Confissões De Hermione escrita por Guilherme Faquini


Capítulo 9
Ladeira Abaixo


Notas iniciais do capítulo

O segredo envolvendo o fantasma de Petter Lacun parece estar se espalhando como fogo. A vingança se aproxima. Onde se refugiar?



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Eu estava imersa em meus pensamentos, caminhando rumo às gélidas memórias envolvendo meus pais. Conversar com Dumbledore, aceitar e ser, acima de tudo, conivente com a situação de Petter Lacun fez surgir em mim uma impotente que eu desconhecera.

Me perguntava se realmente Hogwarts era meu lugar. Eu quase não os via, digo sobre papai e mamãe. Meu pai era uma pessoa muito inteligente e engraçada. Lembro-me das piadas em torno da lareira, enquanto mamãe preparava chocolate quente com avelã. Não pensem que sou louca, mas posso sentir até mesmo o sabor da bebida que somente ela sabia fazer.

Minha mãe nascera em uma família muito tradicional e nunca aceitou o fato de eu ser uma bruxa. Quando a carta de Hogwarts chegou, foi um grande desespero. Acredito que tenha sido até pior do que o inferno vivido por Harry na casa dos Dursley.


Não existe essa história de bruxaria? – disparou minha mãe munida de uma bandeja de carne de cordeiro que servira no jantar da respectiva noite.

Meu pai apenas observava à medida que seu charuto italiano exalava uma horrorosa fumaça, na qual sempre condenei. Ele carregava o vício consigo desde os dezessete anos quando fora apresentado por um amigo de colégio.

E se existir uma escola para bruxos, ficarei honrado por saber que minha querida fora escolhida. - contestou meu pai, sobrepondo a opinião de minha mãe enfurecida.

Eu ria me lembrando de quando embarquei pela primeira vez no Expresso Hogwarts. Minha mãe, antes que meu despedisse, me fizera prometer que eu jamais os transformaria em sapos caso houvesse alguma futura desavença entre nós. Já imaginou, eu transformando meus pais em sapos?

O que me confortava era saber que eles estavam bem. A clínica odontológica de ambos, talvez, as mais populares da cidade, estavam sempre repletas de clientes. Mamãe já ganhara no passado muitos prêmios de melhor dentista. Imagine o quanto sofri em minha infância?

Eu era, constantemente, proibida de comer doces, exceto os sem adição de açúcares. E esses eram muito ruins. Em minha escola todos deliravam com a sensação do momento da época: o pirulito pinta a língua sabor framboesa silvestre com recheio de morango, no qual eu nunca pude provar.

Realmente, analisando hoje acho tudo muito engraçada. Eu me tornei uma criança viciada em escovas de dente. Tinha uma coleção, uma para cada dia da semana. Em Hogwarts, esqueço constantemente de praticar a escovação, me sinto mais liberta e livre sem a vigilância dos meus dentistas, mas com saudade dessa nostalgia.

O dia estava bastante frio e eu não teria aula. Os dois professores substitutos enviados pelo ministério não conseguiram realizar o feitiço de aparatar e acabaram parando na Escócia. Segundo a mulher gorda, a única que sabe da vida de todos em Hogwarts, ambos estão aguardando o resgate por motivos não divulgados. Será sofreram alguma lesão ou morreram?

Todos sabem que aparatar não é tão fácil. Eu mesmo fui parar no Caldeirão Furado diversas vezes por não ter sido tão aplicada assim. Existem lendas no mundo mágico sobre bruxos que acabaram aparatando para ninhos de dragões escoceses e nunca mais foram encontrados.

Só de pensar Ron aparatando sozinho me dava um medo tremendo. Desastrado do jeito que era, certamente iria parar nas masmorras junto dos drasgos. Confesso que ri em imaginar a cena.

Ah, você está ai, né? Vamos, contem-nos tudo que Dumbledore conversou com você ontem, Mione! – ordenou Rony enfurecido ao entrar no dormitório feminino.

Alvo me fez jurar que eu jamais contaria sobre o que fora falado naquela manhã. Mas, ao mesmo tempo eu não estava acostumada a mentir para os meus amigos. Ron estava furioso.

Olha aqui, Weasley... – vociferei

Rony me olhava como quem quisesse me engolir. Eu desaparecera desde ontem sem dar explicações. Harry e Ron enfrentaram a Floresta Proibida junto a mim como sempre fazem. Desde que eu os conheci nunca nos separamos. Estava me sentindo uma ingrata, mas o momento pedia para eu agisse de tal forma.

Em primeiro lugar, Ron, esse dormitório é feminino. Imagine o escândalo que seria se um monitor encontrá-lo aqui? – disparei

Por um momento pensei que Rony me insultaria. Seu olhar de desprezo tomou conta do ambiente. Minha cama estava completamente desarrumada, assim como a de todas as outras alunas. Eu não sabia nem como estava minha aparência, mas pelo reflexo do vitral pude perceber meus cabelos rebeldes saltados.

Rony estava uniformizado, com o agasalho da Grifinória, o que indicava que fazia muito frio lá fora. Sua pele rosada salientava ainda mais as sardas e suas madeixas cor de fogo. Pensei em perguntar sobre Harry e por que ele não estava ali, mas fui interrompida como uma flecha que acerta o alvo.

– Tudo bem, Hermione. Não precisa justificar e nem compartilhar os seus segredos conosco. Só acho que nos preocupamos demais com alguém que não está nem aí para nós. Bom, só me garanta que nunca mais nos convoque quando for praticar esses seus encontros casuais com fantasmas demoníacos.

Rony, me entend... – fui interrompida novamente

– Já entendi tudo, garota. Só espero que não seja tarde quando todos estiverem mortos, inclusive você. Hoje de manhã os alunos da Corvinal, durante uma aula no campo de treinamento, foram surpreendidos com um feitiço desconhecido e que, por sinal, entortou os pés de todos. A aluna Mitchie Lambour está na enfermaria. O caso dela é tão grave que cogitam a amputação do membro.
E não é só isso, todos nós recebemos um bilhete dentro de nossas bandejas durante o café da manhã com uma frase aterrorizante. A professora McGonagall recolheu todos e os enviou para o departamento de defesa contra as artes das trevas, mas até agora nenhum comunicado oficial. Tenho certeza que Petter Lacun está envolvido nisso!

Meu coração parecia querer saltar pela boca enquanto Rony comentava sobre tudo que eu havia perdido naquela manhã. Nunca imaginei que maldições ocultam chegariam a pairar sobre Hogwarts afim de atingir, definitivamente, alguém que eu suspeito ser Alvo Dumbledore.

Eu não conseguiria permanecer calada, embora o sigilo solicitado a mim estive em primeiro plano no quesito preservação. Não era justo Harry e Ron ficarem à parte de tudo que ouvi na sala do diretor. Eu poderia ser a próxima vítima, ou, nós poderíamos ser.

– Não pode ser. Onde está Harry, Ron? – desabafei em tom de desespero.

– Harry está com McGonagall em sua sala!

Com McGonagall? Fazendo o que? – questionei surpresa.

Ron me informara que Harry fora chamada assim que os bilhetes apareceram durante o café da manhã, mas que não fazia ideia do motivo real por trás da intimação. Pensando com os meus botões, talvez, a diretoria esteja suspeitando que nós tenhamos dito algo que não deveríamos ao fantasma de Petter Lacun, afinal, já era de conhecimento dos superiores de Hogwarts que nós saímos às escondidas na noite anterior.

Ron, seja lá o que for, temos que nos manter em silêncio. Dumbledore me ordenou sigilo absoluto. Fui orientada a esquecer o assunto Lacun.

Ron me analisou de cima abaixo com um olhar criterioso. Em sua mente eu podia imaginar a quantidade de dúvida que surgira.

– Mas, por que ele te pediu sigilo? Não me diga que ela já sabe que adentramos na Floresta? – choramingou Rony.

Sim, claro que ele sabe! E não é só isso. Alvo também sabe da chegada de Petter Lacun ao reino mágico e do perigo que Hogwarts corre nesse momento. Mas, todavia, me assegurou que reforçara a segurança e que guardas estão atuando dia e noite para que nada saia do controle.

Há uma parte da alma de Lacun fragmentada em algo que passou por minhas mãos. Tudo bem que eu demorei para decifrar, mas essa madrugada, enquanto o silêncio dominava entendi que era do livro que Hagrid me dera que Petter Lacun se referia. A alma de Lacun está fragmentada no livro.

– Mas, se falharmos, tudo pode ir para os ares, Mione! – disse Rony em tom de desespero.

Minha vontade naquele momento foi a de ir embora de uma vez por todas para o mundo dos trouxas. Claro que todo o corpo acadêmico já estava suspeitando de algo, ainda mais depois do ataque contra os alunos no campo de treinamento e do bilhete na bandeja. Petter Lacun ainda não estava em evidência, mas suas ações sim.

Eu eu pensava que Voldemort seria nosso maior receio no mundo mágico, mas não. Acredito que a partir de agora temos que nos unir ainda mais e contar com um pronunciamento oficial de Dumbledore para com os alunos o mais breve possível.

O tempo poderia ser perigoso demais. Até quando Dumbledore esperaria para tomar uma atitude?

– Rony, Dumbledore não pode mais esperar. Parte da alma de Petter Lacun está entre nós e ele veio buscá-la. Caso isso não aconteça, Lacun não destruirá Voldemort, mas destruirá com todos nós.

– Voldemort? – gritou Ron

– Além de nós, Voldemort é maior alvo de Lacun. Afinal, foi o Você-Sabe-Quem que o matou por falhar em uma missão. – expliquei.

Rony demorou para processar toda a informação, mas pouco a pouco a digeriu. Seu medo por aranhas parecia ter sido esquecido. Petter Lacun era o maior trauma atual de todos nós.

– Mas, você já disse para Dumbledore que ninguém conseguirá destruir Voldemort? Ele é uma lenda, você sabe! – ironizou Ron.

– Sim, eu sei. Mas pelo que fiquei sabendo da própria boca do barbudo é que Petter Lacun é muito mais poderoso do que nós imaginamos. Por alguns instantes tive a impressão que até Alvo estava com medo do que ele seria capaz de provocar em Hogwarts. – tornei a explicar.

– Mione, se Lacun está disposto a destruir Voldemort, isso quer dizer que Voldemort retornará em breve e que ele não está morto como muitos imaginam por ai? – disse.

– Morto, Rony!? Eu não suspeitei que Voldemort estivesse morto. Está apenas fraco!
Se Lacun recuperar sua parte fragmentada um duelo de titãs acontecerá e...

Quando eu estava prestes a terminar de explicar para Rony sobre as consequências do encontro de Voldemort e Lacun, tudo escureceu. Olhando um para o outro, corremos para a janela e podemos ver no jardim uma onda de gelo congelar tudo, inclusive o sabugueiro maldito. O céu do dia nublado foi ocupado por uma escuridão infinita. Algo anormal estava acontecendo.

– Bichento? – meu gato entrara correndo em minha direção.

– Hermione, o que está acontecendo? – gritou Rony.

– Silêncio, Ron, silêncio! – ordenei.

Apenas nossa respiração se ouvia. Bichento não se movia, parecia ter visto algo muito assustador. O corredor estava silencioso o bastante para pensarmos que todos estavam dormindo, mas ainda era dia, tecnicamente falando.

E mesmo imerso em um frio profundo, não pudemos evitar o que começamos a ouvir no ar.

– NÃO TARDEM, NÃO FALHEM, NÂO IGNOREM MINHA EXISTÊNCIA. O RECADO JÁ FOI DADO, TRÊS ESTÃO AO ME LADO, LIBERTANDO O QUE EU DEIXEI OU SANGUE MÁGICO SERÁ DERRAMADO.

– É a voz de Lacun! – berrou Ron.

Em questão de segundos fomos lançados contra a parede do dormitório. Senti uma pancada muito forte em minha cabeça e, mesmo que eu tentasse ser forte o bastante, notei meu olhar se enfraquecer.

Bichento se escondera debaixo de uma das camas. Ron sangrava pela testa. A última gota de sangue ao tocar o tapete foi derradeira para que eu navegasse em um desmaio profundo e inesperado.

– Ron, me ajude... – tentei me esforçar, mas sem êxito.


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Notas finais do capítulo

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