Era para ser legal o primeiro café da manhã em família, certo? Errado, totalmente errado! O pai do Trevor fez questão que todos acordassem oito horas da manhã, em pleno sábado para tomar café da manhã. É lógico que eu reclamei muito, até concordar em levantar da minha cama quentinha. Trevor caminhava pela casa com uma cueca box branca. Droga, ele tinha que ficar fazendo isso a manhã inteira? Tentativa barata de me seduzir. Se ele conseguiu? Talvez!

- Garoto, tem como ser decente uma vez na vida e parar de ficar andando de cueca pela casa?! - Reclamei.

- Quer que eu tire? - Murmurou no meu ouvido. - Sem problemas!

- Ei, pode ir parando! - Me afastei dele. - Vai vestir alguma coisa. É o melhor que você faz!

Ele foi sem reclamar. Milagre? É, com certeza. Não acredito que o meu meio irmão seja um maníaco tarado! Trevor desceu rapidinho - incrivelmente vestido - e se sentou ao meu lado na mesa. Só havia o barulho dos talheres batendo no pratinho de porcelana em que comíamos cereais com leite.

- E então? - O pai do Trevor quebrou o silêncio. - Estão se dando bem?!

- Muito bem! - Trevor me abraçou forte de lado e bagunçou meu cabelo. - Melhor impossível!

Chutei sua canela com toda força e ele gemeu baixo e deu um sorriso forçado.

- Ah, isso é verdade, filha?! - Minha mãe sorria.

- Oh sim, totalmente verdade! - Sorri irônica.

Trevor me deu um beliscão na perna. O fuzilei com o olhar. O silêncio tomou conta da cozinha novamente. Decidi brincar um pouquinho com o Trevor. Pisei no seu pé e continuei a comer o cereal.

- Já deu! - Gritou.

- O que foi, irmãozinho?! - Sorri cínica.

- Eu não aguento mais comer! - Olhou sem graça para o seu pai. - Vou ensaiar com a banda. Aparece por lá depois, Ju! - Beijou minha bochecha e eu limpei-a disfarçadamente.

Trevor foi ensaiar com os meninos no porão. Mesmo que fosse embaixo da casa, era possível ouvir o barulho das baterias e guitarras perfeitamente. O vocalista tinha uma voz perfeita, parecia com a voz do... Trevor! O barulho foi diminuindo gradativamente, então presumi que eles tinham terminado de ensaiar. Resolvi passar por lá, como ele pediu. Bati na porta devagar.

- O que foi, pai?! - Gritou impaciente.

- Sou eu, idiota! - Gritei de volta.

Percebi uma euforia dos outros meninos da banda quando escutaram a minha voz. Eles sabem disfarçar tão bem...

- Calem a boca, babacas! - Ouvi a voz do Trevor abafada. - É só a July!

A porta foi sendo destrancada aos poucos e a maçaneta girou. Trevor saiu do porão e fechou a porta com os meninos lá dentro.

- O que você quer, pestezinha?! - Encostou no batente da porta.

- Você disse para eu passar aqui, então...- Me interrompeu.

- Levou aquele convite a sério?! - Riu.

- Não interessa! Eu vou entrar você querendo ou não. - Sorri e o empurrei para que eu passasse.

Abri a porta e entrei. Trevor veio atrás, bufando e reclamando. 

- Vamos terminar de ensaiar! - Fechou a cara.

Os meninos acenaram e continuaram a tocar. Eles começaram a tocar Burn It Down do Linkin Park. Apenas sentei e ouvi. O meu meio irmão chato até que cantava direitinho.

- Acabou! - Colocou o microfone de volta no tripé. - Tchau July. - Sorriu cínico.

- Já vai, Trevor?! - Devolvi o sorriso cínico.

Os amiguinhos dele estavam segurando o riso.

Ele suspirou.

- Por favor, colabora! - Sorriu forçado. - Você já assistiu a essa droga de ensaio, agora vaza daqui!

- Grosso! - Mandei língua e fui em direção a porta.

- Ju, espera! - Ouvi uma voz que aparentemente não era do Trevor.

Me virei. Andrew chegou mais perto.

- Não liga pra ele, não! - Passou a mão no cabelo. - É que é muita pressão por causa do festival, então...

- Festival?! - Perguntei confusa.

- É, a gente vai tocar pela primeira vez em público no festival de música aqui da cidade e o Trevor tá todo nervosinho. - Segurou minha mão. - Mas não liga! Depois a gente se fala. Tchau! - Beijou o canto da minha boca.

Sai do porão sem reclamar. Ele não tinha me dito nada sobre esse tal festival! Primeira aparição em público, é? Hmm, ótimo! Me aguarde Trevor Stand Miller.