primeiro sabia pelo menos aonde ia o limite de suas “brincadeiras”, enquanto o outro o extravasava sem a menor culpa. Mas não podia estar elogiando Potter, ela se repreendia. Não havia garoto mais bruto, arrogante, machista, irritante, metido e chato em toda a Hogwarts! E também não havia outro que não a elogiasse tanto quanto ele fazia.

Lírio, era como ele costumava lhe chamar. Uma das flores mais bonitas da primavera, ele dizia, com aquele sorriso galante no rosto. “Só não mais bonitas do que seu sorriso”, completava. Ninguém parecia entender por que Lily bufava, jogando os longos cabelos vermelhos pra trás enquanto andava para longe dele, sem nem agradecer a cortesia. Mas ninguém entendia também, ela pensava, que por trás de toda essa gentileza, só havia uma intenção: conquistá-la e depois deixá-la, como fazia com tantas outras garotas o tempo todo.

Porém, algo a estava incomodando desde o último mês. James, desde que voltara a Hogwarts, só tentara cortejá-la uma única vez. Depois da óbvia recusa, ele passara a evitá-la repetidamente, chegando a ignorá-la quando passava ao seu lado. Marlene, sua melhor amiga, insistia que ele se cansara de receber ‘nãos’ e que enfim desistira de Lily. E questionava todas as vezes que a menina bufava pela falta de atenção do moreno por que afinal a ruiva estava tão chateada se era isso o que ela vivia suplicando-o desde o terceiro ano. E isso era o que mais frustrava Lily: ela não fazia idéia.

Passou por uma armadura no corredor para enfim chegar ao imenso quadro que tampava a entrada para o salão comunal da Grifinória. Tinha pensado em pegar mais um casaco, talvez aquela capa enorme que ganhara no Natal e que era realmente quente. O tempo ainda estava muito frio depois de uma semana das férias, e as madrugadas geralmente não se faziam exceção. Murmurou a senha para uma entediada Mulher Gorda e entrou na casa para pegar o casaco. Teria se dirigido diretamente ao dormitório feminino, se algo não tivesse esbarrado nela no momento em que o quadro se fechava às suas costas, ainda no buraco do retrato; aliás, talvez nem isso a teria detido se o “algo” não estivesse invisível.

Ela deu meia-volta e saiu novamente, seguindo o barulho dos passos que se afastavam. Estendeu a mão à sua frente e tocou em algo que tinha textura de fios de água. Puxou a mão em sua direção e não se espantou tanto quando uma figura alta com cabelos muito pretos e rebeldes surgiu de repente na sua frente.

- Ah, qual é, Evans... – ele gemeu, se virando. Ela franziu os lábios, batendo nervosamente o pé e segurando com firmeza a capa.

- Posso saber o que significa isso?

Ele olhou, indiferente.

- Uma capa de invisibilidade.

Ela estreitou os olhos.

- Sabe que isso é proibido, não sabe?

- O que, usar capas?

- Usar capas de invisibilidade, Potter.

Ele riu e colocou as mãos nos bolsos da calça, naquele trejeito que era tão seu.

- Não sei por que. É uma capa como qualquer outra.

- Outras capas não te deixam invisível.

- Não é uma pena? – ele soltou displicente, arrepiando os cabelos. “Como se eles precisassem de ajuda”, pensou Lily.

- Não brinque comigo, Potter. Sair da casa depois das dez está estritamente proibido, e você já devia saber. Ainda mais usando uma capa de invisibilidade.

Ele riu.

- Você tem que parar de ser tão certinha, Evans. – ele disse, enfatizando a palavra chegando mais perto da garota, que sentiu o rosto esquentar. Então voltou para a posição inicial. – Vai acabar perdendo o bom da vida.

Lily nem pareceu perceber que James havia lhe roubado a capa das mãos. Estivera ocupada condenando-se por saber que corara.

- Aproveitar a vida não significa sair ignorando regras, Potter.

- Nem segui-las tão rigorosamente, lírio. – ele lhe passou a mão pela face, e ela desviou. Ele riu.

- Vamos, está me enrolando. – ela disse, impaciente. – Tem que voltar pra cama, e...

Ela parou no instante em que se virou para o quadro. Sem perder James de vista – porque sabia que ele sumiria debaixo da capa assim que ela desviasse o olhar, notou que a Mulher Gorda não estava em seu quadro. Não teriam como entrar.

Lily deixou os ombros caírem, extremamente frustrada. Além de ter que aturar Potter, ainda teria que obrigá-lo a segui-la como um cachorrinho para que não o perdesse de vista. Olhou-o desconfiada enquanto ele encarava as próprias unhas com um tom entediado e confiscou novamente a capa que pendia em um dos braços.

- Ei! – ele protestou.

- Vai ter que vir comigo na ronda, então. – ela disse, simplesmente. – E é melhor que isto – ela levantou a capa, indicando-a. – esteja em segurança até podermos entrar.

James rolou os olhos, vendo Lily recomeçar a andar com energia e vendo-se obrigado a segui-la. Andaram por algum tempo, a menina verificando cada quina de corredor antes de virar, a varinha sempre em riste. Não fizera James apanhar a sua ainda porque não fazia idéia de que ele a trazia escondida no cós das calças e também porque era contra o regulamento usar magia nos corredores.

- Podemos fazer a ronda na torre de Astronomia, pelo menos? – ele perguntou, de repente. Lily parou para encará-lo.

- E por quê?

- Porque era pra onde eu estava indo quando vossa majestade me capturou.

- Eu não capturei ninguém! – ela protestou, ofendida.

- Não, imagine. Apenas me tirou de casa à meia-noite e me fez segui-la durante a ronda.

Lily corou, de raiva desta vez. Contraiu os lábios antes de responder.

- Ótimo, vamos à torre de Astronomia então.

James lhe devolveu um sorriso pequeno, que mais parecia deboche.

- Muito obrigado.

Eles caminharam por mais algum tempo, e a menina olhava o garoto de esguelha de vez em quando. Ele estava muito estranho. Nunca tinha agido com ela daquela maneira. O que teria acontecido afinal?

Quando chegaram à bendita torre, James se precipitou para a sacada e apoiou os cotovelos na grade. Fechou os olhos, sentindo o vento bater-lhe com força no rosto, jogando de um lado para o outro os fios já rebeldes de que ele tanto parecia se orgulhar. Lily contentou-se em apenas parar, encostada na parede de pedra, e observar a cena. Ele parecia cansado, talvez... apreensivo?

O silêncio na torre começou a incomodar a garota. Estar assim tão perto de James e senti-lo ao mesmo tempo tão distante era muito novo. Estava curiosa sobre seu novo comportamento, e Lily devia admitir, raramente deixava essa curiosidade passar despercebida quando ela aparecia.

- Por que quis vir aqui? – ela perguntou, e o garoto pareceu demorar um tempo para entender que a pergunta era destinada a ele.

- De que te interessa?

- Ora, por favor! Estou tentando apenas manter uma conversa civilizada com meu prisioneiro.

Ele riu, breve. Ela sorriu de volta. Não sabia por que diabos tinha resolvido ser gentil com ele, mas agora percebia o que era fato: ela sentia falta das malditas aporrinhações a que era submetida sempre que ele estava por perto. Sentia falta de sua atenção, de seus elogios, de seu jeito irritante de desarrumar os fios do cabelos muito preto enquanto ria. Porque ninguém mais parecia corajoso o suficiente para enfrentá-la com palavras doces.

- Gosto de vir aqui e olhar o céu. – ele respondeu finalmente. – E não sou o único, para falar a verdade. Já encontrei muita gente aqui. Inclusive...

- Inclusive...? – ela o incentivou.

- Inclusive Ranhoso, quando você o dispensou.

Lily corou imediatamente.

- Eu não sabia.

- É, eu sei. Ele nunca contaria pra ninguém que andara chorando, ainda mais se a pessoa por quem tivesse chorado tivesse nascido trouxa. É orgulhoso demais pra isso, e disso eu entendo.

Lily olhou para o menino que falava sem lhe encarar pouco envergonhada. Não sabia dizer ao certo por que, mas sentia agora um imenso vazio na mente quanto a seus amigos. O que mais ela não saberia sobre Severus, ou sobre Marlene?

- Tem feito mais garotos chorarem do que eu as garotas, Evans. – ele disse, e ela sentiu novamente o rosto esquentar.

- Não, não tenho!

- Tem sim. – ele garantiu com um sorriso de lado. – Creevey esses dias estava reclamando também, que você tinha lhe dado um tapa tão forte na cara que seus dedos iam ficar marcados pro resto do ano.

- Ele não deve ter lhe contado que tentou me agarrar, não é? – ela disse, com o rosto baixo e corado. Sentiu uma movimentação, sem ver realmente que James agora a olhava sério, ereto e ainda apoiado sobre a grade.

- Ele tentou agarrar você? – ela confirmou com a cabeça. – Eu vou matar aquele desgraçado!...

- Não, não vai – ela disse, correndo enérgica e agarrando seu braço. – Ou vou ser obrigada a te dar uma detenção.

- Eu aqui, defendendo você, e você me fala em detenção?!

- Sei me defender sozinha, Potter, muito obrigada! Tão bem que aquele tapa vai ficar marcado para o resto do ano, não é?

James encarou-a, e forçou a soltar o braço, descontente. Voltou a admirar o nada das nuvens carregadas quando se virou.

“Droga” a menina pensou, recostando-se novamente na parede, mas sem olhar o garoto. Levou a mão à boca, inconsciente, e já estava alcançando a primeira unha quando o ouviu dizer:

- Está estragando seus dentes assim, se quer saber.

Ela parou de chofre, sem entender.

- O que?

- Roer unhas. É péssimo para a formação da arcada dentária. Deixa os dentes pra frente, sem contar que enfraquece as unhas.

Ela franziu o cenho, ainda confusa.

- Onde foi que ouviu isso?

- Uns amigos de um tio são dentistas. Trouxas, você sabe. Me disseram isso quando eu comecei a roer as unhas na festa de aniversário desse meu tio.

Puxa, ela pensou. Quando imaginaria que os Potter teriam amigos trouxas?

- São pais da noiva do filho dele. – ele disse, como se tivesse lido a mente da menina.

Lily não respondeu.

- Como sabia que eu estava pensando nisso? – perguntou, tombando levemente a cabeça e brincando com a varinha entre os dedos. James sorriu.

- Simplesmente porque consigo adivinhar o que está pensando. – ela lhe lançou um olhar extremamente descrente. – Observo você desde o primeiro dia de aulas, conheço seu jeito.

Ela levantou uma sobrancelha, desafiadora.

- Duvido que me conheça realmente.

Ele a encarou.

- Duvida que eu conheça seus segredos?

- Façamos um teste então – ela propôs. - uma brincadeira. Vamos nos fazer perguntas rápidas, um de cada vez, e teremos que acertar. Caso você erre, voltamos imediatamente para a torre da Grifinória. Caso eu erre, você ganha um “erro bônus”. Que tal?

- Poder ser divertido – ele disse, sorrindo de lado, arrepiando os cabelos. Lily sorriu também.

Queria descobrir 
Em 24hs tudo que você adora
Tudo que te faz sorrir
E num fim de semana
Tudo que você mais ama
E no prazo de um mês
Tudo que você já fez
É tanta coisa que eu não sei
Não sei se eu saberia
Chegar até o final do dia sem você

Estavam sentados no chão pelo que parecia à menina uma eternidade. James não errara uma só pergunta, e ela tinha feito muitas sobre muitas coisas consideradas segredos de Estado. Ela por sua vez, conseguira acertar algumas das perguntas dele, mas acabara errando a maioria. Ele lhe falara as respostas certas depois, mas nada conseguira tirar aquele sorriso triunfante do rosto bonito dele. E ela se sentia cada vez mais irritada por se derreter cada vez mais com ele.

- Ah, não é possível! – ela disse, jogando a cabeça pra trás. – Eu só contei isso pra Marlene! E o salão estava vazio!

- Ah, eu não poderia estar debaixo da capa, poderia? – ele perguntou, sarcástico. Ela arregalou os olhos, estupefata. – Não, seria óbvio demais.

Ela corou e ele riu gostosamente.

- Muito bem, minha vez. Qual a cor dos meus olhos? – ele perguntou, fechando-os.

- Olhos castanhos – Lily começou. – Olhos castanhos irritantemente esverdeados que encantam as meninas dessa escola. Olhos de uma cor diferente, uma mistura das cores das folhas secas que caem no outono com a madeira dos troncos de suas árvores, olhos que... hipnotizam, que prendem, que...

Lily aparentemente perdeu a noção de que estivera falando com o dono dos olhos. Geralmente falava aquilo pra Marlene, ou Mary, quando ela perguntava. Com o garoto de olhos fechados, a menina perdeu o próprio olhar em muitos elementos do cenário enquanto falava, mas quando se voltou para James, percebeu que ele a encarava com um sorriso diferente. Um sorriso tão seu quanto a mania de despentear os cabelos e o jeito como enfiava as mãos nos bolsos das vestes e fazia aquele pose de dono do mundo. Parou de chofre com a descrição dos efeitos dos olhos de James Potter, pois agora sofria diretamente com eles. Perdeu-se por instantes ali. E não pode evitar pensar em como seria encará-los todos os dias, não com aversão ou tédio, mas como olhos amigos ou talvez até... Ela balançou a cabeça, convencida de que estava ficando louca, e desviou o olhar.

- Ok, minha vez.

- Eu não disse que estava certo.

- Está certo. – ela sentenciou. Ele riu. – Muito bem, vamos ver... Nossa, eu já perguntei tudo! Não vou perguntar qual a cor dos meus olhos, você vivia recitando isso para... – ela parou de repente e encarou o moreno de maneira profunda. – É, essa seria interessante. Por que se afastou?  

James retribuiu o olhar da mesma forma, parecendo meio surpreso.

- Isso não é sobre você.

- É sim. – ela devolveu, rápida.

Ele pareceu pensar um pouco.

- Sabe, - começou. – depois de 519 ‘nãos’, tem gente que desiste.

Lily deixou os ombros caírem. “Droga!” pensou. “Marlene tinha razão...”

- Não foram 519.

- Não, - ele respondeu, sorrindo. – foram 520.

Ela corou.

- N-não foram tantos assim...

- Em cinco anos? – ele perguntou, ainda sorrindo. – Tem certeza de que disse ‘não’ pra mim menos que quinhentas vezes?

Ela não respondeu. Tinha certeza de que o número devia ser próximo a isso mesmo. Um silêncio meio incômodo encheu a torre. Não tinha como ela dizer se aquilo estava certo ou errado, não tinha como julgar aquela resposta. Mas não conseguira se refrear...

- Bem – ela disse, tentando quebrar a tensão. – descobri muitas coisas sobre você hoje...

Ele riu, arrepiando os cabelos.

- Verdade. – assentiu.

- Sua fruta preferida é amora...

- Desde o cinco anos de idade.

- Aprendeu a voar numa vassoura sozinho...

- Meus joelhos sabem como penei pra isso.

- Conheceu Black no Expresso de Hogwarts...

- Você devia saber desta, estava lá!

- Gosta de admirar a lua quando está nervoso...

- Normalmente com você.

- Já saiu com todas as meninas do nosso ano...

- Ei, eu não perguntei isso!

- Não é preciso ser um gênio pra saber. – ela respondeu, sorrindo de lado. – Continuando, ahm... Ah, sim! Você já limpou a caixa de Madame Nor-r-ra sete vezes como detenção, teve participação nas brincadeiras de Pirraça nada menos do que DEZ vezes – ela disse, em tom indignado e ele riu. – e vai seguir carreira de auror quando sair daqui.

- Se Merlin assim permitir. – ele levantou as mãos aos céus, teatralmente. – Bom, já acabamos? Deve estar amanhecendo...

- Ah, claro, é, tenho que levar você de volta... – ela disse, o rosto baixo tentando esconder uma possível frustração. “Idiota” recitou mais uma vez, mas desta, se referia a si mesma. Surpreendeu-se quando levantou o rosto e percebeu que o menino ria.

- Me sinto a donzela indefesa.

Ela riu gostosamente, balançando negativamente a cabeça.

- Sirius vai saber disso. – ele corou enquanto ela ria. - Vamos logo.

Andaram em silêncio e sem se encarar pelos corredores, sem perceber que cada qual trazia seu pequeno sorriso. A monitora ainda verificava cada esquina antes de virá-la, e não permitia que James tomasse a dianteira em nenhuma circunstância.

- Bom, está entregue. – ela disse, parando em frente ao quadro da Mulher Gorda, que dormia.

James se aproximou, cavalheiresco, colocou uma das mãos nas costas e se abaixou para beijar a mão de Lily, que riu.

- Madame

- Monsieur – ela respondeu, abaixando-se teatralmente.

Eles riram, ele murmurou a senha para a Mulher Gorda, que acordou assustada, e desapareceu pelo buraco.

Lily ainda pensou muito sobre aquela noite antes que fosse ao salão pegar suas coisas para o primeiro horário. E por uma estranha razão, ou talvez nem tão estranha, não conseguira parar de sorrir.

E até saber de cor
No fim desse semestre
O que mais te apetece
O que te cai melhor
Enfim eu saberia
365 noites bastariam
Pra me explicar por que
Como isso foi acontecer
Não sei se eu saberia
Chegar até o final do dia sem você

James sentou-se à mesa da Grifinória naquela tarde conversando animadamente com Sirius e Remus, Peter vinha mais atrás, verificando outra vez seus erros no dever recém devolvido de Poções. Tinha as sobrancelhas muito juntas e, quem o via, não diria que tinha tirado uma boa nota.

- Ah, finalmente o almoço! – disse Sirius, sentando-se e servindo-se de um pedaço generoso do frango assado que se anunciava de longe pelo cheiro.

James não tinha contado a ninguém sobre duas ou três noites atrás, quando ficara preso para fora da casa com Lily Evans obrigando-o a segui-la pela ronda, e nem que, desde então, voltara à noite à torre de Astronomia e a garota o surpreendera, mas não lhe dera nenhuma detenção. Em vez disso, deu uma desculpa qualquer sobre querer uma conversa que não abrangesse garotos nem poções permanentes para unhas como as que costumava ter com Marlene, e sentou-se com ele para conversar. As duas ou três noites em que isso acontecera, eles tinham voltado juntos para o salão, e ela entrara também, dizendo que fora recomendação de Dumbledore que eles não virassem mais todas as noites, e sim revezassem entre os monitores essa tarefa.

O garoto sentou-se também à mesa, entre Sirius e Remus, como sempre. Peter guardara seu dever e parecia ter se esquecido dele quando olhou, desejoso para o prato de rosbife bem na sua frente. Logo, um grupo risonho de garotas grifinórias entrou no salão: uma morena bonita de olhos muito azuis e uniforme provocantemente colado ao corpo; uma moça de belíssimos olhos castanhos claros e o cabelo amarrado graciosamente em duas tranças caídas aos ombros; e uma ruiva de olhos intensamente verdes que abraçava dois livros grossos junto ao corpo e trazia um frasquinho de poção incolor numa mão. As três andaram até o trecho da mesa onde se encontravam os quatro Marotos e Marlene se curvou para dar um selinho em Sirius do outro lado da mesa; Dorcas acenou alegremente para Remus, que corou; Lily apenas sentou-se colocando os livros sobre a mesa ao lado do prato que escolhera e começou a se servir. Marlene olhou de Dorcas para ela, como se tentasse entender o ininteligível.

- Não vai nos arrastar para outro canto da mesa para ficar longe do alcance desses “babacas estúpidos e sem escrúpulos”?

Lily riu antes de responder, sem encarar as amigas.

- Pra quê, o frango assado está bem aqui... – e olhou de esguelha para James, que sorriu pelo canto da boca.

O almoço foi agitado. Os sete conversavam animadamente ao tempo em que a longa mesa se esvaziava aos poucos. Depois de uma piada particularmente engraçada de Remus, quando ele corou fortemente com a risada que Dorcas dera, ela e Marlene se retiraram a pretexto de recolher alguns materiais para a próxima aula, de Aritmancia. Lily porém, permaneceu sentada, sem dar uma explicação concreta, mas dizendo a elas que não lhe esperassem. Assim, as duas, olhando-se desconfiadas e cheias de risinhos, desapareceram pela grande porta de carvalho em direção à torre da Grifinória.

- Sabe, Potter, - começou Lily assim que as meninas sumiram de vista. – estive pensando muito sobre a nossa conversa de alguns dias atrás...

“Conversa de dias atrás?” perguntou Sirius para Remus às costas de James, por leitura labial. Remus, sorrindo de lado, balançou os ombros e os dois voltaram para a mesa.

- ...e estive pensando se vocês já têm planos para sábado, afinal, vai ter passeio em Hogsmeade.

- Bom, na verdade... – começou Peter, ainda concentrado em sua cocha de frango. Mas parou imediatamente com o chute que Remus lhe dera por baixo da mesa.

- Na verdade, estávamos totalmente livres, Lily. – Remus completou, sorrindo. Lily devolveu o sorriso e Peter olhou bravo e sem entender para o amigo, esfregando a canela dolorida.

- Bom, então... bem... – Lily se enrolou um pouco com as palavras, encarando a mesa. – estive pensando que talvez 520 ‘nãos’ me façam desistir, mas... – ela continuou, sem ver que o sorriso de James ficava maior a cada palavra. - ...mas pensei que talvez pudesse sobreviver a um primeiro. – ela fez uma pausa. Sirius olhava de boca aberta para ela, aparentemente sem acreditar. – James, você quer ir a Hogsmeade comigo?

- É claro que quer! – disse Remus, rapidamente.

- Por que ainda pergunta? – perguntou Peter, de boca cheia, enquanto Sirius se ajoelhava no chão entoando “Aleluia!”.

- Esperem aí um momento. – pediu James, atraindo atenção. – Por que estão decidindo por mim?

Todos ficaram estáticos por um momento, sem acreditar mais uma vez. Por que o mundo afinal resolvera virar de ponta cabeça?

- Espere aí, você está falando sério?

- É tudo o que você propõe a ela há cinco anos, por que não aceitaria?

- Aceita logo antes que ela mude de idéia!

Ninguém pareceu perceber que o sorriso esperançoso de Lily estava desaparecendo gradualmente. Será que ia realmente receber um ‘não’?

- Bom, Lily – James começou, sorrindo. – como ainda estamos no meio da semana, vou ficar devendo a resposta enquanto penso, ok? – ele sorriu agradável e pegou a mochila sob a mesa. – Meninos, – ele meneou a cabeça. – senhorita... – ele repetiu o gesto, sorrindo para ela.

Lily ficou por alguns segundos, tão sem reação quanto os outros três. Mas então, pareceu despertar de repente e levantou-se num sobressalto.

- James! – gritou. – Ah, com licença, meninos, JAMES! – ela pegou a bolsa sob a mesa, sorriu rapidamente para eles e saiu correndo atrás do garoto que arrepiava os cabelos muito pretos e rebeldes mais a frente. – James, qual é? Não vai aceitar? Volte aqui! JAMES!  

Por vários minutos os três garotos ainda à mesa encararam a saída do salão como palco da cena mais bizarra de que já tinham participado. Lily Evans correndo atrás de James Potter, que recusara a dar uma resposta definitiva sobre um convite dela para sair. Quando Remus finalmente virou o rosto e seu olhar encontrou o de Sirius, os dois começaram imediatamente a rir. Depuseram os talheres, ainda rindo, e pegaram as mochilas sob a mesa.

- Ela ainda vai dar trabalho pro Pontas...

- Ah, não acho que vá dar mais trabalho do que ele... – respondeu Remus, ainda rindo. Peter olhava abobalhado para os dois, com uma última garfada a meio caminho da boca.

- Esperem, alguém aqui está entendendo alguma coisa? – perguntou, sem consciência do garfo que ele mantinha no ar.

Sirius passou por ele, bagunçando-lhe os cabelos, e ele e Remus se dirigiram para a saída. Peter olhou atordoado para os dois por um instante antes de deixar a colher com um estalo no prato, pegar a mochila também e sair desembestado atrás dos amigos.

- Esperem, gente! O que foi afinal que aconteceu aqui? Por que está todo mundo louco? Voltem, por favor...

Por que em tão pouco tempo
Faz tanto tempo que eu te queria...

~Fim.


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Notas finais do capítulo

Ains, eu gostei dessa história. Ri horrores escrevendo :p E vocês, o que acharam? Comentem, please!!
Beijocas! ;D
Luddy