One Melody, One Memory escrita por Saáh


Capítulo 1
One Melody, One Memory


Notas iniciais do capítulo

Olá amoras de my life..
Minha primeira one shot, então espero que tenha ficado bom..
Espero que tenha conseguido escrever de uma forma clara o que minha imaginação louca queria ;)
Beijoos e boa leitura



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– Maldição! - exclamei jogando os papéis em cima da mesa e me afundei mais na cadeira. Parecia que aquilo nunca iria acabar.

Esfreguei meus olhos para tentar espantar o sono e com um longo suspiro voltei a prestar atenção no que fazia. Já passavam duas horas do horário que deveria ter ido embora do serviço mas mesmo assim, por causa de um erro que nem era meu, continuava ali tentando deixar tudo em ordem. O turno da noite já havia começado e os poucos funcionários me cumprimentaram quando passaram pela sala.

Uma hora depois os papéis corretos eram colocados em cima da mesa do meu chefe. Sorri pensando que talvez recebesse um aumento por isso, mas logo meu sorriso morreu lembrando o muquirana que ele era. Definitivamente eu precisava de outro emprego.

Peguei minha blusa de frio na cadeira, o celular e as chaves do armário aonde estavam minhas coisas. Apaguei as luzes da sala e sai fechando a porta atrás de mim. Enquanto andava pelos corredores vazios com o som dos meus saltos ecoando, imaginava como seria ver meu chefe se desdobrando para fazer o meu serviço enquanto eu passava o dia no facebook combinando sobre as próximas festas com os meus amigos. Sorri imaginando a cena mas suspirei quando a realidade de que isso nunca aconteceria me atingiu mais uma vez. Quem sabe se ele por acidente morresse eu pegava seu lugar. Uma risada fraca acabou escapando por meus lábios mas quando entrei no último corredor, dei de cara com dois homens parados no caminho.

– E olha só o que o vento nos trouxe.

Meu sorriso sumiu enquanto sentia um frio subindo pela minha espinha. Eles não pareciam ninguém que eu conhecesse, muito menos um funcionário da empresa. Um usava roupas pretas e um pano, também preto que cobria parte de seu rosto, deixando somente os olhos claros à mostra. Sua postura era séria, enquanto o outro, mais alto e também usando roupas pretas, parecia totalmente relaxado. Em seu rosto estava somente um óculos escuro enquanto um sorriso debochado se espalhava pelos lábios finos. O que mais me assustou foi a forma como os dois pareciam esperar por mim. Em um reflexo súbito, dei um passo para trás.

–Não faria isso se fosse você. - o mais alto falou novamente enquanto os dois levantavam os braços com armas nas mãos, que até então eu não havia reparado, e apontavam para mim.

Engoli seco e fiquei paralisada enquanto ele se aproximava.

– Incrível como elas sempre têm a mesma reação. - Ele riu e senti a proximidade quando sua respiração bateu em meu pescoço. Por um momento tive a velha lembrança de já ter escutado essa voz antes, mas tudo se foi depois que senti minhas pernas bambearem quando a arma que ele segurava passou pelos meus cabelos. - Não vai dizer nada minha linda? - Fechei os olhos com força tentando provar a mim mesma que isso era só um pesadelo mas sua voz mais alta me assustou fazendo com que olhasse para ele, percebendo que havia retirado os óculos escuros. - Não gosto quando não me respondem. Se fosse você, não tentava me irritar.

Pensei ter escutado uma risada baixa do outro homem mais fiquei perdida enquanto encarava os olhos negros muito próximos de mim.

– O que ..você quer? - minha voz soou fraca até para os meus próprios ouvidos. Ele revirou os olhos.

– Essas perguntas são retóricas, cansei de respondê-las. Vamos indo que você irá descobrir por si mesma.

Ele deu um leve empurrão com a arma em minhas costas e comecei a andar me aproximando mais do outro homem. Ele já virava para nos acompanhar quando o que estava atrás de mim colocou as mãos em meus ombros fazendo com que eu parasse de andar.

– Espere. - o outro parou com um olhar confuso. - Que tipo de ladrões nos seríamos se não revistarmos ela antes Vengeance? - ele falou irônico.

O outro encostou na parede olhando para nós dois e podia jurar que ele estava sorrindo por debaixo daquele pano. A blusa de frio que eu segurava foi arrancada de minhas mãos e jogada em um canto do chão.

– Coloque as mãos acima da cabeça, por favor.

A educação dele chegava a ser espantosa considerando o que diziam que estavam fazendo. Mas logo esse pensamento foi substituído por ódio quando senti ele apalpando minhas canelas.

– Belos sapatos.

Suas mãos foram subindo enquanto ele, parado atrás de mim, parecia se divertir com o que fazia. Senti quando ele apertou mais forte minhas coxas e logo em seguida suas mãos estavam em minha bunda. Enquanto ele demorava parecendo mais aproveitar o momento do que revistar alguma coisa, tentava me controlar para não acertar um soco em sua cara. Meu celular e as chaves do armário e de algumas outras salas foram retiradas do meu bolso, assim como meu crachá. Ele jogou todos os itens para o outro que ainda estava encostado na parede nos observando.

– Vire-se.

Fiz o que ele pedia e seus olhos ficaram cravados nos meus enquanto suas mãos passavam pelo meu braço que ainda estava levantado, e iam descendo até o meu pescoço. Quando ele parou em meus seios não consegui me segurar e abaixei o braço, em um movimento que pareceu surpreendê-lo, e dei um tapa em sua mão. A expressão de surpresa logo foi substituída pela raiva.

– Não faria mais isso se fosse você - Ele disse segurando meu queixo com força enquanto me encarava profundamente. Quando me soltou, suas mãos puxaram meu braço com força para cima novamente, e ao invés de irem para onde estavam antes, senti seus dedos em minha barriga. Ele apertou minha cintura por um tempo enquanto aproximava seu rosto e sussurrava em meu ouvido.

– Magrinha você, não? Eu gosto disso.

Fechei os olhos pedindo para que isso acabasse logo quando senti que suas mãos desciam em direção a minha calça, quando outra voz ecoou pelo corredor.

– Syn seu puto, porque toda essa demora?

– Que pena. Acho que minha diversão acabou - Ele disse com uma voz de pesar e se afastou olhando para quem havia chegado.

Virei meu corpo e encontrei um cara mais alto que o tal Syn, porém mais magro. Mesmo assim, o jeito de todos eles ainda me intimidava.

– Achamos algo interessante Rev.

O outro não estava com o rosto coberto então consegui ver quando seu olhar me analisou e um sorriso surgiu em seus lábios. Achei que já havia visto esse sorriso antes mas quando viu que eu o encarava sua expressão ficou séria.

– Vamos logo.

Syn me empurrou com a arma e tropecei um pouco quando voltei a caminhar. Andei logo atrás de Rev enquanto os outros dois seguiam atrás de mim. Meus saltos eram a única coisa que podia ser escutada e a forma como eles eram totalmente silenciosos em seus movimentos me fez ficar apreensiva.

Tomamos um rumo diferente descendo pelo elevador e indo pelo corredor que levava aonde ficavam as máquinas da empresa. Senti uma batida descompassada quando passamos pelas portas e vi todos os funcionários que passaram por mim antes, ali, presos por correntes e algemas no chão. Eles me encararam atordoados e engoli seco olhando para o lado e vendo outros dois caras.

– Olha o que achamos Shadows! - Syn falou passando por mim com uma voz extremamente animada.

Percebi que ele falava com o outro cara, tão alto como ele e o tal Rev. Esse usava um óculos escuro e um pano no rosto que tornava impossível ver qualquer detalhe. O outro, mais baixo de todos, também usava um pano no rosto mas seus olhos me encaravam. Percebi então que além deles, todos os funcionários eram homens. Eu era a única mulher presente e eles pareciam apreciar muito isso.

– Sarah Campbell - Olhei para o lado e Vengeance havia retirado o pano de seu rosto. - Departamento pessoal - Ele falou analisando meu crachá - Acho que conseguimos alguém que está mais próximo do que queremos.

– J. Christ você não disse que não havia mais nenhum funcionário? - Shadows disse encarando o mais baixo.

– Acho que não vi ela - Ele falou enquanto coçava a cabeça.

Shadows balançou a cabeça e Syn abriu a boca para dizer algo mais foi interrompido por um gesto de Shadows que fez com que todos eles se aproximassem um dos outros. Enquanto eles conversavam olhei para os funcionários e os olhos do que parecia ser o mais velho deles estava em mim também. Não falava muito com nenhum deles, mas sentia a necessidade de ajuda-los.

Olhei para o grupo de ladrões e pela primeira vez reparei, com a luz mais clara, que era possível ver várias tatuagens em todos eles. Como não pareciam prestar tanta atenção em mim, voltei meu olhar para os funcionários novamente e o mesmo cara de antes fez um gesto indicando alguma coisa perto de mim. Olhando melhor para onde ele indicava, percebi uma caixa velha de papelão. Dentro dela estavam os crachás de todos eles, assim como os celulares. Por cima deles consegui ver que meu celular também fazia parte. Mais uma olhada rápida para os ladrões e dei um passo disfarçado para o lado me aproximando mais da caixa e tentando fazer o mínimo de barulho possível. Mais dois passos e eu estava pronta para me abaixar um pouco e pegar o celular quando meu braço foi puxado bruscamente.

– Eu não faria isso se..

– Se fosse eu. Eu sei. Vocês sempre falam isso é? - Perguntei frustrada a Shadows mas logo me calei quando percebi que havia falado demais. Ele pareceu me encarar por um tempo através dos óculos escuros e senti seu aperto em meu braço mais forte quando me puxou andando para aonde os outros estavam.

– Deixem eles longe daqueles celulares. E fiquem de olhos abertos ou vão ser vocês quem vão levar um tiro - Shadows disse com uma voz grossa que fez com que eu me encolhesse mais.

Ele voltou a andar me arrastando junto e pareceu ler a confusão em meu rosto.

– Você vem comigo.

– Mas.. - uma olhada em minha direção e foi o bastante para que eu me calasse.

Caminhamos pelos corredores novamente e comecei a reparar que todos eles pareciam saber muito bem por onde iam. Nas primeiras semanas que passei por ali, tive que parar várias vezes para pedir orientações de onde ficavam as salas. Os corredores eram extremamente confusos e ligados uns aos outros, fazendo com que qualquer um se perdesse facilmente. Mesmo com as plaquinhas de orientação era difícil saber se estava indo pelo rumo certo, principalmente para alguém que estava ali pela primeira vez.

Minhas suspeitas só aumentaram quando entramos no elevador e paramos justamente no andar onde eu estava antes. Aonde as informações mais importantes da empresa se encontravam.

– Cadê as chaves? - Shadows perguntou soltando meu braço e parando ao lado da porta da sala do meu chefe.

– Estão com vocês. Lembra? - Falei irônica. Já não estava mais conseguindo controlar minhas emoções.

Me surpreendi quando escutei uma risada de trovão vindo dele. Eu conhecia aquela risada. O som logo foi abafado pelo barulho do ombro de Shadows indo de encontro com o canto da porta. Mais uma vez que ele repetiu o movimento e um estralo alto ecoou enquanto a porta era aberta com alguns estilhaços voando. Ele entrou na sala e eu fiquei parada ao lado de fora. Decidi que era melhor ficar quieta, já que seus olhos pareciam estar sempre em mim. Ele foi até a mesa e estourou a tranca da última gaveta, revirando alguns papéis e logo em seguida retirando uma chave que guardou rapidamente em um dos bolsos. Vi quando antes de sair ele olhou em cima da mesa. Provavelmente estava vendo o trabalho que eu havia ficado até tarde terminando. Se não fosse por isso...

Suspirei e senti seu olhar carregado sobre mim. Ele saiu da sala e voltou a andar com passos largos pelo corredor.

–Vamos.

Shadows não olhou para trás para ver se eu o acompanhava, mas suspeitei que meus saltos denunciavam qualquer movimento que eu fazia. Malditos sapatos. Como se lendo meus pensamentos, ele virou para trás abruptamente e olhou para os meus pés.

– Você pode por favor tirar esses sapatos barulhentos.

– Pensei que homens gostassem de saltos - Falei mais uma vez com o tom irônico enquanto retirava eles e segurava em minha mão, mas ele fez um sinal para que os deixasse no chão.

– Nem todos. E você também não gosta.

Mais uma vez me senti surpresa por ele saber disso. Era impossível que em tão pouco tempo tivesse percebido. Shadows voltou a andar e segui ele olhando intrigada para o seu jeito enquanto sentia o chão frio em meus pés.

Mais alguns corredores e voltas e entramos na sala que reconheci ser do gerente do setor financeiro. Dessa vez ele tinha a chave da sala em seu outro bolso e abriu a porta, fazendo um sinal para que eu passasse. Na escuridão repentina, escutei quando ele nos trancou lá dentro. Engoli seco e a claridade me cegou por alguns segundos, mas logo reconheci o lugar como todas as outras salas de gerentes: uma mesa com um computador e uma cadeira, alguns armários atrás, fotos e quadros nas paredes.

– Sarah Sarah. Você está tão diferente. Quase não a reconheci - Shadows disse com uma voz totalmente diferente da que falava antes, enquanto retirava o pano e os óculos do rosto.

Aquela voz... aqueles olhos... aquele corpo.

–MATT ?!

Ele sorriu e senti minhas bochechas esquentarem conforme ia percebendo que era ele mesmo parado na minha frente.

– Surpresa?

– Mas.. o que... Você é um ladrão?

Seu rosto ficou sério novamente. - Não fale isso me acusando. Você não sabe nada sobre a minha vida, nem nunca soube. Deveria tomar mais cuidado com o que diz e pensa.

– De.. desculpe.

Matt suspirou e foi até o computador, sentando na cadeira e digitando algumas coisas. Ele abriu seu celular e começou a falar em uma língua que eu não conhecia, mas mesmo assim não conseguia desviar meu olhar de cada gesto. Era difícil acreditar de que era ele mesmo ali. Mais alguns minutos se passaram até que Matt desligou o celular e levantou os braços apoiando eles atrás da cabeça enquanto me analisava novamente.

– Desde quando você..?

Ele deu de ombros - Não lembro muito bem. E se era o que você queria perguntar, sim, quando nos conhecemos eu já estava nesse "serviço".

Senti minha boca se abrindo e a fechei novamente enquanto ele tinha um olhar divertido.

– Gostou de saber que já fez sexo com um criminoso?

Minhas bochechas esquentaram ainda mais enquanto seu olhar continuava em mim.

– Claro, devo ter nascido com o cú no meio da lua mesmo. Depois de namorar por 5 anos um cara que me trocou por outro homem, achei que tinha tido sorte de uma belezura igual você aparecer na minha primeira noite de solteira. - Falei mais uma vez irônica.

A verdade é que eu estava extremamente carente naquele dia e precisando de alguém que me ajudasse.


–x-


"- Eu não entendo.. Como ele pôde? Já é difícil ser trocada por outra mulher, agora por um HOMEM! - falei enquanto as lágrimas ainda escorriam e Mel me entregava mais lenços.

– Calma amiga. Você vai encontrar alguém melhor. Você vai ver.

– Quantas coisas eu deixei de fazer por ele. Tudo para que desse certo e enquanto isso ele me traia!

– Olha, que tal a gente sair hoje a noite pra você esquecer um pouco essa história hein?

– Não sei Mel... não tô no clima.

– Ah qual é Sarah. Vamos lá. Você é linda, cheia de vida e poderosa e lá fora está cheio de gatinhos te querendo, você vai ver.

Havia sido uma péssima ideia essa balada. Mel havia me covencido e disse que iria mais algumas amigas dela que eu não conhecia. Porém quando chegamos lá, me vi sozinha em um canto bebendo enquanto todas elas dançavam. Claro, meu humor estava péssimo depois que Mel havia espalhado o fim trágico do meu relacionamento. Ótima amiga que eu tinha.

Mais algumas doses de vodka e meu humor estava ainda pior. As lembranças de todos os momentos, de todas às vezes que ele havia dito que me amava não eram poucas e muito menos fáceis de esquecer. Tentei espantar as lágrimas que ameaçavam cair pelos meus olhos e levantei tentando me equilibrar e passar por todos os corpos que se movimentavam. Em minha tentativa de achar logo a saída, não percebi um cara alto que surgiu do nada e acabei esbarrando nele derramando a cerveja em sua blusa.

– Desculpe - Falei quando vi que ele parecia irritado pelo que aconteceu.

Seus olhos verdes me encararam e por um momento vi quando sua expressão se suavizou e um sorriso lindo com covinhas surgiu em seus lábios.

– O que uma moça tão linda faz com uma expressão tão triste no rosto?

Sorri fraco para ele - Coisas da vida.

Ia continuar andando mas ele segurou meu braço levemente.

– Bem, o que você acha de dançar um pouco comigo? Garanto que não irei piorar a sua situação - Ele falou meio embaraçado e foi impossível não sorrir com o seu jeito.

– Tudo bem.

Ele segurou minha mão e fomos a um canto mais afastado. Uma música agitada tocava, porém seus braços em volta de mim ditavam um ritmo lento.

– Sabe, sempre pensei que devemos aproveitar o dia e tudo o que temos hoje. Que tal aproveitar esse momento então?

Sorri mais uma vez e me perdi um pouco na imensidão de seus olhos. Ele se aproximou me abraçando mais perto e com a boca perto do meu ouvido começou a cantar uma melodia que jamais esqueci..."

–x-

Aproveite o dia ou morra lamentando o tempo perdido
Está vazio e frio sem você aqui, tantas pessoas sofrendo.


Eu vejo minha visão queimando, eu sinto minhas memórias desaparecendo com o tempo
Mas sou tão jovem para me preocupar
Essas ruas em que nós viajamos sofrerão do mesmo passado perdido

Eu encontrei você aqui, então, por favor, fique por mais algum tempo


Encarei Matt agora sentado na cadeira. Era uma pessoa totalmente diferente.

– Admita. Foi divertido.

Fiz uma careta e ia responder mas o celular dele voltou a tocar. Mais algumas palavras trocadas e coisas digitadas no computador enquanto eu o analisava revivendo as lembranças. Então, me lembrei de que ele não estava sozinho naquele dia. Uma respiração descompassada me atingiu e foi audível até para Matt, que acabava de desligar o telefone.

– O que foi? - Ele perguntou franzindo a testa.

– Você.. eles... - Engoli tentando dizer algo que fizesse sentido - Eles também estavam no dia que nos conhecemos.

Matt sorriu e levantou da cadeira se apoiando em um dos armários e cruzando os braços na frente do peito. Em uma das suas mãos consegui ver que ainda estava a arma.

– Sim, eles estavam. Rev, J. Christ, Vegeance e Syn. Ou como você os conheceu, Jimmy, Johnny, Zacky e Brian.

Continuei olhando para ele sem acreditar. Não era só Matt que havia mudado, todos eles estavam diferentes. É claro que talvez já fossem assim antes, só mudaram as aparências.

– Mas.. porque vocês fazem isso? Porque roubar coisas? Aliás, o que vocês querem aqui?

Matt pareceu desconfortável com minhas perguntas e lembrei de seu aviso para pensar antes de falar.

– Fazemos isso só pela grana que recebemos. Não somos os responsáveis, só cumprimos ordens de pessoas que não querem sujar as mãos. Então fazemos isso por eles.

– Mas vocês vieram roubar o que?

Matt só me encarou e percebi que ele não responderia minha pergunta. - Vocês matam pessoas?

– Quando necessário - Ele disse dando de ombros e sorriu novamente - Porque? Quer contratar um dos nossos serviços?

Lembrei do pensamento de ver meu chefe morto. O destino deveria estar muito errado mesmo.

– Eles lembraram de mim? - Disse fugindo de sua outra pergunta.

– Acredito que não. Provavelmente teriam comentado algo. Como disse, você está muito diferente. Eu lembro porque talvez reconheço melhor os detalhes. E tenho que dizer, seus detalhes melhoraram e muito!

Ele sorriu sacana e senti meu estômago se revirando. Não, ele não era o mesmo de antes.

– É uma pena que agora você já saiba quem somos. Eu realmente queria aproveitar um pouco mais de você. - Ele disse levantando o braço e apontando a arma em minha direção.

– Matt..

– Adeus Sarah - Ele disse enquanto escutava o som do gatilho sendo ativado.

Meus olhos cravaram nos seus que pareciam frios como a noite, e então, o sorriso de covinhas que eu amava se espalhou por seu rosto enquanto ele abaixava a arma e começava a rir.

– Você devia ver sua cara.

– Isso não é uma brincadeira Matt. - Falei atordoada. Como ele podia fazer piada disso?

– Bom, pra mim foi.

Seu celular tocou novamente, e depois de mais algumas palavras ele se moveu passando por mim e destrancando a porta.

– Vamos, preciso de você agora.

Passamos por mais algumas portas e entramos na sala do dono da empresa. Nunca havia estado ali, então me surpreendi quando encontrei uma anti-sala com sofá, TV e frigobar totalmente fora do comum das outras salas. Mais a frente estavam os computadores de sempre.

– Preciso da senha de todos os bancos.

– Eu não tenho. Nem sei aonde ficam.

– Procure. Com a sua senha tenho certeza que você tem um acesso privilegiado a essas coisas, ou acha que eu já não descobri que você não é mais uma funcionária comum, e sim a supervisora ?! - Matt falou se aproximando perigosamente de mim. Sua respiração veio de encontro a minha e me afastei indo em direção ao computador. Não teria sentido discutir com ele e dizer que eu não faria isso.

Acessei o programa da empresa e entrei com a minha senha na área que só alguns funcionários tinham acesso. Apesar de não ser parte do meu serviço, todos os responsáveis podiam ter informações especiais dos setores para caso emergenciais. Como ficava registrado cada informação sobre o que eu acessava, nunca fui além do que era necessário para a minha área. Agora, procurava em toda a parte do financeiro algo relacionado com as contas bancárias. Enquanto isso, podia sentir Matt parado atrás de mim observando tudo o que fazia.

– Porque você simplesmente não pede a pessoa que te passou informações antes, ou você mesmo procura aqui? A única coisa que precisava era da minha senha. E também duvido que você teria alguma dificuldade em descobrir ela. - Falei quando já me sentia cansada de procurar por algo que nem fazia noção de onde estava.

– Sarah Sarah.. Você ainda tem muito o que aprender. Nem tudo é tão fácil assim de se conseguir. E se tenho você aqui para resolver isso, porque perderia meu tempo pedindo a outra pessoa?

Tentei não prestar tanta atenção ao que ele falou enquanto informações que eu nem imaginava descobrir passavam diante dos meus olhos. O ganho diário daquela empresa era extremamente maior do que eu pensava. Mesmo assim, senti como se estivesse traindo a confiança deles, mas era isso ou uma bala na minha cabeça. Comecei a me perguntar se Matt realmente teria coragem de atirar em mim..

– Sarah, você está prestando atenção no que está fazendo? - Dei um pulo da cadeira quando sua voz se sobressaltou.

Pisquei os olhos olhando atentamente para a tela dessa vez. Alguns minutos depois e eu passava todas as informações que Matt pedia. Além delas, dados pessoais dos donos foram parar em suas mãos enquanto ele transmitia tudo a outra pessoa pelo celular. Só depois de muito pensar é que percebi o que aconteceria.

– Matt, você não está só roubando todo o dinheiro da empresa.O que você vai fazer com os donos? - Falei incrédula.

– Bem minha querida, acho que chegou a hora de você saber de algumas coisinhas. Primeiro, a pessoa que me contratou é um ex funcionário daqui. E você tem sorte, parece que esse alguém gostava de você - Isso explicava o porque ele sabia exatamente onde ficava cada sala ali.

– Quem é essa pessoa?

– Você não espera que eu responda essa pergunta não é mesmo?

Suspirei e ele sorriu - Sabe, você deve saber como às vezes as coisas não vão muito bem no serviço e tem dias em que você deseja estrangular seu chefe. Muitos querem tornar essa fantasia uma realidade. E depois que essa pessoa teve motivos suficientes para deixar a empresa, resolveu que iria dar uma pequena lição a quem tanto odiou. Você se surpreenderia minha querida com o quanto isso acontece com frequência.

Matt segurou meu queixo olhando fixamente para o meu rosto. Me afastei dele assim que suas palavras fizeram sentido. Não queria mais continuar perto dele, tinha medo do que poderia acontecer e principalmente da frieza como ele parecia lidar com tudo isso. Matt me encarou por um tempo e se afastou, dizendo que já voltava e para eu não tentar nada.

Assim que sua sombra sumiu pela porta da sala, minha mente trabalhou arduamente com a vontade de fugir dele e de tudo aquilo. Matt não era simplesmente um ladrão e a resposta para minha dúvida de antes surgiu bem na minha frente. Sim, ele com certeza não hesitaria se tivesse que me dar um tiro. E a minha vida era a coisa mais importante pra mim no momento.

Levantei de súbito da cadeira e andei alguns passos entrando na anti-sala e conseguindo ver uma parte do corredor pela porta aberta. Respirei fundo e sem pensar mais caminhei em direção a porta. Olhei atentamente o corredor e sai pela porta tentando fazer o mínimo de barulho possível. Estava na metade do corredor e tinha a opção de continuar seguindo pelo mesmo caminho ou ir para outro setor, quando uma das portas da sala que eu havia acabado de passar se abriu.

Não esperei para ver a reação de Matt, ou se era ele mesmo ali. Sai correndo entrando no corredor que levava as escadas do andar de baixo. Desci elas correndo o máximo que pude enquanto escutava passos apressados bem atrás de mim. Sabia que chamavam meu nome, mas a adrenalina e a minha respiração forte me impediam de prestar atenção em qualquer coisa que não fosse o caminho para onde ia.

Assim que cheguei no outro andar, entrei no primeiro corredor escuro que vi. Não estava familiarizada com aquela área, mas consegui não me perder no caminho que fazia. Só depois de um tempo é que percebi que os passos não estavam mais atrás de mim. Com um pouco de receio mas precisando dessa confirmação, diminui meu ritmo até que parei de andar e olhei para trás. Não havia mais ninguém ali além de mim. Permiti que eu descansasse um pouco enquanto tentava normalizar minha respiração ofegante. Enquanto fazia isso, vi uma mesa mais a frente com um telefone em cima. Não sabia mais se estava agindo com a razão mas queria que alguém me ajudasse. Precisava disso.

Com as mãos trêmulas, cheguei até a mesa e tirei o telefone do gancho. Meu coração se acelerou quando percebi que eles não haviam cortado a energia e que tinha linha nele. Disquei o número da polícia e quando estava no segundo toque, a esperança que havia criado se desfez com o telefone sendo arremessado contra a parede e partindo em vários pedaços. Antes que eu reagisse ou mesmo olhasse para o lado, meus braços foram segurados com brutalidade e minhas costas bateram com força contra a parede. Senti dor, mas qualquer coisa fui ignorada enquanto o rosto de Matt, a centímetros de distância do meu, parecia que me mataria só com o olhar.

– EU DISSE PRA VOCÊ NÃO TENTAR NADA! -ele gritou e me encolhi mais. Meu braço começava a ficar dormente pela força que ele colocava em suas mãos.

– Desc..

– DESCULPA PORRA NENHUMA! VOCÊ TEM NOÇÃO DA MERDA QUE FEZ ?!

– Eu... - não sabia o que dizer. Irracionalmente, a raiva dele me aterrorizava e as lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto.

Seus olhos continuaram cravados em mim e antes que eu reagisse, sua boca foi ferozmente de encontro com a minha.


–x-

"Que beijo! Meu Deus, além de lindo esse homem tem uma pegada! Só podia ter ganhado na loteria e não estava sabendo ainda.

Seus lábios se separaram dos meus com um sorriso no rosto. Mesmo quando ele se afastou, ainda sentia o cheiro de seu perfume amadeirado e da bebida.

– Então Matt, o que você faz?

– Faço faculdade de arquitetura e trabalho em uma empresa de construção. E você Sarah? - ele perguntou sorrindo com as covinhas a mostra enquanto segurava minhas mãos.

– Hum.. estou fazendo faculdade na área de departamento pessoal, mas trabalho com algo totalmente diferente. Temos que ganhar dinheiro de algum jeito né.

Ele sorriu e voltou seus lábios aos meus. Quando nos afastamos ele ainda tinha o sorriso acolhedor que fazia tudo parecer tão certo que não me importei quando mais tarde ele deixou os amigos para trás e pediu para que fosse junto com ele até seu carro. Mel já havia ido embora fazia tempo e estava ocupada demais para se preocupar comigo.

Depois de algumas voltas e mais algumas palavras trocadas, paramos em frente a uma casa em um bairro de classe média alta.

– Você se importa de entrarmos aqui um pouco?

– Não - Sorri e saímos do carro.

Só quando já estava dentro da casa é que percebi que talvez todas as vodkas que tomei tivessem tido um efeito muito poderoso. De onde tirei toda essa coragem para sair com esse desconhecido assim? Jamais tinha feito isso e é claro que, por mais que ele não tivesse demonstrando em nenhum momento, sabia quais eram suas intenções me levando ali. Será que eu estava disposta a tentar algo novo em tão pouco tempo?

O sofrimento pelo término do meu namoro ainda estava presente, mas com Matt era como se isso não tivesse tanta importância assim, como se ele fosse um remédio ou uma droga que eu precisava provar, precisava ter para conseguir aliviar esses sentimentos.

Olhei mais uma vez para ele que agora também estava parado sorrindo para mim. Ele se aproximou lentamente e puxou meus lábios para os seus novamente em um beijo calmo e sereno. Sim, eu podia tentar ser feliz pelo menos essa noite."

–x-


Eu posso continuar com você por perto
Eu te asseguro minha vida mortal, mas isto será para sempre?
Eu faria qualquer coisa por um sorriso, segurando sua mão até nosso tempo acabar
Nós dois sabemos que o dia irá chegar, mas eu não quero te deixar


Os lábios de Matt eram selvagens contra os meus. No primeiro momento não consegui reagir enquanto ele continuava forçando sua boca contra a minha. Aos poucos seus lábios foram se tornando mais suaves e acabei me rendendo ao beijo que já conhecia. Uma de suas mãos afrouxou o aperto em meu braço enquanto a outra segurava minha nuca. Com um braço livre, levei minha mão até se queixo passando pela barba mal feita e deslizando meus dedos até seu pescoço, sentindo a pele que eu tocava se arrepiando. Matt deu um passo para frente e imprensou seu corpo totalmente contra o meu e a parede. Não sabia se era por isso ou pelo beijo, mas de repente o ar em volta se tornou quente demais e difícil de respirar. Sua língua pediu passagem e deixei aproveitar esse momento esquecendo tudo o que havia acontecido antes. A mão que estava em minha nuca deslizou vindo até o meu rosto, e quando seus dedos tocaram minha bochecha úmida pelas lágrimas, seus lábios se desfizeram dos meus.

Abri os olhos e pela primeira vez não encontrei o sorriso com covinhas. Foi ai que a realidade me atingiu. Ele não era o mesmo, jamais seria. Matt porém, não se afastou. Continuou ali com a expressão séria e depois de um tempo, secou as últimas lágrimas que caíram dos meus olhos e me encarou.

Quando ele deu um passo para trás senti o ar sendo puxado pelos meus pulmões, que até então não havia percebido que estava prendendo a respiração. Antes que eu pensasse em dizer alguma coisa, Matt se abaixou um pouco e em um movimento que me assustou, agarrou minhas pernas e jogou meu corpo sobre seus ombros.

– MATT!

– Eu disse Sarah. Você não tem noção da merda que fez.

E então ouvi sua risada rouca. Maldito!

Comecei a socar suas costas mas isso só fez com que ele risse mais ainda. Matt preferiu usar o elevador e senti minha vontade de esfaquea-lo aumentando quando vi que ele analisava minha bunda pelo reflexo do espelho enquanto tocava uma musiquinha irritante ao fundo.

Matt andou o corredor e parou na sala em que ele estava quando tentei fugir. Ele se abaixou pegando uma sacola que fez um barulho estranho enquanto ele levava nos braços. Entramos na sala do dono da empresa novamente e sem nenhum aviso, Matt me soltou com tudo no chão fazendo com que eu pensasse se ainda tinha bunda depois disso.

– Delicadeza mandou lembranças - resmunguei mas ele se abaixou puxando meus braços com força novamente.

Matt me arrastou até um móvel grande da sala enquanto eu protestava e parou ao lado da sacola. De lá ele retirou correntes que reconheci como sendo parecidas com as que os outros funcionários estavam presos. Sem nenhum tipo de gentileza, ele puxou meus braços para trás e senti quando as correntes foram passadas fortemente nos meus pulsos e envolvidas no "pé" do móvel.

– Sabe, eu posso muito bem fugir daqui.- disse tentando convencer mais a mim mesma.

– Duvido muito disso - Matt disse com um sorriso que me irritou profundamente.

Ele saiu voltando para a outra sala e me deixando sozinha acorrentada.

Talvez horas se passaram depois disso, não tenho certeza. Escutei várias vezes Matt falando na mesma língua estranha no celular e digitando coisas no computador. Fora esses momentos, o silêncio era absoluto e eu me perguntava o que estaria acontecendo alguns andares abaixo, ou lá fora e se já sabiam que eles estavam dentro da empresa nos mantendo refém. É claro que a empresa possui seguranças, mas agora, não fazia a mínima ideia de onde eles estavam.

Meus pulsos já estavam ardendo pela minha tentativa tola de tentar me libertar. O que me deixava mais irritada eram as risadinhas irônicas que escutava depois dessas tentativas.

– Matt...

–Hum..

– Preciso ir ao banheiro.

O silêncio se arrastou por um tempo.

– MATT!

Escutei quando ele bufou e arrastou a cadeira vindo até onde eu pudesse vê-lo.

– Precisa mesmo?

– Sim.

Ele murmurou algo que não entendi e se abaixou ao meu lado retirando as correntes. Assim que estava livre, puxei meus braços para frente esfregando os pulsos avermelhados e esfolados. Pensava que isso provavelmente iria ficar marcado quando percebi que Matt também os encarava com uma expressão estranha. Quando percebeu que eu o estava olhando, Matt levantou rapidamente e fez um sinal para que eu ficasse de pé também.

Seguimos pelo corredor e ao invés do que eu esperava, fomos em direção ao banheiro de outra sala. Era bem pequeno e claramente menor do que o que eu imaginava comparado com o da sala do dono. A primeira coisa que vi foi a janela, também pequena, que mostrava o negrume da noite.

Entrei no banheiro e quando me virei, percebi que Matt estava parado na porta de braços cruzados e observando cada movimento que eu fazia.

– Er.. então. - Ele arqueou uma sobrancelha e eu suspirei - Com licença Matt mas eu preciso usar o banheiro.

– Tudo bem, use. Mas eu vou continuar aqui.

– O QUE? - Ele deu de ombros e isso me irritou - Não vou conseguir fazer xixi com você aqui, parado me olhando.

– Não é nada que eu já não tenha visto antes.

– Ah qual é, você acha que eu vou tentar fugir pela descarga? Até eu tenho limites.

Ele continuou no mesmo lugar sem se mover parecendo se divertir com o momento.

– Matt, não dá!

– Então não faça!

– Por favor... - olhei para ele com os olhos suplicantes percebendo a armadura se amolecendo um pouco. Dei um passo para frente e ele foi um pouco para trás. Encarei Matt mais uma vez até que ele suspirou e foi até a porta.

– Tudo bem, mas vou estar aqui.

Concordei e ele saiu. Quando fui fechar a porta, ele colocou o braço na frente.

– A porta fica aberta.

– Mas..

– Sem mais. Agora vai logo.

Esperei até que ele ficasse fora de vista de novo e extremamente constrangida fui em direção a privada. Depois de todo o momento tenso, fui lavar a mão na pia que ficava no canto do banheiro e percebi Matt entrando no pequeno espaço de novo.

Desliguei a torneira mas o barulho de água continuava. Virei e encontrei Matt com as calças um pouco abaixadas enquanto fazia xixi na privada.

– Ah por favor, não sou obrigada a presenciar essa cena. - Falei tampando meus olhos. De onde ele estava, não conseguia passar e sair do banheiro.

– Como já disse antes meu amor, nada que você já não tivesse visto antes.

Esperei até escutar o barulho do zíper da calça dele e destampei meus olhos. Ele se virou para sair e eu olhei indignada.

– Não vai lavar a mão?

Ele revirou os olhos, mas foi em direção a pia. - Mulheres - murmurou.

Assim que terminou, ao invés de enxugar as mãos na toalha, ele virou passando as mãos pelos meus braços e me olhando.

– Matt!

– Elas estão limpas. Você mesma exigiu isso.

– Idiota - disse enquanto saíamos do banheiro e eu acertava um soco em suas costas que provavelmente teve mais efeito em minha mão do que nele.

Parado na porta da sala, nos encarando com um olhar confuso, estava Brian.

– Que porra é essa? - Ele falou quando viu Matt e eu rindo.

– Nada. O que foi ... - Brian interrompeu o que Matt falava.

– Espera. Vendo vocês dois juntos agora eu lembrei. Eu conheço ela, sabia que conhecia! Ela é aquela garota não é? - Brian encarou Matt e vi ele se mexendo desconfortável. - Aquela que você passou uma noite junto, e que matou os...

– Chega Syn! Fala logo o que você veio fazer aqui.

Ele mudou de assunto rapidamente mas suas palavras ainda ecoavam em minha cabeça. Matou? Matou quem?

Os dois se afastaram e Brian disse algumas coisas que pareceram não deixar Matt muito feliz. Quando estávamos sozinhos de novo, ia perguntar o que ele quis dizer com aquilo, mas Matt parecia ameaçador demais no momento. Alguma coisa deveria ter dado errado.

Voltamos para a mesma sala e Matt fez um sinal indicando para que eu voltasse aonde estava. Ele amarrou minhas mãos com pedaços de panos dessa vez e antes de levantar, aproximou lentamente e me beijou. Correspondi ao beijo que durou apenas alguns segundos. Enquanto ele saia, percebi que os panos ainda me impediam de fugir, mas estavam mais largos e fora do lugar aonde meu pulso estava machucado.

A sombra de Matt sumiu do meu campo de visão e fiquei ali no silêncio completo enquanto me perguntava se o veria novamente.


–x-

"Matt era incrível! Talvez muito mais do que deixasse qualquer um ver.

Sentamos em um jardim que havia nos fundos da casa e tomamos um vinho doce que eu amava enquanto conversávamos sobre nossas vidas. Ele me pediu desculpas pela bagunça, mas disse que havia acabado de mudar de casa. Em algumas horas conseguimos falar sobre quase tudo: família, preferências, trabalho e principalmente relacionamentos amorosos.

Para minha surpresa, não comecei a chorar quando contei a ele sobre o término recente do meu namoro e Matt até riu do meu pequeno desabafo. Depois, com uma expressão mais séria, disse que eu realmente era uma pessoa incrível e merecia um homem de verdade. O conselho parecia ser de um amigo, mas não pude deixar de me sentir atraída pelo seu jeito e a forma como me olhou quando disse isso. Matt contou que também havia saído a pouco tempo de um relacionamento duradouro mas não quis entrar em detalhes, então, achei melhor não perguntar mais sobre isso.

Pequenas gotas de chuva começaram a cair e voltamos para dentro da casa.

– Matt ... er...você se importa de me emprestar um chinelo ou qualquer coisa assim? - perguntei meio envergonhada.

– Não, tudo bem. Só acho que vão ficar um pouco grandes em você. - Ele riu um pouco enquanto olhava para os meus pés.

– Não tem problema. Só queria que meu pé estivesse inteiro amanhã. Odeio saltos - falei bufando e então considerei que ele poderia entender errado talvez. - A não ser que você já queira me levar em casa .. ou...

– Você quer continuar aqui? - ele perguntou e nesse momento percebi que a minha resposta representaria muita coisa.

Talvez ainda amasse o maldito do meu ex-namorado, mas no momento ele poderia queimar em uma fogueira que eu não me importaria. Matt não era o cara perfeito, mas era muito melhor do que muitos que conheci. Sua simplicidade e a forma como ele transformava pequenos momentos em inesquecíveis, me levavam a gostar ainda mais dele. E era impossível negar que me sentia atraída pelo seu corpo todo definido.

– Se você não se importar, eu gostaria de ficar.

Ele sorriu, com certeza um dos sorrisos mais lindos que já vi enquanto seus olhos brilhavam. Matt se aproximou e segurou meu rosto em suas mãos enquanto me beijava lentamente. O beijo foi se aprofundando e ele abaixou puxando minhas pernas e me segurando em seus braços.

– Eu quero que você fique. Quero muito mesmo. - Ele sorriu e começou a caminhar em direção a uma porta que logo descobri ser seu quarto.

Não havia muitos móveis e o que mais chamava a atenção com certeza era a imensa cama de casal. Matt retirou a camisa preta de mangas cumpridas que estava, e me perdi por um momento vendo o monumento que eram seus braços e barriga com tatuagens. Aos poucos, minhas roupas eram retiradas também e me envolvia cada vez mais em cada detalhe daquele homem.

Nos beijávamos e acariciávamos enquanto Matt dizia coisas doces em meu ouvido. Nunca imaginaria que alguém como ele fosse assim. Por trás de toda a aparência bruta existia uma pessoa gentil e carente da mesma forma que eu me sentia.

Aos poucos fomos nos entregando um ao outro e meu Deus, aquele homem era grande demais em todos os sentidos! Era Matt para todos os lados e não tinha uma parte sequer de mim que no momento não pertencia a ele. Consumamos um ato que não sabia definir se era feito apenas pelo prazer ou por algo mais. Era diferente a forma como ele parecia cuidar e ditar cada movimento em mim, olhando e tocando cada pedaço do meu corpo como se precisasse guardá-los em sua memória. Da mesma forma, minhas mãos passeavam por seus braços e peito enquanto parte de mim se perdia dentro dele.

Passamos horas juntos e quando já havia amanhecido ele me levou de volta para casa. No caminho, Matt repetia diversas vezes o quando havia gostado de me conhecer e que nos veríamos novamente em breve. Ele estacionou o carro na porta da minha casa e me aproximei dando mais um abraço apertado nele.

– Obrigada, por tudo.

– Eu é que agradeço. E não pense que escapará tão fácil de mim. - Ele sorriu e dei um breve beijo nele antes de sair do carro.

– Até mais Sarah - ele disse e virei para acenar de volta. Antes de fechar a porta dei mais uma olhada em sua direção. Matt tinha um sorriso no rosto mas seus olhos mostravam uma certa dor e saudade contida que não consegui entender. Fechei a porta sentindo um sorriso bobo se espalhar em meus lábios ao mesmo tempo que me perguntava se realmente o veria novamente."

–x-


Nova vida substituindo todos nós, mudando esta fábula que vivemos
Não precisamos ficar muito aqui, então para onde iremos?
Irá você seguir esta jornada esta noite, me seguir além das paredes da morte?
Mas garota, e se não houver vida eterna?

O som de passos vindo pelo corredor acabaram me despertando. Meu coração se acelerou mas, por incrível que pareça, fiquei mais calma quando percebi que não era Matt, mas sim Johnny.

– Matt pediu para vir buscar você. - Ele disse enquanto soltava meus braços.

Mesmo sem os saltos, Johnny ainda conseguia ser mais baixo que eu, mas não era algo vantajoso vendo a forma como ele segurava firmemente a arma enquanto andávamos lado a lado pelos corredores. Agora tinha certeza que ele era alguém de poucas palavras, e sem dúvidas o mais sério entre todos eles. Minha ideia de fugir já não parecia mais tão convincente e continuei seguindo ele enquanto íamos em direção a entrada da empresa.

Através das grandes janelas consegui ver as luzes das viaturas sendo refletidas. Olhei para eles que não pareciam intimidados com isso e percebi que talvez fizesse parte do plano. Prestando atenção mais atentamente, percebi que só mais dois funcionários eram mantidos reféns. Me senti mais aliviada por isso, até que olhei para a porta da frente.

O terror se apoderou do meu corpo enquanto via o corpo ensanguentado do mesmo funcionário que havia feito o sinal para que eu olhasse para a caixa de papelão. Seus olhos permaneciam abertos de uma forma que demonstrava a brutalidade com que havia sido morto. No chão, era visível as marcas de sapatos que haviam passado por seu sangue.

– Vocês mataram ele! Como puderam?! - Gritei e todos olharam para mim. Zacky, que era o mais próximo, foi quem me respondeu.

– Foi necessário. Precisávamos mostrar uma ameaça aos policiais e ...

– E a vida dele não importava? A família? Os filhos? NADA DISSO IMPORTA PRA VOCÊS?

– São nossos planos. Você não entenderia.

– Não entendo como vocês podem ser tão cínicos. Não enxergam o que fazem? Toda dor e sofrimento que trazem?

Passei os olhos por cada um enquanto eles estavam parados em seus lugares me encarando também. Percebi que de nada adiantaria tentar mudar o que eles pensavam ou faziam. Já era tarde demais.

Sai correndo na direção oposta enquanto sentia as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Corri o mais rápido que pude e só quando senti os braços de Matt me envolvendo fortemente é que percebi que estava próxima da saída oposta a entrada.

– Sarah, pare!

Eu me debatia em seus braços pedindo que ele me soltasse mas ele só mandava que eu parasse enquanto me arrastava para outro lugar.

– Você é um monstro. Todos vocês são!

Essas palavras pareceram o atingir mais do que tudo e então senti as algemas passando pelos meus pulsos. Olhei atordoada para baixo e percebi que ele me prendia no pilar de um dos corredores.

– Você não era assim. Você era...

– EU NÃO SOU AQUELA PESSOA QUE VOCÊ CONHECEU! - Ele gritou e se aproximou mais. - Entenda isso se você ainda não percebeu! Aquele homem não existe, foi simplesmente alguém que eu criei para conseguir te levar pra cama, será que você não viu isso também?

Ele sorriu percebendo o quando suas palavras me atingiram fazendo com que sentisse repulsa de mim mesma por quem fui com ele. Matt saiu sem dizer mais uma palavra enquanto uma mistura de sentimentos cobria seu olhar. Provavelmente todos falsos.

Minhas pernas não suportaram mais meu próprio peso e deitei no chão chorando o máximo que meus olhos conseguiam. Eu só queria que isso tudo acabasse logo e ele sumisse da minha vida mais uma vez. Em algum momento o sono se tornou mais forte e me perdi misturando a realidade com um pesadelo.

Quando abri os olhos novamente, percebi que já amanhecia. Tentei sentar enquanto sentia os protestos do meu corpo por ter dormido no chão duro, quando vi Matt encostado na parede sentado no chão de frente para mim e me encarando.

– Está melhor?

Minha garganta raspava e engoli tentado fazer com que a sensação melhorasse. Não estava com vontade de responder. Ele me encarou por mais um tempo e antes que dissesse alguma coisa criei forças para falar.

– Nunca tive certeza se você realmente tinha existido.

Fechei os olhos sentindo as lágrimas voltando a escorrer pelo meu rosto. Eu chorava por mim e por eles, pelo que eram e toda a tragédia que me envolviam. Por tudo que tive um dia mas agora não significava nada. A lembrança da primeira vez que chorei por Matt me atingiu.


–x-


"Já fazia alguns dias mas simplesmente não consegui esquecer aquela noite. Às vezes me pegava rindo sozinha enquanto alguém me olhava torto e provavelmente se perguntava se eu era louca. Não me importava, eu estava feliz. Mas essa felicidade logo começou a ser substituída por receio.

Nunca fui do tipo que corre atrás, mas depois de um tempo sem qualquer notícia ou ligação, mandei uma mensagem ao número de telefone que Matt havia me passado. Depois de 3 dias sem resposta, liguei mas a gravação dizia que esse número não existia.

Uma semana se passou sem que nada mudasse e por pura curiosidade segui o caminho que ele havia feito. Olhei repetidas vezes para a casa com placa de vende-se. A frente estava mais desbotada do que lembrava e demonstrava claramente que ninguém vinha ali a um bom tempo. Mas eu estive ali a uma semana, como ela podia estar assim agora?!

O desespero continuou me consumindo por dias e desisti de entender qualquer coisa.

Talvez, tudo só tivesse sido um sonho mesmo. "


–x-


Experimentando a vida, há perguntas de nossa existência aqui, não quero morrer só sem você aqui,
Por favor, diga-me que o que temos é real

Então, e se eu nunca te abraçar, ou beijar seus lábios novamente?
Então eu não quero te deixar e as memórias que nós dois temos
Eu imploro não me deixe

–Você é um ótimo ator mesmo. Sumiu sem deixar rastros e agora acho que entendo o porquê.

– Era melhor pra você.

– Não diga isso como se soubesse o que é melhor para mim! - Falei quase gritando. Ele se encolheu mais na parede e depois de me encarar por um tempo, voltou a falar.

– Sarah, você pensa que eu sumi, mas na verdade eu sempre estive ali. Como você vê, não tenho uma vida normal, mas você tinha e eu queria que continuasse assim. Talvez tenha interferido um pouco nisso.

As palavras de Brian voltaram em minha mente e acabei pronunciando elas.

– Quem você matou por minha causa Matt?

Ele me encarou por vários segundos novamente.

– Você provavelmente deve ter ficado sabendo do acidente trágico que o seu ex-namorado e o macho dele sofreram alguns meses depois que vocês terminaram. Bem, não foi de todo um acidente.

– O que? Você matou eles? - Falei atordoada

– Eu vi a dor em seus olhos naquela noite Sarah. Eu vi o quanto ele havia te feito sofrer nesses 5 anos. Você não merecia nada disso. E depois veio Henry.

– Henry? Mas ele...

– Sim, sofreu um infarto? Estranho para alguém tão novo não acha? Nada que alguns remédios misturados com uma bebida não provoquem. E antes que você pergunte, ou não sabia, Josh e Steven também fazem parte dessa lista.

– Mas porque eles? Não fizeram nada comigo que..

– Eles tinham você - O desespero em sua voz era evidente - Eles tinham e eu não. Nunca pude ter Sarah. Será que você não entende? Eu me afastei porque sou justamente o cara errado pra você e para qualquer outra. Mas eles podiam ter isso e eu os invejava. Não conseguia conviver com meu próprio ciúmes. Então.. os matei. - Ele sorriu e desviou os olhos dos meus. - Eu acompanhava cada passo que você dava. Sua conclusão da faculdade, a mudança de emprego.. tudo. E estava bem com tudo isso até que escutei você dizendo que não suportava mais ficar sozinha. E eu entendia o que você quis dizer, o que você sentia. Depois de tantas mortes você desistiu de tentar ser feliz com mais alguém e isso a tornou infeliz. Me tornou infeliz. Foi ai que percebi que o melhor seria se eu deixasse você viver a sua vida e aprender com os próprios erros e sofrimentos que os outros iriam te causar, mesmo que eu quisesse estar ali para protegê-la. Porque por mais que eu desejasse, nunca mais poderia estar ao seu lado. Nunca passaria de um cara de uma noite. Então, simplesmente me afastei.

Engoli seco e passei vários minutos pensando. - Você mentiu... antes.. Você se importa comigo. Não faria isso se fosse só mais uma garota que fez sexo com você.

Ele deu um leve sorriso - Sim, eu menti. Porque mais uma vez achei que era isso o melhor pra você.

– Você sabia que eu trabalhava aqui, ou mesmo que ainda não havia ido embora?

– Não, eu não fazia ideia. - Ele disse e pareceu ser sincero - Desde então nunca mais tive qualquer informação relacionada a sua vida, e isso já fazem cerca de 6 anos.

Suspirei e ele continuou me encarando.

– Por que?

– O que?

– Por que tudo isso Matt?

– Eu... - vi quando ele começou a abrir e fechar a boca sem dizer nada e parecendo extremamente confuso. - Não sei. - disse por fim.

O som de tiros fizeram com que levantassemos rapidamente do chão. Matt segurou a arma com força nos braços enquanto retirava as algemas do meu pulso. Ele segurou uma da minhas mãos e tive que correr para conseguir acompanhar seus passos apressados pelo corredor. Quando estávamos na metade do caminho, encontramos Zacky e Jimmy.

– Cadê os outros?

– Johnny e Brian foram pelo outro lado. Eles invandiram o prédio, tivemos que nos separar. - Zacky falou enquanto tomavámos um rumo diferente.

Percebi que Jimmy e Zacky estavam com armas muito mais pesadas do que antes e aquilo me assustou um pouco, principalmente quando Matt segurou uma delas enquanto me puxava pela outra mão. Os tiros se tornaram maís próximos e entramos uma sala que tinha uma saída de emergência. Fiquei parada no centro observando enquanto eles montavam vários equipamentos perto da porta.

– Johnny levou um tiro - Escutei Jimmy dizendo baixo para Matt que suspirou e fechou os olhos por um tempo.

– Como ele está?

–Parecia bem. O Syn ia tentar tirar ele daqui. Nos voltamos porque você ainda estava aqui.

Matt acentiu e voltou a prestar atenção no que fazia. Foi ai que percebi que eles eram a família um do outro ali. Poderiam até ser monstros no que faziam, mas se importavam e protegiam uns aos outros. Percebi que Zacky me encarava e fez um sinal para Matt que também me olhou. Barulhos eram possíveis de ser escutados e sabia que a polícia se aproximava dali, mas não consegui me mover quando Matt se aproximou e me encarou por um bom tempo.

– Vá Sarah, você não é mais nossa refém - Podia ver a dor em sua voz e no olhar dele enquanto dizia essas palavras.

Encarei Matt por um tempo e fiz a única coisa que não deveria fazer. Eu hesitei.

Esses minutos foram suficientes para que a polícia chegasse e os vidros da sala fossem quebrados pelos tiros. Matt me empurrou com força para o chão.

– Foi justamente por isso que não te procurei de novo. Você é teimosa demais e nunca faz a coisa certa.

– Bem, faço o que acho que é certo pra mim.

Ele sorriu e começamos a rastejar pelo chão indo até a saída de emergência enquanto coisas voavam e Jimmy e Zacky nos davam cobertura.

Assim que passamos pela porta Zacky e Jimmy nos olharam.

– Vão. - Jimmy falou por fim e Matt puxou meu braço enquanto íamos correndo pelo corredor.

Paramos em uma parte e ele retirou a blusa, deixando visível outra arma em sua cintura, mas o que chamou atenção foi o colete a prova de balas que ele retirava.

– Coloque isso.

– Não. Você quem..

– Sarah. Coloque!

Suspirei e passei os braços pelo colete pesado. Ele colocou novamente a blusa e voltamos a correr. Quando estávamos próximos da saída, escutamos um barulho atrás de nós.

– Parados! - Gritaram mas Matt não parou.

Continuei correndo enquanto ele me empurrava e pude ver tiros passando por nós. Seus braços me envolveram mais forte e percebi que eu é quem deveria estar ali protegendo ele, mas Matt não deixou que eu me movesse de onde estava, só que continuasse correndo. Percebi que ele também atirou algumas vezes nos policiais, mas não era o suficiente para que conseguissemos sair. Entramos em outro corredor e Matt destrancou uma porta com a primeira chave que havia pegado na gaveta da sala do meu chefe. Passamos por ela e ele puxou uma tranca pesada a fechando em seguida. Não sabia da existência daquele lugar, mas parecia um tipo de depósito. Corremos mais um pouco e escutava a respiração de Matt cada vez mais pesada atrá de mim.

Quando paramos dentro da última sala, retirei o colete que estava me machucando e olhei para trás, enxergando o sangue que escorria pelo corpo de Matt em mais de um local e com desespero fiquei tentando ver aonde ele havia sido atingido.

– Matt ..

–Shh... - Ele me puxou para os seus braços e me abraçou forte fazendo com ficasse um pouco difícil respirar.

Retribui o abraço e aos poucos fui sentindo seu corpo ficando mole. Não consegui segurar seu peso e fomos os dois para o chão, ele deitando de modo desajeitado enquanto eu parava em cima dele sem saber direito o que fazer.

– Me desculpe - Matt disse segurando minha mão forte ao ponto que escutei os ossos estralando - Eu menti. Queria que soubesse que a noite que passei com você foi uma das melhores que já tive. Sempre senti sua falta mas sou orgulhoso demais para admitir isso, e você merecia alguém muito melhor do que eu. Eu não deveria ter me apaixonado por você.

Meus olhos se encheram de lágrimas. Ele engoliu seco e percebi o quão fraco já estava. Tentei levantar para quem sabe buscar alguma ajuda, mas sua mão apertou mais firme ainda fazendo com eu soltasse um leve gemido pela força que ele ainda exercia sobre ela.

– Mas... dessa vez não vou deixar de ter o que eu quero. Eu quero você Sarah e nos vamos ficar juntos. Você será minha aonde quer que eu vá.

Uma lágrima escorreu pelo seu olho imitando as minhas lágrimas que já escorriam pela face. Estava tentando entender o que ele dizia e todo o desespero em sua voz.

– Você será minha....Sempre.

Ele fechou os olhos e já ia gritar para que ele os abrisse novamente quando percebi tardiamente o que ele fazia. O som veio junto com a dor e com o olhar assustado, olhei para baixo vendo a arma que Matt segurava parada em meu peito. A dor começou a dominar meu corpo enquanto sentia meus dedos formigarem. Não consegui mais segurar meu próprio peso e cai ao lado do corpo de Matt.

Meus olhos abaixaram para nossas mãos juntas quando aos poucos senti que ele já não apertava mais tão forte. Olhei para seu rosto e seus olhos me encaravam, agora sorrindo. De seus lábios ainda consegui ver as covinhas que eu amava antes que seus olhos se fechassem pela última vez.

Minha própria dor no peito se tornou ainda mais insuportável enquanto parecia escutar em meus ouvidos meus batimentos. Encarei mais uma vez o rosto de Matt com o sorriso bobo em seus lábios e senti um próprio sorriso surgindo no meu rosto. Meus olhos pesaram e os fechei enquanto aos poucos os batimentos ficavam mais fracos até que não escutei mais nada.


(Silêncio você me perdeu, sem chance para um outro dia.)
Eu caminho aqui sozinho
Caindo sob você, sem chance de levar você de volta para casa.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Odiaram?
Sim, a música é Seize the day porque a ideia surgiu quando estava escutando ela, então, nada mais justo já que ela faz parte da história também.
Obrigadaa a todos que leram e esperoo os reviews de vocês *----*



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