Dias depois, Olívia, a mãe de Ana e avó biológica de Lúcia, chamou a filha para uma conversa em seu quarto.

- Filha, quero falar com você. É muito sério.

Chegando ao cômodo, Ana, extremamente curiosa e preocupada, sentou-se rapidamente na poltrona próxima a cama, enquanto Olívia sentou-se na própria cama.

- Você consegue disfarçar muito bem seus sentimentos, Ana. Você tá conseguindo enganar a todos, mas a mim não. Você saiu de dentro de mim. Acha que eu não te conheço? Me diz o que tá acontecendo. – o tom solene e calmo da voz da mãe tranquilizou Ana, que deitou na cama sobre seus joelhos.

- Mamãe, o Thomas voltou. Ele tava no mesmo restaurante em que nós estávamos no dia do aniversário da Patrícia.

- O- O Thomas? O pai da... – o tom de voz mudou para nervoso e foi interrompida diretamente por Ana.

- Pai não. Ele não sabe e nunca vai saber disso. O pai dela é o Gabriel, a quem ela ama e nunca quis saber quem é o biológico. Os dois são legítimos pai e filha e não tem quem acabe com esse amor.

- Mas o que aconteceu com vocês?

- Ah, o cínico me perguntou o porquê de eu tê-lo abandonado. Eu disse a verdade, que estava grávida e mesmo depois de termos passado uma noite juntos, ele me traiu e me fez de palhaça, beijando uma madame que hoje é esposa e mãe de um filho dele, irmão biológico da Lúcia.

- E depois? O que ele disse?

- Disse que não acreditava e pediu provas. Perdi a paciência, lancei a mão na cara dele e vim embora. Por isso demorei a chegar ao carro.

- Caramba, filha. Mas se é assim, eu aconselho você a dizer a verdade ao Gabriel. Talvez mais tarde ele descubra e poderá perder a confiança em você.

...

Ryan, que residia sozinho na mansão, transformou o local numa verdadeira boate, realizando festas durante todas as noites, todas as madrugadas, dormindo durante o dia, assim alterando completamente seu horário e ritmo de sono. Um dia, porém, o jovem cansou-se de tudo aquilo e chamou Martha para uma conversa.

- Você conhece outra pessoa que seria capaz de ser a governanta dessa casa, Martha? – perguntava humildemente Ryan, em uma cena que muitos jamais imaginariam que ocorreria.

- Por que, senhor Ryan? Eu vou ser demitida?

- Me responda, Martha. Conhece ou não conhece? – insistia Ryan, pacientemente, pois sentia certo afeto pela mulher, que o havia criado como seu filho, mesmo depois de chegar à mansão juntamente com Thaís, ou seja, quando o jovem já era adolescente.

- Conheço sim... – respondia Martha, tristemente, pois imaginava ter feito algo de errado para o patrão. – Já vou arrumar minhas malas...

- E quem falou em arrumar malas, mulher? Nós vamos para o sítio da Camila. Todos vão adorar te ver de novo...

- Acha mesmo que ela, justo ela, vai querer? Ela nunca gostou de mim e desde quando ainda era uma menininha adorava me maltratar, mas nunca tive raiva dela... Minha menina. Minha pequena Thaís.

- Mesmo que aquela chata não queira, você vai ter a nós três. Pelo menos a mim. A senhora é como uma mãe pra mim e vai continuar sendo, custe o que custar.

...

Camila recebeu o telefonema de Ryan e aprovou a chegada de Martha junto com o jovem, pois havia quartos o suficiente para todos e a anfitriã adorava ver a casa repleta com as pessoas de sua família.

Dois dias depois, ambos chegaram. Camila não havia avisado a ninguém, pois havia tido absoluta certeza de que todos adorariam a surpresa da chegada do irmão e daquela que foi como a mãe para praticamente todos os que residiam agora no sítio.

O jovem e a governanta adentraram a sala de estar pela porta da frente, alegres e saudosos. Ryan esticou o braço, indicando o caminho para Martha, deixando-a passar à sua frente. Thaís, calada, observava tudo, porém, estava perdida em seus pensamentos.

- Essa casa já tá cheia demais. Ainda vou ter que suportar esses dois demônios. – pensava, tentando forjar ao máximo um sorriso amigável, tentando manter uma boa impressão diante de Camila, que sempre fora um exemplo de mulher a ser seguido. Desde pequena sempre havia sido gentil, generosa, simpática, amigável e sonhava em ser feliz casada com uma pessoa que amasse e ter filhos.

...

Era um dia extremamente ensolarado e todos morriam de calor. Thaís, Camila e Bianca se preparavam para nadarem na grande piscina do sítio. Thomas e Ryan sentavam-se em uma mesa de piquenique que não era muito distante de onde estavam as jovens. Sobre a mesa havia uma grande bandeja com nuggets, canapés e salgados. Um belíssimo dia.

- Quem é aquela moça linda? É amiga da Camila? – perguntava, virando o olhar para Bianca, que boiava de olhos fechados calmamente.

- Sim, o nome dela é Bianca. Estudou moda junto com a Camila e se formaram. Elas pretendem abrir uma revista de moda futuramente. Eu dou todo o meu apoio, pois é o que Camila gostava desde quando era pequena, lembra? Ela vivia desenhando roupas aqui e ali.

- É verdade. E... essa Bianca. Tem namorado? – Ryan resolvia abrir o jogo para o irmão do meio, que na maioria das vezes acabava sendo seu confidente.

- Pelo que me parece, não. Nesses meses que eu tenho morado aqui com a Thaís e o Pedrinho ela nunca apareceu acompanhada de ninguém. Vai que...

- Sendo assim não deve ter. – interrompia, esboçando um leve sorriso. – Vou ser o grande felizardo. Você vai ver. Humpft.

Thomas soltou uma alta gargalhada e tornou a devorar os salgados e saborear o refrigerante. Mais tarde também iria mergulhar na piscina.

...

Ana disse tudo a Gabriel, que reagiu com calma e paciência, como sempre.

- Ana, você fez bem em ter me contado. Saiba que eu sempre prefiro a verdade. Não quero que me esconda nada que te deixe nervosa desse jeito. Pode me contar tudo. Nos casamos para isso, no final das contas.

- Mas eu pensei que...

- Ana, você sabe que eu te amo de verdade e confio em você. Sei que você ficou em choque por causa disso, mas vamos tentar esquecer e seguir adiante. Além do que sinto por você, criamos uma filha juntos.