Tivemos três semanas de férias, eu passei a maior parte delas com minhas amigas e Jason, tudo bem, a maior parte eu passei com Jason, normalmente fazendo praticamente nada. Ah e o beijo? Era como se nunca tivesse acontecido, não que eu fosse esquecer tão cedo, talvez nunca, mas nós não falávamos sobre isso, talvez porque não queríamos que nada ficasse entre nossa amizade, e Jason não era do tipo que beijava a namorada de alguém então talvez ele tivesse pensado que talvez ignorara isso o faria não ter problemas com Jared, eu não sei, mas estou feliz de que ainda somos amigos.

O tempo passou e parecia que quanto mais eu me aproximava de Jason, mais eu me afastava de Jared, talvez essa não seja a melhor comparação para se fazer, mas eu quero dizer que a distância só piorava a minha “falta de sentimento por Jared” e não sabia mais quanto tempo poderia continuar fingindo.

Para minha sorte, minhas amigas conseguiam me distrair de toda a confusão em minha cabeça por um tempo, então tentava passar o máximo possível de tempo com elas também, isso ajudava, não sei ao certo no que, mas me ajudava e qualquer ajuda era bem vinda.

31 de Dezembro

Ano novo, tanto tempo havia se passado desde que minha vida começou a mudar tanto comparado ao usual, mas desde as férias de Julho nada havia mudado mais. Talvez dentro de mim, mas fora, nada. Continuava com Jared, continuava em dúvida sobre o por quê.

Ah, sobre Jason: eu acho que posso estar desenvolvendo sentimentos mais fortes por ele, mas não tenho certeza de minhas emoções em um bom tempo, então não confirmarei nada por enquanto.

Minha família combinara com a família de Jason de passar o Ano Novo juntos em nossa casa, então, à noite, eles viriam à nossa casa e jantaríamos antes de assistirmos aos fogos de artificio à meia noite.

Passei a tarde lendo e no computador, Jared disse que entraria à tarde para dizer se poderia entrar à noite para o ano novo ou não.

—Oi. —Jared começou uma chamada de vídeo no chat.

—Hey. —respondi sorrindo.

—Desculpe, mas não poderei entrar hoje à noite, meus pais querem que eu fique com todos lá fora. —ele disse.

—Tudo bem, meus pais provavelmente diriam o mesmo. —dei de ombros.

O silêncio prevaleceu por um tempo entre nós.

—Alice? —ele perguntou.

—Sim?

—O que houve? Você está distante ultimamente.

—Nada.

—Alice. —ele insistiu.

Suspirei.

—Jared, eu... eu sinto muito... —tentei falar.

Ele suspirou.

—Nós vamos terminar, não é? Quer dizer, nós estamos terminando, certo?

—Desculpe, mas eu não posso continuar com algo que eu não ache que seja real. —falei.

—E você gosta de Jason?

—O quê? —perguntei surpresa.

Ele riu.

—Está tudo bem, eu entendo, eu superarei isso, algum dia. E você obviamente gosta de Jason, suas amigas me deixaram em duvida no inicio, mas depois do beijo de vocês na peça no meio do ano eu tive certeza.

—Eu acho... eu não sei... —falei confusa.

—Faça o que quiser, desde que você esteja feliz, mas saiba que ainda estou aqui, nem que seja como um amigo como antes. Não me esqueça, por favor.

—Seria impossível esquecê-lo. Ei, eu realmente pensei que...

—Eu sei. —ele assentiu e eu sorri. —Eu preciso ir agora. Até mais e feliz ano novo.

—Feliz ano novo. —falei desligando a chamada de vídeo.

Fiquei um tempo deitada em minha cama ponderando sobre o que ele havia dito. Eu era mesmo assim tão idiota para ser a última a notar que eu gosto de Jason?

—Alice, são oito horas, vá se arrumar, eles estarão logo aqui. —minha mãe gritou.

Eu nunca entendi por que minha mãe gritava para mim mesmo estando no segundo andar, perto de meu quarto, acho que ela apenas gostava de gritar ou algo assim.

Levantei-me e fui até meu armário pegar meu vestido branco que minha mãe havia comprado para mim há dois anos atrás, eu sempre o usava somente no ano novo, pois acho que era a única peça de roupa completamente branca que eu tinha e minha família tinha a tradição de se vestir de branco no ano novo —uma tradição que eu não entendia ao certo, mas não discutia com meus pais. Tomei banho e terminei de me arrumar um pouco antes deles chegarem.

Minha mãe e a mãe de Jason, Marta, ficaram na cozinha conversando e terminando de preparar a comida. Meu pai e Roberto —o pai de Jason —, ficaram na sala olhando televisão e discutindo sobre alguma coisa qualquer. Alex e Clara estavam na sala brincando também. E eu e Jason ficamos em meu quarto conversando e rindo sobre algumas coisas —a maioria sem sentido — que lembrávamos.

O jantar não demorou a ficar pronto e nos juntamos às nossas famílias para comer e ficamos o resto da noite reunidos conversando na sala. Quando era quase meia-noite, saímos para a rua, onde todos estavam reunidos esperando o ano novo. Era sempre a mesma coisa, à meia noite todos da rua saíram para fora de suas casas para desejar “feliz ano novo” uns aos outros como “bons vizinhos”. Eu e Jason ficamos sentados na varanda de minha casa enquanto nossos pais e meu irmão mais velho iam falar com os outos vizinhos e nossos irmãos menores brincavam no pátio com as crianças das casas em frente às nossas.

—Achei que estaria falando com Jared a esta hora, desejá-lo feliz ano novo. —Jason disse.

—Eu já fiz isso, hoje à tarde, e, afinal, nós terminamos. —respondi.

—Verdade? Por quê? Vocês pareciam tão bem. —ele disse confuso.

—Digamos que o que eu devia sentir por ele, eu sinto por outra pessoa. Ele entendeu, na verdade ele já sabia antes de mim mesma então acho que ele já se preparava para isso. —expliquei.

—Ah, mas você está feliz?

—Foi bom terminar, era como se eu estivesse vivendo uma mentira. Jared é como um amigo, no máximo um irmão para mim. Não estou dizendo que foi um erro namorarmos, foi bom, mas terminar foi o certo. —falei.

—Mas então, quem é esse menino que você gosta? Você disse que gostava de outra pessoa como você deveria gostar de Jared. —ele perguntou.

Eu ri.

—Você é curioso demais. —falei me levantando. —Vamos, é quase meia-noite.

Ele riu e levantou-se. Fomos achar nossos pais e nos separamos durante os desejos de “feliz ano novo” em volta após a meia-noite e só nos encontramos novamente algum tempo depois quando voltamos ambos para a varanda de minha casa tentando escapar da multidão de pessoas que se formava na rua.

—Feliz ano novo. —ele disse quando me viu.

Sorri.

—Feliz ano novo. —repeti o abraçando.

Olhamos em volta. Haviam pessoas conversando, se abraçando, e casais se beijando.

—As pessoas desta rua todas tem suas superstições. —observou Jason. Ele me olhou. —Você tem alguma?

Virei-me para ele.

—Não. Você?

Ele balançou a cabeça negativamente.

—Uma vez eu beijei uma garota à meia-noite, isso conta? —ele perguntou.

Eu ri.

—Não sei, nunca beijei ninguém à meia-noite. —dei de ombros.

—Talvez você pudesse achar aquele garoto que você gosta e beijá-lo, ainda tem tempo. —ele brincou.

—Hum, não sei se ele gostaria dessa ideia. —falei.

—Por que não? Se alguém não gostar de você, essa pessoa deve ser um idiota, você é linda, inteligente e talentosa, quem não gostaria de estar com você? Na verdade, seria uma honra para qualquer um beijá-la e... —interrompi-o beijando-o. —Oh. —ele respirou fundo sorrindo após o beijo.

—Desculpe, eu não sei por que eu... Eu não devia...

—Está tudo bem. —ele disse interrompendo meus pensamentos confusos. —Espere, eu sou a razão por que você terminou com Jared? Ou você só...

—Ei, eu não terminei com Jared por ninguém se não eu mesma, são meus sentimentos, e sim... é você. —murmurei.

—Oh. —foi tudo o que ele conseguiu dizer. —Vocês realmente terminaram, não é?

Eu ri.

—Sim, nós terminamos. —confirmei.

Ele sorriu e me beijou novamente.