Com Saudades, Bella escrita por GianLucca


Capítulo 1
Capitulo Único - Com saudades, Bella




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-Edward morreu Bella. Sinto muito.

Meu pai me encarava tristonho. Suas mãos agarravam seu quepe contra o peito. Seus ombros estavam curvados. E sua respiração cautelosa.

“Don't leave me in all this pain, Don't leave me out in the rain, Come back and bring back my smile, Come and take these tears away, I need your arms to hold me now, The nights are so unkind, Bring back those nights when I held you beside me.”

**

-Tenho que ir Bells!

Ele beijou meu ombro nu e não pude evitar o suspiro.

-Sério? Não tem outro médico traumatologista por lá não? Quer dizer, é um hospital enorme. E...Ah droga, eu estou sendo egoísta não? Quer dizer, você tem que salvar vidas e eu aqui impedindo por uma birrinha. Desculpe. Ande, vá logo Dr. Cullen.

Edward deu uma risada antes de jogar sua bolsa nos ombros depois voltou até a cama e me deu outro beijo no ombro antes de sussurrar em meu ouvido.

-Eu amo você Dra. Cullen.

**

-Engavetamento Bella. Ele não pode fazer muita coisa.

Meu pai continuava na minha frente, desconfortável. A imagem de um Volvo entre dois carros, imprensado como uma sanfona me fez arqueja. Levei as mãos ao coração que palpitava erraticamente e com um soluço alto tentei recuperar meu folego, fazendo com que meus pulmões doessem pelo esforço repentino. E de repente com raiva saltei do sofá de couro, meu pai deu um pulo para trás.

-Sim, ele podia. Ele podia ter ficado comigo. Ele não tinha o direito de me deixar. ELE PROMETEU! EDWARD, VOCÊ PROMETEU!

A raiva deixou finalmente minhas lágrimas caírem, comecei a puxar meus cabelos e a gritar. Gritar em plenos pulmões como forma de mostrar a minha dor.  

-VOCÊ NÃO PODIA TER FEITO ISSO! NÃO PODIA!

Joguei a cabeça para cima e apontei um dedo para a cruz que ficava pregada na parede, logo na entrada da ampla sala de estar do meu apartamento, nela a imagem de Jesus de braços abertos.

Por fim meus joelhos cederam e o piso de madeira frio entrou em contato com minhas bochechas. A dor? Não diminui.

“Un-break my heart, Say you'll love me again, Un-do this hurt you caused, When you walked out the door, And walked outta my life, Un-cry these tears, I cried so many nights, Un-break my heart, my heart”

**

-Ei espere. Pé esquerdo no amarelo e mão esquerda do vermelho. Pare de se mexer Edward.

-Bells, para seguir as instruções eu preciso me mexer. Você sabe disso não?

-Você é tão engraçadinho. Eu sei que você tem que se mexer, mas não precisa ficar roçando sua perna na minha.

-Eu não tenho culpa se sua perna está impedindo a minha passagem.

-Edward! Apenas faça o que você tem que fazer.

-Você tem certeza?

-O que? Como assim “você tem certeza”? É o jogo. Anda Edward. Ei, o que você está fazendo?

-Estou fazendo o que eu tenho que fazer. Tentando pegar na sua bunda.

-O que? Edward, pare com isso. Eu vou me desequilibrar. Pare. Edwa...aaaaaaah!

-Olha o que você fez. Acabou com o jogo.

-Prefiro jogar twister na nossa cama. O que acha?

**

-Ei! Olá estranha. O que está fazendo aqui?

-Vim ver você apanhar.

-O que a leva a acreditar que eu vou apanhar e não bater?

-Hm... Deixe me ver. De verdade amor você é um fracote.

-Você sabe que eu posso mudar essa sua opinião em segundos não?

-É mesmo? E posso saber como? Ei não me de esse sorrisinho idiota.

-Venha aqui.

-Eu não vou a lugar nenhum. Estou confortável aqui.

-E agora quem é o fracote?

-Não me chame de fracote.

-Venha.

-Tudo bem. O que você vai fazer? Me dá um golpe de katarecista?

-É karateca amor. E não. Eu sou judoca e não carateca. Eu faço judô e não karatê.

-Deixa de ser ridículo. Eu sei que judoca faz judô e... EI!

-E isso amor é um golpe que eu chamo de “como fazer sua esposa abrir as pernas fácil para você”.

-Eca Edward. Isso foi muito nojento.

-O que? O golpe ou o nome dele?

-O nome dele é claro. Podemos mudar para algo como “é melhor sair de cima de mim por que se não seus amigos judocas vão nós ver em uma posição sexual no tatame que vocês usam para lutar.”

-Sabe Bells, sou adepto a nomes curtos como “te pego lá em casa.”

-Vou estar usando um kimono.

**

-Sabe o que está faltando para essa noite se tornar ainda mais especial?

-Eu tirar a roupa?

-Também. Mas eu estava pensando em Dirty Dancing.

-Como assim Dirty Dancing?

-Ah sabe, aquela parte em que eles estão dançando.

-Eles dançam o filme todo Edward.

-Humpf. A parte em que eles estão no quarto dele. E ela se insinua para ele.

-Como se ele não estivesse pensando em leva-lá para a cama.

-Como você pode afirmar isso?

-Fácil, eles estão apaixonados.

-Eu sou apaixonado por você desde o primeiro momento em que a vi tropeçando nos próprios pés na aula do Werner, mas nem por causa disso pensei em leva-la para a cama.

-Sério?

-Não. Mas eu gosto quando ficamos assim. Só abraçados. Com você sentada de costas para mim, entre minhas pernas.

-Esse comentário foi sexual?

-Talvez.

-Você pode voltar com a sua linha de raciocínio?

-Agora eu me perdi. Involuntariamente comecei a imaginar algumas coisas.

-E que coisas seriam essas?

-Tá afim de praticar a dança no quarto?

-Não estamos no quarto.

-Podemos fazer nossa própria dança na varanda. Isso não é problema.

-Você sabe que temos vizinhos não é?

-Sei. E não me incomodo.

-Podemos ser presos por atentado ao pudor.

-Então vamos fazer com que essa prisão falha a pena.

-Estou sem sutiã.

-Melhor ainda.

**

-Edward! Me espere.

-Sinto muito querida. Quero ter a visão de você tirando a roupa.

-Deixa de ser idiota. Não é como se você nunca tivesse me visto sem roupa. E além disso posso tirar a roupa agora mesmo.

-Você não faria isso.

-Faria sim.

-Não. Não faria. Você gosta de fazer strip pra mim.

-Não só para você meu bem.

-Muito engraçado Bella. Se eu fosse você tiraria logo essa roupa e entraria aqui.

-Não. A visão daqui é bem melhor.

-Não. Te garanto que se você entrar nessa piscina agora não só a visão, mas seus sentidos ficarão bem melhor.

-Você sabe que se nós pegarem nadando nus podemos ser expulsos do condômino certo?

-Onde está a minha esposa com espirito aventureiro? E por favor, Bella, são 03 da manhã. Moramos em um condomínio onde só tem idoso, essa hora eles estão dormindo. Anda Bella esta ficando frio.

-E o que garante que quando eu entrar ai a água vai ficar quente?

-A água eu não sei, mas meu corpo vai entrar em ebulição.

“Take back that sad word good-bye, Bring back the joy to my life, Don't leave me here with these tears, Come and kiss this pain away, I can't forget the day you left, Time is so unkind, And life is so cruel without you here beside me”

**

-Amor, eu só peço que, por favor, não me corte.

-Vamos lá Edward. Eu já fiz isso muitas vezes.

-É mesmo? Você trabalhou em alguma barbearia quando mais nova?  

-Não. Eu costumava raspar os cabelos das minhas barbies.

-Porra Bells. Assim não dá. É serio não atinja minha carótida ou arranque minha boca.

-Estou brincando Edward. E prometo que só vou tirar seus pelos faciais.

-Minha barba.

-É. Na sua linguagem. Como eu sou mais culta.

-Bella. Você sabe que não precisava colocar creme de barbear no meu nariz e nem na minha testa certo?  

-Sim.

-Sabe eu estou nervoso. Acho melhor eu mesmo tirar.

-Vamos lá Edward. Você não gosta de desafios?  

-Sim. Quando não envolve você, sua habilidade com uma lâmina de barbear novinha e eu.

-Prometo que não vou deixar nenhuma cicatriz grande e perceptível em você.

-Porra.

**

-Você não esta penteando meus cabelos. Está bagunçando mais ainda.

-O que?  Como assim?  

-Edward. Largue essa escova.

-Mas amor, eu quero fazer um penteado em você.

-Não. Não mesmo. Eu não acredito que deixei você pentear meus cabelos. Largue a escova Edward.

-Não. Agora eu vou fazer um penteado em você.

-Mesmo? Edward o seu histórico com pentear não são os melhores. Eu gosto do meu cabelo.      
-O que você quer dizer com isso? Ei o que você acha de fazer uma montanha russa com seu cabelo?

-O QUE? Não Edward! Me solte. Deixe-me levantar.

-Eu estou brincando amor. E eu sei pentear meu cabelo certo?

-Bem, não foi isso que seu pai me contou “Edward odiava pentear o cabelo, tínhamos que correr atrás dele.”

-Deus, que difamação. Meu próprio pai.

-Sem falar que você não cuidava muito bem dos pelos dos seus cachorros. Quer dizer, os pelos do Senhor Rumpelstiltskin estavam caindo.

-Aquilo era câncer ta bom?  Agora fique quietinha.

-Não Edward. Eu prometo fazer a sua janta por um mês, mas, por favor, não toque no meu cabelo.

-Combos mexicanos todos os dias?

-Sim, todos os dias.

“Ohh, oh, Don't leave me in all this pain, Don't leave me out in the rain, Bring back the nights when, I held you beside me”


**

-Não lembro de ter convidado você para tomar banho comigo.

-Não preciso de convite.

-É mesmo?

-Sim. Quando você disse “recebo a ti Isabella Swan como minha legitima esposa” na realidade você queria dizer “você Isabella Swan pode tomar banho comigo sem convite”.

-Acho que não.

-Eu acho que sim.

-Tudo bem, mas você tem que esfregar minhas costas.

-Não consigo. Você é muito alto.

-Na realidade tem uma pequena falha nessa sua frase.

-E qual seria? Gênero, número ou grau?

-O erro é no superlativo relativo de inferioridade. Você tinha que ter dito algo como “eu sou menor que você.” Au. Por que me bateu?

-Por que eu sou bastante adepta a greve de sexo.

-Analítico absoluto?

-Serio que estamos falando sobre gramática?

-Prefere falar sobre sexologia? Por que se você der uma olhada estamos nus no banheiro e você está embaixo do chuveiro com o corpo totalmente molhado me dando uma visão totalmente sexy das suas curvas.

-Vamos falar de sexologia.

“Un-break my, Un-break my heart, oh baby, Come back and say you love me, Un-break my heart, Sweet darling, Without you I just can't go on, Can't go on”

**

-Que música é essa?

-David Bowie.

-Você toca bem violão.

-Obrigado. Na realidade eu pensei em fazer música quando estava no 3º ano.

-Serio?

-Humrum.

-E por que escolheu Medicina?  

-Você quer perguntar por que eu não fiz música?  

-Pode ser.

-Meu pai disse que quebraria todos os meus ossos se eu sequer pensasse em estudar música.

-O que?  Carlisle disse isso?  

-Não com essas palavras é claro.

-O que ele disse?  

-Algo como “seu talento é bem maior que a música.”

-É. Bem melhor do que quebrar seus ossos.

-Eu leio nas entrelinhas.

-Não acredito que Carlisle tivesse coragem de quebrar seus ossos.

-Eu não acredito que meu pai não me deixou fazer música.

-Você não fez por que não quis.

-Eu não fiz por que meu desejo de salvar vidas falou mais alto.

-É claro que sim. Mas de qualquer forma eu gosto de ouvir você tocar violão.

-E eu gosto de tocar violão.

-O que você está pensando agora?  

-Eu queria que você fosse esse violão.

**

-Eu não sou uma criança.

-Eu sei.

-Então por que está me dando comida na boca?  

-Porque você está doente.

-Mas isso não significa que eu não possa usar minhas mãos.

-Bells, você poderia ser mais romântica.

-Não quando tem catarro escorrendo do meu nariz.

-Isso não foi legal. Você sabe que isso aqui é mingau não?

-Sei. E agora eu estou imaginando que é uma sopa de catarro.

-Não vou fazer outra coisa para você comer.

-Você não fez isso. Sua mãe fez.

-Eu ajudei sabia.

-Como?  

-Dando apoio.

-Que tipo de apoio?  

-Eu disse “mãe o que seria da minha vida sem a senhora heim?“

-E o que ela disse?  

-“Você não seria nada, por que, primeiramente se não fosse por mim você não teria nascido”   

-Edward. Esse não é um momento legal para falar sobre isso.

-Minha mãe me dando a luz?

-Não, seus pais fazendo você.

-Eu vim da cegonha sabia?

-Sim, e eu sou a Whitney Houston.

-Ela faleceu amor. E falar em morte com você estando doente não é o meu assunto preferido no momento. Por isso abra a boca.

-Eu não vou comer isso.

-Tudo bem então.

-Serio?

-Não. Se eu fosse você abriria a boca ou eu vou chamar o bicho papão.

-Eu não vou sorrir.

-Bells, eu te amo.

-Aaah...

-Viu como é fácil?

**

Ele esta sorrindo. O rosto branco. As mãos geladas. Os cabelos estranhamente arrumados. A aliança de ouro não está mais no dedo esquerdo, mas ainda tem a marca onde ela permaneceu por seis anos. O terno branco me dá enjoou.

-Bells você esta bem?

Alice perguntou. A voz chorosa. Não me virei para encarar minha melhor amiga. Apenas acenei que sim com a cabeça.

Atrás de mim eu sabia que todos me observavam.

Rosalie encostada com a cabeça no ombro de Emmett, os olhos vermelhos. Jasper estava sentando. Meus pais estavam abraçados, Charlie tentava acalmar as lagrimas da minha mãe por me ver nesse estado. Carlisle estava afastado de todos, nas mãos uma foto do Edward. Ele a encarava. Nunca desviando os olhos do sorriso torto e dos olhos mais verdes do mundo. E Esme está usando uma camisa dele, cheirando em intervalos de tempo, os olhos vermelhos e as mãos apertando firmemente o coração.

Eu nunca mais veria seus olhos verdes, nunca mais sentiria seu corpo quente contra o meu, nunca mais ouviria sua voz, nunca mais teria seus beijos. A única coisa que me restava era seu sorriso. Em um momento de pânico simplesmente selei meus lábios nos seus. Sem vida. Gelados.

Não sei se foi impressão minha, mas o sorriso se desfez.

**

O caixão preto estava descendo. Flores estavam sendo jogadas. Soluços, choro. Esme desmaiou. Carlisle dizia algo como “meu filho.” Emmett, Jasper, Rosalie e Alice estavam chorando em silêncio e meus pais estavam calados.

Eu estou de joelhos em frente a sua lápide. Encarando sua foto. Seu sorriso. Em preto e branco. Seus olhos. Em preto e branco.

Escrito na lapide:

Edward Thomas-Anthony Cullen

*20.06.1981

+19.06.2012

Amado filho, marido, amigo e médico.

No dia seguinte ao acidente ele estaria completando 31 anos.

“Quando eu fizer 31 anos Bella, vamos começar a encomendar nossos filhos.”

Toquei sua foto e aproximei minha boca da mesma.

-Eu amo você. Sussurrei.

Me levantei, caminhei entre as pessoas de preto e não olhei para trás.


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Notas finais do capítulo

THANKS GUYS! ^^