Depois do almoço, fui ao meu quarto ler meu livro e —por um milagre—consegui ler pelo menos dez capítulos até ficar cansada e perceber que faltavam trinta minutos para as três da tarde. Fui ao banheiro rapidamente e corri para baixo.

—Aonde você vai com tanta pressa? —minha mãe perguntou.

—No colégio marquei com as minhas amigas de ir lá hoje para conversarmos sobre nosso trabalho. —eu disse.

—Pode levar seu irmão junto? Ele tem aula de piano às quatro horas. —ela pediu.

—Claro. — eu disse. —Onde ele está? —perguntei.

—Aqui. — ele disse descendo as escadas.

—Tudo bem, vamos. —eu disse.

Chegamos à escola três e meia, pois meu irmão não conseguia me acompanhar e acabamos nos atrasando.

—Está atrasada. —disse Jared quando entramos.

—Me desculpe se tive de trazer meu irmão e me atrasei. Por favor, não comece Jared. —eu disse.

—Tudo bem Alice, me desculpe. —ele disse.

—Eduarda e Jéssica não vieram? —perguntei.

—Não, pelo menos ainda não. —Jason disse saindo de trás do pequeno palco.

—Ah, oi, Jason. —eu disse sorrindo.

—Oi. —ele disse descendo do palco. —Oi Alex.

—Oi. —Alex disse.

Alex foi até o piano e ficou sentado lá olhando e lembrando-se de quando nosso pai nos ensinou algumas coisas. Ele estava ansioso para aprender a tocar como eu em minha primeira aula. Eu sempre tive fascínio pela música especialmente pelo piano e pela guitarra. Como nosso pai toca piano, ele me ensinou algumas coisas e depois comecei a fazer aulas e agora eu sei tocar a maioria das músicas que eu ouço, mas não todas, ainda estou aprendendo algumas e também estou aprendendo violão, mas não é fácil e por isso estou demorando um pouco mais.

—Então... O que faremos? —perguntou Jason.

—Não sei, mas por que a pressa? Ainda temos meia hora. —disse Jared.

—Vou ter que sair as mais cedo, por isso cheguei mais cedo. —ele disse.

—Tudo bem, ele tem razão precisamos nos organizar. —eu disse.

—Quem fará quem, as músicas, quem tocará qual instrumento são as primeiras coisas que precisamos decidir. —disse Jared.

—Sim e quem cantar melhor terá de fazer os papéis principais. —disse Jason.

—Qual de vocês dois fará o papel principal? —perguntei.

—Acho que teremos de cantar e escolher quem canta melhor. —disse Jared.

—Tudo bem, mas quem escolherá? —perguntei.

—Você. —os dois disseram.

—Precisamos de outra pessoa para me ajudar então. —eu disse.

Para minha sorte a professora entrou na sala logo após eu terminar de falar.

—E então, como vão indo? —ela perguntou.

—Oi, professora. —dissemos.

—Na verdade precisamos de ajuda com uma coisa. —eu disse.

—É claro, do que vocês precisam? —ela perguntou.

—Vamos fazer um musical e precisamos escolher qual dos dois canta melhor. Poderia nos ajudar?

—Na verdade se vocês quiserem, eu posso chamar a professora de música, tenho certeza de que ela escolherá melhor do que eu. —ela disse.

Assentimos e ela saiu da sala.

—Legal, mas tem um problema. —disse Jason.

—O que foi? — perguntamos eu e Jared.

—Eu não sei nenhuma musica inteira. —ele disse.

—Nenhuma? —perguntamos.

—Não... Só uma que eu ouvi antes de vir para cá e me lembro.

—Qual? —perguntei.

Ele disse o nome da música e eu lembrei-me dela na hora.

—Cante essa então. —falei.

—Oi, soube que precisam de ajuda. —disse a professora de musica entrando na sala.

—Sim, precisamos. —eu disse me virando para ela.

—Então, cantem. — ela disse.

Virei-me para o palco e Jared já estava subindo.

—Se vocês pudessem cantar a mesma musica seria bom. —os dois assentiram — Vai ser um solo que vocês vão cantar? —ela perguntou.

—Não, um dueto, na verdade. —eu respondi.

—Quem vai cantar com eles? —ela perguntou.

—Não sabemos ainda as outras meninas não vieram.

—Então... Você se importaria de cantar?

—Hã? Por quê? — perguntei.

—Se você cantar bem não tem porque esperar as outras não é? —ela disse.

—Acho que sim. — eu disse.

—Então vá. —ela disse.

Respirei fundo e fui até o palco no lugar de Jared.

—Qual musica você irá cantar? —ela perguntou.

Falei a primeira música que consegui e lembrar.

—Tudo bem. —ela disse.

Cantei musica e ela não fez parecer que eu não cantava bem, pareceu até... Gostar, mas não tinha certeza. Terminei de cantar e respirei fundo esperando ela falar algo.

—Sabe algum dueto? —ela me perguntou.

—Sei.

—Então cante com os dois e escolheremos quem vai cantar com você. —ela disse sorrindo mais do que antes agora.

—Eu fui... Bem? —perguntei.

—Muito bem. —responderam Jared e Jason antes da professora.

—Sim, você foi bem. —disse a professora. —Agora quem cantará com você primeiro? —ela perguntou.

—Eu. —disse Jared se pondo ao meu lado.

—Tudo bem, decidam a musica.

—Alguma idéia? —ele perguntou.

Pensei nos duetos que conhecia, mas somente uma apareceu em minha mente e por sorte Jared conhecia também.

—Tudo bem então. —eu disse. —Ficaria mais fácil com acompanhamento musical. —eu disse mais para mim mesma.

—Já sabem o que vão cantar? —ela perguntou.

—Já. — respondi — Posso usar o piano? —perguntei.

—Pode... Claro. —ela disse.

Fui até o piano onde meu irmão estava ainda, ele se levantou e sentou-se em uma cadeira perto do piano. Sentei-me e esperei Jared que veio se sentar ao meu lado para começar a tocar.

Quando ele começou a cantar fiquei impressionada com o quanto ele cantava bem. Terminamos a música e Jason já estava vindo trocar de lugar com Jared.

Esperei ele se sentar ao meu lado e comecei a tocar. Quando ele começou a cantar fiquei pasma com sua voz, mas é claro que não demonstrei isso, tanto.

—Vocês precisam mesmo que eu fale quem foi melhor? — a professora perguntou.

—Acho que não é preciso, mas seria bom você falar. —eu disse ainda surpresa.

Ela assentiu

—Então...? —perguntou Jared.

—Jared você cantou muito bem, mas... Jason cantou melhor e a voz dele se encaixou melhor com a de Alice também, eles tem o mesmo tom de voz. —ela disse — Agora eu preciso ir tenho que dar aula daqui a meia hora.

Ela saiu da sala e eu me virei para o piano olhando para as teclas. Jason foi até o palco pegar suas coisas sabendo que ele teria de sair dali a cinco minutos, sabia que Jared estava triste por não ter conseguido cantar tão bem quanto Jason.

—Qual música mais você sabe tocar? —Jason perguntou parado na minha frente.

—Várias. Ainda lembra-se da que você pretendia cantar? —perguntei.

—Claro, sabe tocar? —ele perguntou.

Sorri e me virei para o piano novamente começando a tocar. Ele sorriu e começou a cantar. Ele se sentou ao meu lado enquanto eu tocava e ele cantava. Mal percebi quando minha boca se torceu em um sorriso quando a música estava terminando e ele ainda estava sentado ao meu lado, mas mais perto de mim do que antes. Toquei a última nota e deixei minha mão cair no banco e olhei para Jason e percebi que ele também me olhava. Ele deixou sua mão cair no banco junto a minha. Senti algo diferente, algo bom quando nossas mãos se tocaram. Ouvi a buzina de um carro e Jason se levantou.

—Preciso ir. —ele disse.

—Tudo bem. —dissemos eu e Jared.

—Tchau Jason. —disse Alex.

Ele saiu e eu respirei fundo voltando à realidade.

—Então, qual peça faremos já que você não quis a que eu sugeri? —perguntou Jared.

Lembrei-me que já havia escrito uma peça de teatro como trabalho ano passado e tirei nota máxima, podíamos fazer alguma parte talvez, eu não me lembrava muito bem, mas leria e levaria para a escola para mostrar a eles.

—Não sei, precisamos falar com as outras amanhã, mas eu tenho uma idéia. —eu disse.

—Tudo bem. —ele disse.

Ele se sentou no palco de cabeça baixa pensando. Fui até ele.

—Me desculpe. —eu disse.

—Pelo que? —ele perguntou.

—Pelo... “Teste”. —eu disse.

—Está tudo bem, eu sei que ele cantou melhor e, sinceramente, a voz dele com a sua ficou bem melhor do que a minha com a sua. —ele disse.

—Acho que sim, mas você também cantou muito bem.

—Obrigado. —ele disse sorrindo. —Eu não sabia que você tocava piano.

—Meu pai toca e eu comecei a me interessar, ate porque eu cresci com a música.

—Como assim? —ele perguntou.

—Meu pai aprendeu a tocar piano quando criança e ele me ensinou algumas coisas quando eu era menor, mas desde que eu nasci eu escutava música. Minha mãe trabalhava fora de casa e meu pai ficava comigo de tarde. —eu disse me lembrando.

—Ele trabalhava com o quê?

—Música. —a palavra saiu livremente —Ele compõe e, por isso, ficava em casa tocando piano para mim ao mesmo tempo em que fazia seu trabalho. Eu adorava ficar ao lado do piano enquanto ele tocava e cantava. A musica é linda e para todos os gostos, não há uma pessoa que não goste de música nem que seja apenas uma letra ou uma melodia.

—Sim, mas para algumas pessoas ela não tem muita importância, escutam, mas não sabem apreciar. —ele murmurou.

—Sim, infelizmente existem pessoas que não sabem apreciar a música, não sabem parar e escutar, entender o quão importante e bonita ela pode ser. —Suspirei —Conhece alguma musica tocada no piano? —perguntei.

—Várias. —ele respondeu.

Lembrei-me de outro dueto e perguntei se ele conhecia. Seu slábios formaram um sorriso e ele assentiu.

Fui até o piano.

—Vai me ajudar, não é? —ele perguntou se sentando ao meu lado no piano.

—É um dueto, não é? —eu disse. —Espero que me lembre. —sussurrei para mim mesma.

Comecei a tocar e por sorte me lembrei depois de um tempo sem tocar essa musica. Comecei a cantar e ele me acompanhou nunca tirando os olhos de mim. Era estranho, mas eu não me sentia mais como antes, quero dizer, querendo sair o mais rápido possível dali, na verdade eu estava gostando de estar ali.

Mal havia percebido quando a música estava acabando mesmo estando cantando e tocando ao mesmo tempo, eu me sentia mais confortável do que as outras vezes que estava com Jared.

A música terminou e eu me virei para Jared, ele estava ao meu lado mais próximo do que antes e ele continuava me olhando, mas de um jeito diferente e por algum motivo eu não estava preocupada.

—Você tem uma linda voz. —ele disse.

—Obrigado. —eu disse.

—Desculpe. —ele disse. —Eu sei que não gosta que eu fique muito perto de você.

Ele ia se levantar, mas eu peguei sua mão o fazendo sentar ao meu lado novamente —era estranho, eu nunca faria aquilo, nunca.

—Não, tudo bem... —eu disse confusa comigo mesma —É tão estranho... Eu não sinto a mesma vontade de sair de perto de você como antes... É como se eu estivesse gostando de ter você aqui. —eu disse.

Olhei o relógio e eram quase quatro horas.

—Pensei que nunca ouviria você dizer isso... —disse Jared confuso. —E para mim.

—Eu também. —eu disse —Mas dizem que nada é impossível.

Nossas mãos ainda estavam juntas, mas eu não ligava, era estranho, mas eu não ligava.

—São quase quatro horas é melhor sairmos. — eu disse me levantando e indo pegar minhas coisas.

—Espere. —ele disse se levantando e vindo até mim.

Ele pegou minha mão.

—Agora que você disse isso, posso... Tentar fazer uma coisa? —ele pediu.

—Jared... —eu não sabia o que dizer, parte de mim queria dizer sim — por alguma razão estranha e que nunca entenderei, eu acho — e a outra parte queria dizer não.

—Por favor. —ele pediu.

—Meu irmão... —eu tentei dizer.

—Ele foi ao banheiro. —ele disse fazendo-me perceber a ausência do menino.

—Jared... Eu não... —Ainda não sabia o que dizer.

Ele respirou fundo, soltou minha mão e se virou, não queria que ele se chateasse ele ainda era meu amigo. Respirei fundo. Ouvi o sino da escola e Jared saiu.

—Alice. —disse Alex.

—Eu venho te buscar quando acabar a aula espere a professora, até mais.

—Tchau. —o ouvi dizendo.

Corri atrás de Jared e pra minha sorte ele ainda estava saindo do colégio.

—Jared, espere. — eu disse indo atrás dele.

—O que foi? — ele perguntou.

—Me desculpe... É só que... Eu... —respirei fundo, eu não sabia o que falar. — Isso é novo para mim, eu não sei o que falar.

—Eu sei, a culpa é minha me desculpe. Vamos para um lugar melhor. —ele disse.

Ele me levou até um campo de futebol abandonado atrás do colégio.

—Eu me precipitei, —ele começou— é que pra mim isso não é novo, eu gosto de você.

—Eu sei. —eu disse. —Eu não sei se posso dizer o mesmo, mas ainda somos amigos não?

—Se você quiser, sim. —ele disse sorrindo um pouco, mas pude perceber que ele não estava nem um pouco feliz com isso.

—O que você quer de mim? —perguntei me sentindo mal.

—Eu, qualquer coisa... Já você... — ele suspirou — Eu não sei mais.

Respirei fundo. Sem pensar direito me aproximei dele, peguei sua mão e —fiz uma coisa que eu nunca pensei que iria fazer—o beijei. Afastei-me e olhei para ele.

—Você... —ele tentou dizer —Agora eu estou confuso.

—Eu também... Acredite. —eu disse.

—Porque fez isso? —ele perguntou confuso.

—Eu realmente não sei, mas você conseguiu o que queria, o que importa? —eu disse.

Ele riu.

—A única coisa que eu quero é que você seja feliz. —ele disse e estava sendo sincero. —É claro que eu gostaria de ser mais do que só seu amigo, mas só se você estiver feliz. Eu não quero vê-la triste assim como qualquer outro amigo.

—Esse é o problema. —eu disse —Eu também não quero vê-lo triste.

—Então... —ele disse respirando fundo. —No que tudo isso nos leva?

—Eu não sei... Não sei mesmo. —eu disse.

Permanecemos em silêncio, pensando. Depois de um tempo ele finalmente falou:

—Seremos amigos, então? — ele perguntou.

—Parece bom, para mim, mas e para você? —perguntei.

—Eu convivi com isso até agora, acho que posso continuar. —ele disse. —Mas... Importa-se de me responder uma coisa antes? —ele pediu.

—Pergunte. —eu disse.

—Pode me dizer se algum dia talvez eu tenha uma chance com você? —ele perguntou.

Eu ri.

—Talvez. —respondi sinceramente.

Ele sorriu e pareceu aliviado. Olhei a hora e me surpreendi ao ver que já haviam se passado quarenta e cinco minutos.

—Preciso voltar. —eu disse.

—Quer que eu vá com você? —ele perguntou.

—Pode ir para casa se quiser, não quero prendê-lo aqui. —eu disse.

Ele pensou bem.

—É melhor eu ir mesmo.

—Tchau. —eu disse.

Ele soltou minha mão que por alguma razão ainda estava com a dele e foi embora. Respirei fundo e voltei para a escola para pegar meu irmão.

—Alice. —disse Alex indo ao meu encontro no portão da escola.

—Oi, está pronto? —perguntei.

—Sim.

—Ótimo.

Voltamos para casa rapidamente e eu fui direto ao meu quarto. Tomei banho e deitei na cama dormindo rapidamente.