Going Back In Time Party escrita por Rennan Oliveira


Capítulo 5
Batidas Na Porta




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O iPod tocava algum clássico aleatório da Broadway, uma canção melosa sobre amor e desilusão, e Rachel, deitada em sua cama, a cabeça apoiada na mão, divagava. Não viajava na canção por dois motivos: o primeiro era que já ouvira aquela música vezes demais, então já a conhecia de cor e salteado, não tinha mais o que pensar a respeito, e o segundo era que pensava em outras coisas. A música servia de trilha sonora apenas, plano de fundo, nada mais. A mente de Rachel estava ocupada com pensamentos mais importantes do que reflexões sobre composições clássicas do teatro.

Em seu quarto, sozinha – seus pais trabalhavam em algum almoço especial na cozinha, um alimento cujo aroma conseguia subir as escadas e chegar até aquele cômodo -, Rachel pensava em sua volta a Lima. Nunca imaginara que a sensação de voltar à sua terra natal fosse ser tão diferente. Na verdade, em todos os momentos em que pensou em voltar para lá, pensava na cidade com carinho, e imaginava que seria a melhor de todas as suas felicidades estar ali. Por algum motivo, nenhuma dessas suposições era real. Estava tudo acontecendo ao contrário.

Quer dizer, quando que Rachel pensou que Finn a procuraria assim que voltassem a Lima? Nunca. Até aquele instante, ela supusera que o rapaz se esquecera completamente de sua existência e não sem motivo, já que, em todos os anos em que estudaram juntos, foi possível perceber que o namoro dos dois não era lá muito fácil. Nem o casamento que planejaram deu certo. No final, foi como se o casal Finchel jamais devesse existir. Rachel amava demais Finn, mas até parecia que as circunstâncias não os deixavam se unir.

Porém, agora era claro para ela pensar que talvez ele quisesse algo com ela, afinal, não fora ele quem ligara? Quinn também ligara, mas talvez ela estivesse querendo apenas saber das novidades e conversar um pouco sobre o que vivenciara até aquele dia. Agora, se Finn havia decidido gastar seu tempo agarrando um telefone e discando o telefone de Rachel, algum motivo tinha. O rapaz não era tão sentimental quanto pregava ser, e Rachel sabia que, quando queria, ele podia ser bem superficial. Se decidira ligar, havia algo importante que ele queria dizer. Ou apenas tivesse achado uma boa ideia conversar com sua antiga ex-noiva.

Será que ele está casado?, deparou-se pensando enquanto o shuffle escolhia a próxima música. Foram seis anos desde a última vez em que nos vimos e nos falamos, tempo suficiente para muita coisa acontecer. Talvez ele tenha alguém. Talvez tenha pensado em ligar apenas para saber se eu tinha chegado bem de viagem.

Talvez ele tenha ligado para todo mundo também, e não só para mim.

Rachel jogou-se no amontoado de travesseiros às suas costas e suspirou. Muitas vezes, achava que pensar cansava mais do que atuar em uma peça de teatro inteira, por mais duradoura que fosse.

Alguém bateu suavemente na porta e obrigou que a garota se levantasse. As batidas foram suaves e deram a entender que não pertenciam a nenhum dos pais, que costumavam ser mais chamativos do que aquilo, e isso para não mencionar que não estavam habituados a bater na porta antes de entrar.

Só podia ser uma visita. Finn?

- Pode entrar – Rachel disse, ajeitando-se em sua cama. E foi então que a porta se abriu.

Não passara pela cabeça de Kurt ligar para Rachel a avisá-la que estava indo fazer uma visita, nem mesmo para verificar se ela estava mesmo na cidade. Essa era uma formalidade que os dois, depois de se tornarem tão amigos, haviam deixado de lado. Fazia tempo desde que eles não se viam ou se falavam, mas ele sentia que tudo continuava o mesmo. Ele só precisava pedir permissão para entrar na casa, pois o caminho para o quarto da amiga ele ainda se lembrava.

E foi por isso que houveram batidas na porta de Rachel antes de alguém entrar.

Kurt entrou sorrateiramente, procurando sorrir. Rachel não conseguiu se conter de tanta animação e, nem mesmo meio segundo depois, levantou-se de sua cama num pulo e agarrou o amigo num abraço.

- Achei que nunca mais fosse te ver! – ela falou, a voz, que era sempre afinada, desafinando ao pronunciar a frase, engasgada pela emoção.

- Sempre achei que você fosse mais positiva do que isso – Kurt falou, sorrindo verdadeiramente. – Eu estava pensando em te fazer uma visita desde a semana passada...

- Eu penso em você todo dia! – Rachel interrompeu, eufórica.

- Eu também.

Desprenderam-se do abraço e sentaram-se os dois na cama. Rachel ergueu as mãos à frente, cobrando as do rapaz, que não hesitou em concedê-las, segurando as da moça com carinho.

- Tanta coisa deve ter acontecido durante esse tempo – ela disse.

- Muita. Seis anos afastados e parece que foi ontem que nos vimos pela última vez. – Kurt ergueu um polegar e limpou uma lágrima no rosto de Rachel. – Você se tornou a protagonista da Broadway mais desejada e premiada de todos os tempos?

- Ainda não – Rachel respondeu, revirando os olhos. – Leva-se tempo com isso, mas pelo menos estou no coral de um musical sobre a Branca de Neve.

- Mas isso é maravilhoso! É um excelente começo!

- Mas diga você o que tem feito.

- Por incrível que pareça, estou tentando a carreira de escritor. Recebi muitos nãos de algumas editoras, mas sinto que logo mais a minha oportunidade vai chegar.

- Você escreve tão bem quanto canta, Kurt. Tenho certeza de que vai conseguir o que quer.

- Todos nós vamos.

Houve uma pausa considerável antes de Kurt dizer:

- Eu quero o Blaine de volta.

- Como é que é? – Rachel indagou, surpresa. – Mas eu pensei que vocês estivessem juntos!

- Seria perfeito, não seria? Mas não estamos juntos. Na verdade, eu o encontrei ontem no aeroporto, por ironia do destino, e descobri que ele já tem alguém. – Kurt franziu o beiço, reflexivo. – Ouvir isso da boca dele foi como uma apunhalada forte no peito. Só então eu percebi o quanto ele faz falta.

- Vocês nasceram um para o outro, como puderam se separar?

- O destino obriga grandes amantes a seguirem caminhos diferentes, Rachel. Você devia saber disso.

Rachel fechou os olhos com força, saboreando as palavras. Refletiu um pouco sobre o que ouviu e só então voltou a abri-los.

- Eu também quero o Finn de volta, mas... – ela começou a dizer.

- Mas...? – Kurt cobrou.

- E se ele estiver com alguém?

- Duvido que esteja. Não são muitas as mulheres e os gays que topariam sair com um homem daquele tamanho e que ainda serve as forças armadas. Mulheres querem um homem para toda a vida, não alguém que podem perder a qualquer momento numa batalha.

- Você acha que Finn poderia morrer a qualquer momento numa batalha?

- Não. Ele é um homem forte e tem determinação. Mas isso é algo que só eu e você sabemos, mais ninguém. Tenho certeza de que ele está sozinho.

- Eu não tenho.

- Como não?

- Não sei bem dizer.

Kurt apertou os olhos, confuso.

- Não vá me dizer que...?

- O quê?

- Rachel, você está escondendo a verdadeira razão por trás desse pessimismo, dá pra ver no seu rosto! Não quer me dizer a verdade, antes que eu tenha que te obrigar usando argumentações que virão no ritmo de Out Tonight?

- Tenho medo de ser rejeitada.

- Eu sabia!

- Não me julgue, Kurt! Tenho meus motivos.

- Quais?

- Ele pode não ter superado a nossa última conversa.

- Ele me pareceu bem compreensivo.

- Todos sabemos fingir sentimentos, Kurt, até porque tivemos aula de atuação no Glee Club. Eu o conheço bem o suficiente para dizer que me aceitar partir não deve ter sido uma coisa fácil. Eu devo tê-lo magoado demais, mesmo que essa nunca tenha sido a minha intenção.

- Você está sendo paranoica.

- O que eu posso fazer?

- Se eu soubesse responder essa sua pergunta, eu certamente que não teria vindo até aqui, batido na porta do seu quarto e chorado sobre o Blaine.

- Estamos sofrendo problemas parecidos.

- Realmente estamos.

Em sincronia, Rachel e Kurt caíram na cama, deitados. Fitaram o teto, que agora estava pintado de cor-de-rosa, e permaneceram em silêncio durante alguns minutos. Foi Rachel quem voltou a falar primeiro:

- Sabe, Kurt, que quando eu tinha aquela idade naquela época, eu pensava que sabia de tudo. Hoje em dia, percebo que não sei nem a metade das coisas da vida. Novas experiências vão surgindo a cada dia e eu percebo que nunca vamos deixar de adquiri-las enquanto não pararmos de errar.

- Você acha que erramos quando fizemos nossas escolhas há seis anos?

- Essa é uma pergunta que não sei responder, muito embora, para mim, tudo tenha parecido tão certo. Por que pareço tão arrependida agora?

- A julgar por como estou me sentindo, deve ser porque acabamos de aprender mais uma lição: só damos valor a algo quando o perdemos.

- Você acha?

- Tenho quase certeza. O Blaine nunca me pareceu tão importante quanto ontem, no aeroporto. Juro que me senti a pior pessoa do mundo por não tê-lo beijado ali, naquele momento.

- Você devia ter feito isso.

- Não sou tão canalha assim.

Rachel fez uma pausa.

- Eu sou – disse por fim.

E os dois riram.

- O Finn me ligou ontem.

- Isso é um bom sinal.

- A Quinn também ligou e, pelo que parece, por volta do mesmo horário.

- Você acha que...?

- Eu não acho nada, Kurt. Só achei estranho que ela tenha me ligado. Sempre achei que não fôssemos amigas de verdade, muito embora agíssemos como tais de vez em quando.

- Vocês enganavam bem.

- Vou ligar para ela, Kurt. Estou curiosa para ouvir o que ela tem pra falar.

- Faça isso.

E Rachel fez.


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Notas finais do capítulo

Galera, tem sido muito legal trocar ideia com vocês através de reviews, muito obrigado!