Era quase meia noite, e a lua estava cheia. A Sereia acabara de sair da água, tornando sua cauda em pernas longas e belas. Seu cabelo caía em cachos até sua cintura. A Sereia vestiu seu vestido de cetim e foi ao vilarejo procurar algum homem para seduzir, arrastar ao mar e comer sua carne, com suas irmãs.
         Enquanto isso, o Leão andava sobre suas quatro patas, e enquanto andava, se transformava em um homem esbelto e muito atraente. Sua juba se tornou um cabelo comprido, e os olhos pareciam pegar fogo. Ele seduziria uma mulher e a levaria até seu bando, onde todos os leões comeriam sua carne.
        Era uma noite especial. Noite de lua cheia. Noite de festas em vilarejos. A noite perfeita para a caça.
       A Sereia chegou em um vilarejo e se enturmou rapidamente com todos. Ela ouvia a música tocada pelos trovadores, que logo improvisaram algo a cantar para a bela dama, enquanto as outras mulheres sentiram inveja da beleza e graciosidade da novata. Mal sabiam elas que era uma Sereia, que roubaria um daqueles homens e o levaria para o fundo do rio.
      A Sereia aproveitou a música tocada para acompanhá-la com sua voz magnífica. Os homens quase praticamente babavam enquanto ouviam aquela voz perfeita, adocicada, melodiosa e feminina. Era assim que a Sereia escolheria seu alvo. Escolheria o menos interessado e o seduziria.
    O Leão passou por perto do vilarejo e ouviu aquela voz sobrenatural. Precisava saber quem era a mulher que cantava tão graciosamente, e saber se sua carne era tão doce quanto sua voz. Interessado, o Leão caminhou até o vilarejo. Todas as mulheres perceberam a presença do rapaz esbelto e ficaram cochichando entre si, mas o Leão foi procurar diretamente a mulher que cantava com tanta graciosidade, tentando não mostrar tanto interesse na mulher.
     A Sereia percebeu que havia um homem novo e que não lhe dava tanta atenção quanto os outros.
    É esse, pensou a criatura. Esse tem a carne saborosa que todas queremos.
    O Leão percebeu que aquela mulher não o olhava como as outras, pois havia um certo mistério em seus olhos.
    É essa, pensou ele. Ela que tem o sangue doce que matará nossa fome e sede.
    O canto da Sereia foi diminuindo, até a música tocar em seu lugar. Os homens e mulheres se animaram, e começaram a dançar. As mulheres tentavam impressionar o Leão, enquanto os homens tentavam impressionar a Sereia. Mas ninguém tinha sucesso. Apenas os dois conseguiram seduzir um ao outro, com a maior facilidade.
    E o Leão dançou com a Sereia, esquecendo-se de seu propósito, esquecendo-se de sua fome e sede. Apenas conseguia se concentrar no corpo delicado da moça que ele segurava enquanto dançava. E a Sereia se perdeu nos olhos do rapaz que a segurava, enquanto eles dançavam. Seus olhos pareciam queimá-la por dentro, fazendo-a esquecer da vontade da carne humana.
     E dançaram. Dançaram por várias horas, sem parar. Até que resolveram sair daquele local e se perder na floresta, onde se amaram por toda a noite.
     Antes do amanhecer, a Sereia voltou ao rio, e o Leão voltou ao seu bando. Eles não haviam conseguido a carne, mas seus irmãos e irmãs conseguiram.
      A Sereia se apaixonou pelo Leão, e o Leão se apaixonou pela Sereia. Mas, eles não poderiam ficar juntos, pois a Sereia era da água e o Leão era do fogo. Porém nada poderia acabar com a vontade, o amor que um sentia pelo outro.
     E foi assim até o final dos tempos : O Leão e a Sereia se encontravam todas as noites de lua cheia em meio a natureza, escondidos de seus bandos, escondidos das pessoas, escondidos do fogo e da água, para se amarem.