Entre Céu & Mar escrita por Tassi Turna


Capítulo 4
Hotel California


Notas iniciais do capítulo

Gente, mil desculpas pela demora, fiquei envolvida com algumas coisas, mas finalmente consegui postar. Espero que gostem!
Música recomendada:
Hotel California-Eagles



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Eles aproveitaram cada segundo que tiveram juntos, desejando que a noite nunca acabasse, mas infelizmente, o sol tinha que fazer a sua obrigação.

   Não se sabe ao certo como, mas Evellyn conseguiu voltar para a casa, mesmo no estado em que se encontrava. Com muita dificuldade abriu a porta com a sua chave, andando na ponta do pé, toda cautelosa para não acordar ninguém.  Logo que chegou ao seu quarto, desabou na cama, sem se dar o trabalho de se trocar. O sono a envolveu rapidamente, e dormiu feliz ao se dar conta de que nunca havia se sentido daquele jeito antes. Sentindo que nada no mundo poderia roubar o sorriso que ali permanecia. Até aquele momento.

                                                             ***

   Os primeiros raios de sol invadiam o quarto de Ágata, atingindo em cheio suas costas descobertas. Acordou antes de seu alarme, ouvindo algo semelhante a um gemido, vindo do banheiro. Provavelmente alguém não estava bem. Com certa dificuldade, ainda dominada pelo sono, dirigiu-se lentamente até a porta do banheiro. A cena presenciada não poderia ser mais esperada.  Evellyn, debruçada na privada, devolvia tudo de volta, e Kate estava bem ao seu lado, enquanto ela fazia força para vomitar.

-Não posso acreditar nisso Evellyn! Você não tem jeito mesmo, não é?Deus! O que é que você tem nessa cabeça afinal?- Gritava Kate, olhando desapontada para Evellyn, cuja aparência não era nada saudável. Evellyn resmungou qualquer coisa grosseira demais para ser descrita, mas Kate preferiu ignorar.

  Kate não suportaria ficar ali nem um segundo a mais. Vendo isso, Ágata logo tomou o seu lugar.

-Tudo bem Kate, eu cuido dela agora. -Disse, aproximando-se de Evellyn, pondo-se a lhe ajudar, enquanto esperava até que a irmã se livrasse de tudo aquilo. Sem hesitar, ligou o chuveiro e a empurrou embaixo de um jato congelante. Evellyn entrou em choque com aquela água tremendamente fria, que a trouxe de volta à realidade num segundo.

-Mas que droga Ágata! Está congelando!-Gritou Evellyn.

-Era para você cair na real de novo Evellyn. Depois tome qualquer coisa que a faça se sentir melhor, e, por favor, tente andar na linha!-Respondeu Ágata, jogando uma toalha perfeitamente limpa para a irmã.

                                                             ***

   Uma ducha fria foi o bastante para Evellyn retomar a consciência. Embora que a enxaqueca não lhe deixasse por nada naquele mundo. Apesar da forte ressaca que sentia, Evellyn estava feliz, pois aquela era uma prova de que a noite passada fora real, e não apenas um sonho.

  Rapidamente se arrumou, com uma aparência bem melhor dessa vez. Pronta, dirigiu-se para a cozinha. O ambiente inteiro cheirava ao aroma delicioso do café ao ponto, criando uma atmosfera aconchegante. Logo sendo destruída ao dar de cara com a figura repugnante de Connor. Suas belas feições, e seu cabelo ruivo não eram justos ao termo repugnante, que Evellyn usava para designá-lo, mas o seu gênero sim, pois Connor não se passava de um tremendo cretino. Evellyn, assim como Ágata, se perguntavam todos os dias como Kate era capaz de suportá-lo.  Ele estava preparando mais um de seus cafés tremendamente doces, vestindo seu robe xadrez ridículo, como se fosse o dono da casa. Ela ainda não havia se acostumado com o fato de Connor passar mais tempo ali do que em sua própria casa.

  Ao ver que Evellyn se aproximava, Connor abriu o sorriso mais sarcástico que tinha:

-Bom dia Evellyn! Enfim abandonou o banheiro! Noite e tanto não é?-Disse ele. Evellyn lançou-lhe um olhar raivoso.

-Não me encare tanto Connor, meu estômago ainda não está bem. -Respondeu ela, ainda com a voz grogue de sono, procurando em todas as gavetas algo que desse fim à sua dor de cabeça.

-Garanto que seu estômago está melhor que o seu cabelo. -Disse Connor, em referência ao cabelo desgrenhado de Evellyn, que apenas o ignorava. Ele continuou:

-Quer algo para enxaqueca? Tome o meu café. É um santo milagreiro. Sempre resolvia para mim quando eu tinha a sua idade e, assim como você, também não sabia beber. -Evellyn sentiu uma pontada de provocação, mas respirou fundo, decidindo que ele não iria estragar o seu dia. Pegou o café, certa de que melhoraria em instantes.

                                                                       ***

   Alguns minutos depois Ágata desceu para o café, já arrumada, com uma expressão serena no rosto. Parecia estar bem disposta para o primeiro dia de aula, e de certa forma, ela estava.  Kate desceu logo depois, e bem diferente de Ágata, ela parecia estar furiosa, fuzilando Evellyn com o olhar.

-Bom dia!-Disse Connor, recebendo-a com um beijo demorado, esquecendo-se de que não estavam a sós. A cena enojada ambas as irmãs.

  O namoro entre Kate e Connor não era muito recente. Eles se conheceram na empresa, onde foram se tornando mais próximos. Claro, Kate era uma novata e não conhecia nada do funcionamento da empresa, e Connor era experiente, pois era o braço direito dos donos. Meses depois, eles firmaram o namoro, e desde então, estão juntos, há quase três anos. Porém, nunca passaram para algo mais sério, como noivado. Não era por falta de oportunidade, porque era tudo que Connor poderia querer naquele momento, mas Kate fugia o quanto podia de tudo que fosse compromissos. Uma vida concreta com alguém não lhe atraía. Ágata e Evellyn adoravam isso, pois ambas não gostavam de Connor, e torciam que a tia percebesse em que furada havia se metido e abandonasse o barco enquanto fosse possível.

  Sentindo-se completamente excluída no meio de tanto “amor”, Ágata virou-se para a irmã, demonstrando preocupação.

-E então Evellyn? Está se sentindo melhor?-Perguntou. Como os diálogos entre as duas eram raros, a pergunta pegou Evellyn de surpresa.

-Ah, sim, estou bem, de verdade. Obrigada. -Disse Evellyn, tentando parecer mais simpática o possível.

-Pois bem, porque você não vai faltar ao primeiro dia de aula. –Disse Kate, em tom superior.

-Oh! Enfim está com a boca livre para falar! –Disse Evellyn. Ágata não pôde conter o riso.

-Evellyn! Mais respeito com a sua tia! –Disse Connor, em defesa de Kate.

-Quem você pensa que é Connor? Você não tem o direito de falar comigo nesse tom. –Retrucou Evellyn, realmente chateada, pois às vezes o poder subia a cabeça de Connor. Ele lembrava o seu pai quando falava assim.

-Pra mim chega por aqui. Estou saindo. –Disse Ágata, por fim, pegando sua mochila e as chaves, enquanto sua “família” se despedia.

                                                                 ***

   Finalmente agora Ágata poderia ficar só, apenas na companhia de seus pensamentos. O “deslize” de Evellyn quase a fizera esquecer-se da noite patética que teve ontem. Com certeza, a noite de Evellyn fora melhor que a dela, e nesse ponto ela sentia inveja. Sua noite se resumiu a conversas sem conteúdo e mimos exagerados de suas amigas com os novos namorados, além de um par de última hora arranjado. O encontro surpresa não poderia ser pior, pois Brendan não passava de um galhofeiro egocêntrico e sem conteúdo. Ágata não queria vê-lo nem pintado de ouro, mas sua raiva era mais direcionada à suas amigas, pois mais uma vez elas haviam aprontado com ela.

Desviando os pensamentos negativos, Ágata ligou o rádio, na esperança de que a música lhe ajudasse a relaxar. Não demorou muito para chegar à escola, e já tinha localizado um ótimo local para estacionar, quando o seu celular começa a tocar. Ainda com as mãos ao volante, Ágata pegou o celular, para ver de quem se tratava. Era uma mensagem, cujo remetente não poderia ser mais repugnante:

“-Ei, Gata! Você foi embora tão cedo ontem! Isso me deixou triste, sabia? Mas você tem mais uma chance de me fazer feliz! Adorei o nosso papo ontem e quero sair com você novamente, nos conhecermos melhor.. Bem, vou esperar você me ligar... Beijos. - Brendan.”

“Vai esperar tanto que entrará em estado de decomposição, seu idiota.” Pensou Ágata, apagando a mensagem com toda a raiva. Ela ficou com tão pasma com sua idiotice que não foi capaz de respondê-lo, ficou tão pasma, mais tão pasma que não ouviu o grito assustado de alguém à sua frente.

Ágata freou o carro imediatamente. Um minuto a menos e algo trágico teria acontecido, mas para a sua sorte, Ágata tinha um bom reflexo. O movimento brusco fez o arco de seu cabelo ir parar no pescoço, e com o susto, a tal vítima caiu. Ágata se congelou na hora, ela não era capaz de fazer mal a uma abelha, que dirá uma pessoa? Mas, para o seu alívio, a figura de capuz preto levantou-se, e parecia estar tudo bem.

-Vê se presta atenção! Sua maluca!-Gritou o rapaz de capuz preto.

-Por favor! Desculpe-me!- Gritou Ágata, mas já era tarde, e a figura do capuz já havia seguido o seu rumo.

                                                                   ***

  Ágata saiu assustada do carro, algumas pessoas olhavam para ela, com certo ar de gozação pelo ocorrido. Sem poder conter a vergonha, ela apenas os ignorou, e seguiu o seu destino, torcendo para não encontrar Anna e Sofia pelo caminho. Seu desejo foi realizado, ao invés de topar com ambas, ela encontrou Charlie, cuja presença era bem mais agradável. Embora ambas as suas amigas o detestassem, Ágata não ligava. Charlie era o seu melhor amigo desde a infância.

-Charlie!-Gritou Ágata, correndo para lhe abraçar.

-Ah! Olá Ágata!Quanto tempo, senti sua falta... –Disse Charlie, sua voz um pouco trêmula, pois sempre ficava nervoso ao lado de Ágata.

-Também senti sua falta! Você não mudou nada! –Disse ela, em razão ao visual costumeiro de Charlie, perfeitamente comportado. O cabelo negro sempre com o mesmo corte, sem alterações, e o seu inseparável óculos.

-Pois é... Nunca mudo... –Disse ele, um pouco desapontado. –Você, em comparação está ótima... Como sempre.

-Obrigada Charlie - Disse ela.

-E então, como foram suas férias? Perguntou Charlie, verdadeiramente curioso. Ágata lhe contou todos os detalhes de suas férias, inclusive o episódio da noite anterior; Charlie era o único amigo com quem podia falar sobre tudo.

-Não devia ficar brava com elas, afinal, elas não fizeram por mal. - Aconselhou Charlie, arrepiando-se com a ideia de Ágata na companhia de outro homem.

-Talvez você tenha razão, mas mesmo assim, estou zangada. Elas deixaram a perceber que eu não sou capaz de encontrar alguém em especial sozinha!-Disse Ágata. Charlie suspirou, pois sabia que aquilo era verdadeiro. Ágata era ingênua demais, a ponto de nunca perceber o que ele sentia por ela esses anos todos. Mais à frente, aproximavam-se Anna e Sofia.

-Suas amigas estão vindo aí, é melhor eu me afastar, mas, pense bem no que eu disse. –Disse Charlie, antes que ela pudesse o impedir.

-Oi Ágata.. –Disse Sofia, aproximando-se timidamente.

-Oi meninas.. –Disse Ágata, tentando ser o mais natural possível. Anna, impaciente como era, foi direto ao ponto.

-Está zangada com a gente?

-De certa forma, talvez. –Respondeu, secamente.

-Bem, se está ou não está não há motivo. Arrumamos um cara perfeito para você, e você o ignorou a noite toda. –Retrucou Sofia, com ar esnobe.

-Cara perfeito? Por favor! Ele só tinha beleza, nada mais. Era insuportável ouvir a voz dele, a conversa simplesmente não fluía, ele parecia ter dois anos, e nem vou mencionar as piadas dele. Por Deus!-Até a minha escova de dentes tem mais graça do que aquilo!-Disse Ágata, sem conter as palavras. Até certo ponto, elas compreendiam Ágata, mas achavam que ela estava exagerando.

-Bem... Acho que lhe devemos desculpas. –Disse Anna, por fim. Sofia confirmou o pedido.

-Desculpas aceitas. -Disse Ágata, pondo fim àquela conversa, dirigindo-se par a sala.

                                                                 ***

 A primeira aula que tiveram foi a de história. O professor não tardou a chegar. Era um homem de aparência cansada e corpo franzino. Devagar, ele foi escrevendo no quadro seu nome, “Sebastian Miller.”

-Bom dia classe. –Disse a voz rouca de Sebastian. Ele se apresentou rapidamente, e logo em seguida indicou uma página no livro. Ele nunca fora de muitas conversas.

  De repente, a porta se abriu violentamente e a figura ofegante de Evellyn apareceu. Havia perdido a hora mais uma vez.

-Com licença. –Disse ela, tão baixo quanto um rato. Sua face corada de vergonha, ao perceber que todos olhavam para ela, inclusive o professor, que a fuzilava com aqueles olhos cinzentos. Evellyn dirigiu-se rapidamente para a carteira bem atrás de Madison.

-É lamentável que a política desta escola seja tão liberal. –Comentou Sebastian.

 O decorrer das aulas foi normal, até certo ponto. Algumas mais animadas que outras, e algumas, em particular, onde era quase impossível se manter acordado.

                                                                 ***

  Enfim, já era hora de sair. Uma verdadeira algazarra se formou no meio de todos aqueles adolescentes que saíam pelo portão. Evellyn avistou seus amigos no lado mais afastado do colégio, atrás do muro. Entre eles, ela reconheceu Madison, Jeremy, Lexy e Tyler. Curiosa, aproximou-se um pouco mais. Madison retirou um pacote estranho da mochila, e exibiu para seus amigos, que olhavam surpresos. Ela parecia estar convencendo-os de algo. Isso acendeu ainda mais a curiosidade de Evellyn, que se aproximou ainda mais, queria descobrir do que se tratava. Madison, ao avistá-la, rapidamente escondeu o pacote.

-Oi galera. –Disse Evellyn, naturalmente. Todos disseram “oi” ao mesmo tempo, mas agiam de uma forma estranha. Aquilo tudo havia deixado Evellyn impaciente, e já estava pronta para começar um interrogatório.

-Madison, que pacote era aquele? –Perguntou ela, sem ligar par a inconveniência. Madison disfarçou naturalmente.

-Não era nada de mais Eve, apenas um lance meu e do Alex. –Respondeu ela. Propositalmente, Madison havia dito a palavra chave. Tudo que fosse conveniente a Alex, Evellyn preferia ignorar. Mas aquele pacote suspeito ainda a intrigava. Percebendo isso, Madison logo se manifestou:

-Então Eve, conta mais sobre o que aconteceu entre você e Hank na praia ontem!-Disse ela, alto o bastante para que todos ouvissem.

-Como é que é?!Evellyn e Hank estão juntos?!-Perguntou Lexy, surpresa.

-Não estamos juntos!-Respondeu Evellyn. “Não ainda,” pensou. –Só nos beijamos.

-Bem, isso já é algo. –Disse Madison. –Você deve me agradecer, sabia?

-Não exagere Madison, não é nada sério, ok? Ele nem me ligou, e provavelmente não irá ligar, eu já vi esse filme antes... Disse.

-E você parece bem triste por isso. –Acrescentou Madison. Evellyn não a respondeu. Não havia lógica, ela nem o conhecia direito. Era óbvio que se sentia atraída por ele, mas não ao ponto de estar apaixonada. Pelo menos era o que repetia para si mesma.

-Bem gente, o papo está ótimo, mas eu tenho que ir. –Disse Jeremy. Evellyn já havia se perdido no assunto que falavam,

-Eu também já estou indo. –Disse Madison, despedindo-se dos demais.

-Ei, Madison!Depois combinamos direito o preço. –Disse Tyler, criando o ar de mistério. Madison lançou um olhar assustado para ele.

-Ok, Tyler. Respondeu Madison, naturalmente. Aquilo tudo era muito suspeito. Se antes Evellyn suspeitava de algo, agora tinha certeza de que tudo aquilo não cheirava bem. 

                               ***

O dia passou rapidamente, a tarde chegara ao fim. Geralmente, era esse o horário escolhido por Ágata para realizar suas caminhadas. Ela sempre ia até um pequeno parque, não muito distante de casa, sempre quando precisava relaxar. Hoje não era um dia diferente. Como de costume, Ágata pôs sua roupa de ginástica, e seus fones de ouvido, e desceu até a sala. Kate não havia chegado ainda, e a única pessoa que encontrou ali foi a sua irmã. Evellyn fingia estar prestando atenção ao noticiário da TV, mas na verdade sua mente estava bem distante.

  Ágata se despediu da irmã, e então se dirigiu para o tão conhecido trajeto. Em um bom ritmo, ela não levaria muito tempo para chegar ao seu destino. Fazia uma tarde tremendamente perfeita, dava para sentir o frescor dos ventos vindos do oceano, e por onde quer que ela olhasse, veria rostos conhecidos. Era verdade sobre o que diziam daquela região, aquele era um lugar pacífico aparentemente. Só aparentemente.

  O parque mais parecia na verdade um imenso jardim. Era coberto por flores e árvores. Havia um chafariz ao centro, que vivia cercado de pássaros, e alguns balanços espalhados pelos cantos. O parque era mais frequentado por crianças, e alguns ambulantes que lhe vendiam guloseimas. Fora isso, quase não se via uma alma viva.

  Ágata sentou-se em um dos balanços, a fim de recuperar o fôlego um pouco. A leve brisa trazia o perfume das muitas flores ao seu redor, enquanto ela balançava num movimento lento e monótono. Ao seu lado aglomeravam-se algumas crianças eufóricas, ao redor de um sorveteiro. A cena lhe deixou com água da boca, e de imediato resolveu comprar um sorvete também, afinal, fazia muito calor.

-Um de morango, pode ser?-Ela disse ao sorveteiro, que rapidamente atendeu ao seu pedido.

  Enquanto saboreava seu sorvete, um som além das gargalhadas infantis lhe chamou a atenção. Era o som de um violão, tocado perfeitamente, mas um pouco distante, impedindo-a que identificasse sua origem, O som era familiar, e aos poucos ela foi recordando da canção ali tocada. Hotel California, do Eagles, era esse o seu nome, Ágata se lembrava perfeitamente, mesmo que não a escutasse havia muitos anos. Uns mistos de lembranças lhe vieram à mente naquele momento.

-De onde vem essa música?-Ela perguntou aos ares, olhando por todos os lados na tentativa de achar sua origem. Quem acabou com o mistério foi o sorveteiro ao seu lado:

-É aquele jovem rapaz outra vez.. De uns dias pra cá ele aparece todas as tardes, e nunca larga desse violão, como se estivesse cantando suas mágoas. –Disse ele, apontando para um banco distante, onde ele se sentava sempre. Ágata agradeceu ao sorveteiro e devagar, foi se aproximando do tal músico. Ela ficou um pouco atrás do banco, de modo que ele não a visse. Ele, no entanto, nem suspeitava que alguém o observava,e continuou inocentemente. Cada acorde era de extrema perfeição, e Ágata se via cada vez mais encantada pela música. Nenhuma palavra saía de sua boca, mas não era preciso. O violão falava por ele.

  E quando a música chegou ao fim, Ágata não hesitou em ir elogiá-lo. Virou-se de modo que ficasse de frente para o músico, e já sabia o que ia falar até aquele momento. Porém, quando seus olhos se encontraram, pela primeira vez, ela ficou sem fala.

  O silêncio entre eles durou tempo suficiente para se tornar constrangedor. Ágata estava totalmente hipnotizada por aqueles olhos castanho-escuros, e da mesma forma, ele se via totalmente perdido naqueles dois mínimos pedaços de céu. 

E quando a música chegou ao fim, Ágata não hesitou em ir elogiá-lo. Virou-se de modo que ficasse de frente para o músico, e já sabia o que ia falar até aquele momento. Porém, quando seus olhos se encontraram, pela primeira vez, ela ficou sem fala.

  O silêncio entre eles durou tempo suficiente para se tornar constrangedor. Ágata estava totalmente hipnotizada por aqueles olhos castanho-escuros, e da mesma forma, ele se via totalmente perdido naqueles dois mínimos pedaços de céu. 

-Oi... –Disse ele, enfim, quebrando o silêncio.

-Oi!-Respondeu Ágata. –Me desculpe se te assustei, é só que... Ouvi você tocando e, você toca perfeitamente bem!- Completou. Ágata estava tão nervosa que se confundia com as palavras. Geralmente, ela não ficava assim.

-Você acha mesmo?-Perguntou ele, em dúvida se ela havia gostado mesmo. Ágata assentiu mais uma vez, desta vez convencendo-o.

-Obrigado, de verdade!-Disse ele, lisonjeado. Ele a observava dos pés a cabeça, certo de que já havia visto antes. Mas não tão de perto, não daquele jeito.

-A propósito, meu nome é Erick... É Ágata, não é?-Disse ele, estendendo-lhe a mão para um comprimento. Ágata o olhou, surpresa.

-Como sabe o meu nome?-Perguntou ela. Erick soltou uma risadinha singela.

-Bem... Você quase me atropelou hoje, então, isso nos torna conhecidos. –Disse ele. O rosto de Ágata agora fervia de vergonha, que mundo pequeno!

-Oh meu Deus! Era você?-Ágata estava aturdida.        

-Pois é... Eu sou aquela criatura estranha de capuz. –Disse ele.

-Eu sinto muito, muito mesmo! Deve achar que eu sou uma maluca. Você se machucou muito?-Ela perguntou. Os olhos cheios de piedade. Erick não pôde conter o riso.

-Não, não. Sem nenhum arranhão.  Mas, se por acaso eu perdesse o movimento dos braços, e nunca mais pudesse tocar violão, provavelmente já teria me matado. –Ele disse.

-Por Deus! Vire essa boca prá lá! Não conseguiria conviver com essa culpa.  –Disse Ágata.

-Você tem um bom coração Ágata. –Disse Erick, lançando-lhe um sorriso, rapidamente correspondido.

   Eles passaram algum tempo juntos, e conversaram sobre coisas que nem imaginavam que tinham em comum. Era incrível como o assunto simplesmente fluía entre eles.

-Então, você curte Eagles?-Perguntou Erick, retornando ao assunto anterior.

-Bem, na verdade não muito. Mas eu gosto muito dessa... –Respondeu Ágata.

-Algum motivo em especial?-Ele perguntou, sem saber, mas já adivinhando.

-Bem, na verdade, sim. Essa era a música favorita do meu pai, me lembro que costumávamos ouvi-la juntos. –Disse ele, um pouco triste ao lembrar.

-E por que não fazem isso mais?-Perguntou Erick, inocentemente. Ágata o olhou, certificando-se se não era uma brincadeira de mau gosto.

-Você é novo por aqui, não é?-Ela Perguntou.

-Eu e minha mãe acabamos de nos mudar para cá. –Ele respondeu, sem fazer ideia do que isso tinha a ver com a pergunta.

-Deu para perceber. –Ela disse.

-Você ainda não respondeu a minha pergunta. –Ele insistiu. Ágata respirou fundo, pronta para repetir a velha história.

-Meus pais morreram num acidente de barco, já faz três anos. –Disse ela.

-Oh! Eu sinto muito.... –Disse Erick, coberto de vergonha pela pergunta inconveniente.

-Tudo bem... –Disse ela.

-Meus pais se separaram quando eu ainda era um bebê. Desde então, meu pai sumiu do mapa, nunca mais ligou e eu nunca tive notícias dele. Sei como faz falta, um pai. Mas é claro que sua dor é pior. Sei mais ou menos como se sente. –Disse Erick, totalmente compreensivo. E realmente estava sendo sincero.

-Eu sinto muito... –Disse Ágata.

  Eles conversaram durante um bom tempo, porém, equivalia a muito. Ágata estava realmente surpresa com Erick, nunca havia tido uma conversa como essa com alguém que acabara de conhecer. Logo ela, que sempre fora tão reservada, que sempre guardou seus sentimentos para si. Mas com ele era diferente, ela se sentia a vontade para falar sobre qualquer coisa. Simplesmente porque ele a entendia.                                                               


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Notas finais do capítulo

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