Se perguntassem a Kanda, quais coisas ele mais gostava, sem dúvidas ele responderia: Soba e Lutar. Mas isso estava prestes a mudar.

. : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : .

Ele estava ferido e respirava com dificuldade. As missões se tornavam cada vez mais exaustivas. Sua força parecia se esvair com mais facilidade, o que causava uma revolta no jovem japonês. “O selo está enfraquecendo”, pensou.

A enfermaria, onde Kanda estava se encontrava vazia. “Tch, Onde diabos está a enfermeira-chefe?” Ele se perguntava. Parecendo ter seus pensamentos correspondidos, alguém adentrou o local. Entretanto, não era quem ele esperava.

— Lenalee?!

— Desculpe a demora, Kanda. A enfermeira está em outra base no momento. Hoje serei eu a cuidar de você. Tudo bem? – Ela segurava uma bandeja com algumas gazes, medicamentos e instrumentos médicos.

—Tch. Espero que saiba o vai fazer. – Ele disse incerto.

— Não se preocupe. – Ela esboçava um sorriso gentil - De uns tempos pra cá, o número de feridos tem aumentado, então eu me ofereci pra ajudar. A enfermeira tem me ensinado muitas coisas. – Ela disse enquanto começava a limpar o ferimento no braço dele.

— Hm. – Ele grunhiu em resposta. O olhar dela era compenetrado, ele pode notar. Seu toque era suave, não era igual ao da enfermeira-chefe, que parecia querer arrancar o seu braço fora.

“Ele está coberto de sangue” ela observou enquanto embebecia uma gaze em um líquido de odor forte. Kanda contraiu a face em uma careta quando sentiu o remédio em contato com seu ferimento.

— Graças a Deus são ferimentos superficiais. – Ela sussurrou, observando alguns cortes no torço nu do rapaz. Estranhamente, as feridas não cicatrizaram como era de costume, isso preocupou a chinesa.

Kanda lhe lançou um olhar intenso. De inicio ela não notou, continuou a cuidar da ferida. Quando percebeu sentiu o rosto esquentar instantaneamente. Pigarreou, e foi limpar o sangue que cobria o ombro e o abdômen dele.

Limpava devagar, enquanto observava aqueles músculos, adquirido com um árduo treinamento. Ela não devia estar prestando atenção a estes detalhes, mas era inevitável ora! Afinal, ela também era humana.

Ela percebeu que o local da tatuagem estava totalmente limpo, sem sangue e sem feridas. Curiosamente, ela sentiu uma incontrolável vontade de tocá-la, e foi o que ela fez. Com receio, ela trocou o pano úmido de mão e desceu a mão livre lentamente, do ombro ao peito e contornou a tatuagem com o dedo.

O singular desenho sempre chamou a atenção da chinesa, mas Kanda constantemente fazia mistério sobre ela. Eram poucos os que sabiam o quão importante era aquela tatuagem.

O Exorcista que estava relaxado com toque dela, assim que sentiu o toque no selo, olhou-a com curiosidade. Aquilo era...bom. Quando percebeu o que estava fazendo e o olhar do rapaz sobre si, ela se afastou envergonhada.

Encaminhou-se para uma mesa próxima, fingindo pegar alguma coisa. Tentando ordenar os pensamentos, Lenalee nem reparou que agora, era ela que estava sendo analisada pelos olhos observadores de Kanda.

Não necessariamente ela, mas suas pernas. E que pernas! na concepção do rapaz. A reação dele não deve ser julgada.

Poxa! Ela tinha pernas longas e lindas por causa do treinamento e andava com uma saia curta, logo ela atraia muitos olhares, e o dele também. Afinal ele tinha 18 anos e como qualquer rapaz dessa idade, ele também tinha hormônios à flor da pele. “ A culpa é desses malditos hormônios!” ele tentava se convencer.

Sua dúvida era, se aquelas pernas tinha o mesmo poder sobre outros homens, do mesmo jeito que tinha sobre ele.

Engoliu em seco quando aquelas pernas, torneadas e macias voltaram a se mover. Imaginou como seria tocá-las. Deu um tapa na própria testa, tentando afastar as ideias erradas que se formava em sua mente. E lá estava ela ao seu lado de novo. Um silêncio sepulcral se seguiu, cada qual encabulado com seus próprios pensamentos.

Ela já terminava os curativos dele, quando a preocupação de a pouco, voltou a assolar. Os ferimentos dele não se curavam com a rapidez de antes. Ele sempre teve um sistema acelerado, ela escutou uma vez, mas parecia que estava com algum problema.

—Isso vai demora Lenalee? –Ele se virou para perguntar. Assim que viu o olhar preocupado dela, se calou.

—Já estou terminando Kanda. Não vou mais te incomodar – Ela forçou um sorriso.

—Você não me incomoda. – Kanda disse ainda confuso tentado ler o que se passava na mente dela. Sentiu-se aturdido com a veracidade em suas palavras. Ela não o incomodava.

Ela reparou que as pontas do cabelo dele estavam sujas. E mais uma vez ela o surpreendeu, soltando as madeixas negras dele do costumeiro rabo-de-cavalo.

Kanda com um olhar, pediu que ela explicasse aquele gesto, mas ela o ignorou. Ela não pode deixar de sorrir com satisfação quando o escutou bufar de desgosto.

Pacientemente, Lenalee secou o cabelo dele e começou a desembaraçar as mechas com uma escova que ela guardava na enfermaria.

Sem dizer nada, Kanda esperava ela terminar, agradecendo mentalmente por estar de costas para ela, do contrário, ela notaria o tom rubro em sua face.

Que humilhação! Estava sendo tratado como uma criança. Ainda assim ele não se queixava. Lenalee tinha esse efeito sobre ele.

Era engraçado o fato de ela ser a única que conseguia persuadi-lo ou despertar seu instinto protetor, coisa que ele nem sabia ter.

Piscou os olhos, como se despertasse para a realidade. Um aroma foi o culpado de tê-lo acordado de seus devaneios. Aspirou lentamente e sentiu um suave perfume de cacau, bastante conhecido por si.

Pra falar a verdade, já se pegou pensando nesse perfume várias vezes, até arriscou a roubar um fruto da cozinha do Jerry, apenas para não esquecer o cheiro característico. Todavia, ele nunca admitiria isso pra ninguém. Prefere lutar contra dez Akumas nível Três a dizer que fez algo do tipo em voz alta.

— Pronto! – Kanda escutou a garota exorcista dizer. Oh, sim! Aquele era o perfume de Lenalee. Nem notou que a garota havia terminado de ajeitar seu cabelo.

—.....Arigatou! – Disse a contragosto.

— Oh! Por nada! – Ela sorriu surpresa, parecia mais feliz agora. E Kanda agradecia por isso.

Lenalee sempre viu Kanda de forma especial. Mas ele sempre foi tão fechado. Lavi costumava dizer que ela enxergava nele algo que ninguém mais conseguiu ver. Pode parecer pretencioso, mas ela gostava de pensar assim.

Ainda de costas para Lenalee, ele recolocou a camisa, porém antes de se levantar, ele sentiu um peso no ombro. Será que ele poderia se surpreender mais ainda? Lenalee acabara de apoiar a cabeça no ombro dele.

— Você vai se cuidar, nee Kanda? – ela sussurrou para ele. Por um momento ele não respondeu. Lenalee de algum modo sabia sobre sua condição. Ela apertou sua camisa, e Kanda sentiu o coração bater forte- Você promete que vai se cuidar?

—Não seja boba garota. Eu vou ficar bem. – ela puxou com mais força a camisa dele – Tch, mas se faz você se sentir melhor, eu prometo. – Contrariando a si mesmo, ele se afastou e olhou-a nos olhos. Aquele bonito par de olhos. –Está bem?

A chinesa respondeu com um sorriso agradecido, como se aquela decisão se tratasse da vida dela. Kanda não pode deixar de franzir o cenho com aquela observação.

Lenalee sempre esteve ali. Sempre. E ele estava em busca daquela pessoa. Mas quando foi que se apaixonou por Lenalee e não percebeu?

—Ja ne – Ele pegou seus pertences e se afastou, antes que endoidasse de vez.

Kanda não se virou nenhuma vez enquanto saia da enfermaria. Que desventura foi ter decidido não olhar, pois assim não pode ver a reação de Lenalee que parecia ter chegado à mesma conclusão que ele.

. : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : .

Se antes, perguntassem a Kanda, quais coisas ele mais gostava sem dúvidas ele responderia: Soba e Lutar.

Mas agora, se fizessem a ele a mesma pergunta, ele responderia: Soba, Lutar e Lenalee. Não necessariamente nessa ordem.

Continua....