Rosenrot escrita por Rafael Deschain


Capítulo 2
Katharsis




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Ela saiu discretamente sem olhar para trás do prédio. Houve um mandado avisando que o prédio deveria ser evacuado imediatamente. Antes disto, ela teve que sair do escritório onde estava sem deixar nenhum rastro e, principalmente, sem ser notada.

Por de baixo da mesa, notou que os tetos possuíam túneis de ar e que ela facilmente caberia em um. Não. Essa idéia era doentia demais para ela e clichê. Ela precisava de algo que normalmente ela não via em livros ou filmes. Ela precisava de...

Um barulho oco soou no escritório. A cadeira detrás da mesa da recepcionista se mexeu e escostou na parede fazendo o acento girar um pouco. Os militares e médicos tiveram a sua atenção voltada para o ocorrido.

Suas armas foram empinadas abrindo direção no vento e caminhando atrás da parede. Suas poses padronizadas do modo stealth já não eram mais tão invisíveis assim.  Ao pé da cadeira, uma perna de cor branca, um pé vestindo um sapato de salto médio preto aveludado e, em cima das pernas, uma saia preta escorrendo até a metade da coxa. O corpo parecia ser inofensivo ou, ainda melhor, desacordado. Um dos militares, o mais perto do objeto cutucou a perna com as botas. Nenhum movimento, nenhum sinal de vida. Conforme o corpo foi aparecendo para o pessoal que estava na sala, a pose de Elizabeth foi se mostrando junto. Estava com um terninho preto e uma camisa branca. Seu cabelo era preto e já estava embaraçado. Ela parecia desacordada. 

Um dos médicos bateu com os dedos indicadores e o médio, juntos, na bochecha da mulher.

"Acorde!"

Nada. Bateram um pouco mais forte.

"Acorde! Ei!"

Uma tosse profunda, retirando as moscas do fundo do pulmão, invadiu a sala, mas não fez eco. Havia bastantes móveis por lá. Seu abdômen se contorcia conforme tossia. Uma forte ânsia correu seu céu da boca e a fez se engasgar, como se tivesse vomitando, mas nada saía.

Sua respiração mudou. Estava agora ofegante e desorientada.

"O-oque...o que está acontecendo aqui?"

"A senhora não sabe?"

"Não sei o que? O que está acontecendo?"

"Sr. Zalacks suicidou-se." Elizabeth fez uma cara de espanto, abrindo os olhos o mais que podia. "O corpo ainda está no escritório. Não há evidências ou pistas de possível assassinato e--.." Beth começou a balançar a cabeça bem lentamente. "A senhora está bem?"

"Sim, só estou meio zonza." fechou e abriu os olhos como se estivesse com sono, muito sono. "Ele chegou hoje de manhã meio estranho. E na hora do almoço o café parecia ter um gosto diferente."

Os médicos se entreolharam e subiram o olhar para um militar.

A médica foi retirando suas luvas.

"Precisamos fazer alguns exames com você, ok?"

"Exames? Que exam...Pra que exames?"

"Talvez você foi alvo de um envenenamento. Precisamos garantir que não e se sim, lhe solicitar um antídoto ou lhe encaminhar para um hospital urgente. Você sente enjôos?"

"Não, não sinto. Não, não me envenenaram! Ele não faria isso comigo! Sou sua... enfim.. Não! Ele não pode ter se matado!"

Beth começou a se fazer de desesperada. Se movia rapidamente no chão, ainda sentada. Estava querendo se levantar, mas os médicos impediam.

"A senhora está em estado de choque. Por favor, se acalme. Vou lhe encaminhar para uma das ambulâncias lá embaixo. Frank irá acompanhá-la." A médica chamou pelo outro médico que veio imediatamente e ajudou Beth a se levantar. Ela foi apoiada até o lobby dos elevadores. 

Tim. Um elevador chegou e ela ainda se apoiava em Frank. Ele apertou o botão com a marca em relevo "0". As portas se fecharam e o elevador começou a descer. Os botões se iluminavam e apagavam conforme o veículo descia. O botão iluminou o 91 e se apagou. Quando iluminou o 90, Beth puxou o pescoço de Frank até seu joelho que foi afundado no queixo do mesmo. Ele imediatamente desmaiou. O elevador ainda iluminava o botão 85. 

Ela o deitou confortavelmente no piso assemelhado a um mármore. Estava frio. 

Frank estava jogado em um canto e Beth procurava coisas em seu bolso. Achou um pequeno frasco de clorofórmio. Achou também um paninho para estancar ferimentos. Inundou o paninho no clorofórmio, pegou a máscara do doutor, depositou o pano no fundo da máscara e a pôs em Frank.

"Se ele acordar, irá dormir novamente."

O elevador agora estava no 60. Ela resolveu esperar e, é claro, olhou para o espelho para se arrumar. Prendeu o cabelo novamente, retocou o batom e arrumou sua roupa que estava um pouco amassada.

40

Frank começou a se mexer. Ela somente pressionou a máscara contra seu nariz e ele adormeceu novamente.

30.

Ela amarrou com mais pressão a máscara contra o rosto do médico. Sabia que o efeito não era tão duradouro, então resolveu jogar todo o frasco na máscara. Abriu um espaço entre o nariz e o tecido branco e despejou todo o conteúdo do frasco ali.

20.

Seu pé estava doendo. Retirou o sapato e massageou seu pé direito e depois o esquerdo.

10.

Seu o último retoque e, imediatamente apertou o botão 1.

1. 

As portas se abriram e ela saiu. No lobby não havia ninguém. Todos já haviam saído, parecia. Ela foi até a porta da saída de emergência e começou a descer as escadas. Uma voz que ecoava nos corredores da escada gritava:

"Vamos, quem estiver aí, venha logo!"

Beth desceu um pouco mais rápido até dar de cara com um militar segurando uma colt. 

"Vamos, senhora. O prédio está com ação de evacuação! Por favor, caminha depressa e naquela direção." Apontou reto para frente com a ponta da arma.

Elizabeth começou a caminhar. 

Ela ouvia ao fundo "Emergência! Ajuda! Um médico ferido aqui!"

Seus passos apertaram até ela sair do edifício. Seu andar foi misturado ao de milhares de outras pessoa na calçada.

Ela retirou o bilhete do sutiã e começou a ler. Notou que bem no fim da folha havia uma setinha "-->". Ela virou o papel e havia mais umas palavras.

"Você foi envenenada.

Você não tem muito tempo de vida. O veneno age rapidamente. Ele age ainda mais rápido se você se exercitar muito. 

Não corra.

Não se desespere.

Tudo vai dar certo.

Você só precisa produzir um antídoto para você e..."

Beth não conseguiu ler as outras palavras que seguiam esta. Sua visão começou a ficar turva. Duas imagens se formaram e se intercalavam entre si. A visão se divergia para todas as perspectivas do campo tridimensional. 

Seu estômago começou a esfriar e algo lhe subia pelo esôfago. Tentou manter o vômito ainda dentro de si. Se vomitasse, ficaria desidratada e ainda mais fraca. 

Sua pernas não estavam com muito mais força. Ela não sentia se conseguia andar ou não. Começou a cambalear para um lado e para o outro. Tentava focar sua visão e pensava "Se concentre. Você está viva. Isso prova. Se concentre. Não leia. Só tente fazer tudo através dos símbolos."

Uma cor amarela parou ao seu lado. O contorno se assemelhava a um carro sedan. Sua visão estava cada vez mais embaçada. Sua cabeça estava inclinada para trás, sua boca aberta quase babando. Suas mãos apalpavam o carro à procura da maçaneta. Uma textura diferente, um pouco fria e de um objeto com tamanho pequeno foi achada pela sua mão. Ela procurou algum lugar para enfiar os dedos e...

Click.

Abriu.

Ela entrou e capotou no banco. O taxista saiu imediatamente e fechou a porta do carro, arrumando as pernas da mulher para se acomodaram no banco de trás.

"Calma, Beth. Você está segura agora."

O carro se foi, se perdendo no trânsito e nas ruas.


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