Estava tão irritada com este homem que só me apetecia bater-lhe. No entanto o meu cérebro também não ajudava.

  -Não te obrigo a acreditar naquilo que digo, mas tenho que te levar para o palácio, o meu rei quer ver-te.   

  -O quê?

E nisto fui levada para o palácio. Para me defender comecei a berrar, queria mesmo que ficassem surdos, assim podia fugir. Mas não adiantou. Estava agora dentro do tal palácio, realmente não me tinha enganado, era mesmo belo e luxuoso. Vi centenas de mulheres com comida na mão, comida apetitosa diga-se de passagem, e vários homens com armas na mão.

  -Mas o que é que se está a passar… - sussurrei. – Parecem aqueles bonecos que dão na televisão…

Levaram-me para uma sala juntamente com aquele homem do meu sonho, estávamos a ser acompanhados por um guarda e quando este viu o rapaz levou o punho ao peito e fez uma vénia. Quando chegámos à sala reparei que estava lá uma porta e ouvi o rapaz anunciar:

  -Aqui está a Sacerdotisa, Meu Senhor.

Tudo ficou em silêncio e conclui que iria ser entregue ao tão proclamado deus Vort.

  -Ouve…antes de ser entregue à fera diz-me que não é nenhum velho pervertido.

  -Como ousas desrespeitar Vort! Chamar-lhe pervertido é uma ofensa mortal. – Disse o rapaz-guerreiro.

  -A sério! É melhor ter cuidado com a língua – Ironizei – Responde-me à pergunta, é velho ou não?

Com ar ríspido respondeu:

  -Logo verás.

Nisto ouvi uma voz a autorizar a minha entrada. Estava feita! Pensei de imediato que tinha sido um prazer conhecer as pessoas que conheço e ser filha e irmã de uma bela família. Os meus pensamentos interromperam-se quando o guerreiro me empurrou para a entrada e fez-me cair dentro do quarto. Estava assustada até aos cabelos e os meus dentes tremiam bastante, não sabia o que iria acontecer dali em diante mas sabia que ao mínimo erro seria a minha morte.

  -Então és tu a minha Sacerdotisa. – Disse uma voz masculina.

Boa notícia! O homem não tinha voz de velho, menos mal.

  -P-parece q-que sim…

  -Não é preciso teres medo de mim. Neste momento não te vou fazer mal.

  -Neste momento… - sussurrei.

Quer dizer que me vai fazer mal? O que é que eu faço? Era horrível, não conseguia ver o homem porque havia um manto a tapar-lhe o corpo. E se fosse um velho com uma voz enganadora? Oh Meu Deus! Ajude-me com esta situação.

Como estava tão distraída a rezar pela minha sorte não reparei que estava uma mulher ao seu lado.

  -Para além de ser velho ainda é um mulherengo. – Murmurei.

  -E se eu te dissesse que não sou nenhum mulherengo. Acreditavas?

  -Eh! Mas como…

  -Minha linda, eu consigo ouvir-te a quilómetros.

  -Minha linda?

  -Nasceste para me servir, por isso é que tens essa marca no peito. Digamos que…és tecnicamente minha.

Juro que ouvi um risinho vindo daquela boca nojenta. Levantei-me de rompante e já enfurecida por ouvir aquilo disse:

  -Sua? Desde quando é que sou sua? Deve achar que sou como as criadas que lhe dão comida à boca!

  -Olha o respeito que tens para com o nosso Deus! – Refilou o rapaz-guerreiro.

  -Correcção rapaz, ele é o teu deus não o meu. – Contrapus em alto e bom som.

Ouvi uma gargalhada pelo quarto inteiro. O deus que proferiu o guerreiro estava agora a rir.

  -Apraz-me a tua atitude, minha Sacerdotisa.

Quando acabou de falar, levantou-se e revelou a sua aparência.

  -A partir de agora não te escapas das minhas mãos, Emma. – Sorriu.

Arregalei os olhos quando o vi. Nunca vira um homem tão bonito em toda a minha existência nem mesmo o guerreiro que aparecera nos meus sonhos superava. Aquele homem era um deus em todos os aspectos, tinha um cabelo ruivo, cor do fogo, os olhos eram da cor da lua, olhos cinzentos e profundos e era moreno, não como o que estava ao meu lado, mas era uma cor bela que transmitia luz. Usava vestes elegantes que mais parecia um robe. Não dos robes de banho, mas, não sei, algo muito mais belo. Ah e mostrava os peitorais. Também calçava sandálias e tinha uma espécie de coroa, ou talvez, um arco. Tinha o cabelo grande mas não como o do rapaz do sonho, tinha-o escadeado e havia franjinhas que ficavam à frente dos olhos.    

  -Como é que sabes o meu nome? Espera, não digas nada do tipo que sou tua e que está escrito no meu destino que te vou conhecer ou algo do género.

  -Que grande poder, Sacerdotisa. – Ironizou Vort.

Estava a ser bastante humilhada não só por aquele estúpido deus, como, também, por mim própria.

  -Bem chega de apresentações. Solju indica os aposentos da madame.

  -Com certeza, meu senhor. – Respondeu o guerreiro.   

Eu não estava a acreditar em nada disto. Era tudo irreal tenho a certeza, deve ser um sonho. No entanto fui levada para um quarto todo podre! Pronto, não eram aqueles quartos velhos em que se via teias de aranha e paredes sem cor. Admito que o quarto era melhor que o meu, mas comparado com o palácio em si, que era grande e elegante, por sinal, este quarto era dos piores.

Virei-me para Solju e disse:

  -Ouve lá, se eu sou a Sacerdotisa do teu adorado Deus, porque é que tenho que ficar neste quarto? Com certeza que até as empregadas têm melhores quartos que eu.

  -Agora já assumes que és Sacerdotisa? Só por causa do quarto? Nunca pensei que fosses egoísta.

Corei um pouco quando disse aquilo. Mas quem era ele para dizer que sou egoísta?

  -Eu não sou nenhuma Sacerdotisa! Muito bem, eu fico com este quarto, é muito melhor do que estar perto daquele homem!

  -Mostra mais respeito ao teu Deus!

  -Ele não é meu Deus! – Berrei – Além disso não te cansas de dizer sempre a mesma coisa? Ele é teu Deus, ele é teu Deus…não podes ser mais bem-educado?

  -Posso se o meu senhor autorizar.

  -Mal criado. – Bufei.

O rapaz tinha-se retirado do quarto e eu fiquei sozinha a pensar no que iria acontecer a seguir.

  -Neste lugar só existem nomes estranhos. Primeiro o nome desse Deus pervertido Vort, depois o nome do guerreiro com quem sonhei que se chama Solju, não podia chamá-lo de…Sun ou algo do género? Tenho a certeza que o nome dele tem a ver com o sol.

Estava exausta e com saudades da minha pequena irmã e do meu pai. Queria saber como é que eles estavam, se estariam a festejar o meu aniversário ou se estariam à minha procura. Estava com frio e com fome, queria o conforto da minha cama mas em vez disso tinha duma cama totalmente desconhecida. Queria ver o sorriso da minha irmã e a voz do meu pai a chamar-me, quando pensei neles deitei uma lágrima em cada olho, como tinha os olhos pesados decidi fechá-los e adormeci.

                                                                                ***

Que floresta tão bonita…Ah! Que sentimento tão tranquilizante é como se estivesse no céu. Nunca estivera num lugar como este até parece que faço parte dela, como se fossemos um só.

  «Sentes-te bem? Aqui?»

A voz de um homem?

  -Quem é você? – Estava assustada, só espero que não seja ninguém perigoso.

  «Ninguém com muita importância»

 Não conseguia ver a cara por causa do cabelo. Só vi o corpo e um sorriso que por sinal era belo também. O cabelo era da cor do pôr-do-sol, era alto e bem constituído, vestia uma camisola rasgada e umas calças de tecido compridas que rastejavam no chão.

  -Porque está aqui?

  «Este lugar é a única forma de puder acalmar o espírito. Não achas?»

  -Realmente tenho que concordar consigo.

  «Fico feliz.»

Ele olhou para o céu tinha a sensação de que iria ver o seu rosto, mas não consegui.

  «És a primeira pessoa que vejo aqui. Não consigo explicar, mas sinto algo mágico neste sítio, provavelmente, só deve deixar entrar pessoas com magia. Imaginei que seria o único, no entanto, acho que estava enganado.»

Virou-se para mim e vi de novo o mesmo sorriso. O meu coração começou a bater depressa.

  -Se esta floresta só deixa entrar pessoas com magia quer dizer que o senhor também a tem. Qual será a sua magia?

  «Não sei ao certo…Talvez seja a magia da felicidade? Ou da tristeza…Queria saber…»

Não tinha a certeza mas estava com pena daquele rapaz. Parecia tão triste e sozinho, de repente veio-me o desejo de querê-lo abraçar, mas não sei porquê? Aproximei-me um pouco, o suficiente para comparar a minha altura com a dele, notei que era bastante alto, mais do que aquilo que imaginem.

  -Isso depende, se tiver feliz ou triste. Acho que a magia de cada um depende do seu estado de espírito.

  «Conforta-me saber isso. Então significa que também tens magia devido ao teu ser interior?»

  -Provavelmente…mas digamos que não está lá grande coisa.

  «Aconteceu alguma coisa? Se estás assim é porque estás triste.»

  -É mais ou menos isso. É que…digamos que não estou no lugar onde pertenço.

  «Hm…uma coisa que eu aprendi foi que no local onde nós estamos, independentemente, do que seja, pertence sempre ao nosso corpo. Talvez estejas assim porque o hábito ainda não tomou conta de ti mas é natural.»

  -Se calhar é isso… Desculpa se sou malcriada, mas faz-me impressão trata-lo por você, acha que posso começar a trata-lo por tu?

  «Não me importo nada, esperava até que pergunta-se isso.»

Sorriu de novo. Senti-me feliz quando o vi sorrir, embora o meu coração não parasse de bater. Devo estar nervosa, assim o espero. E se não estiver? Isto quer dizer que gosto dele? Estás parva ou quê! É impossível gostar de alguém que só vi uma vez na vida, principalmente durante um sonho e essa coisa do amor à primeira vista é tudo mentira.

  «Sentes-te bem? Pareces um pouco preocupada.»

  -Ahn? N-não, não estou preocupada com nada é impressão tua. – Dei um riso forçado.

  «Estou mais aliviado. Uma última pergunta. Antes de acordares queria saber como te chamas.»

  -Chamo-me Emma, mas como é que sabes que eu…

E de repente abri os olhos. Não acreditava no sonho que tivera, como é que aquele rapaz adivinhou que eu ia acordar?