Com o arrependimento se multiplicando a cada passo, seguia em frente desejando me tornar invisível e poder voltar sem ser notado. A luz forte do sol que batia na cobertura do colégio me dava náuseas, meu estômago se revirava e a gravata do uniforme parecia se apertar mais a cada segundo, como uma cobra que aperta sua presa até destroncá-la para então se alimentar.

Segurava uma pequena caixa branca com laços azuis que parecia pesar uma tonelada a mais conforme eu me aproximava. Meu coração começou a falhar batidas e então eu parei. Ajeitei meu uniforme e, olhando para os sapatos, comecei o discurso que eu havia preparado por anos.

- Shi-shiroyama-san! – Disse dividido entre a vontade de isso acabar logo e o desejo de que ele nem ao menos me ouvisse, ainda mirando meus sapatos. Vi seus pés se moverem de forma a entender que ele me olhava.

Ouvi um “hum?” baixo em resposta e comecei a tremer. Estendi os braços em sua direção, oferecendo-lhe a caixinha. “Pra mim?” Foi o que sua voz rouca disse baixinho. Pegou o presente sem ao menos tocar em minhas mãos, o que era bom porque eu tinha certeza que estavam geladas. Todo o sangue se concentrava agora em meu rosto.  Levantei minimamente a cabeça e o vi desfazer os laços, abrindo a caixa com certa confusão estampada em seu rosto.

-Eu...Eu mesmo o fiz e... – Me calei quando vi seus lábios se abrirem. Meu coração já havia parado há um bom tempo.

- Você fez isso? – Murmurei um “sim” em resposta sem a certeza de que minha voz realmente tivesse saído. – Pra mim? – Balancei a cabeça, afirmando. – E por que, hm?

- Eu.. Shiroyama-san, eu fiz isso como um presente. – Ainda havia confusão em seu rosto. -  Já faz algum tempo que eu queria te dizer isso. E-eu.. – Lembrei-me de respirar. –Na verdade eu decidi fazer isso agora porque a formatura já está próxima e hoje é o último dia de aula e eu realmente não me sentiria bem me arrependendo por não ter feito isso hoje. – Disse rápido em um fôlego. Suspirei, brincando com a barra do colete azul escuro que usava. – Eu não espero reciprocidade, mas fico feliz se ao menos te dizer que... – Era possível ouvir meu coração bater agora e me assustava a ideia de ser visível sob meu peito de tão forte que eram essas batidas. – Que... Que eu gosto de você. É, eu realmente gosto de você, Shiroyama-san. D-desculpe.  Estou indo embora.

Quando me virei segurando as lágrimas de nervosismo, ouvi sua voz um pouco mais alta que antes. “Volte.” Meu coração parou e foi automático virar. Encontrei o pequeno bolo que eu mesmo havia feito, com enfeites e um coração feito de chocolate em sua mão.

- Você está dizendo que gosta de mim? – Perguntou de forma retórica. Pelo menos eu esperava que fosse. Se aproximou. – Parece estar muito bom, mesmo. – Disse sorrindo, e automaticamente um tímido sorriso brotou em meus lábios. Com a esperança preenchendo meu peito, acenei com a cabeça. – Dá até vontade de comê-lo agora mesmo... – Aproximou o doce de seu rosto dando um passo a frente. Deu outro passo e tudo o que separava nossos rostos era o presente que eu havia lhe dado há pouco. – Pena que... – Meu coração parou. E então disparou. “Não acredito”, pensei. “O que eu faço agora? Por quê?” Já não conseguia pensar em mais nada, falar ou sentir qualquer coisa que seja. Queria morrer e apenas isso. O moreno havia jogado o bolo. No meu rosto. Sentia a massa caindo por minha face, minha roupa e ouvia o barulho dela caindo ao chão. – Pena que eu não quero virar essa droga de lixo como você. – Se virou e, como se nada tivesse acontecido, foi embora andando de forma calma com as mãos no bolso.

Eu só conseguia chorar, e foi o que eu fiz pelas próximas longas semanas.