Entre Céu & Mar escrita por Tassi Turna


Capítulo 13
As coisas começam a esquentar


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada por ler este capítulo. Espero de verdade que gostem, e não esqueçam de comentar o que acharam ;)



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Connor não voltou à casa de Kate depois do ocorrido. Precisava pensar, e teria que está sozinho para isso. Ignorou todas as suas ligações. Não sabia como iria dizer adeus. Apesar de tudo ele a amava, de um jeito estranho, mas a amava.

   Kate estava pendurada ao telefone, desde a noite anterior. Estava preocupada com Connor, e a caixa postal (já cheia) deixava-a ainda mais preocupada.

-O que houve Kate? –Ágata perguntou.

-É o Connor. Ele não dá notícias desde ontem.

-Sério? Nem percebi. É por isso que o dia começou tão bem. –Evellyn disse, levando uma cotovelada de Ágata. Ela percebeu a preocupação de Kate.

-Pode ficar tranquila, Kate. Na certa ela só quis passar um tempo sozinho e não quis te incomodar. Logo ele estará de volta. –Ágata tentou acalmar a tia.

-Tem razão, querida. –Kate forçou um sorriso.

  Elas terminaram o café da manhã em silêncio, sem ao menos tocar no nome de Connor. A verdade é que também achavam estranho seu sumiço repentino. O que teria acontecido naquele dia, afinal?

***

  -Não me diga que isto que está em suas mãos é uma revista em quadrinhos?! –Charlie surpreendeu Anna pelas costa, que imediatamente guardou seu exemplar de Scott Pilgrim VS the world.

-Garoto! Qual é a sua vindo de fininho atrás dos outros?!

-Vejo que ainda sobrou um pouco da antiga Anna por trás dessa maquiagem! –Charlie se lembrou da época que Anna era uma nerd, igual a ele, e os dois eram mais próximos.

-Qual? Aquela igual a você? Ela já morreu há muito tempo!

-Quem morreu? –Ágata disse, aproximando-se dos dois, de mãos dadas a Erick.

-Ninguém, esquece. –Anna disse, imediatamente olhando para Charlie, que não tirava os olhos das mãos de Ágata.

     O sinal tocou, levando todos os alunos para as suas salas.

-Você não vai acreditar no que aconteceu. –Ágata sussurrou para Erick.

-O quê?

-Connor sumiu. Desde quando ele falou com os policiais, não dá um sinal de vida.

-Que estranho... –Disse Erick, pensando em mil coisas que Connor poderia ter feito. Ele não tinha ido com a sua cara desde aquele dia. A professora o tirou de suas meditações.

-Turma, eu preparei um projeto para vocês...

-Lá vem bomba... –Murmurou Evellyn.

-Eu observei que aqui, como na maioria das turmas, há aqueles que têm facilidade em aprender, e outros, nem tanto. Alguns estão adiantados, outros atrasados... Enfim. O que vou fazer é separá-los em duplas de acordo com a chamada. Um será o tutor, o outro será o aprendiz. Vocês trabalharão juntos até o fim do ano. O mesmo número de pontos que o aprendiz ganhar a mais durante os exames, será acrescentado também para o tutor. Vou anunciar as duplas.

  Enquanto o professor anunciava as duplas, Evellyn murmurava. Nem queria saber quem seria o tutor, mas com certeza, não iria durar muito.

-Erick e Evellyn.... –A professora disse, surpreendendo Evellyn, Erick e Ágata. Evellyn respirou mais aliviada, pois Erick já havia dado provas de que não era um idiota.

-Dá para acreditar no destino? –Ele sussurrou para Ágata, pegando o seu material.

-Pelo menos agora você vai passar mais tempo lá em casa. –Ela disse, vendo-o se afastar.

  Ele se sentou ao lado de Evellyn.

-Ainda dá tempo de desistir, sabia? –Evellyn disse, assim que o viu.

-E por que eu faria isso?

-Qual é? Você já viu as minhas notas? Matemática é o fim para mim!

-É por isso que eu estou aqui. –Evellyn riu. Erick não era do tipo que desiste facilmente.

-Vamos transformar o estudo em algo divertido. –Ele anunciou, fazendo Evellyn o fitar, censurando-o.

-Essa é boa! E como pretende fazer isso? Criando combinações com o nosso nome? –Evellyn riu debochadamente, vendo vários “Áricks” em seu caderno. Provavelmente fora Ágata. Foi a primeira vez que ela o fez corar.

-É uma boa ideia, por que não? Que tal... Erinvyn? –Ele propôs. Evellyn caiu na gargalhada.

-Mas que droga de palavra é essa?! Erinvyn?Erynvoltou? – Ela debochava.

-O.K, espertinha. Fala um melhor, então.

-Que tal Everick? –Ela sugeriu.

-Gostei de Everick. Everick...Everick.... –Ele repetiu como o Eco. Evellyn riu de novo.

-O que tem de engraçado?

-Não dá para levar a sério você falando “Everick”.

-O que há de errado com “Everick”? –Ele sussurrou o nome em seu ouvindo, imitando a voz de um locutor de rádio. Evellyn sentiu a nuca arrepiar com a sua respiração.

-Para! Ok vai ser Everick. –Ela decidiu por fim, entre risos.

 Ágata assistia aquela cena, feliz. Era bom ver que Erick e a irmã (ao menos pensava ela assim) se darem bem. Quem sabe assim ela conseguiria se aproximar da irmã?

***

   -Quer dizer que o seu tutor é o seu cunhado gato? –Madison como sempre colocando lenha na fogueira.

-Madison! –Evellyn repreendeu a amiga.

-Qual é! Temos que admitir. Ágata tem bom gosto! E você tem é sorte! –Evellyn não podia discordar.

-Então, quando irão começar as “aulas particulares”?

-Não sei, ainda não decidimos. Tanto faz também. Vamos mudar de assunto, por favor?

-Ok... Mudando de assunto. O que você achou da minha festa?

-Épica! –Evellyn não achou palavra melhor para decifrá-la.

-Viu só? Eu sabia que você entenderia depois que experimentasse.

-Mas ainda não é motivo suficiente para viver ao lado daquele monstro.

-Ai, Eve... É estranho, não sei explicar. Vamos deixar isso para lá, eu sei que vocês não se gostam, mas, por favor, podem ao menos fingir se dar bem?Por mim? –Madison suplicava.

-Eu vou tentar, mas não garanto muito.

-Valeu, Eve! Ah, se quiser mais, sabe a quem recorrer!

-Obrigada, Mad. –Evellyn disse, sem ao menos se preocupar onde estava se metendo.

-Agora eu vou saindo, o professor gato está vindo. –Madison lançou um olhar malicioso para o que, ou quem estava vindo atrás de Evellyn, pouco antes de se afastar. Evellyn seguiu o olhar da amiga, e surpreendeu-se ao esbarrar em Erick. Seus rostos quase se colaram, e os cadernos em suas mãos caíram no chão. Evellyn sentiu o rosto corar por um instante, sem fazer a mínima ideia do por que. Ela enrubescia pelo menor dos motivos.

-Perdão. –Os dois falaram ao mesmo tempo.

  Puseram-se a recolher os materiais que caíram. Erick notou um caderno preto bem personalizado de Evellyn. Sem pensar duas vezes, pegou.

-Eu sou um desastre. –Evellyn disse rindo de si mesma.

-Que isso... Acontece com todo mundo. –Um silêncio constrangedor se seguiu. Erick olhava para os olhos intimidadores de Evellyn, querendo lembrar o que queria falar.

-Ah! Eu estava pensando... Se você gostou mesmo do nosso som, por que não vai assistir ao nosso ensaio qualquer dia desses? Pode ser hoje mesmo. Então poderemos começar a estudar. –Ele enfim propôs.

-Eu adoraria! É uma ótima ideia! Mas a Ágata não vai com você?

-Na verdade, ela não foi a nenhum ensaio até agora. –Ele desabafou, deixando bem a mostra que a falta de apoio da namorada o afetava.

-Ah... Entendo. Mas de qualquer forma, você a conhece melhor do que eu, e sabe que ela não é dessas coisas. –Evellyn não parecia estar surpresa.

-Sim. Eu pude notar como vocês duas são diferentes. –Ele disse, sorrindo.

-Mas, de qualquer forma. Eu não poderei ir hoje, tenho um compromisso, mas outro dia pode ter certeza que irei! –Ela disse, realmente feliz com o que faria hoje. Era o primeiro encontro com Hank como namorados, enfim. Erick pressentiu o compromisso, mas não falou mais nada.

-Tudo bem. Amanhã teremos outro.

-Amanhã é ótimo!-Ela disse, enquanto se afastava.

***

  Hank não cabia em si de tanta alegria. Ele e Evellyn caminhavam entre o píer, e toda vez que eles se aproximavam de alguém Hank gritava, todo orgulhoso:

-Ei, conhece a minha namorada? Essa aqui é a minha namorada!

  -Hank, para de gritar! Até o Papa Francisco deve saber que somos namorados, a essa altura! –Evellyn repreendia, mas ria junto com Hank.

-Ah, ótimo que ele saiba. Sua benção, Vossa Santidade! –Ele debochava. Evellyn adorava estar ao lado de Hank, pois sempre era tomada pelo senso de humor dele. Ele a divertia, a fazia se sentir bem como ninguém nunca havia feito.

-Que cena linda de se ver! –Solange disse, logo ao ver os dois pombinhos chegar ao restaurante, de mãos dadas. –O que vão querer hoje?

-Algo bem refrescante, para acalmar o fogo de um certo mocinho aqui. –Evellyn disse.

-Tenho que contar uma novidade para vocês duas. –Hank fez mistério.

-Espero que seja notícia boa, pois de coisa ruim quero distância! Ande, desembuche homem! –Solange disse.

-Vou participar de uma competição de surfe. O vencedor vai acompanhar o torneio. Estou confiante, é  uma chance de me tornar conhecido! E melhor, mostrar ao meu pai que eu sou bom em alguma coisa! –Ele anunciou com um imenso sorriso esbanjando esperança.

-Que ótimo amor! Não vai ter para ninguém, você é o melhor surfista da região. Foi assim que nos conhecemos, lembra? –Evellyn disse, enquanto bagunçava os cabelos louros escuros de Hank.

-Claro que sim! Ele será o próximo Kelly Slater! –Solange completou. –Agora eu tenho que ir, os fregueses me esperam e eu não quero segurar vela. –Ela disse, se afastando e deixando os dois a sós.

-Você sabe que se eu ganhar vou ter que ficar algumas semanas fora, não sabe? –Hank disse para Evellyn.

-Eu sei, mas está tudo bem meu amor. É a sua grande chance e eu posso esperar, com certeza. Eu gostaria de ir junto, mas infelizmente não vai dar. –Evellyn disse sincera. Ela reconhecia verdadeiro sonho de alguém, e o seu verdadeiro dom. Era por isso que havia desenhado Hank naquele dia, sem ao menos conhecê-lo. Era porque sabia que o surfe estava no seu sangue.

-Você é ótima, sabe disso, né?

-Sei sim. –Ela brincou. –E além do mais, dizem que a distância aumenta a paixão. –Ela disse com ar malicioso.

-Se a minha aumentar mais sinto que meu coração não vai aguentar.  –Ele disse, fazendo-a sorrir.

-Eu vou estar lá, torcendo por você. –Ela disse, dando-lhe um beijo.

  Eles passaram mais algumas horas juntos, rindo, conversando e se beijando. Era incrível como o dia de Evellyn melhorava só ao vê-lo. Seriam entediantes os dias sem ele, mas ela sabia que ele iria ganhar, e sabia também que sua paixão só aumentaria nos dias de sua ausência.

***

    O dia havia se passado, e Connor não retornara. Nem ao menos deu sinal de vida no trabalho, o que era o mais estranho, pois o trabalho era a vida de Connor. Kate havia desistido de ligar para ele, e já pensava em ligar para polícia, assustada com algo. E se alguém tivesse descoberto a investigação? E se quisesse lhe atingir, começando por Connor? Os empregados também haviam notado a sua ausência, e quando indagavam por respostas a Kate, ela se sentia horrível por não saber responder.

  Ela estava em sua mesa, com pilhas de serviço, passando a noite. Já havia perdido a conta de quantas xícaras de café havia tomado, e mesmo assim continuava desanimada.  A maioria dos empregados havia ido embora, e o silêncio a atormentava.

-Acho que eu não tenho mais o que fazer aqui, já que Connor não está. –Trina apareceu em sua sala, tirando-a de suas meditações. Naquele momento ela ansiava que o silêncio que outrora a atormentava voltasse. Pelo menos era melhor do que ouvir a voz irritante de Trina.

-E você não faz ideia de onde ele está não é? –Kate insinuou.

-De nenhuma forma. Ele não é meu namorado, somente assim eu saberia, não é? –Ela retrucou. –Eu vou indo.

-Não ainda. Traga um café para mim. –Kate ordenou, deliciando-se ao ver a expressão de Trina.

-É pra já. –Ela disse,resmungando algo sobre Kate se achar a rainha da cocada preta.

  Trina voltou minutos depois com um capuccino que fervilhava de tão quente. Ela desejava que Kate se afogasse no meio de toda aquela cafeína.

-Obrigada, está do jeito que eu gosto. Agora vá. –Ela disse, querendo vê-la o mais longe o possível.  Antes de sair Kate teve a impressão de que Trina esbarrava em algo, mas não ligou, e voltou ao seu trabalho.

   Kate estava desorientada, preocupada, e encharcada de cafeína. Não percebia os detalhes. Os detalhes, por simples que sejam, fazem a diferença. Ela esgotara-se por completo, e agora estava com a cabeça caída nos papeis. Nunca havia imaginado a sua vida assim, e só desejava um descanso. E por um momento se lembrou de suas viagens, das várias pessoas que conhecera. Com os olhos fechados, ela se entregou às suas lembranças.

   Enquanto isso algo ocorria em seu escritório. Talvez um pequeno fósforo, ou isqueiro, um simples detalhe, esparramava seu pequeno fogo na lixeira cheia de papeis. No escritório de Kate havia vários objetos que conduziam fogo facilmente. Até mesmo uma parede era toda trabalhada em papeis de jornais. Ela tinha bom gosto, mas não tinha bom senso. A lixeira ficava recostada na parede de papel. E, rapidamente, o fogo começou a consumir tudo que via pela frente, tornando aquele escritório uma prisão de fumaça.

   Kate sentiu o cheiro da fumaça aumentar a cada instante. A princípio pensou que fosse impressão sua, mas agora, ela respirava fumaça pura. Levantou o semblante e levou um choque. Por um momento pensou que havia morrido, e que aquilo era um inferno. Uma imensa sala que sempre fora a sua prisão agora se derretendo em fogo.  O calor era insuportável, e era difícil respirar. Kate entrou em pânico, correu para a porta. Outra surpresa: ela estava trancada. Correu atrás das chaves, mas elas não estavam lá.

-Socorro! Socorro! Pelo amor de Deus! Tem alguém me ouvindo! Ajude-me! –Ela gritava com todas as forças, nos intervalos de suas tosses. Todo o seu esforço era em vão. Não havia ninguém. Ela estava sozinha dentro daquele imenso gigante de cimento.

  As cortinas começaram a pegar fogo, a fumaça se tornara mais densa, e ela se perguntava se ainda existiam indícios de oxigênio no meio de todo aquele gás carbônico. Ela já perdia as forças, e não conseguia mais resistir. “É o meu fim”, pensou.  Nunca havia pensado em sua morte, mas imaginava que terminaria assim. Ela veio sozinha a este mundo e sozinha voltaria.

  Dizem que a vida toda passa pela nossa mente antes de morrer, e Kate viu sua vida como em um filme. Arrependeu-se de não ter passado mais tempo com suas sobrinhas. A coisa mais importante para ela no mundo. Arrependeu-se de não ter aceitado o pedido de Connor, de não ter feito mais amizades, e pior de tudo, odiou o fato de que nunca saberia o desfecho do assassinato de Andrew e Scarlet.

  Por um instante, sua mente já atordoada pela quantidade de fumaça enganou-se ter ouvido um murmúrio, vozes talvez. Por um instante pensou que estava a salvo, um pouco antes de mergulhar na inconsciência. Talvez eles houvessem chegado tarde demais.

***

   Havia muito tempo que Connor não conduzia um helicóptero. Não se recordava de muitas coisas, mas era o suficiente para sair do país. Com todas aquelas acusações, ele precisava ir embora o mais rápido possível. Lamentava pelas coisas terem chegado aquele ponto. Jamais se tornaria o dono das Empresas Baker, jamais conquistaria os bens da família, jamais se casaria com Kate. Nem sabia se algum dia tornaria a ver o seu rosto. Mas tudo o que estava feito, estava feito. As coisas começavam a esquentar. 


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam? Ansiosos para saber o que irá acontecer com Kate? Então, até a próxima!



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