Meu único desejo nos dois meses que se seguiram? Voltar para casa, sumir. A convivência em casa estava cada dia pior. Apenas Peter conversava comigo. Claire continuava me ignorando, tanto que passou a dormir na sala depois de alguns dias. Charlie não me dava mais do que um "Bom dia". Eu me sentia mal, mas não poderia fazer nada. Não podia simplesmente ferir o coração de Frank e correr para seus braços. Eu também amava Frank. E este me deu completo apoio assim que contei o que se passava em minha casa. Mas claro, não contei nada sobre o que havia acontecido com Charlie.

Estava começando a ficar sufocante ficar em casa. Era por isso que, nesses dois meses, eu saía praticamente todos os dias. Claire estava à procura de um novo trabalho, então ficava o dia todo em casa. Como Peter trabalhava e Charlie estava treinando mais do que nunca, eu simplesmente não conseguia ficar sob o mesmo teto que ela. Não conseguia ficar sem trocar algumas palavras com ela. Mas ela me tratava com tanta frieza que chegava à doer. 

Meu aniversário passou e ganhei um Impala de Peter, que, com a ajuda de meus pais, comprou somente para mim. Era preto, ano 67, eu amei assim que o vi. Um clássico. Claire não estava em casa no dia, mas também não fiz questão de esperar nada dela. Charlie me deu apenas um "parabéns" e um sorriso que, sem negar, eu estava com saudades. Depois de sua declaração e nosso beijo, não tivemos mais uma conversa descente.

Só não desisti de Nova Iorque pela faculdade. Eu estava me dando bem. Fiz algumas amizades, e ainda tem Melissa. Mesmo não tendo nos tornado melhores amigas, ela se tornou uma boa companheira. Fiquei feliz por ter feito uma amiga como ela.

Dia 18 de Outubro finalmente havia chegado, era aniversário de Claire. E eu estava completamente decidida à pedir desculpas à ela e dizer o quanto eu tinha saudade de sua amizade. Naquele dia, saí com Frank para que ele me ajudasse. Com a intensificação das gravações nas últimas semanas, estava difícil ver ele. Tenho que admitir que fiquei abalada com o beijo de Charlie, mas não conseguia me afastar de Frank. E, para piorar ainda mais a minha situação, também estava mal por Charlie. Tentava no máximo não tocar no nome de Frank enquanto ele estava por perto. Infelizmente, eu sabia que ele não era bobo.

Eu já estava ciente do que compraria para Claire, só fui buscar meu presente. Sabia que ela amava fotografia, então um enorme quadro magnético, o maior que se poderia comprar, seria um bom presente. Roxo, ainda por cima, sua cor preferida. Estava embrulhado e pronto. O peguei na loja e corri até meu Impala, que Frank dirigia. Como minha carteira de motorista ainda não havia saído, não me sentia muito segura em dirigir aquele carro.

- Acha que Claire vai gostar disso? - Frank perguntou arrumando seus óculos escuros.

- Claro, ela ama fotografia. - digo colocando o cinto de segurança.

Peter havia encomendado um bolo, e disse que faríamos uma espécie de surpresa para ela. Não sabia ao certo quando Charlie chegaria, mas provavelmente participaria de nossa festa também. Além disso, meu sexto sentido de mulher estava indicando que Peter faria algo mais além de comprar um simples bolo. Pelo que ele havia me contado, ainda não tinha feito o pedido oficial para Claire. E, não sei porquê, eu sabia que seria esta tarde.

- Droga, estou sentindo meu celular vibrar de novo, deve ser meu diretor. - Frank resmungou.

Eu o havia convidado para que viésse comigo e comesse um pedaço de bolo, por Claire. Mas, pelo que eu via, seu diretor não estava querendo colaborar conosco.

- Então vá ver o que ele quer, caso dê tempo, depois você passa em casa. É melhor, Frank. - digo digitando uma mensagem para Peter, avisando que já estava chegando em casa.

Frank assentiu e continuou dirigindo. Não demorou muito, chegamos em casa. Segurei melhor aquele enorme painel metálico, meus braços estavam começando a doer. O apoiei em minhas pernas e dei um selinho em Frank.

- Até mais tarde então. - eu disse já abrindo a porta para sair, mas ele não deixou. Segurou meu braço, impedindo que eu saísse.

Até pensei em protestar, mas meus lábios foram tomados por completo assim que os abri para dizer algo. Querendo ou não, estava com saudade de seu beijo. Mas, não demorou muito, duas batidas rápidas na janela do carro fizeram com que eu pulasse de susto. Olhei para o lado e dei de cara com Peter. Ele me olhava como quem diz "Ou você sai desse carro agora, ou eu mesmo te arranco daí". Meu irmão estava um tanto protetor desde que contei a ele sobre Lucas e o que havia acontecido naquela noite com Frank. Ainda mais protetor do que normalmente.

Lhe dei um sorriso amarelo e me despedi de Frank. Este saiu do Impala e correu até uma outra rua, onde Alfred provavelmente o estaria esperando. Peter seguia até a porta de casa.

- Uma ajuda aqui seria bem-vinda. - digo fazendo questão que ele me escutasse.

Peter olhou para trás e revirou os olhos.

- Fraca. - ele disse indo até mim e tirando o enorme embrulho de minhas mãos.

Não revidei, queria mesmo era entrar em casa e conversar com Claire. 

- Ouça, Claire já está em casa. E Charlie está trancado em nosso quarto com o bolo. Acho melhor você levar esse presente, porque eu vou entrar primeiro. - meu irmão disse digitando rapidamente algo no celular e me entregando o painel.

O peguei com um pouco de dificuldade, mas consegui me equilibrar. Peter entrou. Aguardei cerca de dois minutos, talvez nem isso, e entrei também. Avistei os dois abraçados, Peter parecia sussurrar algo em seu ouvido, e Claire estava gostando. Assim que ela me viu, arregalou os olhos. Acho que não pensou que eu faria algo assim.

Tentei largar o presente delicadamente sobre o sofá, mas ele escorregou de minhas mãos e caiu com todas as forças. Só faltava ter quebrado! Me xinguei mentalmente por aquela atitude estúpida. Claire ainda me olhava com curiosidade.

- Então, Claire, - digo voltando-me para ela - você deve ter pensado que eu esqueci do seu aniversário. Mas não, não me esqueci por um dia sequer desde que nós brigamos. E não sabe o quanto me martirizo todos os dias por isso. Como Peter disse, eu sou uma irresponsável. Eu tinha um compromisso, e mesmo assim aceitei sair com Frank. Me desculpa de novo, pela milésima vez. Mas acontece que sinto sua falta. Sinto falta da minha melhor amiga. Aconteceram tantas coisas nesses últimos tempo, e você não sabe o quanto doía não poder dividir certas coisas com você. Não sei se vai me desculpar ou não, mas queria que ficasse com este presente. Sei que vai gostar.

Claire tinha os olhos repletos de lágrimas, assim como os meus. Ela apenas sorriu e abriu os braços. Não hesitei, corri até minha amiga e lhe dei um abraço bem apertado. Nunca gostei de ficar brigada com as pessoas, e esses dois meses que passei sem ela, foram os piores de toda minha vida.

- Me desculpa. - eu disse tentando controlar as lágrimas.

- Já te desculpei à muito tempo, Nina. Só precisava deixar o orgulho de lado para vir até você e dizer isso. - Claire disse.

Fiquei feliz por escutar aquilo.

Nos soltamos e sorrimos uma para a outra. A vida pode ser complicada, mas ter alguém ao seu lado pode sim descomplicá-la e muito. Claire correu até o sofá e foi o ver o que eu havia comprado. Assim que começou a abrir o papel que embrulhava, ficou maravilhada com o que viu.

- Já disse o quanto minha melhor amiga é linda? - ela disse terminando de desembrulhá-lo.

Dei risada apenas, assim como Peter, que estava ao meu lado.

Em um ato inconsciente, olhei em direção ao corredor, e meu olhar encontrou com o de Charlie. Ele carregava um bolo com glacê branco em suas mãos. Lhe lancei um leve sorriso e ele retribuiu, o que fez com que meu coração se acelerasse um pouco. 

- Não, vocês não fizeram isso! - escutei a voz de Claire passar por mim e indo até Charlie.

Mas, assim que ela chegou perto, cobriu a boca com as mãos. Fiquei confusa por não saber o porquê daquilo. Porém, Charlie levou o bolo até a mesa, só então pude ler o que o que estava escrito. "Aceita namorar comigo? Peter" escrito com glacê cor-de-rosa. Achei aquela atitude linda, especialmente por ter sido vinda de meu irmão. Ele se encontrava ao lado de Claire com um sorriso maroto no rosto. E minha amiga já não conseguia segurar as lágrimas.

- Eu ainda não tinha feito o pedido oficial. Então, aceita minha lobinha? - Peter disse segurando seu rosto.

"Lobinha?" pensei "Que raios de apelido é esse?".

- É claro que aceito, meu Drácula. - Claire disse e logo depois lhe deu um beijo que deixaria qualquer ator com inveja. Foi um beijo e tanto.

Charlie e eu apenas assistíamos. Não sabia ao certo o que fazer, se devia dizer algo, ou continuar apenas calada mesmo.

- Acho que é melhor deixármos esses dois sozinhos, quer assistir alguma coisa? - Charlie perguntou.

Assenti. Não queria ver meu irmão e minha melhor amiga em uma cena ainda mais melosa. Me encaminhei até a sala com Charlie. Ele se sentou no sofá maior e eu na pequena poltrona que ficava ao lado da TV. Estávamos zapeando pelos canais assim que avistei algo que me chamou a atenção. Era um canal de fofocas. Vez ou outra eu assistia, mas hoje, aquilo que vi não me agradou nem um pouco. Charlie também pareceu não gostar muito.

Ao fundo estava uma foto minha e de Frank nos beijando. Provavelmente fora na noite da premiere, julgando o vestido que eu estava usando. E uma frase embaixo "Loira desconhecida parece ser a nova paixonite de Frank McCain". Assim que terminei de ler, levantei-me num salto.

- Nina, calma... - Charlie tentou dizer, mas não deixei.

- Loira? Loira?? Charlie, eu pareço ser loira? Não, nem um pouco! Esses repórteres deviam checar primeiro para depois dar notícias como... - assim que fui terminar minha frase, escutei o locutor falando, enquanto algumas fotos de Frank eram mostradas:

- "Segundo boatos, Frank estaria namorando sua colega de cena Sarah Jackson desde 2010. Nada nunca fora confirmado. Mas, nos últimos meses, ele foi visto diversar vezes com uma loira aparentemente desconhecida. O empresário do ator diz que não tem nada à declarar."

Senti meu sangue ferver assim que o repórter terminou. Sarah? Frank estaria namorando Sarah? Como ele poderia suportá-la? E com podem me chamar de loira? Senti uma enorme vontade de atirar o controle naquela TV no mesmo momento. Mas, infelizmente, não havia acabado ali.

Assim que a tela mudou, senti meu rosto corar. Haviam tirado várias fotos de nós dois juntos. E as piores delas eram em seu carro, na época em que comecei a faculdade. Tinham várias minhas sentada no colo dele, aos beijos, expressões um tanto inoportunas. Não olhei para Charlie, apenas saí da sala. 

Passei correndo pela cozinha e levei comigo dois pares de olhos curiosos. Peter e Claire ainda não haviam se desgrudado. Corri até o quintal e, como já estava começando a escurecer, fiquei por lá mesmo. Não iria chorar por aquilo, mesmo estando com vontade. Me sentia mal por aquilo. Pensei em como seria na faculdade no dia seguinte. Porque claro, a maioria das meninas adoram uma fofoca. Pensei em cortar meu cabelo, em pintá-lo de azul, assim ninguém iria me reconhecer. Odeio o modo como minha privacidade havia sido revelada daquela maneira.

Mas, se eu continuasse com Frank, seria assim. Eu teria que me acostumar com a atenção. Senti meu peito apertar, não sabia o que fazer. Parte de mim não queria isso, queria o máximo de distancia o possível. Mas tinha aquela outra parte, a parte que amava Frank e que não iria desistir dele por nada nesse mundo. Queria poder saber qual fora sua reação assim que ele tivesse visto aquilo. Com certeza, seu empresário lhe diria alguma coisa.

Respirei fundo diversas vezes, não deixaria que algo assim estragasse o aniversário de Claire. Sorri para o céu que começara a ficar escuro e voltei para dentro. Queria comemorar o máximo possível o fato de ter minha amiga de volta. Depois pensaria no que fazer com relação a isso.