– Andem logo! Não temos tempo a perder! Cindy, Derek! Quero que vocês comecem a ensaiar com seus figurinos! Andem, andem!

Cara... A Sra. Filler estava acelerada! Acho que ela tinha tomado mais café do que deveria naquela manhã! Ela parecia um furacão! Passava de um lado para o outro no palco e de vez em quando deixava cair alguns papéis da sua prancheta. Sinceramente... Eu nunca tinha visto a Sra. Filler tão enlouquecida como ela estava!

Eu e Derek nos entreolhamos e corremos para os nossos camarins/banheiros. Quando saímos, já estávamos vestidos como os personagens. Meu figurino nem era tão diferente do que eu costumo usar no dia-a-dia: camisa simples, jeans e all star. Já o figurino do Derek... Bom... Lembre-se que o personagem dele é um riquinho, então... Acho que já dá para imaginar o quanto mudou!

– Andem logo, crianças! Temos muito trabalho... - A Sra. Filler parou de repente, largou suas coisas em cima de uma mesa e se dirigiu ao banheiro. É... Acho que tomar muito café de manhã não deve fazer muito bem para a bexiga... Se é que você me entende? - Eu já volto, queridinhos! - Ela continou, já à porta do banheiro. - Dou 5 minutos para vocês terminarem de se arrumar! - E ela finalemente entrou no banheiro.

Comecei a andar de um lado para o outro, atrás da cortina vermelha, até que esbarrei em uma garota de óculos que estava carregando alguns equipamentos eletrônicos que deveriam fazer parte da iluminação do palco. Ela usava uma espécie de boina que não deixava eu ver totalmente o seu rosto.

– Me desculpe, me desculpe, me desculpe! - Ela falou rápido, sem nem me dar chance de dizer algo e começou a recolher alguns equipamentos que tinha deixado cair. - Eu sinto muito mesmo, de verdade, eu...

– Calma aí! Está tudo bem! - Eu a interrompi. Estendi minha mão e ela a apertou. - Cindy Parks. - Comecei a recolher os equipamentos junto com ela.

– Bom, todo mundo sabe quem é você... - Ela respondeu, ainda tímida e encarando o chão.

– Sério? - Sorri. - Enfim... Qual é o seu nome? - Perguntei. - Acho que eu nunca te vi por aqui...

– Meu nome é Katie e... Eu sou nova por aqui. - "Nossa, ela conseguia ser mais tímida do que eu!" pensei. "Se bem que depois de começar com a peça eu fiquei um pouco mais... Extrovertida? É, talvez..." - Eu e meus pais acabamos de nos mudar para a cidade e eu entrei na escola hoje mesmo...

– Ah, nesse caso, seja bem-vinda! - Exclamei quando terminei de recolher os equipamentos do chão e os entreguei a ela. - Mas... Se você chegou hoje, porque já está ajudando na peça?

– Bom... É que eu... Gosto muito de tecnologia e... Tinha um cartaz na porta do teatro dizendo que vocês precisavam de alguém para a iluminação e eu pensei que... Talvez eu pudesse ajudar... - Quando ela finalmente levantou totalmente o rosto eu pude notar que ela tinha algumas sardas no nariz e seus olhos eram cor de caramelo, mas seus cabelhos eram catanhos escuros e compridos igual aos meus.

Ela parecia ser legal, mas não tive muito tempo para conversar com ela, pois houvi a Sra. Filler falando de dentro do banheiro:

– É bom que todos já estejam em suas posições quando eu chegar aí!

– Acho melhor eu ir... - Falei para Katie. - Foi legal te conhecer. Talvez eu possa te mostrar alguns lugares legais na cidade qualquer dia, como o shopping ou o Café Farytales, lá eles têem os melhores donuts que eu já comi em toda a minha vida!

Ela riu e respondeu:

– Ok, então. Combinado, Mas... Acho melhor você ir logo para o palco, porque a Sra. Filler está saindo do banheiro agora.

Quando eu me virei, pude ver a Sra. Filler indo em direção ao palco.

– Até mais! - Falei rápidamente para minha mais nova amiga e saí correndo na direção do palco.

Corri para a entrada do palco oposta à que a Sra. Filler estava usando e corri mais ainda para ficar em minha posição. Quando ela chegou, logo disse:

– Srta. Parks, vamos do início. Piano, luzes e... Ação!

– Nossa! A Sra. Filler pegou pesado hoje! - Comentei, enquanto saía do teatro.

– Verdade! - Concordou Katie. - Aquela garota, Carmen, que ia fazer uma das irmãs malvadas... Saiu mesmo chorando?

– Sim!

– Não!

– É sério!

– Mas por que?

– Bom... Você sabe que a Sra. Filler tem um temperamento...

– Instável? - Perguntou Katie, segurando-se para não rir.

– Digamos que sim... - Nos entreolhamos e começamos a rir.

O que eu posso dizer sobre o ensaio hoje? Péssimo! Por causa da cafeína (que hoje descobrimos que deixa a Sra. Filler de mau humor) a nossa professora de teatro quase arruinou o musical! Ela criticou e ridícularizou tantos alunos que eu acho que metade do nosso elenco precisará de terapia pelo resto da vida! Sorte minha que eu escapei dessa. Me esforcei ao máximo para não errar uma fala sequer e nenhuma nota das músicas que eu terei de cantar (afinal, é um musical...).

– Quem será que vai ficar no lugar dela? - Perguntou Katie, me tirando dos meus devaneios.

– Não sei... Tomara que seja alguém tão boa quanto a Carmen atuando... - Respondi.

– Verdade... Ela é uma das poucas pessoas nesse colégio que conseguem fazer perfeitamente uma irmã malvada... Tirando, é claro, aquelas que são realmente malvadas! - Rimos do seu último comentário.

Era impressão minha ou a Katie estava muito mais relaxada e menos tímida do que hoje cedo? Não, não era impressão. Nós parecíamos duas amigas de infância! Quem visse aquela cena, nunca diria que nos conhecemos hoje.

Durante as partes do ensaio em que eu não participava (por exemplo, a parte em que aparece o Sam, o personagem do Derek, procurando a "Cinderela" do baile pela escola ou uma outra parte em que as irmãs malvadas estão planejando algo contra a Cindy), eu ficava conversando com a Katie nos bastidores. Ela era demais! Uma das meninas mais legais com eu já conversei! No início ela ainda estava muito tímida, mas ao longo da conversa ela foi se soltando, o que fez eu me perguntar: "Será que as aulas de teatro ajudariam ela também? Pois me ajudaram muito!". Mas depois da dose execiva de café da Sra. Filler mais cedo? Só digo que eu acabei chegando à conclusão de que a Sra. Filler só pioraría o estado dela.

Chegamos à sala de Katie e nos despedimos. Quando finalmente cheguei na minha, encarei minha triste realidade: aula de química. "Seja o que Deus quiser..." foi meu último pensamento antes de entrar na sala.