São poucas as pessoas que podem definir a palavra dor em toda sua força, provavelmente eu sou uma delas. Você vive uma vidinha normal, equilibrada, sem altos nem baixos, apenas a mesma linha reta, sempre. E então, vindo sabe-se lá de onde, das profundezas de qual Inferno, ele surge e desestabiliza tudo o que você tinha.

Sua pele fria e branca, sua voz sedosa mesmo nas horas mais rudes, e o muro que você havia construído começa a ruir, sua proteção já não existe mais, você não mais quer que ela exista. A inconstância de seus olhos assim como de seu humor lhe fascina, a linha tênue de sua razão evapora, pura e simplesmente. Você o deseja, você o quer. Você o ama!

São lábios macios em uma pele de mármore, veneno com o gosto do mais puro mel, é amor com cheiro de morte. Cheiro da sua morte! Tê-lo ao teu lado já não é o bastante, você quer mais, você o quer dentro de si, você o quer por toda a eternidade. Mas você não o tem.

Ele se foi, cansou de você e seus atos idiotas, cansou de sua insignificância, de sua mortalidade. Ele se foi e não te deixou nada, nem mesmo as memórias estão ao teu lado, foram momentos felizes que você não quer mais lembrar, agora é só o vácuo, pra sempre!

Existe um lugar vazio ao teu lado, um buraco a ser preenchido em teu peito, uma nuvem cinzenta sobre teus olhos, um pesadelo contínuo em teus sonhos. Existe a não-presença dele em todos os lugares para onde você olha, então você não quer mais olhar. Até mesmo o espelho zombas de ti, e daquilo no que tu te transformou, mas tu não te importas, não mais, tu respira, e apenas isso.

Foram derramadas mais lágrimas do que eu jamais poderei contar, foi perdido muito além do que é possível imaginar, foi sentido muito mais do que eu poderia desejar. Mas eu acho que ainda tenho esperança, como masoquista que sou, de que um dia ele possa voltar, e talvez, apenas talvez, seja por isso que ainda continuo aqui, viva, respirando...

Porque é isso que ele esperava de mim, que eu continuasse a respirar.