Há coisas que não conseguimos entender

9

O dia virou noite abruptamente, porém, Cinderela não pôde adormecer, pois, ao encostar a cabeça no travesseiro dormiria num sono repleto de sonhos sobre Truddy, Zofia, Charmin, Charlotte e sobre o príncipe. Dormir seria mais doloroso do que simplesmente manter os olhos abertos e a cabeça nas estrelas; embrulhou-se em sua colcha e sentou na varanda de sua torre.

Lembrou-se das histórias que seu pai lhe contava: Heracles perseguindo o leão de Nemeia, Apolo em sua incessante busca por uma cobra, cujo nome ela nunca lembrava e aquelas princesas sortudas que sempre viviam felizes para todo o sempre.

Estava imersa em lembranças felizes, quando escutou passos e uma respiração leve.

Era o príncipe, vestindo pijama azul-marinho e com os olhos perdidos; sem dúvida, os boatos eram exagerados, porém tratavam da mais pura realidade: Edgard estava confuso e com medo.

— Bree?— ele perguntou melancólico— É você, Bree? Eu preciso saber! É você, Bree?

 — Edgard, você está bem?! — Cinderela rebateu— Eu sou Cinderela.

— Não é. Não pode ser. Cinderela não foi ao baile. Não, não foi. Eu sei quem é Cind, ela parece com você, mas é bem mais inteligente, é sisuda e meio petulante. Ela é a mais bela dama desse reino imundo, e... Eu a amo. Não posso estar apaixonado por você, Bree! Não posso amar alguém mais do que eu amo a Cind!!!

— Edgard! Eu sou Cinderela, Bree não existe! Ela foi obra da minha imaginação... E... Você não ama Bree mais do que ama a mim porque eu sou Bree.

— Cind?— ele perguntou, seus olhos começavam a ganhar foco e a confusão em sua mente a definhar. — Não pode ser... Cinderela?

— Óbvio.

— Bree! Isso não vai dar certo nem que você imite a Cinderela.

— Não estou imitando ninguém, seu idiota!

— A Cind sabe ser cínica, isso foi uma tentativa inútil da sua parte.

— Edgard... Pode usar esse seu cérebro de gênio por apenas um segundo, ou vai continuar sendo... UM PATO DE CÉREBRO DIMINUTO?!

— Cinderela?

— Sim, Edgard, sou eu.

Ele franziu as sobrancelhas.

— Você me ama?

— Amo. — ela admitiu

Ele a abraçou forte, e beijou-lhe a testa:

—Eu... Eu estou tão confuso! Eu tive lembranças, Cind! Como as que você costuma ter, mas e eu não pude suportar, não sou forte como você, lembrei-me do dia em que minha mãe morreu.

— Edgard! Você é muito mais forte que eu! É mais inteligente e... resolvido.

— Pare. Você sabe que não é completamente verdade, eu me tranquei no quarto porque vi coisas que não queria ver, enquanto você sempre permaneceu firme e forte.

— E você sabe que está exagerando, eu me derretia em lágrimas toda vez que tinha lembranças!

— Não estou!— ele contestou.

— Você é tão teimoso!

— Você é tão marrenta!

—Urgh! Você é tão... Você! — ela torceu o nariz.

— Humm, mas você me ama mesmo assim. — disse ele erguendo uma sobrancelha.

Era o príncipe voltando a si.

Era Cinderela beijando o príncipe. Era o príncipe beijando sua princesa.