Sakura não sabia quanto tempo tinha se passado desde que acordou na caverna. Era como se tivesse se não houvesse vida e tempo fora daquele lugar escuro. Também não percebeu em que exato momento Sasuke acabou adormecendo. Alias, ela nunca pensou que ele pudesse sequer dormir. É claro que, ao olhar mais de perto o homem que lhe dava calafrios, percebeu que ele não estava dormindo e sim delirando.

Pela primeira vez tentou se levantar encarando o dor de seus ferimentos recém curados. Surpreendentemente o que mais incomodava não era a dor, não tão pungente agora, mas a falta daqueles olhos penetrante a avaliando ao mínimo movimento seu.

Chegou cada vez mais perto de Sasuke, como há muito tempo não se atrevia a fazer. Ele estava encolhido numa posição fetal, tremendo, transpirando e sussurrando palavras sem nexo.

Colocou a mão na pele pálida de seu rosto e viu que o garoto estava ardendo em febre. Um dilúvio de sentimentos passaram por ela. Preocupação, compaixão, medo da reação dele, medo de sua própria reação, mas principalmente medo de perdê-lo. Mesmo que fosse apenas uma febre, simplesmente não poderia conceber tal infortúnio.

Afastou todos os sentimentos conflitantes para dentro e deixou a médica em si tomar as rédeas da situação. Puxou Sasuke para o lugar onde ela mesmo estava deitada a pouco, pois parecia mais limpo e aprazível. Tirou a camisa encharcada de suor dele, tentando não se importar sobre como a visão de seu peito nu enviava correntes elétricas por seu corpo machucado. Afastou suas sensações luxuriosas, e envolveu Sasuke no manto negro que antes a cobria.

Notou que o ninja havia deixado alguma lenha improvisada num canto da caverna e alimentou a fogueira que os esquentavam, estendendo a camisa molhada dele numa rocha próxima ao fogo para que secasse depressa. Voltou para perto do garoto delirante e procurou pela pequena bolsa que estava presa a sua perna antes disso tudo começar. Por sorte, ela estava lá e além de kunais e senbons, tinha um pequeno cantil que poderia usar.

Foi até a entrada da caverna para pegar um pouco de neve e se alarmou com o frio severo que fazia lá fora. Os fortes ventos faziam da neve uma estranha neblina espessa, e pensou que ninguém jamais poderia encontra-los ali. Sasuke dependia exclusivamente dela agora.

Ao virar-se para o interior daquele lugar que os abrigava, parou de se incomodar com o mundo lá fora e como ele poderia reagir. A kunoichi rasgou instintivamente um pedaço de sua blusa e embebeu o tecido na neve derretida que recolheu com seu cantil a fim de improvisar uma compressa na testa de Sasuke. Sentou-se no chão e deitou a cabeça dele em seu colo, influindo chakra medicinal em seu peito para evitar hipotermia.

Sasuke continuava delirando e chamando o nome de Sakura insistentemente. O coração da médica doía de preocupação com garoto em seu colo quando de repente, Sasuke deslizou a mão para sua nuca, causando os arrepios que Sakura procurou tanto reprimir.

Ela sabia que ele estava delirando.

Ela sabia que aquilo não podia ser real.

Ela sabia, mais do que qualquer outra coisa, que não poderia resistir.

Sakura completou a pequena distancia entre eles, se entregando para o beijo que esperou por toda sua vida, desejando nunca mais acordar.

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~o.O.o~

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Sasuke estava sorrindo.

A felicidade enchia seu peito assim como o Sol da manhã esquentava seu corpo. Dedos finos estavam entrelaçados aos seus, e quando aspirava podia sentir o cheiro doce do cabelo dela.

Estavam sentados lado a lado numa parte gramada no alto do Vale do Fim, mas apesar do nome do local, sentiam uma empolgação juvenil de que tudo de bom estava apenas começando. Naquele momento perfeito, o futuro era uma gama de possibilidades felizes.

Olhou para a garota ao seu lado e não pode deixar de sorrir ainda mais. O cabelo rosa claro dela brilhava ao Sol, mas nada brilhava mais do que seus olhos verdes quando encaravam o homem que ela amava. Ela sorria timidamente, como se possuísse toda a sabedoria e paciência do mundo. Ela se inclinou languidamente apoiando seu rosto na curva do pescoço dele, absorvendo seu cheiro numa longa respiração.

Ele simplesmente não podia resistir ao seu toque e enterrou seus dedos gentilmente nos cabelos dela, puxando seu rosto a milímetros do seu. Antes de mergulhar no beijo que seu ser tanto pedia, parou para encarar aqueles olhos pedintes e se deleitar sobre a maneira como somente ele a fazia suspirar, chorar e amar. Roçou seus lábios nos dela, lábios com aquele sorriso que ele tanto amava, e ela logo percebeu o jogo delicioso que estavam jogando.

Após alguns poucos momentos de contemplação, Sasuke decidiu que não podia viver mais um segundo sem um beijo daquela garota. Percebendo isso, Sakura se retesava maliciosamente apreciando a urgência dele.

Mal puderam se conter quando suas bocas se encontraram. Respirar nesse momento não parecia tão vital quanto se supunha. Ambos estavam de olhos entreabertos para apreciar a cada expressão, cada ofego e cada olhar desejoso.

Sasuke desceu a mão que segurava os cabelos cor de rosa para a nuca de Sakura, fazendo-a estremecer. Em resposta, ela aprofundou o beijo, explorando a boca macia dele, sugando seu lábio inferior.

Amor, desejo e calor consumiam Sasuke completamente e por esse motivo, ele não conseguia entender porque Sakura afastou seus lábios dos dele, mesmo que o espaço fosse mínimo.

Acorde Sasuke-kun, foram as palavras que saíram da boca rosa e inchada que ele tanto desejava.

Acorde Sasuke-kun, estranhou o olhar preocupado dela que absolutamente não combinava com o momento extraordinário que viviam.

Acorde Sasuke-kun. E assim que essas malditas palavras saíram novamente da boca abençoada e pecaminosa daquela garota, o mundo de sonhos se desfez em escuridão. Estranhamente, estavam exatamente na mesma posição. Sua mão na nuca dela. Cabelo rosa enrolado em seus longos dedos. A respiração ofegante que fazia o peito dela encostar no seu. O gosto em sua boca ecoando o aroma que exalava dos suspiros dela.

Acorde Sasuke-kun, por favor. E então Sasuke abriu os olhos em vermelho, finalmente constatando a realidade que para a qual não queria voltar.