Duas portas enormes de carvalho, e que pareciam ser bem pesadas, se abriram e eu me vi encarando um dos salões mais bonitos que eu já vi em toda a minha vida!

Parecia um salão de filme, daqueles em que estrelas de cinema ou empresários multibilionários (o que o pai de Katie era) davam festas luxuosas, com direito a vestidos de gala e champagne!

Em um canto, havia uma enorme escadaria curva que levava ao segundo andar. Do outro lado, tinha uma laleira (que eu achei um pouco exagero, já que aqui em Los Angeles nunca fez tanto frio à ponto de precisarmos de uma lareira) com alguns sofás vermelhos e um lindo tapete branco. E bem no centro do grande salão havia um lindo piano de cauda Exatamente como nos filmes! Claro... Estávamos em Los Angeles, terra das estrelas, Hollywood! Eu esperava o que? Que eles tivessem um radinho à pilha?

– Katie... É tudo tão... Tudo tão... - Eu tentava débilmente colocar as palavras para fora, mas elas não cooperavam muito comigo...

– É, eu sei... - Ela disse um pouco envergonhada. - Um pouco... Exagerado, não?

– Exagerado? - Lancei para ela um olhar de: "Enlouqueceu?!".

– Ok, me desculpe se eu prefiro coisas mais simples como um i-pod a um piano! - Ela respondeu.

– Eu sei, foi mal... Mas é que.... - Olhei novamente ao meu redor. Precia um sonho! - É tudo tão fantástico!

Ela levantou uma sobrancelha, como quem diz: "Quem é você e o que fez com a verdadeira Cindy?".

Eu revirei os olhos e ri, mas antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa, um garoto que parecia ser um ano mais velho do que nós, no máximo, saiu de uma porta que eu nem havia notado antes, bem no fundo da sala, e veio em nossa direção. Ele usava calças jeans surradas, all stars bem detonados e uma blusa bem simples, nada muito chamativo. O que realmente chamava atenção nele eram seus cabelos loiros, totalmente bagunçados, mas que pareciam dar o seu "charme". Isso sem falar dos olhos castanhos, que pareciam um mar de calda de chocolate. O cara era um deus!

"Se bem que ele é um pouquinho mais baixo que o Derek..." pensei. "Epa... Por que eu comparei ele ao Derek? Ou melhor... Por que eu sequer pensei no Derek? Ah cara... Eu não posso estar apaixonada, simplesmente não posso!" Afastei os pensamentos da minha mente, bem no momento em que o garoto se aproximou de nós, com um sorriso que causaria inveja em qualquer ator de cinema e daria orgulho em qualquer dentista! Ele abriu os braço, como se fosse nos abraçar, e disse:

– Kay! Quanto tempo! - Então ele fez o que eu não esperava: pegou a Katie pela cintura, a colocou em seus ombros e começou a girá-la!

– Aaaaaaaaaaaaaaaaaaah! Me solta, Peter! - Ela gritava. - Você está querendo morrer?! É isso?! Pode ficar tranquilo, porque quando eu te matar, vou te dar um funeral dígno! Com dança em cima do seu caixão e tudo! Agora me solta!!

– Ah, que isso, Kay! - Ele não parava de rir! Sério... Será que ele estava mesmo querendo morrer?

Ele finalmente parou e colocou-a no chão. De início, ficamos um cinco minutos do mesmo jeito. Katie: ainda tonta, parada, com as mãos na cabeça e com o rosto um pouco esverdeado (acho que ela ia vomitar!). O garoto, louco (que, pelo o que eu percebi, era o tal de Peter): ria sem parar e acho que nem havia me notado alí ainda! E, finalmente, eu: a partir do momento em que o tal do Peter começou a girar a Katie em seus ombros, eu percebi que aquilo ia demorar... Então eu me sentei em uma das confortáveis poltronas perto da lareira e comecei a assistir à cena.

Estranho? Que isso! Estudando na escola que eu estudo, há dez anos, você com certeza não acharia aquela cena estranha! Mas resolvi comentar sobre aquilo depois, quando Katie e eu estivéssemos sozinhas.

Quando Katie, finalmente, se recuperou do choque, começou a correr atrás do Peter. Eles deram umas cinco voltas no piano, então ele correu para a escada e subiu até o segundo andar, com Katie em seu encalço, mas, quando ela estava quase o pegando, ele saiu escorregando pelo corrimão da escada e gritando:

– Nunca me pegará vivo!

Então saiu pela mesma porta de antes, no fundo da sala. Katie, ofegante, se sentou ao meu lado no sofá e disse:

– Odeio aquele garoto!

– Odeia mesmo? - Levantei uma sobrancelha.

– É! Odeio! Aquele garoto... - Só então ela se tocou do que eu estava falando. - Ei! Nem pense nisso! Nunca, jamais, pense isso novamente, ok?

– Não prometo nada! - Eu disse me levantando. - Onde eu posso deixar isso aqui? - Perguntei, indicando a minha mochila.

– Vem, eu te mostro. - Ela respondeu, já ficando um pouco mais calma e com a respiração mais regular.

Subimos as enormes escadas, que davam para um enorme corredor com enormes portas que pareciam ser feitas de uma madeira muito nobre. Tudo naquela casa era enorme e nobre? Aposto que tinham até frigobar nos quartos!

"Aposto dez pratas que não tem!" - Disse a minha consciência. Ela até que andava quieta esses dias... Bom... Na verdade, ela só aparecia nos dias de prova! - "Aposto vinte que tem!" - Rebati.

Depois de apostar com a minha própria consciência... Katie começou a me indicar cada porta daquela. "Quarto do papai... Escritório do papai... Banheiro... Sala de jogos..."

– Vocês tem uma sala de jogos? - Perguntei maravilhada.

– Temos. - Ela respondeu com um sorriso, já entendendo o porquê da minha pergunta. - E... Sim, Cindy, depois nós podemos ir para a sala de jogos.

Ampliei o meu sorriso. Ela riu e continuou a me indicar as portas. Passamos por uma porta que era completamente diferente. As outras portas pareciam ser de um mesmo conjunto: grandes, pesadas, de uma madeira bem escura e com uma maçaneta dourada. Essa não. Ela parecia ser mais leve, mais suave do que as outras. Era branca e tinha uma plaquinha com o nome "Katie" escrito em dourado e em letras cursivas.

– Seu quarto? - Levantei uma sobrancelha.

– Ei! Não julgue antes de entrar, ok? - Ela me repreendeu e se virou para a porta que ficava em frente à porta do seu quarto..

Estranhei. Normalmente, quando uma amiga minha (tudo bem... era sempre a Alison...) ia dormir na minha casa, eu arrumava um colchão e ela dormia no meu quarto. Mas eu esqueci que a Katie é bilionária. Acho que os bilionários fazem as coisas de um modo bem diferente dos simples mortais como nós...

Ela abriu a porta e fez um gesto com a mão, indicando para eu entrar no quarto.

"Uau!" pensei, mas só pensei mesmo dessa vez! Acho que se eu dissesse mais um "uau" acharia que eu sou louca!

Era um quarto bem grande! Tipo... Cabia o meu quarto umas três vezes alí dentro! E acho que ainda sobrava espaço para o banheiro! Era uma suíte muito linda! As paredes eram bege e, do lado posto à porta, havia uma grande cortina vermelho sangue, que devia estar cobrindo uma janela linda. O quarto ainda tinha uma cama de casal e... Ah! Sério? Tinha um frigobar!

"Há! Toma essa consciência!" - Eu disse (ou pensei... Ah, sei lá!) para a minha consciência. - "Você sabe que o meu dinheiro é o seu dinheiro... Já que SOMOS A MESMA PESSOA!" - Ela gritou (não me pergunte como) a última parte. - "Ai! Não precisava gritar! E, agora que você falou... Droga! Vou ficar sem o dinheiro..." - Respondi. - "É... Acho que é por isso que eu sou a consciência aqui, não é?" - Acho que minha própria consciência riu de mim... Ok, esqueça minhas brigas mentais!

– Esse é o quarto de hóspedes! - Katie anunciou. - É aqui que você vai ficar. - Completou.

– Sério? - Perguntei. Aquilo tudo não podia ser real!

– É. - Ela levantou uma sobrancelha. - Vai ficar aí parada?

– Ah, não! - Saí do meu transe pessoal, coloquei a mochila em cima da cama e a segui pelo o corredor.

– Quero te apresentar à uma pessoa. - Ela disse enquanto descia as escadas.