Julie e os Fantasmas - Segunda Temporada escrita por Alice e Cecília


Capítulo 10
O fantasma


Notas iniciais do capítulo

Escrito por Alice.



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Ao ver Nicolas tocando a SUA guitarra, com Martim, Félix e Julie, Daniel sentiu-se trocado. Como se finalmente ele tivesse conseguido o que queria. Finalmente, a transformação estava completa. Nicolas, tinha tomado seu lugar. Na banda, como amigo de Martim e Félix. E o principal, havia tomado sua Julie. Ah, sua preciosa Julie.

Ficou invisível para todos, e Julie pensou que era tudo alucinação de sua cabeça. Andou até Nicolas, calado e ficou a fitá-lo. Tocando com sua banda, a sua música, na sua guitarra. Ele tocava bem, e cantava também. Julie sorria, dançando com ele. Ela o preferia. Como sempre preferia. Daniel, era só mais um mero fantasma para Julie. Para Julie, para seus amigos, para Bia. Agora, ele não era ninguém, nem para seus próprios amigos. Aqueles que amava, aqueles que consideravam que realmente o conheciam por dentro. Não de um jeito superficial, daqueles como Larissa olhava para Julie. Ou que pelo menos julgavam o conhecer. Aqueles que sempre confiou, para tudo e para todos, haviam o traído.

A pessoa que ele mais amava no mundo não retribuía seu amor. Seus melhores amigos, ou pelo menos ex-melhores amigos, haviam trocado-o, por um panaca que namorava a amiga deles. Até Bia, que tinha uma certa intimidade com ele, não o entendia mais. Nem ao menos Pedrinho, que sempre considerara os fantasmas como irmãos mais velhos, compreendia Daniel. Ele estava sozinho no mundo. Ninguém sabia que ele era, e havia esquecido de sua existência. Ou ao menos não lhe davam a atenção que precisava.

De que adiantava ficar morando ali, naquele lugar em que ninguém o notava? Decidiu-se então. A fazer a coisa certa. Respirou fundo, apesar de seus pulmões não estarem mais ali, e chegou mais perto, encarando Nicolas com toda a raiva e determinação que aparentavam em sua face.

Ficou visível para todos, inclusive para ele, que pareceu muito surpreso ao vê-lo, pois já fazia tempo que temia aquela imagem. Ainda mais agora, que não havia se importado com seu aviso de ficar longe de Julie, pois tocava seus lábios com carinho praticamente todos os dias.

Antes que Julie pudesse dizer ou fazer algo, Daniel juntou todas as forças que nele restavam, e o socou o mais forte possível no rosto. Nicolas caiu para trás sangrando e Daniel pegou sua guitarra, presa ao seu corpo no chão. Martim e Félix correram até Nicolas para saber se ele estava bem.

Foi a gota d'água. Martim e Félix mal olhavam para ele. Só se importavam seu amigo machucado. Julie não tinha reação nenhuma. Ela nunca esperava que Daniel seria capaz de fazer uma coisa daquela. Ele sempre e irritou com Nicolas, mas ela nunca poderia imaginar que ele socaria sua cara, se encontrasse ele com sua guitarra. Talvez fosse demais para ele. Talvez não estivesse aguentando tanta pressão. Desde que Julie começou a namorar Nicolas, ele já se mostrava meio apreensivo, mas sua atitude, ainda sim era muito inesperada.

Daniel estava determinado a deixar tudo para trás. Ir e nunca mais voltar. Era um passo que se realizado, seria sem volta. Um ponto sem retorno.

Abriu a porta da edícula com raiva, e saiu por ela, levando apenas sua amada guitarra consigo. Julie saiu atrás dele chamando por seu nome. Daniel continuou andando sem se virar ou falar nada

– Daniel. – Julie conseguiu alcançá-lo e tocou seu ombro. – Daniel, por favor, fala comigo! – conseguiu virá-lo, forçando-o a olhar para ela.

– Falar o quê? Desculpa por atrapalhar o seu pequeno showzinho com o seu namoradinho babaquinha. – gritou irônico e parou de andar.

– Não! – Julie atingiu seu tom de voz, gritando também. – Eu quero saber o que está acontecendo com você. Está alterado, irônico, arrogante. Mais do que o habitual. – Voltou a falar normalmente. – Por favor, Daniel. Eu me importo com você. – colocou a mão em seu rosto.

– Não se importa nada! Você só quer voltar correndo para o seu namoradinho.

– Não, Daniel. Eu quero ser sua amiga. Eu ainda me preocupo com você. Nada mudou. Eu apenas troco saliva com um mané algumas vezes. Só isso. – colocou a mão na cabeça, em silêncio. Algumas lágrimas rolaram por seu rosto. – Eu devia ter te beijado aquele dia no balanço. Tudo estaria mais fácil.

– Julie. – Daniel abraçou-a, se acalmando. – Eu... Eu sinto muito. Por tudo.

– Para onde você está indo? – Julie perguntou, soltando-se de seus braços.

– Embora. – respondeu ele.

– Embora? Como assim? Daniel, pelo amor de Deus, não me diz que vai fazer uma besteira. – enxugou as lágrimas do rosto.

– Julie, eu não aguento mais. Eu não posso mais ficar naquela casa.

– Por causa do Nicolas? – perguntou ela, ainda meio chorosa. – Se for por causa dele, eu termino com ele, se você quiser.

– Você o faria? Terminaria com ele para eu voltar?

– Tudo o que fosse preciso. Eu faço qualquer coisa. O que você quer?

– Eu quero que você seja feliz. – respondeu ele e saiu andando pela rua.

– Daniel! Daniel! – chamou por seu nome. – Espera! Aonde você vai?

Daniel ignorou-a e ficou invisível. Apenas dava para ver uma guitarra voando, até que ela sumiu da vista do horizonte. Julie resmungou sozinha e derramou mais algumas lágrimas. Lembrou-se de Nicolas. Ah, Nicolas. Não devia estar entendendo nada. Já se não bastasse o Patrick, ela teria que revelar seu segredo a ele também?

Voltou para casa, e encontrou Martim e Félix, na edícula com Nicolas, com um pano no nariz, estancando o sangramento. Parecia estar confuso. Na verdade, todos estavam. Seria uma noite em claro para todos. Julie sorriu e sentou ao seu lado.

– Nicolas. – ela segurou sua mão, pegando o pano que nela continha. Começou a limpar o sangue de seu rosto, cuidadosamente.

– Julie. – Nicolas segurou sua mão, virando-se para ela. – Você... viu também?

– O quê?

– O fantasma. Você também pode vê-lo? – perguntou ele.

– Nicolas. Eu não só posso ver esse fantasma, como eu posso ver outros também. Três, para ser exata. Um baixista, um baterista e um guitarrista. Um guitarrista muito ciumento, por sinal. Chamado Daniel. E um chamado Martim, e o outro chamado Félix. – Nicolas olhava fixamente em seus olhos, como uma pessoa que acaba de descobrir que sua namorada vê fantasmas.

– Julie, para de brincadeira. Me fala a verdade. – Nicolas tentou sorrir.

– É sério, cara. Nós somos fantasmas. – Martim se levantou, pegou o baixo e começou a tocar invisível.

Julie sentia dó de Nicolas. Ele estava tão confuso quanto ela, quando três caras pularam de um cd velho, há aproximadamente um ano.

– Julie... – Nicolas afastou-se dela. – Eu tenho que ir. – saiu pela porta, e foi até sua casa correndo.

Ficaram os três lá parados, confusos sem entender nada. Sem Nicolas,sem Daniel, sem razão. Naquele momento Julie daria tudo. Absolutamente tudo, para saber onde Daniel estava naquela hora, que ao mesmo tempo, em um lugar muito distante, pensava nela.


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Notas finais do capítulo

No próximo episódio:
Daniel encontrará alguém do passado...